PORTUGAL
Empresa de Pedro Arroja rescindiu unilateralmente contratos com os clientes lesados. A CMVM não soube, o Banco de Portugal não tinha de saber, os clientes não foram informados e o economista nunca foi responsabilizado. O que falhou?
Ana Patrícia Silva | Setenta e Quatro
Quando João Pedro Fernandes trocou as leituras de jornal da secção de política pelas do mercado financeiro, o contexto social e económico de Lisboa era outro. Em 2000, sentava-se com o pai à conversa no quiosque Central, no centro de Oeiras, para consultar as cotações da Bolsa de Valores no Jornal de Negócios. Começou a interessar-se pelo mercado financeiro e a equacionar investir. João Pedro Fernandes estava longe de imaginar o que lhe iria acontecer.
Enquanto os jornais eram folheados pelos dois, no início do milénio, as bolsas norte-americana, japonesa e portuguesa, entre outras, viviam o rebentar da bolha das empresas .com. Nesse ano, relembra-se Fernandes, “a BVLP [Bolsa de Valores de Lisboa e Porto] registou a maior queda dos últimos dez anos. Os índices PSI20 e PSI30 perderam à volta de 13% e 11%, arrastados pelas empresas de telecomunicações e tecnologia”. A curiosidade financeira aguçou-se (que mundo era este?) e onde há riscos também há enormes proveitos. Porque não apostar contra a própria bolsa?
Houve quem tenha tido esta ideia
“inovadora”, vendendo-a. A bolha financeira continuava a causar ondas de choque
quando Pedro Arroja, professor universitário, diretor-executivo de uma empresa
de investimento em ativos financeiros e futuro mandatário nacional do CHEGA, a
aproveitou para fazer crescer o seu negócio. E, anos depois, em
Os caminhos de João Pedro Fernandes e de Pedro Arroja não tardaram a cruzar-se. Depois da morte do pai, em 2006, João Pedro encontrou em Arroja a segurança necessária para celebrar o seu primeiro contrato de gestão de carteira. “Não tendo grande formação, conhecimentos ou experiência relativamente a mercados financeiros e a produtos de investimento, recorri a um serviço de gestão de carteiras”, explica ao Setenta e Quatro. A supervisão do Banco de Portugal e da Comissão de Mercados e Valores Mobiliários (CMVM) sobre esta sociedade anónima reforçava a convicção de ter feito a escolha certa.
Assinados os contratos com duas modalidades, um para equities, que não tinha rentabilidade fixa, e o outro para commodities, onde as ordens eram dadas pelo cliente, João Pedro Fernandes esperava um ano bem diferente daquele que viveu. Seguiram-se 12 meses de perdas de dinheiro avultadas, num total de 150 mil euros, que nunca foram recuperadas. Meses que se tornaram 12 anos sem respostas a muitas perguntas.
Não foi o único a viver esse pesadelo: se a CMVM reconhece ter conhecimento de quatro queixas com as mesmas características que a de Fernandes contra a Sociedade Pedro Arroja, ao Setenta e Quatro foram denunciadas 20. Fernandes foi o primeiro nome a abrir uma lista de lesados que perderam milhares de euros em depósitos, ativos e comissões indevidas que nunca reaveram. E Pedro Arroja nunca foi responsabilizado.