quarta-feira, 18 de outubro de 2023

Programa Oficial de Limpeza Étnica de Israel

A limpeza étnica de Israel está acontecendo em câmera lenta há mais de 100 anos, escreve Jonathan Cook.

Jonathan Cook* | Consortium News | # Traduzido em português do Brasil

O contexto que falta para o que está a acontecer em Gaza é que Israel tem trabalhado noite e dia para limpar etnicamente o povo palestiniano da sua terra natal, mesmo antes de Israel se tornar um Estado – quando era conhecido como o movimento sionista.

Israel não limpou apenas os palestinianos em 1948, quando foi fundado como um projecto colonial ocidental, e novamente sob a cobertura de uma guerra regional em 1967. Também trabalhou para limpar etnicamente os palestinianos todos os dias entre essas datas e depois. O objectivo era retirá-los das suas terras históricas e expulsá-los para além das novas e alargadas fronteiras de Israel ou concentrá-los em pequenos guetos dentro dessas fronteiras – como medida de retenção até que pudessem ser expulsos para fora das fronteiras.

O projecto dos “colonos”, como lhe chamamos, é um nome impróprio. É na verdade o programa de limpeza étnica de Israel. Israel ainda tem uma palavra especial para isso em hebraico: “Judaização”, ou tornar a terra judaica. É uma política oficial do governo.

Gaza era a maior das reservas palestinianas criadas pelo programa de limpeza étnica de Israel e a mais sobrelotada. Para impedir a fuga dos habitantes, Israel construiu uma barreira no início da década de 1990 para os encurralar. Depois, quando o policiamento se tornou demasiado difícil dentro da prisão, Israel recuou em 2005 para a barreira do perímetro exterior.

A nova tecnologia permitiu a Israel sitiar Gaza remotamente por terra, mar e ar em 2007, limitando a entrada de alimentos e artigos vitais como medicamentos e cimento para construção. Torres de armas automatizadas atiravam em qualquer um que se aproximasse da cerca. A Marinha patrulhava o mar, detendo barcos que se desviavam a mais de um ou dois quilómetros da costa. E os drones vigiavam 24 horas por dia do céu.

A população de Gaza foi isolada e em grande parte esquecida, excepto quando lançou alguns foguetes por cima da cerca – para indignação internacional. Se disparassem demasiados foguetes, Israel bombardeava-os impiedosamente e ocasionalmente lançava uma invasão terrestre. A ameaça dos foguetes foi cada vez mais neutralizada por um sistema de intercepção de foguetes, pago pelos EUA, denominado Iron Dome.

Cantilena dos Terroristas Ocupantes -- Artur Queiroz

Artur Queiroz*, Luanda

O poeta Marcial escreveu numa das suas trovas que na guerra da Turquia lhe morreram os irmãos e uma filha moça que era a luz o seu dia. Os sábios de Constantinopla laurearam-no pela suprema arte poética que cultivava. Conheci a sua poesia num livro fabuloso que abandonei com outras imbambas para me perder sozinho, sem remorsos. Depois li as Cantigas de Amigo. As de Escárnio e Maldizer. E senti os cânticos da festa da morte nas aldeias vizinhas da nossa casa da Kapopa. A poesia é mais a parte humana em estado puro do que uma arte.

Com os sonhos embrulhados nas trovas deixei família e amigos. Fui estudar para o Uíge onde fiquei internado. Em 15 de Março de 1961 aconteceu a Grande Insurreição. Os flagelados de séculos, os escravizados, os exércitos mobilizados para os trabalhos forçados sem salário, os que foram impedidos, durante gerações, de frequentar as escolas, os segregados, as vítimas de um apartheid cruel exercido por colonos analfabetos, revoltaram-se. Imitaram os ocupantes. Gritaram tão alto a palavra liberdade que se ouviu em todo o mundo. 

Os massacres que se seguiram por parte das milícias dos colonos, com o apoio das autoridades colonialistas, ficaram gravados na minha memória de adolescente sonhador, subitamente agredido pelo racismo à solta. Pela vingança cruel. O mais doloroso foi ficar com uma certeza: Seria sempre olhado como mais um assassino. Mais um racista. Mais um ocupante. Na Grande Insurreição morreram os meus irmãos e perdi a terra que era luz da minha vida.

Em Maio de 1961 retomei os estudos no Liceu Salvador Correia. Chamavam-me refugiado. Mas estavam enganados. Eu era um mutilado do melhor da minha vida desde a infância feliz lá na Kapopa, em Camabatela, no Bindo. Ouvia a rádio e era agredido com uma violência dolorosa. Falava o Ferreira da Costa e chamava terroristas aos meus irmãos. Falava o António Maria Zorro, a partir da Emissora Nacional em Lisboa e chamava terroristas aos meus irmãos. Falava o Reis Ventura e dizia que os meus irmãos eram terroristas e assassinos. Falava o António Pires e rosnava: Temos de matar os terroristas. Falava o Mimoso Moreira e pedia que todos se erguessem contra os terroristas. Falava o Diamantino Faria e era a mesma agressão.

Eu vi os terroristas das milícias espancarem e matarem negros, até crianças, nas ruas do Uíge. Eu vi colonos analfabetos agredirem e humilharem os negros. Eu vi os comerciantes do Negage roubarem escandalosamente os negros no peso e na medida. Um quilo tinha meio e um metro 25 centímetros. Eu vi o chefe de posto e os sipaios, de chicote na mão, maltratarem mulheres e crianças, obrigadas a tapar os buracos das picadas quando os aguaceiros desfaziam os pisos. E na rádio diziam que os terroristas eram os que foram vítimas de terrorismo durante séculos.

Destituição em Angola Destruição em Gaza -- Artur Queiroz

Artur Queiroz*, Luanda

Israel ocupa a Palestrina desde 1947. É a “potência ocupante”. Ao longo dos anos até hoje tem aumentado as áreas de ocupação (anexações e colonatos) e expulsado palestinos das suas terras. A “comunidade internacional” chama-lhes refugiados. Já são quase três milhões. A Agência das Nações Unidas de Assistência aos Refugiados da Palestina no Médio Oriente (UNRWA), apoia 58 campos. Destes, 27 estão na Palestina (Cisjordânia e Faixa de Gaza). Refugiados no seu país pode? Sim pode, graças ao estado terrorista mais perigoso do mundo e o seu sargento na região, estado israelita. 

Israel aceitou retirar as suas tropas e desmantelar os colonatos na Faixa de Gaza, em 2005. Desde então fez daquele território da Palestina uma prisão. Construiu um muro ao longo de toda a fronteira com Israel. Deixou uma porta que controla militarmente. Ninguém entra nem sai sem autorização das tropas israelitas. O território tem campos de refugiados e todos os outros habitantes são prisioneiros.

Os campos de refugiados palestinos em Gaza têm, segundo os registos oficiais da ONU, um milhão e 700.000 palestinos, expulsos das suas terras pelo governo de Israel. Tendas, miséria, fome, humilhações. Desumanização. São todos reféns dos sionistas. A propaganda dos Media no ocidente alargado (Portugal ainda está no tempo da psicossocial do Salazar em Angola) garante que os milhões de habitantes de Gaza são reféns do Hamas. Acredito porque me convém. 

Afinal é fácil resolver o problema do Hamas. Israel abre o portão de Gaza a todos os civis que são reféns, instala-os nas suas casas e nas suas terras roubadas no território israelita. Os que ficarem são combatentes do Hamas. Facílimo. Infelizmente não é verdade. Israel está contra a paz. Está contra os dois Estados. Está a exterminar os palestinos. Limpeza étnica. Genocídio. Com o apoio dos EUA, da União Europeia, do Reino Unido e de todo o ocidente alargado. Todos genocidas. Todos assassinos. Todos candidatos ao Tribunal que os vai julgar, por graves crimes contra a Humanidade na Palestina. Israel sempre violou tudo. Tomem nota.

Resolução 194 da Assembleia-Geral da ONU, dia 11 de Dezembro, 1948. Impõe o regresso de 725.000 refugiados palestinos às suas casas, aldeias, vilas e cidades. Jerusalém ficava uma cidade desmilitarizada e de livre acesso a todos. Uma curiosidade, dos 58 países na época representados nas Nações Unidas, 35 votaram a favor. Egipto, Iraque, Líbano, Arábia Saudita, Síria e Iémen aprovaram mas o seu voto não contou porque ainda não eram membros da ONU, apenas observadores. Israel não cumpriu nada. E bloqueou, pela força das armas fornecidas pelos EUA, o regresso dos refugiados palestinos aos seus lares.

No dia 22 de Novembro de 1967 o Conselho de Segurança da ONU aprovou por unanimidade a Resolução 242. Resumo: Para uma paz justa e duradora no Médio Oriente Israel tem que retirar todas as forças militares dos territórios ocupados. O segundo aspecto importantíssimo diz isto: “Rescisão de todas as reivindicações ou estados de beligerância e respeito e reconhecimento da soberania, integridade territorial e independência política de cada Estado na área e seu direito de viver em paz dentro de limites seguros e reconhecidos, livres de ameaças ou actos de força”. Israel nunca cumpriu uma vírgula.

O Conselho de Segurança aprovou a Resolução 1515 (em 2003) da qual nasceu o “Roteiro do Quarteto do Médio Oriente”. Missão: Trabalhar para a solução definitiva “Dois Estados-Israel e Palestina”. Telavive ignorou. Os EUA, depois de aprovarem, atiraram com o “Quarteto da Paz para o lixo”. Deu no que estamos a viver. Outras resoluções da ONU foram ignoradas por Israel e os EUA, que as aprovaram: 338, 1397, 1515, 1850. Estas são as que estão os meus apontamentos. Provavelmente existem mais.

Israel bombardeia todos os dias, sem parar, a Faixa de Gaza. A ONU denunciou que hoje mesmo, bombardeou uma escola onde estavam abrigados 4.000 palestinos. Dezenas de mortos, centenas de feridos. Funcionários da organização morreram. Os sionistas não querem as instituições das Nações Unidas na região. Não querem testemunhas da limpeza étnica e do genocídio na Palestina.

Os sionistas esta noite atacaram um hospital na cidade de Gaza. O último balanço é aterrador. Centenas de mortos e feridos entre os quais crianças e outros doentes em grande sofrimento. Uma punição dos sionistas. Ontem um médico palestino disse aos Media internacionais que no seu hospital ninguém se retirava da cidade. “Se quiserem venham matar-nos”. Os sionistas não hesitaram. Mossad e a CIA imediatamente puseram a circular que foi o próprio Hamas que bombardeou o hospital. Nojento.

O hospital atingido está perto da orla marítima. Os lançadores de “roquetes” do Hamas estão muito longe e virados para Israel. O hospital foi atingido por um míssil da aviação de Israel. A única dúvida das minhas fontes é esta: Foi um erro da aviação de guerra israelita ou mais um ataque punitivo? Mas há uma certeza: Foi Israel, cujo governo está exclusivamente nas mãos de sionistas. E esses são capazes de encomendar o bombardeamento do hospital na cidade de Gaza.

A UNITA diz que o processo de destituição do Presidente da República vai continuar. Seguramente. Na assembleia savimbista de Viana e nas ruas de Angola. O embaixador dos EUA em Luanda dirige os trabalhos e depois dá posse ao Adalberto. 

A FRELIMO teve uma vitória esmagadora nas eleições autárquicas em Moçambique. A RENAMO acabou. Nas próximas eleições em Angola, sejam para o Poder Local ou legislativas, a UNITA vai eleger tantos candidatos que cabem todos num triciclo Kaweseki.

*Jornalista

Censura: BBC investiga seis repórteres por suposto apoio ao Hamas nas redes sociais

Arab News | # Traduzido em português do Brasil

A equipa da BBC News Árabe foi acusada de violar as regras estritas da emissora sobre imparcialidade e atividade nas redes sociais. Os jornalistas, baseados no Médio Oriente, foram retirados do ar enquanto os patrões analisam as acusações contra eles

LONDRES: A BBC lançou uma investigação interna sobre seis dos seus repórteres no Médio Oriente sobre atividades em plataformas de redes sociais que pareciam endossar ou apoiar atividades contra Israel atribuídas ao Hamas.

A medida está em linha com as rigorosas regras de imparcialidade da emissora estatal, que se estendem às atividades dos seus repórteres e outros funcionários nas redes sociais.

“Estamos investigando este assunto com urgência”, disse um porta-voz da BBC. “Levamos as alegações de violação de nossas diretrizes editoriais e de mídia social com a maior seriedade e, se e quando encontrarmos violações, agiremos, inclusive tomando medidas disciplinares.”

De acordo com o Financial Times, vários repórteres árabes da BBC News no Egito e no Líbano, incluindo um jornalista sênior e um freelancer, estão entre aqueles cujas atividades nas redes sociais, incluindo postagens ou curtidas, despertaram preocupação sobre aparentemente expressarem apoio ao Hamas ou criticarem a posição de Israel. .

O inquérito da emissora foi lançado depois que a atividade supostamente incriminatória nas redes sociais foi destacada pelo grupo de vigilância Comitê para Precisão em Relatórios e Análises do Oriente Médio.

Num caso, os repórteres alegadamente gostaram de um vídeo, partilhado no X, que mostrava cadáveres a serem colocados num veículo, acompanhado de uma legenda que expressava um sentimento de orgulho pelo que era retratado.

As postagens foram posteriormente removidas, mas a BBC decidiu remover temporariamente todos os seis repórteres de suas funções no ar, enquanto se aguarda uma investigação urgente. O Financial Times informou que a BBC levantou preocupações sobre o facto de alguns meios de comunicação terem nomeado os jornalistas sob investigação e as implicações disso para a sua segurança.

Isto acontece num momento em que a BBC enfrenta críticas crescentes pela sua relutância em rotular os membros do Hamas como terroristas. A organização é designada como grupo terrorista pelas autoridades do Reino Unido, dos EUA e da Arábia Saudita, entre outros. A questão gerou uma discussão nacional, com o primeiro-ministro britânico Rishi Sunak a instar a BBC a alinhar a sua cobertura do Hamas com a posição jurídica no Reino Unido.

Apesar da pressão externa, no entanto, a BBC até agora tem insistido firmemente que manterá a sua independência editorial, destacando a sua responsabilidade de fornecer ao público informação “imparcial” e “abrangente” que lhe permita formar as suas próprias opiniões.

A emissora relatou recentemente um incidente durante o qual um membro da equipa da BBC News Árabe, viajando em um veículo de mídia marcado, foi mantido sob a mira de uma arma pela polícia israelense em Tel Aviv, e enfatizou a necessidade crítica de os jornalistas serem livres para reportar sobre Israel. O Hamas entra em conflito sem medo de repercussões.

Imagem: Manifestantes pró-israelenses se reúnem em frente à sede da BBC para protestar contra a cobertura da corporação sobre o conflito em curso entre Israel e o Hamas, em Londres, Grã-Bretanha, 16 de outubro de 2023. (Reuters)

Ler/Ver Arab News:

Diretor-geral da BBC exorta funcionários a ‘falarem’ em meio à pressão para chamar o Hamas de ‘terroristas’

Ativistas pró-Palestina borrifam tinta vermelha no prédio da BBC em Londres protestando contra cobertura 'tendenciosa'

É possível falar da Palestina e de Israel?

Pedro Tadeu* | Diário de Notícias | opinião

Sento-me frente ao computador, nesta terça-feira dia 17 de outubro de 2023, para cumprir a obrigação profissional de escrever um artigo sobre atualidade política. Passaram 11 dias sobre a crueldade cometida pelo Hamas em Israel - não há volta a dar, este terá de ser o tema do texto, caso contrário parece que vivo noutro mundo...

Vejo, no site do Diário de Notícias, o destinatário desse meu trabalho, as últimas notícias provindas da região, reunidas numa ligação que acompanha, minuto a minuto, o que se passa em Israel e na Palestina, desde a informação mais atual até à notícia mais antiga.

Começa neste título: "17.55 - Seis pessoas morreram num ataque aéreo a uma escola da agência da ONU em Gaza"...

Penso: "É melhor não me meter a condenar a morte de inocentes palestinianos ou sou logo acusado de estar a ser cúmplice de assassinos de crianças israelitas".

Outro título: "17.46 - "Mortos por bombardeamentos em Gaza chegam a 3000 desde o início da guerra"...

Penso: "A guerra não começou agora, mas se me ponho a lembrar isso vou ser acusado de estar a branquear o Hamas com esse "mas" e de querer tirar o direito a Israel de se defender. É melhor procurar outra abordagem".

Outro: "17.31 - "O lugar da Alemanha é ao lado de Israel", afirma Scholz"...

Penso: "Podia tentar explicar como a má consciência europeia sobre o Holocausto é usada há 75 anos por Israel para violar, sem penalização, o direito internacional, mas ainda dizem que sou um negacionista da perseguição secular aos judeus, por isso é melhor procurar outro ângulo".

Mais um: "16.55 - Netanyahu: "O mundo deve estar unido para derrotar o Hamas""

Penso: "Poderia desenvolver a explicação de como o próprio Netanyahu e seus aliados, com anos e anos de dura opressão sobre os palestinianos, tornaram o Hamas politicamente e militarmente mais forte, mas podem interpretar essa análise como uma justificação implícita do terrorismo. É melhor procurar outro tópico".

Volto a tentar: "16.44 - Paddy Cosgrave, CEO da Web Summit: "Peço desculpas profundamente"".

Penso: "Com que direito é que o embaixador e o Governo de Israel se mobilizam para boicotar um evento comercial realizado noutro país (e cujo Estado lhes presta toda a solidariedade), só porque o seu organizador falou em "crimes de guerra" cometidos em Gaza?... Bom, é melhor não ir por aí no meu texto ou ainda me boicotam a mim".

Prossigo: "16.41 - Ministério da Saúde de Gaza diz que hospitais praticamente colapsaram" e "15.56 - Autoridades de Gaza pedem à população que dê urgentemente combustível que tiver".

Penso: "O cerco a Gaza com corte de fornecimento de eletricidade, água e combustíveis a 2 milhões de pessoas não está a mobilizar a indignação política e mediática na intensidade proporcional adequada há que ocorreu com o ataque do Hamas. Podia fazer a comparação... Não! Estás louco!? Queres ser cuspido no meio da rua?"

Vejo: "15.47 - Hamas afirma que visita de Biden incentivará morte de palestinianos".

Penso: "Por acaso podia explicar que isto começou com os ingleses, ainda no século XIX, mas as pessoas, hoje em dia, não querem saber do que está na raiz dos problemas atuais, marcam a última fronteira do passado no dia da sua última indignação. Ninguém ia ler".

Uma última tentativa: "15.16 - Hamas anuncia morte de um dos seus comandantes em raide israelita".

Penso: "Podia alvitrar que desde 1947 os palestinianos têm o apoio reiterado da ONU a formarem um Estado em territórios que, entretanto, foram ocupados por Israel; por isso, têm igualmente direito a possuir um Exército para defender e recuperar esses territórios, tal como os israelitas têm direito a defender o seu território e as suas gentes. Mas, mais uma vez, os sacerdotes das redes sociais lançar-me-ão pragas bíblicas por estar a dar apoio a infiéis árabes..."

Desisto.

A ideia que a vida de um bebé palestiniano vale tanto como a vida de um bebé israelita é, nos dias que correm, uma ideia moralmente errada. Não sei como isto aconteceu, mas é a realidade. Mais vale tentar viver noutro mundo...

Respiro.

Giro a roda do rato e volto ao princípio da página que consulto no DN. Houve uma atualização: "18.59 - Centenas de mortos em ataque a hospital, dizem autoridades em Gaza".

Não, não se pode falar disto.

* Jornalista

Imagem: AFP

Que outro nome dar à barbárie?

Paula Ferreira* | Jornal de Notícias | opinião

“A escalada da violência em Gaza exacerbou o sofrimento das crianças cujas vidas já têm sido insuportavelmente difíceis há vários anos” (...). “O fornecimento mínimo de energia em Gaza perturbou os serviços de água e saneamento, reduzindo gravemente a disponibilidade de água potável”. Este apelo da UNICEF em defesa das crianças que (sobre)vivem na faixa de Gaza poderia ter sido divulgado ontem. Não foi, tem a data de outubro de 2017. Noutro comunicado mais recente, de maio de 2021, lê-se: “Vidas foram perdidas e famílias despedaçadas, com impactos devastadores nas crianças. Em Gaza, escolas e instalações de saúde foram danificadas, casas e escritórios foram destruídos e famílias inteiras foram deslocadas”. É este, há vários anos, o quotidiano dos palestinianos, homens, mulheres e crianças, encurralados numa pequena faixa de território. No local mais densamente povoado do Mundo, tendo uma das populações mais jovens, cresce-se ao som de bombas - que atingem civis de “modo cirúrgico”.

A tragédia que acontece em Gaza, em resposta a um hediondo ataque a Israel, agora só tem uma maior dimensão, está mais concentrada, pois tem em vista a aniquilação total do Hamas. De um lado e de outro do conflito, as vítimas são as mesmas. Do lado palestiniano, milhares de civis são forçados a fugir num curto espaço de tempo. Não é fácil esquecer as palavras de um palestiniano a justificar a sua decisão em ficar: “Morrerei de qualquer maneira, prefiro morrer na minha casa”. Nesta como noutras guerras, o chamado direito internacional parece servir apenas para iludir o impacto das bombas. No conflito que se vive agora em Gaza, não há sequer o mínimo pudor. Israel quer aniquilar o opositor, nem que para tal tenha de destruir, à revelia de todas as regras (a guerra tem as suas regras), um povo, perante a quase completa indiferença da comunidade internacional. Sem água, sem eletricidade, sem alimentos, flagelada pelas bombas, que outro nome se poderá chamar a esta prisão a céu aberto, como a qualificou, há uns anos, Sarkozy?

* Editora-executiva-adjunta

A prova


Henrique Monteiro | HenriCartoon

Só os parvos acreditarão em 'provas' e alegações esfarrapadas e não credíveis


Ontem, pelo menos morreram 500 palestinianos que se tinham abrigado num hospital em Gaza. Um míssil acabou-lhes com a vida, a grande maioria eram crianças, avós, pais e irmãos (famílias inteiras). Esses mais velhos acompanharam-nos a caminho do 'paraíso de Alá'. Afinal ocorreu mais uma carnificina entre tantas cujos autores assassinos têm sido os altos responsáveis israelitas. Netanyahu à cabeça e os seus bajuladores chefes militares - habitualmente assassinos com a 'febre do ódio' e Tora na mão ou embebida no extremismo religioso próprio de terroristas.

Mas não. Afinal o míssil caído no hospital de Gaza não foi lançado por Israel, afirmaram os terroristas preponderantes e dirigentes dos EUA e o próprio Estado Criminoso de Israel. Provas? Foi apresentada uma gravação de um telefonema alegadamente entre o Hamas e a Jihad Islâmica a falarem sobre o tenebroso assunto. Ora, ora. Isso não é prova indesmentível e ineludível, qualquer um pode gizar aquele tipo de telefonema e gravação. Principalmente a CIA ou outra agência dos EUA, ou o Shin Bet e a Mossad israelita. Certo é que com denodo a CNN Portugal esforça-se em repetir exaustivamente a gravação. Curiosamente, um dos seus comentadores, Azeredo Lopes, apostou na opinião de desconfiar da versão gravada, mero objeto de contra-informação e propaganda. As alegações e "provas" não chegam para acreditar. É a história de Pedro e o Lobo. Falem para aí! Depois de tanta sacanice, de tantos crimes de ódio, de tantas mentiras de terroristas como os EUA e/ou Israel, de tantas matanças globais de um e outro país só os parvos acreditarão em 'provas' e alegações esfarrapadas e não credíveis.

É evidente que tais factos pretensiosamente comprovativos e considerados não confiáveis pelos mais atentos e com boa memória da história não justificam as ações terríficas do Hamas no passado sábado 7 em Israel. Tais crimes foram, são, merecedores de inequívoco repúdio que provam que as personalidades e mentes terroristas são desprovidas de humanidade e/ou de sentimentos de justiça de facto. Assim é, são, os altos dirigentes do Hamas, de Israel e dos EUA, entre outros. Ainda mais e sobremodo quando inclui Estados que sabemos meramente criminosos, dirigidos por atores eivados de desumanidade e de palavras falsas sobre democracia, liberdade e justiça. Prova de que o mundo está à beira do abismo se os povos (enganados, explorados e oprimidos) nada fizerem contra esses criminosos e perniciosos dirigentes políticos, militares e dos 1% que em conluio dominam a humanidade global.

Não foi referido de principio mas eis que esclarecemos para os mais distraídos que estes breves parágrafos e considerações antecedem o Expresso Curto de hoje. Vitor Marques é o jornalista que vem aí. Disfrutem e 'olho vivo'.

Bom dia. Boa semana... Mas como? Também a UE, Portugal e os portugueses, andam ao sabor de uma grande miríade de criminosos, mentirosos, corruptos, ilusionistas, falsos democratas, etc., etc. Saber isso sabemos... Mas nada fazemos pelo bem do planeta, dos países e de nós próprios. Assim vai o mundo.

E assim vai o Curto, a seguir. Vá ler. Não dói nada.

MM | Redação PG

Análise: Gaza será a Estalinegrado de Israel?

Apesar das capacidades militares muito superiores, Israel poderá ficar encurralado em Gaza

Zoran Kusovac | Al Jazeera | # Traduzido em português do Brasil

O atentado mortal ao Hospital Árabe Al-Ahli, na cidade de Gaza, na noite de terça-feira, que matou pelo menos 500 pessoas, segundo autoridades de saúde, provocou indignação global e desencadeou outra rodada de acusações mútuas.

O lado palestino está convencido de que a explosão foi causada por outra bomba inteligente lançada de um avião da Força Aérea Israelense, mas Israel foi rápido em apontar a culpa aos combatentes palestinos, alegando que a explosão foi causada por um foguete disparado de Gaza que não conseguiu atingir trajetória de voo completa.

As escassas evidências disponíveis no período imediato são insuficientes para tirar conclusões definitivas. Somente uma análise cuidadosa dos destroços deixados no hospital, que deveriam revelar fragmentos da carcaça externa do dispositivo que explodiu, poderia resultar em uma identificação positiva.

No entanto, mesmo antes deste último ataque, havia um volume crescente de provas que indicavam que os ataques aéreos israelitas contra os palestinianos em Gaza tinham sido em grande parte indiscriminados. As análises mais cuidadosas dos alvos não conseguem revelar um padrão militar claro nos implacáveis ataques aéreos, forçando uma pergunta: que lógica levou o apelo israelita aos palestinianos para evacuarem o norte de Gaza na semana passada?

Do ponto de vista da estratégia militar, existem duas respostas possíveis. Para Israel, qualquer uma das duas opções seria um erro.

Guerra Israel-Hamas ao vivo: Biden em Israel, raiva pelo ataque ao hospital em Gaza

Virginia Pietromarchi ,  Mersiha Gadzo  e  Hamza Mohamed | Al Jazeera | # Traduzido em português do Brasil

-- O presidente dos EUA, Joe Biden, desembarca em Tel Aviv para conversações com autoridades israelenses.

-- O ataque aéreo israelense ao hospital de Gaza mata pelo menos 500 pessoas, segundo autoridades palestinas no enclave sitiado.

-- Israel culpa o foguete lançado pela Jihad Islâmica Palestina, uma alegação negada pelo grupo.

-- A Jordânia cancela a cimeira com os presidentes dos EUA e do Egipto após o ataque mortal. O líder palestino Mahmoud Abbas retirou-se anteriormente da reunião.

-- Chefe da ONU pede “cessar-fogo humanitário imediato” enquanto os líderes mundiais condenam o ataque a hospitais; protestos espontâneos irrompem em todo o Médio Oriente e noutros locais.

-- Mais de 3.000 palestinos mortos em ataques israelenses em Gaza desde o ataque do Hamas em 7 de outubro dentro de Israel, que matou mais de 1.400 pessoas.

Sisi diz que Israel pode hospedar refugiados palestinos no deserto de Negev

O Presidente do Egipto, Abdel Fattah el-Sisi, sugeriu que Israel pode transferir os palestinianos afectados pela guerra de Tel Aviv em Gaza para o deserto de Negev, em vez de solicitar ao Cairo que os acolha.

“Existe o deserto de Negev em Israel. Os palestinos podem ser transferidos para o deserto de Negev até que [Israel] façam o que desejam fazer com os agentes militares na Faixa de Gaza antes de devolverem [os palestinos]”, disse Sisi em um discurso à mídia ao lado do chanceler alemão, Olaf Scholz, que estava de visita.

O líder egípcio disse que o Cairo se opõe a acolher quaisquer palestinos na Península do Sinai.

“Se os palestinianos forem transferidos para o Egipto, a operação militar iniciada por Israel poderá durar anos e anos. Neste caso, o Egipto continuará a suportar as consequências e o Sinai será uma base para operações contra Israel e, neste caso, o Egipto será rotulado como uma base para terroristas”, disse ele.

Sisi disse que o bloqueio total de Gaza por Israel era uma tática para forçar os palestinos a se mudarem para o Sinai.

“Os atos de Israel cortando energia, água e eletricidade são um meio de transferir à força os palestinos para a Península do Sinai, o que rejeitamos totalmente”, acrescentou.

Chefe da ONU finalmente pede cessar-fogo

O secretário-geral das Nações Unidas, Antonio Guterres, apelou finalmente a um “cessar-fogo humanitário imediato” na guerra Israel-Gaza, 12 dias após o seu início e após um ataque israelita a um hospital em Gaza que matou pelo menos 500 pessoas.

O cessar-fogo humanitário era necessário para que ambos os apelos fossem atendidos, acrescentou Guterres.

Na quarta-feira, o Conselho de Segurança da ONU votará uma resolução elaborada pelo Brasil que pede pausas humanitárias no conflito entre Israel e os combatentes palestinos do Hamas para permitir o acesso de ajuda humanitária à Faixa de Gaza.

O conselho de 15 membros inicialmente deveria votar o projeto brasileiro na segunda-feira, mas foi adiado 24 horas para permitir mais tempo para negociação. Os EUA então pressionaram por um novo adiamento enquanto o presidente Joe Biden visita Israel na quarta-feira.

Médicos realizando cirurgias em pisos sem anestesia

Ambulâncias e carros particulares transportaram cerca de 350 vítimas do Hospital Al-Ahli Arab para o principal hospital da cidade de Gaza, o Hospital al-Shifa, que já estava lotado com feridos de outros ataques aéreos israelenses, disse seu diretor, Mohammed Abu Selmia.

As vítimas chegaram com ferimentos horríveis, disse o porta-voz do Ministério da Saúde palestino em Gaza, Ashraf al-Qidra.

Alguns foram decapitados, estripados ou com membros perdidos.

Os médicos do hospital sobrecarregado recorreram à realização de cirurgias no chão e nos corredores, a maioria sem anestesia.

“Precisamos de equipamento, precisamos de medicamentos, precisamos de camas, precisamos de anestesia, precisamos de tudo”, disse Abu Selmia à Associated Press. 

“Há raiva em toda a Cisjordânia ocupada”

Hoda Abdel Hamid -- Reportagem de Ramallah, na Cisjordânia ocupada

O protesto da noite passada em Ramallah foi o maior que vimos desde o início da guerra de Israel contra Gaza.

A certa altura, os manifestantes gritavam “o povo quer a queda do regime”, insinuando que queriam que o Presidente Mahmoud Abbas deixasse o cargo.

É bastante significativo. Esta não é a primeira vez, mas isso não acontece com frequência.

Os protestos também ocorreram em outras cidades da Cisjordânia ocupada. Há um sentimento de raiva e fúria contra a liderança. As pessoas sentem que a liderança aqui não fez nada de concreto, nem durante esta agressão israelita, nem antes, para melhorar a vida dos palestinianos.

Hoje é um dia de luto. Há raiva em toda a Cisjordânia ocupada.

Não foi Israel que atacou o hospital foram outros autores – disse Biden

Biden diz que ‘outros autores’, não Israel, é provavelmente responsável pelo bombardeio em hospitais de Gaza

Biden diz a Netanyahu que o atentado ao Hospital Árabe al-Ahli parece ter sido cometido pela “outra equipa, não por você”, o que implica que facções armadas palestinas estavam por trás dele.

Biden não forneceu nenhuma evidência para apoiar sua avaliação.

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