É quase cliché neste momento dizer “imagine se a Rússia ou a China fizessem isto”, mas tais comparações são importantes para manter um sentido de perspectiva sobre o quão perversa a classe política e mediática ocidental está a ser neste momento em relação a Gaza.
Caitlin Johnstone* | Caitlin Johnstone.com | em Strategic Culture Foundation | # Traduzido em português do Brasil
Imaginem como agiria a classe política e mediática ocidental se a Rússia ou a China estivessem a bombardear e a matar de fome uma população murada de dois milhões de pessoas, metade da qual eram crianças . Sério, imagine. Imagine a raiva e o vitríolo. Imagine a cobertura ininterrupta da mídia.
Quando a Rússia invadiu a Ucrânia, a cobertura mediática dessa guerra pelos EUA excedeu a cobertura mediática de todas as guerras dos EUA nas três décadas anteriores. Se a Rússia exterminasse deliberada e sistematicamente civis na Ucrânia ou em qualquer outro lugar, a cobertura dos meios de comunicação ocidentais sobre esses crimes de guerra seria muito maior.
É quase cliché neste momento dizer “imagine se a Rússia ou a China fizessem isto”, mas tais comparações são importantes para manter um sentido de perspectiva sobre o quão perversa a classe política e mediática ocidental está a ser neste momento em relação a Gaza. Estamos a ver artigos publicados nos meios de comunicação social sobre a fome em Gaza, que nunca sequer mencionam a palavra “Israel” . Você acha que isso estaria acontecendo se isso fosse perpetrado por um governo que desafia o império ocidental? Claro que não.
Um artigo inteiro da revista Economist sobre a fome em Gaza não diz a palavra “Israel” uma só vez. Nem mesmo quando descrevem danos em terras agrícolas e instalações de água ou restringem severamente a entrega de ajuda.
Dizer *quem* está destruindo as terras agrícolas e restringindo a ajuda parece ser uma informação básica a ser incluída. pic.twitter.com/Z6fBtmc0Bp
-Assal Rad (@AssalRad) 27 de março de 2024
Imaginem como agiria a classe política e mediática ocidental se a Rússia ou a China estivessem deliberadamente a bloquear alimentos a uma população encarcerada de milhões de pessoas.
Imaginem como agiria a classe política e mediática ocidental se a Rússia ou a China fizessem chover incansavelmente explosivos militares sobre áreas urbanas densamente povoadas, conhecidas por estarem cheias de crianças.
Imaginem como agiria a classe política e mediática ocidental se a Rússia ou a China estivessem deliberada e metodicamente a limpar etnicamente uma população oprimida por razões inteiramente racistas.
Imaginem como agiria a classe política e mediática ocidental se surgissem diariamente provas de que a Rússia ou a China estão a cometer crimes de guerra horríveis.
Imaginem como agiria a classe política-media ocidental se a Rússia ou a China fossem apanhadas em mentira após mentira após mentira enquanto cometiam tamanha atrocidade em massa.
Imaginem como agiria a classe política-media ocidental se a Rússia ou a China tentassem apresentar-lhes provas descaradamente fabricadas de crimes cometidos pela população visada para justificar as suas atrocidades.
Estaríamos vivendo em um cenário político e midiático diferente. Se a Rússia ou a China estivessem a fazer o que Israel está a fazer, campanhas presidenciais inteiras teriam sido construídas em torno de quem se oporia mais agressivamente. Todas as sanções e embargos previstos teriam sido impostos ao governo perpetrador. A imprensa ocidental estaria a cair sobre si mesma para expor todas as atrocidades e todas as mentiras e alardeando essas exposições como reportagens em todas as plataformas durante meses, e regando-se mutuamente com prémios por isso.
StateSpox foi questionado sobre o relatório do Relator Especial da ONU @FranceskAlbs sobre Gaza, que afirmou que há motivos razoáveis para que o limiar para o genocídio tenha sido atingido.
Miller disse que eles se opõem ao mandato desta relatora, acusaram-na de anti-semitismo e rejeitaram as alegações de genocídio. pic.twitter.com/R7s79FjYCQ
-Assal Rad (@AssalRad) 27de março de 2024
Em vez disso, conseguimos isso. Funcionários do governo tagarelam sem parar sobre o “direito” de Israel a “defender-se” e como tudo isto acabaria se o Hamas não continuasse a lutar, enquanto cobriam Israel de armas para o ajudar a continuar as suas atrocidades. Os meios de comunicação de massa produzem um dilúvio constante de manchetes em linguagem passiva “Os habitantes de Gaza estão tendo problemas para encontrar comida por algum motivo” e lembretes contínuos de que tudo isso está acontecendo por causa do 7 de Outubro, enquanto repetem a propaganda de atrocidades israelenses como se fosse a verdade do evangelho. Todos os candidatos presidenciais viáveis dos EUA prometem o seu apoio incondicional a Israel, enquanto ocasionalmente apontam impotentemente o dedo para este ou aquele aspecto das atrocidades de Israel para evitar parecerem completos psicopatas.
Esse contraste entre a forma como a classe política e mediática ocidental está a agir em relação ao genocídio de Gaza e como todos sabemos que estariam a agir se um governo não alinhado estivesse a fazer algo semelhante é exactamente a razão pela qual o império centralizado pelos EUA não pode mais ser autorizado a governar o nosso mundo. . Finge defender a paz, a justiça, a liberdade e a democracia, mas na realidade apenas inflige morte e sofrimento ininterruptos aos seres humanos em todo o mundo e encobre-os com a propaganda da sua imprensa servil. Pretende defender a “ordem internacional baseada em regras”, mas na prática tudo o que isso significa é que defende uma ordem internacional em que o império dos EUA cria as regras à medida que avança e as altera conforme lhe agrada.
A humanidade não pode mais permitir-se ser abusada e tiranizada por esta estrutura de poder assassina e hipócrita que abrange todo o mundo. Um mundo melhor é possível, mas primeiro teremos que encontrar uma maneira de arrancar as garras desses monstros do volante.
Artigo original: caitlinjohnstone.com.au
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