segunda-feira, 7 de maio de 2012

SARKOZY, HOLLANDE E O REI EDUARDO




Orlando Castro*, jornalista – Alto Hama*

Angola é um dos países mais corruptos do mundo? É. É um dos países com piores práticas democráticas? É. É um país com enormes assimetrias sociais? É.

Apesar de tudo isso o regime continua a ser bajulado por meio mundo, estando o outro meio à espera de oportunidade para também o bajular. Tudo porque Angola tem petróleo e este ouro negro está na mão de meia dúzia de elemento do clã do presidente.

Ainda agora o chefe de divisão do departamento africano do Fundo Monetário Internacional, Mauro Mecagni, elogiou o desempenho positivo da economia angolano, devido às boas políticas que estão a ser implementadas Executivo angolano.

Se isso em nada contribui para o bem estar dos angolanos, ou para a transparência do regime, ou para a democraticidade, ou para o respeito pelos direitos humanos, pouco importa.

Veja-se que as companhias petrolíferas Total e Petrobras embandeiraram em arco, e fizeram disso um motivo de festejo internacional, ao assinarem com a empresa do regime (a Sonangol) acordos de produção de petróleo no pré-sal angolano.

A companhia francesa Total assinou com a Sonangol três contratos de partilha de produção que lhe conferem, na qualidade de operadora, uma participação de 50 por cento no bloco 40 e outra, de 35 por cento, no bloco 25. Um terceiro contrato dá à companhia francesa uma participação de 15 por cento no bloco 39, mas na qualidade de associada.

E o que importa é exactamente isto. Além disso, é mais fácil negociar com uma ditadura em que são sempre os mesmos que estão no poder. Quanto ao povo que morre na miséria, esse não é um problema nem da Total nem da Petrobras porque, de facto, não são cidadãos franceses nem brasileiros.

O director de pesquisa da Total declarou recentemente a satisfação da companhia francesa com os resultados da licitação e reafirmou o compromisso do grupo petrolífero em manter-se como um dos principais investidores e operadores petrolíferos de Angola.

“Estamos satisfeitos com os resultados da licitação, que ilustram o compromisso da Total continuar a ser um dos principais investidores e operadores petrolíferos em Angola e de assumir um papel de destaque na pesquisa desta promissora bacia do offshore profundo, um sector onde o grupo já demonstrou competência e o seu know-how”, declarou Marc Blaizot.

Por sua vez, o director da divisão internacional do Grupo Petrobras anunciou, no Rio de Janeiro, que a companhia inicia este ano furos de prospecção no bloco 26 do pré-sal angolano, localizado ao longo da bacia de Benguela.

Jorge Zelada mencionou a existência de alguns projectos na costa ocidental do continente africano, em países como o Benin e o Gabão, e projectos de produção de biocombustíveis em Moçambique.

Apesar de tudo, a França continua a jogar bem em diversos tabuleiros africanos. No caso de Angola, de vez em quando o regime acusa os franceses de estarem envolvidos em conspirações contra o país, nomeadamente contra a democracia que (não) existe, contra a legitimidade de um presidente (não) eleito, contra as regras de um Estado de Direito que Angola (não) é.

O regime do MPLA acusa sobretudo a Agência France Presse de fazer campanha contra Angola, sugerindo mesmo (através do seu órgão oficial – o Jornal de Angola) que – por exemplo – terá havido ligações entre a França e o ataque à escolta militar angolana contra a selecção togolesa de futebol, na colónia de Cabinda.

Tudo estaria bem se, como fez o presidente português, Anibal Cavaco Silva, Nicolas Sarkozy tivesse dito que Angola vai de Cabinda ao Cunene. Não o disse e por isso o regime angolano, que ocupa militarmente Cabinda, não perdoa. Mas certamente que agora François Hollande vai agora corrigir a pontaria.

Não sei porquê mas creio que, bem vistas as coisas, se calhar os franceses sabem mais da História de Portugal do que os próprios portugueses. Sendo certo que para as actuais autoridades de Lisboa parece que essa mesma História só começou a ser escrita em Abril de 1974.

Paris sabe muito bem que o regime que desgoverna Angola desde 1975 é uma ditadura e que, por isso, entende que quem pensa de maneira diferente é obrigatoriamente inimigo.

"Fiquei triste com este artigo (do Jornal de Angola) que sugere que a França deve ser acusada de fomentar uma conspiração contra Angola através da FLEC. É absurdo, em primeiro lugar, e também estranho," disse na altura Francis Blondet, então embaixador de França no reino de José Eduardo dos Santos.

Mas, bem vistas as coisas, não tem nada de estranho. Aliás a zanga do dono de Angola, José Eduardo dos Santos, tem outras origens, sendo a mais conhecida a que entronca no caso “Angolagate”.

Além disso, Hollande - tal como até agora Sarkozy - não pode esquecer que mais de 70 empresas francesas estão estabelecidas em Angola, inclusive – pois claro! - a gigante de petróleo Total, que é o segundo maior produtor de petróleo no país, depois da Chevron…

* Orlando Castro, jornalista angolano-português - O poder das ideias acima das ideias de poder, porque não se é Jornalista (digo eu) seis ou sete horas por dia a uns tantos euros por mês, mas sim 24 horas por dia, mesmo estando (des)empregado.

Título anterior do autor, compilado em Página Global: AFINAL PORTUGAL JÁ MORREU!

Portugal: A CORRUPÇÃO





Uma das principais causas do fenómeno da corrupção é o elevado número de níveis de decisão a que está sujeita qualquer proposta que obrigue à intervenção do Estado. Por exemplo, para abrir qualquer negócio são necessárias inúmeras autorizações, um sem-número de pareceres e, como diz o estudo do ISCTE que hoje divulgamos, passar por diversos interlocutores. Em suma, há burocracia a mais. E a burocracia é o melhor aliado da corrupção.

Em Portugal, tal como noutros países onde esta prática abunda - e que é inimiga das democracias -, o grande problema é a falta de transparência das decisões políticas. Nunca sabemos as razões que levam a que se decida por um caminho e não por outro. E, aliada a este défice de transparência, aparece, quase sempre, a diminuta sindicância das decisões e dos processos que a elas conduzem. Assistimos sistematicamente a intenções veementes de que os processos sejam mais claros, mas elas esbarram, quase sempre, na realidade da falta de vontade política para prevenir este fenómeno.

Porém, a verdade é que existe na sociedade portuguesa uma cultura de tolerância face à corrupção, que vai desde a "cunha" como instituição nacional até ao prémio popular que, não poucas vezes, leva a que os cidadãos votem em políticos condenados e lhes atribuam vitórias eleitorais.

Ainda há poucas semanas, o procurador-geral da República se queixou das dificuldades do Ministério Público em recorrer a perícias porque estas custam muito dinheiro. Ora um crime tão complexo como é o da corrupção carece de meios técnicos especializados que permitam uma investigação eficaz e competente, capaz de produzir provas e condenações. Se assim não for, a corrupção continuará a fazer o seu caminho.

Nota Página Global

Como se pode pedir à raposa que proteja o galinheiro se ela é quem devora os galináceos todos? Mais e melhor no vídeo SIC: Vice-presidente da organização Transparência e Integridade acusa o Parlamento de ser fonte de corrupção - como as máfias gozam dos seus estatutos de descarada impunidade e sem-vergonha (PG).

Portugal: Laborinho Lúcio desafia Parlamento a criar estratégia de combate à corrupção




Público - Lusa

O ex-ministro da Justiça Laborinho Lúcio desafiou a Assembleia da República a produzir uma estratégia efectiva de combate à corrupção, ultrapassando os “princípios e manifestações de boa vontade” que já emanou.

Na apresentação de um relatório do Sistema Nacional de Integridade (SNI) sobre corrupção em Portugal, Laborinho Lúcio referiu nesta segunda-feira que “é necessário que a Assembleia da República compreenda que é aí que é preciso um pacto”. Para aplicar essa estratégia avançou a possibilidade de ser criado um órgão, indicando que as organizações que já existem podem ser aproveitadas para esta nova entidade.

Aos partidos, acrescentou, cabe serem “exigentes na qualidade dos seus elementos” para prevenir “a montante” os casos de corrupção com eleitos, em vez de se estar a agir “a jusante, punindo as más escolhas”. “A credibilidade da classe política está aí, na escolha”, argumentou.

No plano judicial, Laborinho Lúcio destacou o conflito que subsiste entre eficácia no combate à corrupção e respeito pelos direitos, liberdades e garantias dos cidadãos. As escolhas, indicou, situam-se no aumento ou redução de restrições ao uso de escutas, ao segredo de justiça e aos direitos de defesa dos arguidos.

O relatório do SNI conclui que o combate à corrupção apresenta resultados abaixo do recomendável e refere que a “cunha” está institucionalizada entre os elementos dos governos. Apesar dos “esforços”, traduzidos na produção de legislação, muitas das novas leis “estão viciadas à nascença, com graves defeitos de concepção e formatação”, o que as torna “ineficazes”, acrescenta o documento produzido pelo SNI, formado por entidades públicas e privadas e elementos da sociedade empenhadas no combate à corrupção.

O trabalho conclui que o combate à corrupção “está enfraquecido por uma série de deficiências” resultantes da “falta de uma estratégia nacional de combate a esta criminalidade complexa”. O relatório português insere-se numa iniciativa da organização Transparency International, que se desenvolveu noutros 24 países europeus e que em Portugal foi realizado pela associação Transparência e Integridade, centro INTELI - Inteligência e Inovação e Instituto de Ciências Sociais da Universidade de Lisboa.

Nota Página Global

Laborinho Lúcio hoje diz o acima exposto. No entanto foi secretário de estado, foi ministro da justiça de Cavaco Silva, foi deputado… e o que fez contra a corrupção foi NADA!

Lembrou-se agora, mais um neste jogo do Faz de Conta de tantos nas mesmas curcunstâncias. É preciso terem descaramento! (Redação PG)

INTEGRIDADE E CORRUPÇÃO





O combate à corrupção em Portugal está abaixo do esperado para um país desenvolvido, segundo um relatório do Sistema Nacional de Integridade.

«Nenhum Governo até hoje estabeleceu, objectivamente, uma política de combate à corrupção no seu programa eleitoral, limitando-se apenas a enumerar um conjunto de considerandos vagos e de intenções simbólicas». O documento revela que, apesar dos esforços, muitas das leis criadas «estão viciadas à nascença, com graves defeitos de concepção e formatação», resultando na sua ineficácia, para além de se constatar a ausência de uma estratégia nacional de combate à corrupção.
 
Do governo para o privado e do privado para o governo, com muitos boys, muitos negócios e muitos lucros. Pagamos nós.

AFINAL PORTUGAL JÁ MORREU!




Orlando Castro*, jornalista – Alto Hama*

Ao dizer, como fez hoje em Chaves, que o combate à corrupção é uma questão de vida ou de morte para Portugal, Paulo Morais está a dizer, embora de forma suave, que Portugal já morreu.

Para o representante em Portugal da Transparência Internacional, uma organização sediada em Berlim e presente em mais de cem países, "em Portugal a actividade política não só não tem combatido a corrupção, como a tem incentivado", salientou, à margem da conferência "Criminalidade no exercício de funções públicas".

Em termos de indicadores internacionais de corrupção, segundo Paulo Morais, professor da Universidade Lusófona, o país desceu dez lugares, o que quer dizer que esta actividade "se está a alargar por todo o regime".

"A política transformou-se numa mega central de negócio e grande parte da atividade política está organizada por forma a favorecer a corrupção", frisou.

O modelo, defendeu, tem que mudar sob pena de o país deixar de ter desenvolvimento. "Não há países corruptos desenvolvidos, nem países desenvolvidos corruptos", sustentou Paulo Morais.

"A legislação portuguesa favorece a corrupção. A legislação que tem a ver com grandes negócios tem muitas regras, para ninguém perceber o que se pretende, com muitas excepções para favorecer os amigos, e confere um poder discricionário a quem aplica a lei, que é, em si, fonte de corrupção”,salientou, explicando que relativamente à transparência não pode assistir-se a situações como a de se ter "na administração de grandes empresas, que fazem negócios com o Estado, membros dos maiores partidos".

Ainda esta semana, acrescentou Paulo Morais, foi criada uma comissão parlamentar para inquérito às Parcerias Público Privadas (PPP). e, mesmo essa comissão, é constituída por deputados do PS, do PSD ou CDS, que "estão ligados ao sector imobiliário, onde estão envolvidas as empresas que estão nas PPP rodoviárias".

E quanto à crise que afecta o país, Paulo Morais referiu que uma parte significativa da dívida pública se deve precisamente à corrupção e que 70% da dívida privada se deve "à especulação imobiliária", porque "muitos terrenos foram ilegitimamente valorizados".

"O Estado português gasta milhões de euros por ano em juros da dívida pública que são pagos muito acima do seu valor para beneficiar o sector bancário ou as PPP que são pagas muito acima do seu valor para beneficiar os parceiros", frisou Paulo Morais.

Sempre que Paulo Morais diz estas verdades, e tem-no feito com assiduidade relevante, interrogo-me se não terá sido por pensar como pensa e, sobretudo, por não ter medo de dizer o que pensa, que no dia 7 de Junho de 2011, foi “despedido” de colunista do Jornal de Notícias.

“O JN necessita de voltar a ter um grande foco nas razões de proximidade que fizeram dele mais que um jornal, o sítio onde as pessoas encontravam refúgio e ganhavam voz para os grandes desafios e trabalheiras do quotidiano”, escreveu o director do JN na carta (modelo único para todos os colaboradores mandados à vida) a Paulo Morais, acrescentando: “há uma nova aposta que vale a pena ser vivida em nome de um jornalismo e de um jornal mais próximo das nossas gentes sem deixar de olhar todos os horizontes”.

Creio que falar de corrupção, tema de eleição de Paulo Morais, não é de facto um factor de proximidade. Ou é demasiado de proximidade. Seja como for, o resultado foi o mesmo.

* Orlando Castro, jornalista angolano-português - O poder das ideias acima das ideias de poder, porque não se é Jornalista (digo eu) seis ou sete horas por dia a uns tantos euros por mês, mas sim 24 horas por dia, mesmo estando (des)empregado.

Título anterior do autor, compilado em Página Global: Para além da roda, também a pólvora foi descoberta pelo actual governo de Portugal – Leia também a entrevista a Orlando Castro em ORLANDO CASTRO, JORNALISTA, "O PODER DAS IDEIAS ACIMA DAS IDEIAS DE PODER"

Ver relacionado: Vice-presidente da organização Transparência e Integridade acusa o Parlamento de ser fonte de corrupção - como as máfias gozam dos seus estatutos de descarada impunidade e sem-vergonha (PG).

Portugal: Cavaco confiante em Hollande mas preocupado com resultados na Grécia




i online – Lusa, com foto de Manuel de Almeida

O Presidente da República considerou hoje que a eleição de François Hollande para a chefia do Estado francês pode contribuir para um "maior equilíbrio" entre consolidação orçamental, crescimento económico e criação de emprego.

"A eleição do senhor Hollande pode contribuir para que a agenda europeia de combate à crise da zona do Euro ganhe um maior equilíbrio, juntando à consolidação orçamental de forma mais clara uma vertente de crescimento económico e de criação de emprego, como há muito tempo tenho vindo a defender", afirmou o chefe de Estado, Aníbal Cavaco Silva, em declarações aos jornalistas no final de uma visita à Associação Protetora dos Diabéticos de Portugal, em Lisboa.

Recordando a conferência que proferiu em outubro no Instituto Universitário Europeu em Florença, onde criticou a existência de um diretório não mandatado de apenas dois países na União Europeia, referindo-se à Alemanha e à França, Cavaco Silva insistiu que essa não é uma solução de coesão e unidade.

"Nesse discurso parece que antecipei muita coisa que depois veio a acontecer. É sabido que um diretório de apenas dois países num conjunto de uma comunidade de 27 não é solução de coesão e de unidade para o avanço de um projeto que interessa a todos", disse, ressalvando, contudo, a necessidade de se aguardar pelas reações às ideias do novo Presidente da República francesa.

Questionado se considera importante que François Hollande cumpra o pacto orçamental europeu, o Presidente da República não respondeu diretamente, mas lembrou a hipótese que tem sido falada de um protocolo adicional.

"Há um pacto orçamental que já foi votado pelo conjunto dos países que subscreveram, 25, e que já foi mesmo ratificado em vários Parlamentos. Com certeza que irá ocorrer não daqui a muito tempo um conselho europeu em que essa matéria irá ser discutida, mas aquilo que se tem falado mais ultimamente tem sido num protocolo, eventualmente num protocolo adicional, que ponha um maior acento tónico na vertente do crescimento económico e da criação de emprego", afirmou.

Quanto às relações entre Portugal e França, o Presidente da República recordou que são países parceiros na NATO e na União Europeia, que a França é um dos países mais importantes para o escoamento da produção portuguesa e um dos locais onde existe uma "importantíssima" comunidade portuguesa.

"Estou certo que os dois países irão continuar a trabalhar em conjunto para aprofundar a cooperação dos mais variados domínios", acrescentou.

François Hollande foi eleito no domingo Presidente com 51,67 por cento dos votos, derrotando o chefe de Estado cessante, Nicolas Sarkozy, que obteve 48,33 por cento dos votos.

O Presidente da República reconheceu ainda "uma preocupação grande" sobre o crescimento da extrema-direita e dos eurocéticos na Grécia e considerou que nada mais resta do que esperar para ver que Governo sairá das eleições de domingo.

"Nós devemos neste momento esperar, não há outra coisa a fazer, porque os resultados eleitorais foram de tal forma dispersos que ainda não se vê muito bem o tipo de Governo que vai emergir", afirmou o chefe de Estado, Aníbal Cavaco Silva, em declarações aos jornalistas no final de uma visita à Associação Protetora dos Diabéticos de Portugal, em Lisboa.

Admitindo que a Grécia é um caso muito mais complexo do que a situação francesa, onde no domingo também se realizaram eleições, Cavaco Silva insistiu na necessidade de aguardar pela formação do Governo, de conhecer o seu programa e de esperar pelas reações da comunidade internacional a esse mesmo executivo e ao seu programa.

"Não há outra coisa a fazer a não ser esperar", frisou.

Interrogado sobre o crescimento da extrema-direita, o Presidente da República disse ser "uma preocupação grande, não apenas na Grécia como noutros países", tal como o crescimento dos movimentos eurocéticos.

"Isso deve levar os líderes europeus todos a pensarem sobre aquilo que é necessário fazer para que os europeus acreditem na mais-valia da construção europeia", disse, reconhecendo que o crescimento destes grupos na Europa "dá que pensar".

Grécia: ESQUERDA RADICAL REJEITA COLIGAÇÃO COM CONSERVADORES



i online - Lusa

O partido da esquerda radical Syriza, que obteve a segunda posição nas legislativas de domingo na Grécia, rejeitou hoje participar num governo com os conservadores e disse que vai tentar formar a sua própria coligação.

“Não pode existir um governo de salvação. As assinaturas do memorando [o plano de resgate assinado com os credores internacionais] não são a salvação mas antes a tragédia”, considerou o líder do partido, Alexis Tsipras, numa mensagem televisiva.

A Syriza conseguiu no domingo triplicar a votação em relação a 2009, garantindo 17 por cento dos votos e 52 deputados num parlamento com 300 lugares.

A terceira posição foi ocupada pelo Pasok (socialsitas), que registou um acentuado recuo eleitoral e obteve 13,2 por cento (41 deputados).

A esquerda radical grega ficou muito perto dos conservadores da Nova Democracia (ND), de Antonis Samaras, que garantiu 18,85 por cento dos votos e elegeu 108 deputados, graças ao bónus de 50 lugares reservado para o partido mais votado.

Tsipras disse que a Grécia será salva pela rejeição das “bárbaras” medidas, que incluem cortes nos salários e pensões, no âmbito de um plano de austeridade que tem sobretudo atingido “os mais fracos e os mais pobres”.

“Vamos esgotar todas as possibilidades para garantir um acordo para formar um governo, e privilegiar as forças da esquerda”, disse ainda.

O líder conservador foi esta manhã mandatado pelo Presidente Caroulos Papoulias para iniciar as conversações destinadas a formar governo, e até terça-feira deverá reunir-se com os cinco partidos que entraram no parlamento.

No entanto, o Samaras excluiu dos contactos interpartidários a extrema-direita do Amanhecer Dourado, que pela primeira vez garantiu representação parlamentar com 21 deputados (6,9 por cento dos sufrágios).

De acordo com a Constituição, o primeiro partido é mandatado pelo Presidente Caroulos Papoulias para formar uma coligação e terá três dias para as negociações. Em caso de falhanço, será o segundo partido a liderar as conversações por mais três dias e, em caso de impasse, a tarefa será concedida ao terceiro partido mais votado.

MERKEL DIZ QUE VAI RECEBER HOLLANDE "DE BRAÇOS ABERTOS"



FA - Lusa

Berlim, 07 mai (Lusa) - A chanceler alemã, Angela Merkel, disse hoje que o vencedor das presidenciais em França, François Hollande, será recebido em Berlim "de braços abertos", fazendo votos para um rápido encontro com o novo chefe de Estado socialista.

"Hollande será recebido de braços abertos, para conversações intensas e essenciais para a Europa, que queremos que sejam um sucesso, e comecem rapidamente", disse a chanceler alemã em Berlim.

As conversações deverão girar em torno do Tratado Orçamental Europeu, para impor uma maior disciplina orçamental aos países subscritores, e da sua implementação.

Berlim insiste na aplicação do Tratado, e considera que já não é possível renegociá-lo, como Hollande exigiu durante a campanha eleitoral, até porque já foi ratificado em alguns países, nomeadamente em Portugal.

"O Tratado orçamental não está à disposição, foi assinado por 25 países e já ratificado em Portugal e na Grécia, haverá um referendo na Irlanda para o ratificar, a 31 de maio, e acho que não o devemos alterar sempre que há eleições, seja em países pequenos ou grandes", disse a chanceler alemã, respondendo indiretamente a Hollande.

"Finanças públicas sólidas e crescimento económico são duas faces da mesma moeda", acrescentou a chefe do governo alemão.

Na Alemanha, o tratado deverá ser ratificado nas duas câmaras parlamentares no final de maio.

O porta-voz do governo alemão, Steffen Seibert, acrescentou que Hollande e Merkel se vão encontrar, em Berlim, provavelmente a 15 de maio, depois da posse do novo presidente francês.

Alemanha propõe pacto de crescimento a Hollande, mas insiste no Tratado Orçamental



FA - Lusa

Berlim, 07 mai (Lusa) - A Alemanha propôs um pacto de crescimento para a Europa ao novo Presidente da França, François Hollande, acentuando a necessidade de se ratificar o Tratado Orçamental para uma maior disciplina financeira entre os países subscritores.

"Iremos elaborar em conjunto um pacto de crescimento na Europa, que crie mais crescimento económico com mais competitividade", disse o ministro dos Negócios Estrangeiros alemão, Guido Westerwelle, na recepção da Embaixada de França em Berlim, no domingo à noite.

O político liberal mostrou-se também convicto de que a nova direção socialista em França e o Governo de centro-direita em Berlim "irão cooperar muito, muito estreitamente", vincando que as relações franco-alemãs "não dependem da política partidária".

Depois de enviar cumprimentos a Holande pela vitória eleitoral, Westerwelle disse ainda que o destino da Europa "depende seguramente da forma como se preservarem as estreitas relações e a parceria" entre a França e a Alemanha, as duas maiores economias da zona euro.

Simultaneamente, o chefe da diplomacia alemã desvalorizou as divergências entre os dois governos, manifestando a esperança de que Hollande se distancie das suas promessas eleitorais de abandonar o rumo da austeridade e financiar medidas de crescimento.

Quando a nova direção gaulesa tiver de tomar decisões neste domínio, "prevalecerão as responsabilidades pelo próprio país, pelo próprio povo e por todo a Europa", acrescentou Westerwelle, lembrando que o Tratado Orçamental Europeu está decidido.

Ao mesmo tempo, o político alemão abriu a porta a um compromisso com Paris, indicando que a disciplina orçamental e uma política orientada para o crescimento económica "são duas faces da mesma moeda".

Hollande anunciou na campanha eleitoral que pretende renegociar o Tratado Orçamental, ou pelo menos complementá-lo com medidas para incentivar o crescimento económico.

O Tratado foi subscrito, no início de março, por 25 dos 27 Estados da União Europeia, entretanto já ratificado em Portugal e na Grécia, e está agendado para ratificação em vários parlamentos, ao longo do ano.

Na Alemanha, a aprovação parlamentar está agendada para fins de maio.

Ambos sublinharam durante a conversa telefónica a importância das relações franco-alemãs e garantiram que irão cooperar estreitamente, disse o porta-voz da chanceler, Steffen Seibert.

O presidente dos sociais-democratas alemães, Sigmar Gabriel, também felicitou Hollande, considerando a sua vitória eleitoral "um advento que se projectará muito para além da França" e apoiando a sua proposta de renegociar o Tratado Orçamental Europeu.

Rússia: Vladimir Putin prestou juramento tornando-se Presidente




MC - Lusa, com foto

Moscovo, 07 mai (Lusa) - Vladimir Putin prestou hoje juramento sobre a Constituição russa, tornando-se assim Presidente da Rússia por um terceiro mandato, quatro anos depois de ter sido obrigado a deixar o cargo para ser primeiro-ministro.

"Eu juro, como Presidente da federação da Rússia, respeitar os direitos e liberdades do povo e do cidadão", declarou Putin durante a cerimónia no Kremlin.

Com a mão direita na Constituição, Putin prestou juramento no Kremlin perante 3.000 convidados, depois do presidente cessante, Dmitri Medvedev, ter pronunciado as últimas palavras como chefe de Estado.

"Estou feliz hoje por Vladimir Putin se tornar Presidente, é um homem de experiência e um dirigente forte", declarou Medvedev.

PALESTINA, NÚMEROS DE UMA OCUPAÇÃO EXECRÁVEL



Prensa Latina

Cairo (Prensa Latina) A ocupação e o bloqueio dos territórios palestinos por parte de Israel, para além de sua inerente natureza espoliadora, revela a perversão de uma prática que anula o desenvolvimento e o autogoverno de um povo, causando-lhe prejuízos milionários.

Discursos políticos em múltiplas tribunas mundiais, incluída a ONU, e iniciativas negociadoras dos países árabes e ocidentais, têm sido insuficientes para deter a lenta aniquilação dos palestinos na Cisjordânia ocupada e na sitiada Faixa de Gaza.

A julgar por considerações de Tarik Alami, chefe de temas emergentes e conflitos da Comissão Econômica e Social da ONU para a Ásia Ocidental, uma primeira repercussão da usurpação territorial sionista é o obstáculo à auto-suficiência dos palestinos.

Um relatório apresentado durante o recente seminário sobre o impacto econômico e social desta política sionista no Cairo expôs cifras estarrecedoras da repressão, uso da força, roubo de propriedades e ampliação de assentamentos judeus pelos israelenses, bem como o impacto nos recursos naturais e no meio ambiente.

A economia da Autoridade Nacional Palestina (ANP) sofre anualmente perdas de sete bilhões de dólares por causa da ocupação, o que tem converteu esses territórios numa das economias mais dependentes de ajuda no mundo.

A este respeito, o embaixador da ANP na ONU, Riyad Mansour, assinalou numa entrevista à Prensa Latina que o custo da dominação é facilmente quantificável, daí que, se essa política terminar, "seremos capazes de ser auto-suficientes e não precisaremos de ajuda externa".

Os sete bilhões de dólares que a economia palestina perdeu em 2010 equivalem à quase totalidade do Produto Interno Bruto (PIB) anual, e esse dano foi produzindo privando os residentes na Cisjordânia, Jerusalém Oriental e Gaza de utilizarem seus recursos naturais.

Terra, água, minerais, gás natural, pesca e outras riquezas incluíram-se entre os recursos impossíveis de explorar pelos palestinos, de acordo com Mansour e de cifras aportadas pela ONU.

Em termos de direitos humanos, 125 palestinos morreram e 2.144 foram feridos pelas forças de segurança e pelos colonos israelenses em 2011, quando mais de dois terços das baixas se produziram em fatos unidos à atividade nos assentamentos judeus.

Segundo a ONU, no ano passado pereceram 16 crianças e outros 441 ficaram feridos por abusos israelenses, um dado que elevou a 1.351 a cifra de jovens mortos por soldados e colonos entre 2000 e 2011.

Desde que se produziu a invasão, em 1967, até 2010 registraram-se mais de 760 mil detenções de palestinos por forças israelenses, incluídos 15 mil crianças, dos quais em média 192 estiveram em prisão em 2011 e ao menos 63 sofreram torturas ou doenças.

Vale recordar que entre 500 e 700 menores palestinos são processados a cada ano em cortes militares de Israel, muitas vezes por participar em mobilizações contra as demolições de casas, uma prática intensificada agora em 80 por cento em relação a 2010.

No mínimo, 21.200 palestinos ficaram sem suas moradias de 2004 até hoje como resultado das demolições, deles 620 viram serem demolidas suas residências em 2011, enquanto 1.094 foram forçados a se deslocarem e 4.164 sofreram afetações diretas.

A esses dados referidos à Faixa Ocidental, é preciso acrescentar as 23.500 pessoas ainda sem teto em Gaza devido à impossibilidade de reconstruir 15 mil unidades habitacionais devastadas no enclave durante os bombardeios da Operação Chumbo Fundido (2008-2009).

Em Jerusalém Oriental, a parte da cidade santa onde os palestinos aspiram converter em capital de seu futuro Estado, os árabes têm sido vítimas da expropriação de ao menos 23.378.000 metros quadrados desde 1968, e 390 derrubadas de casas desde 2004.

As limitações para edificar nessa zona da cidade e a revogação de 13.115 permissões de residência para palestinos de 1967 a 2009, faz com que 60 mil pessoas estejam ameaçadas de se converterem em "sem tetos".

Todos esses ataques ajudam a reforçar uma estratégia de "judaização" dos territórios árabes a partir da ampliação de assentamentos ilegais, segundo denunciaram especialistas durante uma conferência sobre Jerusalém, realizada no final de fevereiro no Qatar.

As estatísticas da referida instância da ONU sustentam que até meados de 2010 viviam 517. 774 colonos em 144 assentamentos que a ONU tacha de ilegais, e em outros 100 bairros ou postos avançados fora dessas colônias, ilícitos inclusive pela lei israelense.

Só a modo de exemplo, no ano passado a taxa de construção em assentamentos israelenses da Cisjordânia e de Jerusalém duplicou o nível das obras de construção dentro de Israel e os extremistas judeus utilizam estradas marcadas só para o acesso de israelenses.

Na Ribeira Ocidental, o Estado sionista anexou 13 por cento do território, segue construindo um muro gigantesco que afeta 855 mil palestinos, mantém 33 mil presos entre essa cerca e a chamada Linha Verde e separou Jerusalém do resto da Cisjordânia.

Cerca de 170 milhões de metros quadrados de terra fértil estão isolados pelo muro de segregação e os assentamentos despejam 40 milhões de metros cúbicos de águas residuais e dejetos sólidos anualmente em solo palestino.

Até dezembro, contabilizaram-se 557 obstáculos, entre postos de controle militar, valetas, montículos de areia e outros meios para restringir o movimento de palestinos dentro de sua própria terra.

Por causa da usurpação israelense, o PIB per capita em 2010 foi 30 por cento menor que em 2000, 22 por cento dos palestinos se sumiu na pobreza em 2009 e a taxa de desemprego cresceu a 24 por cento na primeira metade de 2011.

Pelo menos 1,43 milhão de palestinos sofre insegurança alimentar, duas em cada três crianças em Gaza apresenta reação severa e moderada a traumas e o bloqueio impôs "sacrifícios inaceitáveis, escolhendo com frequência entre alimento, remédio ou água".

A inacessibilidade a terras em Gaza causa à economia perdas de aproximadamente 75 mil toneladas métricas de produção potencial anual e a média de acesso a água fresca para consumo doméstico é de 73 litros por pessoa/dia na Cisjordânia e 52 na Faixa.

Israel impõe uma zona de restrição de um a 1,5 quilômetro dentro do enclave de Gaza, negando aos palestinos o acesso a 35 por cento dos terrenos cultiváveis.

E ainda, o bloqueio marítimo proíbe pescar para além de três milhas náuticas da costa do Mediterrâneo em Gaza, o que afeta diretamente 65 mil pessoas.

A lista de problemas e indicadores sociais negativos derivados da ocupação israelense é extensa e, sobretudo, ilustrativa do drama de um povo que censura às maiores potências do mundo a seguirem usando dois pesos e duas medidas para abordar o conflito central do Oriente Médio.

*Corresponsável da Prensa Latina no Egito

Governador da Flórida admite que lei contra Cuba é inconstitucional e frustra anticastristas



Rui Ferreira, Miami – Opera Mundi

Republicano Rick Scott reconheceu que cabe ao Congresso legislar sobre embargo a empresas que atuam na ilha

Do céu ao inferno em pouco menos de duas horas. Foi o que ocorreu nesta semana com o govenador da Flórida, Rick Scott, pelo menos no que diz respeito à sua popularidade na comunidade de origem cubana que vive no Estado. O republicano havia confirmado sua fama de “anticastrista exemplar” ao sancionar uma lei que proíbe o governo estadual de contratar empresas que mantenham negócios com a ilha caribenha. No mesmo dia, passou a ser chamado de “americano de merda” ao admitir que tudo não passava de jogo de cena: a norma não tem validade por ser incompatível com a Constituição norte-americana, que garante ao Congresso Federal a competência para legislar sobre política externa.

Votada sob a pressão do poderoso lobby anticastrista, a lei já nasceu rodeada de polêmica desde que começou a ser discutida há quatro meses, por ter sido desenhada para prejudicar expecificamente empresas como a construtora brasileira Odebrecht, responsável pelas mais importantes obras públicas de Miami - como a remodelação do aeroporto internacional, dois estádios desportivos, um centro de artes musicais e, agora, a ampliação do metrô da cidade. Por outro lado, a empreiteira brasileira também inúmeros projetos em Cuba.

A aprovação da lei foi bastante celebrada por deputados e senadores de origem cubana e líderes de grupos exilados de extrema-direita, empresários e todo o tipo de ativistas. Na segunda-feira, para dar mais ênfase à lei, os seus promotores montaram uma festa na Torre da Liberdade no centro de Miami - lugar onde da década de 1960, foram recebidos os primeiros refugiados que chegaram de Cuba.

Scott foi recebido como o herói do momento. Cerca de 200 pessoas escutaram durante uma hora, sete discursos de loas ao governador, no qual se destacou seu “apoio irrestrito à liberdade de Cuba”, seu “empenho em acabar com o castrismo”, e a sua “compreensão pela tragédia dos cubanos”. “Rick Scott é uma pessoa que percebe a nossa situação, que combate o regime de Fidel Castro, e com esta lei que acaba de promulgar está enviando uma mensagem muito forte a todos aqueles empresários que apóiam as ditaduras”, disse ao Opera Mundi, a congressista federal Ilena Ros-Lehtinen.

“Este é o governador que nos fazia falta, o governador que está dando um exemplo do que deve ser uma luta vertical contra as ditaduras”, disse no seu discurso, o congressista federal David Rivera, um republicano cubano-americano, atualmente investigado pelo FBI por desvio de fundos de campanha política.

Jogo de cena

Mas horas depois, Rivera parecia outro. Tinha outra opinião e muito mais radical “Este governador é um colaborador do regime cubano, traiu o exílio cubano. Vou entrar com um processo na justiça porque ele tem de dar explicações”, disse o congressista, numa entrevista na ultra Radio Mambí. “Sim, não há duvida é um americano de merda”, respondeu o entrevistador.

O que aconteceu, entretanto, foi simples. Uma hora depois de receber abraços e elogios, Rick Scott entregou à imprensa uma carta que enviou ao Congresso e à Casa Branca, em Washington, admitindo que esta lei “não pode ser aplicada”, pelo qual “peço ao Congresso (federal) e ao presidente (Barack) Obama que promulguem uma lei autorizando a Florida a poder legislar nesta matéria”.

Nos Estados Unidos, os estados não têm capacidade para legislar em matéria de política exterior, área de atuação exclusiva do governo federal. Por isso, na cerimônia de promulgação da lei, os legisladores republicanos preocuparam-se muito em afirmar à imprensa que esta nova lei estadual é complementar e análoga à legislação federal sobre as sanções a Cuba e à Síria.

“O governador zombou da gente. Não sentiu uma só das suas palavras. Escreveu esta carta para travar a aplicação da lei dizendo que necessita de uma autorização federal”, afirmou o lobista cubano-americano Mauricio Claver Carone, representante em Washington dos grupos de pressão da direita exilada. Em sua opinião, “o fato é que o congresso já aprovou uma serie de sanções a Cuba e a Síria, portanto esta lei (estatal) é conseqüente com a federal”.

A lei oficialmente não só visa Cuba, porque inclui também a Síria. Mas Cuba é o objetivo principal. A legislação foi criada depois que dois vereadores do condado Miami-Dade, que abrange a área metropolitana de Miami, descobriram que a Odebrecht está participando da reconstrução do porto de Mariel, na costa norte de Cuba a oeste de Havana.

Tal como estava previsto, a lei deve entrar em vigência no dia 1 de julho, mesmo que o governo federal não se pronuncie até lá. De qualquer modo, todos os especialistas consultados afirmam abertamente que todo o assunto vai acabar nos tribunais, porque além de sua possível inconstitucionalidade o conteúdo é muito confuso.

Na prática pode afetar inúmeras empresas, desde as de comunicações até ao transporte aéreo. Num mundo globalizado é praticamente impossível que as grandes empresas que operam na Florida não tenham, direta ou indiretamente, algum tipo de relação comercial com Cuba. O túnel de Miami, por exemplo, uma obra faraônica que pretende unir o porto da cidade com um rodovia, está sendo aberto por uma empresa francesa que construiu três hotéis em Cuba.

“Isto levanta muitos problemas, como o da privacidade. As empresas não gostam de divulgar a sua lista de clientes, de resto não têm porque o fazer. E os governos locais não tem dinheiro para ir aos tribunais contestar isso”, comentou o advogado especialista em comercio internacional, Carlos Maria Almeida. Para ele tudo isto tem um fundo político numa ano de eleições particularmente quente. “Tanto os democratas como os republicanos estão à caça do voto hispânico”, afirmou.

“O governador Rick Scott se comportou de um modo muito parecido ao capitão Renault, aquele personagem interpretado por Claude Rains no Casablanca, que sempre que pedia a conta do que tinha consumido no café de Humphrey Bogart, acabava por a rasgar”, afirmou o analista cubano-americano Alejandro Armengol ao Opera Mundi.

De qualquer modo, acrescenta, “não há que culpar muito o governador, já que o seu comportamento não é muito diferente dos últimos três presidentes dos Estados Unidos, que não se cansam de reiterar o seu apoio à lei Helms-Burton, para depois suspender a aplicação do capitulo 3”, que proíbe os investimentos de empresas européias nos Estados Unidos, se fazem o mesmo em Cuba.

“Neste aspeto, acabamos de assistir a um episodio a meio caminho entre o sainete e a histeria, pela qual se move uma boa parte da política de Washington em relação a Cuba”, afirmou Armengol.

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FARC: JORNALISTA FRANCÊS SERÁ LIBERADO EM BREVE





As Farc (Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia) divulgaram no domingo um vídeo em que confirmam que o jornalista francês desaparecido Romeo Langlois está em seu poder. O grupo afirmou ainda que o refém deve ser libertado “em breve”. A confirmação de que Langlois, que no sábado completou uma semana desaparecido, está nas mãos do grupo foi divulgada no YouTube.

O vídeo foi divulgado por um grupo de correspondentes estrangeiros que gravou imagens de um comandante do esquadrão da Frente 15 (uma unidade das Farc) lendo um comunicado em que os guerrilheiros dizem que Langlois é “prisioneiro de guerra”.

Na gravação, o comandante, identificado como “Ancízar”, repetiu o comunicado das Farc divulgado pela primeira vez em 1º de maio. Ele também deu a entender que o grupo guerrilheiro espera que a situação seja resolvida “em breve”.

- Não estou autorizado a dar declarações em nome de superiores, mas concluímos que ele realmente é francês, se chama Romeo Langlois, é jornalista e, com essa informação, esperamos que rapidamente superemos esse impasse -disse o comandante rebelde.

Mais tarde, a declaração seria reforçada por meio da conta de Twitter @FARC_COLOMBIA que postou a frase “Romeo Langlois, um jornalista francês, em breve será libertado”. ”Não foi um sequestro, ele foi capturado em combate”, acrescenta o comunicado no Twitter.

Uniforme

O primeiro comunicado, que também dizia que o correspondente do Le Figaro e do France 24 na Colômbia tinha sido capturado “em combate” e vestindo “uniforme militar”, foi recebido com ceticismo em algumas áreas por não ter sido transmitido pelos canais habituais das Farc, mas sim por um telefonema.

No mesmo comunicado, as Farc diziam que Langlois tinha sido capturado durante um confronto entre um grupo de guerrilheiros e policiais e militares com os quais viajava junto.

O grupo afirmou ainda que o jornalista havia sofrido um ferimento no braço durante o confronto, mas estaria “fora de perigo”.”No momento, não há informações sobre o destino de Romeo”, disse à BBC o jornalista britânico Karl Penhaul, que junto com o fotógrafo chileno Carlos Villalon, fez contato com os insurgentes.

Langlois foi capturado há uma semana, quando acompanhava uma patrulha do Exército para fins jornalísticos. Penhaul, baseado em Bogotá há mais de 15 anos e amigo pessoal de Langlois, disse que, no início, os guerrilheiros pensaram que o francês poderia ser militar.

Na Colômbia, jornalistas não costumam viajar juntos com militares, que os evitam levar a locais de possíveis conflitos.

No momento da captura, o jornalista e documentarista francês de 35 anos estaria vestindo colete e capacete militar, segundo o ministro da Defesa colombiano, Juan Carlos Pinzón.

O ministro afirmou que apenas posteriormente o jornalista se identificou como sendo um civil.

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Petroleira argentina YPF inicia nova etapa com gerenciamento estatal



Prensa Latina, com foto

Buenos Aires, 7 mai (Prensa Latina) Nove décadas após sua fundação, a renacionalizada petroleira argentina YPF iniciará hoje uma nova etapa de trabalho que, na opinião da presidenta Cristina Fernández, lhe permitirá converter em uma empresa absolutamente moderna e competitiva. O começo do ciclo marcará a publicação no Boletim Oficial da lei que declara de interesse público o autoabastecimento de petróleo e dispõe a expropriação de 51 por cento das ações de YPF S.A. nas mãos da espanhola Repsol.

Ademais, o próprio Boletim oficializará a nomeação do engenheiro Miguel Galuccio como gerente geral de Yacimientos Petrolíferos Fiscais, o que coloca em marcha uma fase de profissionalização da empresa e de alinhamento com os interesses do país.

Segundo difundiu a Casa de Governo, para esta mesma segunda-feira o titular da Comissão Nacional de Valores (CNV), Alejandro Vanoli, convocou a uma reunião de diretório do organismo, a fim de implementar o disposto na lei de expropriação das ações da petroleira.

No encontro se disporá a remoção da totalidade dos diretores e síndicos titulares e suplentes de YPF e serão designados os reemplazantes do corpo diretivo da empresa, pelo termo que corresponda.

Ademais, será convocada uma assembleia de acionistas de YPF, que -segundo antecipou na sexta-feira passada a presidenta Fernández- deverá ter lugar em 4 de junho.

A própria chefa de Estado adiantou que o interventor de YPF e ministro de Planejamento, Julio De Vido, e o vice-interventor e vice-titular de Economia, Axel Kicillof, apresentarão um relatório na assembleia ordinária de acionistas sobre o estado real da empresa ao momento da intervenção.

Recordou assim que quando enviou ao Congresso o projeto de lei de expropriação propôs a necessidade de ter uma YPF com um perfil profissionalizado, o qual "não quer dizer que não tenha direção política", esclareceu antes de afirmar que a designação de Galluccio vai nesse sentido.

A ideia -insistiu Fernández- é ter uma YPF absolutamente moderna, competitiva e profissional, e com uma política que aponte a sustentar o crescimento, o emprego e a atividade econômica da nação.

Tudo isso, agregou, propõe "o desafio histórico de demonstrar que podemos, desde o Estado, ser eficientes; e que não pode ter contradição entre os interesses de uma empresa e os do país".

A lei de expropriação de YPF foi aprovada o 3 de maio último pela Câmera de Deputados com 208 votos a favor, 32 na contramão e cinco abstenções, depois que o Senado da Nação lhe desse meia sanção com o respaldo de 63 legisladores, só três contra e quatro abstenções.

O PRÉMIO NOBEL DA PAZ





QUASE não falarei do povo cubano, que um dia apagou de sua pátria o domínio dos Estados Unidos, quando o sistema imperialista tinha alcançado o ponto culminante de seu poder.

Homens e mulheres das mais diversas idades desfilaram no 1º de maio pelas praças mais simbólicas de todas as províncias do país.

Nossa Revolução surgiu no lugar menos esperado pelo império, em um hemisfério onde atuava como dono absoluto.

Cuba passou a ser o último país a livrar-se do jugo colonial espanhol e o primeiro a sacudir a odiosa tutela imperialista.

Penso hoje fundamentalmente na irmã República Bolivariana da Venezuela e sua luta heróica contra o saque desapiedado dos recursos com que a natureza dotou esse nobre e abnegado povo, que um dia levou seus soldados aos rincões afastados deste continente para pôr de joelhos o poderio militar espanhol.

Cuba não necessita explicar por que temos sido solidários, não só com todos os países deste hemisfério, mas também com muitos da África e outras regiões do mundo.

A Revolução Bolivariana tem sido também solidária com nossa pátria, e seu apoio a nosso país se converteu em um fato de grande importância nos anos do Período Especial. Essa cooperação, contudo, não foi fruto de nenhuma solicitação por parte de Cuba, como tampouco estabelecemos nenhuma condição aos povos que requeriam nossos serviços educacionais ou médicos. Em qualquer circunstância, teríamos oferecido a máxima ajuda à Venezuela.

Cooperar com outros povos explorados e pobres sempre foi para os revolucionários cubanos um princípio político e um dever com a humanidade.

Fico enormemente satisfeito ao observar, como observei ontem, através da Venezuelana de Televisão e da Telesul, o profundo impacto que produziu no povo irmão da Venezuela a Lei Orgânica do Trabalho, promulgada pelo líder bolivariano, o presidente da República, Hugo Chávez Frias. Jamais vi nada parecido no cenário político de nosso hemisfério.

Prestei atenção à enorme multidão que se reuniu em praças e avenidas de Caracas e, em especial, às palavras espontâneas dos cidadãos entrevistados. Poucas vezes vi, e talvez nunca, o nível de emoção e esperança que estes colocavam em suas declarações. Podia-se observar com clareza que a imensa maioria da população é constituída por trabalhadores humildes. Uma verdadeira batalha de ideias está sendo travada com força.

Rafael Correa, presidente do Equador, declarou valentemente que mais do que uma época de mudança estamos vivendo uma mudança de época. Ambos, Rafael Correa e Hugo Chávez, são cristãos. Obama, porém, é o quê? Em que acredita?

Ao completar-se o primeiro aniversário do assassinato de Bin Laden, Obama concorre com seu rival Mitt Romney na justificação daquele ato perpetrado em uma instalação próxima à Academia Militar do Paquistão, país islâmico aliado dos Estados Unidos.

Marx e Engels nunca falaram em assassinar os burgueses. No velho conceito burguês os juízes julgavam, os verdugos executavam.

Não há dúvidas de que Obama era cristão; em uma das vertentes dessa religião aprendeu o ofício de transmitir suas ideias, uma arte que significou muito para ele em sua acelerada ascensão dentro da hierarquia de seu partido.

Na declaração de princípios da Filadélfia, em julho de 1776, afirmava-se que todos os homens nasciam livres e iguais e a todos seu criador concedia determinados direitos. Pelo que se conhece, três quartos de século depois da independência, os escravos negros continuavam sendo vendidos nas praças públicas com suas mulheres e filhos, e quase dois séculos depois, Martin Luther King, prêmio Nobel da Paz, teve um sonho mas foi assassinado.

O júri de Oslo obsequiou seu prêmio e Obama tinha-se convertido quase em uma lenda. Não obstante, milhões de pessoas devem ter visto as cenas. O Prêmio Nobel Barack Obama viajou aceleradamente ao Afeganistão, como se o mundo ignorasse os assassinatos em massa, a queima de livros sagrados para os muçulmanos e os ultrajes dos cadáveres das pessoas assassinadas.

Nenhuma pessoa honesta jamais estará de acordo com os atos terroristas, mas por acaso o presidente dos Estados Unidos tem o direito de julgar e de matar; de converter-se em tribunal e ao mesmo tempo em carrasco e levar a cabo tais crimes, em um país e contra um povo situado no lado oposto do planeta?

Vimos o presidente dos Estados Unidos subindo a trote os degraus de uma empinada escada, em mangas de camisa, avançar a passos acelerados por um corredor e depois parar para impingir um discurso a um numeroso contingente de militares que aplaudiam com relutância as palavras do ilustre presidente. Nem todos aqueles homens nasceram cidadãos norte-americanos. Eu pensava nos colossais gastos que isso implica e que o mundo paga, pois quem se responsabiliza por esse enorme gasto que já ultrapassa os US$ 15 trilhões? É isso que o ilustre Prêmio Nobel da Paz oferece à humanidade.

Fidel Castro Ruz - 3 de maio de 2012

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