sábado, 9 de março de 2013

Portugal: “TODOS OS CENÁRIOS ESTÃO EM CIMA DA MESA”, dizem os sargentos




Carlos Abreu – Expresso – foto Manuel de Almeida/Lusa

Protesto de dia 20, frente à residência oficial do primeiro-ministro, poderá marcar o início de uma vaga de contestação dos militares ao Governo. Leia a "carta" que será entregue a Passos Coelho.

Com uma concentração já marcada para 20 de março frente à residência oficial do primeiro-ministro, os militares não excluem a realização de novos protestos.

"Todos os cenários estão em cima da mesa, da elaboração de uma simples exposição à presença na rua", disse ao Expresso Lima Coelho da Associação Nacional de Sargentos.

Os sargentos garantem ainda que vão estar a avaliar a situação "constantemente" com as outras associações de militares (oficiais e praças) mas que "a bola está agora no campo do primeiro-ministro a quem irão entregar, 20 de março, pelas 17h30, a resolução ontem votada no encontro que decorreu no Pavilhão de Desportos de Almada.

Nesse documento subscrito pelas três associações de militares lembram que "nunca procuraram eximir-se aos sacrifícios impostos a quase todos os portugueses" e alertam a opinião pública para a "descaracterização e desarticulação das Forças Armadas". Manifestam ainda a sua "indignação pela forma como o Sr. MDN [Ministro da Defesa Nacional] atua e permite que se atue perante a opinião pública, esquecendo o dever de tutela".

Ao Expresso, Lima Coelho lembrou, por exemplo, o que diz ser o "incumprimentos da lei orgânica" por parte de Aguiar-Branco, ao não escutar o que as associações de militares têm para dizer sobre a anunciada reforma das Forças Armadas.

"Não estamos de forma alguma contra a reestruturação da Forças Armadas, mas não podemos deixar de questionar a forma com está a ser feita", disse Lima Coelho.

"As Forças Armadas não são uma qualquer empresa em que se reduz as horas de trabalho para conter gastos", acrescentou e deu exemplos: "As equipas de busca e salvamento da Força Aérea têm de treinar todos os dias para poderem com sucesso cumprir as suas missões. Os paraquedistas têm de saltar e os pilotos de realizar horas mínimas de voo para estarem operacionais".

"Os militares não podem estar sentados à espera que soe o sinal de alarme", rematou.

A FUNESTA REFORMA DE CAVACO




Henrique Monteiro – Expresso, opinião

O Presidente da República, que esta semana falou aos jornalistas durante uma visita a uma fábrica e publicou um prefácio aos seus Roteiros VII, coletânea de intervenções durante o ano de 2012, deixou claro que não quer se incendiário, que trabalha 10 horas por dia e que a sua ação nos bastidores se pauta pela necessidade de evitar uma crise política.

"Seria porventura tentador utilizar a chefia do Estado como palco de atuação de grande efeito", escreve Cavaco Silva.

Admitamos que tudo isto tem sido assim. Que a sua atuação é intensa e discreta, e que visa essencialmente evitar uma crise política e a radicalização do país. São tarefas que efetivamente lhe cabem, pois é o único órgão político unipessoal que representa a globalidade da nação. É, como se sabe, hábito, os presidentes não se reconhecerem numa maioria, mas como "Presidentes de todos os portugueses".

Pois bem, se é verdade o que Cavaco afirma, se ele, ao contrário do que diz hoje no 'Público' Vasco Pulido Valente não é só um reformado, é caso para lhe dizer, muito serenamente, que é melhor alterar o modo de atuação, porque este tem falhado redondamente. A intenção até pode ser boa, mas os resultados aí estão e são um desastre: o país está radicalizado como nunca; a crise política e - pior - a crise de representação política é evidente.

E se ele falha, teremos de retirar uma de duas conclusões. Ou é impossível fazer melhor do que Cavaco; ou Cavaco não tem o prestígio, a força e a autoridade política suficientes para fazer melhor do que está à vista.

Penso que todos sabem a resposta.

ANIBAL ESCAVACADO SILVA




Tiago Mesquita - Expresso, opinião

Desta feita, a intervenção não foi à porta de uma fábrica de moer cereais. Foi através da única coisa que une verdadeiramente o Presidente da República Cavaco Silva à nação: a internet. Ou melhor, a página oficial de facebook do Presidente Emérito. Rezava assim, no dia de ontem:

"No próximo dia 9 de Março, data em que completo o segundo ano do meu segundo mandato, divulgarei, na página da Presidência da República na Internet, o texto do Prefácio do livro "Roteiros VII", que reúne as intervenções mais significativas que produzi naquele período. Este ano, o Prefácio diz respeito ao modo como deve actuar um Presidente da República em tempos de grave crise económica e financeira, como aquela em que Portugal tem estado mergulhado nos últimos anos."

Em primeiro lugar, percebe-se agora a vida de reclusão do Presidente - estava a escrever e, provavelmente, não queria desconcentrar-se. E um país a afundar pode ser inconveniente. Uma distração à criação literária. De destacar ainda que o Presidente vai finalmente elucidar-nos sobre a forma como deveria ter actuado e não actuou. Vai explicar-nos como deveria ter limitado a actuação de sucessivos governos incompetentes, evitando, talvez, o ponto de ruptura financeira, económica e social a que chegámos. Estou certo de que fará um mea culpa. Assistiu, impávido e sereno, à destruição de um país graças à livre e lesiva actuação de fracos políticos, escavacando-se também ele no processo. É, por isso, corresponsável pelo "escavacanço" generalizado. Das instituições, da política, dos valores, da vida das pessoas.  

Majestaticamente aninhado no seu palácio, viu muitos dos seus acólitos, alguns amigos pessoais, destruírem uma nação. Nunca lhe ouvimos uma palavra sobre o assunto. Fez exactamente o contrário. Há sarcófagos, espalhados em museus por esse mundo fora, com "intervenções [bem] mais significativas" do que as produz Cavaco Silva.

Cavaco praticou uma magistratura passiva. A actividade presidencial pode ser medida pelas aparições sua página oficial no Facebook. Enquanto o país ardia política e socialmente e este se encontrava no estrangeiro, dizia que não falava de assuntos de política interna durante as deslocações ao exterior. Quando, em Portugal, ia visitar as Minas da Panasqueira, mesmo que no Parlamento andasse tudo ao estalo, respondia que durante esse dia só falava de volfrâmio e outros minerais. Enfim...

Na verdade, ninguém está interessado em saber como Cavaco acha que deve actuar um Presidente em tempos de crise. E pela simples razão de que ninguém acha que ele actue, tenha actuado ou vá actuar alguma vez na vida. E quanto maior a crise, mais inanimado fica. Escavacado que está, mais ou menos escavacado ficará. Conseguiu, contudo, provar algo aos portugueses: é possível sobrevivermos sem um Presidente da República.

PORTUGUESES CONTRA MAIS CORTES DECLARAM A ILEGITIMIDADE DO GOVERNO E DE CAVACO



Portugueses contra os cortes de quatro mil milhões

Teresa Camarão - Expresso

Decisão do Governo em reduzir a despesa pública não é bem acolhida pelos portugueses, segundo a sondagem para o Expresso e SIC feita pela Eurosondagem.

A maioria dos portugueses está contra o corte na despesa do Estado que o Governo quer fazer e acredita que a troika composta pelo FMI, pela Comissão Europeia e pelo Banco Central Europeu vai flexibilizar o programa português.

A Sondagem Expresso/SIC/Eurosondagem procurou traçar em linhas gerais quais são as expectativas dos inquiridos em relação à flexibilização do programa de ajustamento e se concordam ou não com a intenção do Governo cortar quatro mil milhões de euros nas despesas do Estado. 

Os resultados indicam que 51,4% acreditam que a troika poderá vir a renegociar os prazos estipulados pelo memorando, enquanto 36,7% dos inquiridos não acreditam nessa possibilidade.  
     
Em relação aos cortes de quatro mil milhões de euros na despesa do Estado, com vista a atingir a meta do défice, 61,1% dos inquiridos está contra a intenção do Governo e 32,6% a favor.

Cavaco desce na popularidade

Teresa Camarão - Expresso

Barómetro da Eurosondagem para o Expresso e SIC do mês de março mostra uma queda na popularidade do Presidente da República, e uma subida do PS nas intenções de voto

O PS lidera as intenções de voto e sobe na sondagem, Cavaco e o PSD estão em queda e António José Seguro é o político mais popular em Portugal, segundo os dados da Sondagem Expresso/SIC relativa ao mês de março.

No que toca às intenções de voto, os social democratas perdem 11,6% em relação às últimas legislativas e 0,6% relativamente ao barómetro do mês de Fevereiro. O partido de Passos Coelho já está a 8,2 pontos do PS, que, têm traçado o caminho inverso e volta a assistir a um aumento das intenções de voto. Os socialistas contam já com 35,2 pontos percentuais, mais 7,1% do que alcançaram nas últimas eleições legislativas, mais 1,1% do que no último barómetro.

A CDU é hoje o terceiro partido dos portugueses, isto na medida em que, desde as últimas eleições, viu aumentar as intenções de voto em 4,2%, atingindo já os 12,1%.

O outro partido do Governo de coligação, o CDS, assistiu, desde as legislativas, a uma diminuição das intenções de voto num valor de 2,7%, contanto agora com 9%.

Já o Bloco viu aumentar as intenções de voto em 2,8% e está apenas a um ponto do partido de Paulo Portas. 

Aos olhos dos portugueses, António José Seguro continua a liderar no plano da popularidade dos políticos nacionais, isto, ao contrário de Pedro Passos Coelho e do Governo, em queda. 

Mas, a maior queda de popularidade não pertence ao Primeiro-Ministro, pertence sim ao Presidente da República, Cavaco Silva, que desde a Sondagem Expresso/SIC perdeu 5,2%. A Assembleia da República foi o órgão de soberania que assistiu ao maior aumento, 3,7%. 

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Opinião Página Global

Não era possível os portugueses proporcionarem outro resultado nas sondagens que acima são referidas. Só se fossem tão estúpidos e masoquistas quanto Cavaco Silva, o governo e seus comparsas displicente e erradamente os consideram.

Tem sido bastante evidente que nem governo nem presidente da República têm legitimidade democrática para continuarem a exercer os atuais cargos, Estão pendurados na legitimadade dos resultados das últimas eleições que se realizassem agora os deporiam dos poderes. A democracia não se esgota permanentemente nos resultados das eleições. O facto de os políticos serem eleitos não lhes dá o direito de governarem ou comportarem-se contrariamente ao que prometeram nas campanhas eleitorais. Principalmente quando governo se comportam de costas viradas para os que os elegeram. Se fossem realmente honestos demitir-se-iam e se quisessem fariam novas propostas em novas eleições. Então sim, se fossem novamente eleitos teriam legitimidade democrática. É evidente que na atualidade não têm essa legitimidade. Grosso modo mas de facto os portugueses estão a sobreviver numa ditadura mascarada de democracia e um dos principais mentores e sustentáculo desta situação é Cavaco Silva, o PR sem legitimidade democrática para prosseguir a habitar o Palácio de Belém, nem muito menos continuar a constituir-se PR contra a vontade dos portugueses de quem ele não é presidente. Pior que Cavaco Silva naquela ilegitimidade só os do governo que ele quer manter a todo o transe, contra tudo e contra todos.

*Título PG

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