domingo, 20 de maio de 2012

A AMPLA CIDADE



Rui Peralta

Angola Avante!

Hoje o tema é duro e sei que há muitos que não gostam, por isso vou ser breve. Mas primeiro vou cumprir a minha promessa de vos contar a estranha história relatada por Chris Two no seu delicioso restaurante em Veneza. Vamos então:

Regressados ao apartamento de Chris Two, ficaram em silêncio, observando-se mutuamente. Depois, sem uma palavra, abraçam-se e beijam-se, prolongadamente. A língua do Anjo percorreu todo o corpo de Chris e este, completamente rendido aos encantos do Anjo, retribuía carícias, beijos e suspiros. Aos poucos, os corpos fundiram-se, primeiro em lentos movimentos, depois em acelerados gestos e finalmente em espasmos loucos e violentos, até que um choque súbito percorreu os dois seres.

Caíram numa estranha sonolência, mistura de prazer e cansaço ofegante, ficando entrelaçados, num sepulcral silêncio, entrecortado por beijos, carícias e suspiros.“Vamos percorrer o Paraíso?” Sussurrou ela ao ouvido dele. “Contigo vou a qualquer lado” murmurou Chris. Olharam-se fixamente, durante um longo período de tempo, acariciando-se. O Anjo abriu as asas cobrindo os dois corpos adormecidos.

No próximo Ampla Cidade vamos ver a visita de Chris Two, guiado pelo anjo feminino de pele castanha, ao Paraíso. Mas agora vamos falar de Angola. Não na perspectiva dos escribas profissionais do medo, que vivem do mito do terrorífico regime angolano, nem na perspectiva dos novos, novíssimos, lambe-botas que vêm das tugas cheios de salamaleques a colocarem-nos nos píncaros, enquanto enchem os bolsos e á boca fechada dizem que se não fossem eles…

Não! Hoje vou falar da Angola independente e democrática (de Cabinda ao Cunene) que construímos com o nosso esforço e persistência. E vou mencionar apenas dois exemplos que ocorreram esta semana (ou na semana passada se isto for publicado depois): A decisão do Supremo em impugnar a nomeação da minha camarada Suzana Inglês para a presidência da Comissão Nacional Eleitoral e a manifestação da UNITA.

Pois é. Vamos começar pela decisão do Supremo. Para os que têm duvidas, bem ou mal intencionadas, aqui está uma evidência do respeito pela Constituição e da vigência da mesma. Aqui, em Angola, a Constituição não é letra morta e faz-se respeitar. E o partido maioritário, o MPLA, acatou a decisão, como acontece em qualquer democracia constitucional de qualquer latitude, deixando os escribas do medo sem tinta para escrever (que é, aliás, a única coisa que têm, a tinta, pois as ideias…). A minha querida camarada Suzana Inglês já não será a Presidente da CNE, tendo este órgão um novo presidente que será nomeado conforme os requisitos da Constituição. E é bonito ver a Lei Constitucional a ser respeitada e cumprida. É uma pequena prova da luta persistente, pela Democracia e pelo Desenvolvimento, encetada pelo Povo Angolano e pelo seu partido maioritário de sempre, o MPLA.

Quanto á manifestação da UNITA, (sábado, dia 19 de Maio), decorreu na mais absoluta das normalidades. Poderiam até acontecer desacatos, tal como acontece, em países centenariamente democráticos Mas saliento a forma civilizada e a naturalidade com que a sociedade angolana aceita a liberdade de manifestação e de expressão. Vivemos, definitivamente num país onde se respira o ar fresco da Democracia Politica. Acabaram-se os tachos e as panelas dos que vivem da mentira do medo. Vão ter que mudar de tema oh escribas e inserirem-se nesta Democracia que se constrói a pulso. De Cabinda ao Cunene!

Antes de terminar queria só referir uma das últimas montagens que de há uns tempos a esta parte se fazem ouvir e ler A questão das Lundas. Presumo que seja pelo facto de a questão de Cabinda ter uma resolução constitucional, as forças do costume orquestraram uma campanha sobre as Lundas. Pois é… Andam por aí a falar das Lundas. Não tenho nada contra a questão de proporem maior autonomia administrativa, é um direito e talvez uma solução para resolver alguns dos problemas que afectam as populações locais, desde que essas medidas sejam devidamente pensadas e inseridas no actual contexto constitucional. Mas dai a andarem a escrever falsidades históricas tipo que a Lunda nunca foi colónia portuguesa e que foi Angola que inseriu a Lunda apos 1975…Ou beberam ou fumaram, ou ambas as coisas e caporroto com mbula dá mau resultado camaradas. A cabeça fica com bué de Kátás!

Vamos lá então esclarecer as situações. Angola situa-se na costa ocidental da África Austral, a Sul da floresta equatorial, entre as latitudes de 4^ 22’e 18^02’Sul e as longitudes de 11^ 41’ e 24^ 05’ Leste, com uma superfície de 1.246.700 quilómetros quadrados, uma costa marítima de 1.650 km de extensão e uma fronteira terrestre com 4.837 km, incluindo Cabinda, incorporada no território nacional depois do Tratado de Simulambuco, em 1835, pelo qual Cabinda tornou-se num protectorado da monarquia portuguesa. Cabinda é banhada a Oeste pelo Atlântico. Faz fronteira com a Republica do Congo (Brazzaville) a Norte e a Nordeste e a Sul com a Republica Democrática do Congo (Kinshasa).

Antes da independência Angola estava administrativamente dividida em 16 distritos: Cabinda, Zaire, Uíge, Luanda, Kwanza Norte, Kwanza Sul, Malange, Lunda (cuja capital era Saurimo ou Henrique de Carvalho), Benguela, Huambo, Bié, Moxico (cuja capital tinha o mesmo nome), Moçâmedes, Huila, Cunene e Cuando-Cubango (capital Serpa Pinto). Actualmente a nação angolana divide-se administrativamente em 18 províncias: Cabinda, Zaire, Uíge, Bengo, Luanda, Kwanza Norte, Kwanza Sul, Malange, Lunda Norte (capital Lucapa, que em Utchokwe significa “grande Correia”, mas o nome da cidade deriva dos rios Luachimo e Tchikapa), Lunda Sul (cuja capital é Saurimo, cujo nome deriva de Sá Urimbo, um antigo chefe nativo daquela área, sendo que em Utchokwe urimbo significa cola, ou seiva pegajosa), Benguela, Huambo, Bié, Moxico (cuja capital é Luena), Namibe, Huila, Cunene e Cuando-Cubango (capital Menongue).

Como vimos a região da Lunda, ou Nordeste de Angola, que na última divisão administrativa colonial era o Distrito da Lunda, passa após a independência a ficar dividida em Lunda Norte e Lunda Sul. O Nordeste de Angola estende-se entre os meridianos 17^ 30’e 23^ 15’ Este e os paralelos 7^ e 11^ 30’ a Sul. É uma região limitada por 2 grandes rios, afluente do rio Zaire, o rio Cassai, que limita a Sul e a Leste, estabelecendo a fronteira a Leste com a RDC e o rio Kwango, a Oeste e que limita até á fronteira Norte com a RDC.

Quando os portugueses chegaram ao actual território de Angola, a Africa Equatorial e Austral era dominada por 3 grandes Reinos e Impérios: o Reino do Congo, o Império Lunda e o Império do Monomotapa. Aquele que é hoje o território de Angola pertencia parte ao Reino do Congo e o Nordeste ao Império Lunda. O Reino do Congo abrangia as províncias do Zaire, Uíge, Bengo, Luanda, Kwanza Norte e o norte de Malanje, para além da sua extensão pela actual RDC. Existiam no nosso território os reinos de Malamba e Nalongo, que abrangem parte do Bengo, Malanje e Kwanza Sul, o reino da Kissama, na área costeira do Kwanza Sul, os Reinos do Planalto, durante os seculos XVI a XVIII, em todo o planalto central, o reino de Kassange que abrangia uma pequena parte do Bié, toda a baixa do Kassange, na Província de Malanje e a parte oeste da Lunda Norte, o Imperio Lunda que dominava a Lunda Norte, o Reino Tchokwe que abrangia uma pequena parte da Lunda Norte, toda a Lunda Sul assim como o norte do Moxico e os Reinos do Sudoeste. Quanto ao Reino de Cabinda, como já referi, era um reino tributário do Reino do Congo, que pelo Tratado de Simulambuco, em 1835, tornou-se um protectorado português e que mais tarde a administração colonial insere-o como Distrito no Território de Angola.

O grupo étnico que ocupa o Nordeste de Angola é o Lunda-Kioko ou Lunda-Tchokwe, uma vez que estes consideram-se descendentes dos Kiokos. É um grupo constituído pelas etnias Bakongo ou Kakongo, que habita no extremo nordeste da Lunda Norte, na margem esquerda do rio Cassai, no território Angolano e estendendo-se pela região do Cassai na RDC. O mesmo acontece com os Kamatapas ou Tumatapas, que vivem junto aos Bakongo. A maioria da etnia Lunda vive nas províncias do Cassai e do Catanga, na RDC, tal como o seu Imperador. Os Chinges e os Minungos partilham a parte oeste da Lunda Norte, sendo que os Minungos residem também na parte Oeste da Lunda Sul.

Por sua vez 80% da população do Nordeste é de etnia Tchokwe e estendem-se pela RDC até ao paralelo 5^ a Sul do Equador e pelo Noroeste da Zâmbia, progredindo entre a população ngangela até á fronteira com a Namíbia, para além dos núcleos nas províncias de Malanje, Moxico, Bié e Cuando-Cubango.

Está feito o quadro humano. A conversa já vai longa e não quero estar aqui a referir as riquezas minerais desta região riquíssima, nem vou estar a falar da forma como a Diamang na época colonial administrava estes territórios (será essa a autonomia de que falam os signatários daquele documento mentiroso que andou por ai a ser publicado? Não pertenciam ao Império colonial português mas pertenciam á dinastia diamantífera? Queres ver que são Bilderberg? O meu camarada Martinho Júnior é que trata de forma sábia desse sector da família, matéria complexa, aliás).

De Cabinda ao Cunene! Estamos juntos!

* Ver todos os artigos de Rui Peralta – ligação também em autorias na barra lateral

MERKEL NEGA DIVERGÊNCIAS ENTRE PARIS E BERLIM NO COMBATE À CRISE




Chanceler federal Angela Merkel nega "diferenças" entre Alemanha e França no que diz respeito ao combate à crise na zona do euro. Berlim e Paris não defendem posições distintas, disse a premiê.

Durante a cúpula do G8, em Camp David, a residência campestre do presidente norte-americano, localizada nas proximidades de Washington, a premiê alemã Angela Merkel afirmou que crescimento econômico e consolidação do orçamento são "dois lados de uma mesma moeda". Segundo ela, os dois aspectos "convergem para o mesmo lugar". Até a próxima cúpula da União Europeia, agendada para junho, os países do bloco irão analisar as diversas possibilidades de incentivo ao crescimento, segundo Merkel.

Incentivos ao crescimento: reivindicação de Obama e Hollande

A chefe de governo alemã participa do encontro das sete maiores nações industrializadas do mundo – EUA, Japão, Alemanha, França, Reino Unido, Itália e Canadá – bem como da Rússia, unidas sob a sigla G8. Merkel, segundo diversos observadores, vem sendo pressionada para abdicar da rígida política de austeridade que defende para o combate à crise na zona do euro. O presidente norte-americano, Barack Obama, e o novo presidente francês, o socialista François Hollande, exigem um foco mais acentuado no crescimento econômico.

Da declaração oficial de encerramento da cúpula em Camp David, não há, contudo, nenhuma observação neste sentido. Os chefes de Estado e governo presentes no encontro defenderam dois caminhos paralelos: de um lado, incentivos ao crescimento econômico; de outro, medidas visando consolidar o orçamento público. Merkel ressaltou que os países do G8, altamente endividados, não dispõem mais da possibilidade de lançar mão de programas clássicos de apoio à conjuntura, como ocorreu durante a crise financeira em 2008.

O presidente norte-americano também salientou, segundo participantes do encontro, a necessidade de que se evite "impulsos artificiais" de apoio à conjuntura. Obama e Merkel reuniram-se em um encontro a dois após o fim da cúpula, a fim de debater mais uma vez a crise na zona do euro e a situação econômica global, afirmou um porta-voz da Casa Branca, sem, contudo, fornecer maiores detalhes a respeito da conversa.

Hollande defende eurobonds

Enquanto isso, o recém-eleito presidente francês, François Hollande, anunciou em Camp David que pretende sugerir, durante a cúpula informal da EU, a ser realizada na próxima semana, a introdução de títulos públicos comuns europeus, os chamados eurobonds.

"Apresentarei todas as sugestões de crescimento no encontro informal no próximo 23 de maio", disse Hollande. Berlim rejeita com determinação, pelo menos até o momento, a proposta dos eurobonds. A Alemanha teria que pagar por tais títulos juros ainda mais altos do que paga no momento por seus próprios títulos públicos. Já para os países em crise, o peso dos juros diminuiria.

O semanário Der Spiegel anunciou, sem mencionar a fonte da informação, que Hollande tem sérias resistências ao nome do ministro alemão das Finanças, Wolfgang Schäuble, como próximo presidente do Grupo do Euro. Segundo a revista, Hollande já mandou avisar aos responsáveis em Bruxelas que dificilmente aceitará um presidente alemão para o Grupo.

Schäuble vem sendo há muito cogitado como próximo presidente do grêmio, do qual participam todos os países-membros da união monetária europeia. O atual presidente do Grupo, Jean-Claude Juncker, que é também chefe de governo de Luxemburgo, pretende entregar o cargo em fins de junho próximo.

Encontro em Roma

O primeiro-ministro italiano, Mario Monti, anunciou um encontro dos três chefes de governo da Alemanha, França e Itália para junho próximo, a ser realizado em Roma. Monti afirmou durante o encontro do G8, nos EUA, estar satisfeito ao perceber que se locomove "na mesma onda" que o presidente francês Hollande. O premiê da altamente endividada Itália defendeu diversas vezes nas últimas semanas medidas mais eficazes de incentivo ao crescimento econômico.

SV/dpa, afp, dadp, rtr - Revisão: Marcio Damasceno

Cabo Verde: REPROVAÇÃO DA “BOA GOVERNAÇÃO



João Silvestre Alvarenga – Liberal (cv), opinião, em Colunistas

Os resultados não surpreendem quando, no dia-a-dia, a população sofre de assaltos, furtos, roubos ofensas à integridade física, homicídios e violência de toda espécie sem que haja, ao menos, sinais de sua contenção

As próximas eleições autárquicas contribuirão para sedimentar as regras democráticas eleitorais e também sinalizar os rumos dos quadros eleitorais a serem pintados nos próximos tempos.

1. Com efeito, a oposição parte como favorita para os embates de Julho quando estarão em disputa as 22 Câmaras Municipais. O favoritismo da oposição se deve ao seu histórico de desempenho francamente positivo nas autárquicas, desde as primeiras eleições realizadas em 1991, até as últimas realizadas, em 2008. Conta ainda, a favor da oposição, o facto de deter, neste momento, a maioria e principais autarquias e, regra geral, quem parte para uma eleição estando no cargo tem vantagens sobre os oponentes e, por último e mais importante é o factor “desempenho do governo” – governos mal avaliados tendem a serem penalizados eleitoralmente e governos bem avaliados tendem a serem reconduzidos. Sabe-se que há uma correlação entre o governo nacional e seus candidatos locais, ou seja, governos nacionais bem avaliados tendem a transmitir essa força, em termos eleitorais aos seus candidatos e o contrário também tende-se a verificar – governos nacionais mal avaliados tendem a comprometer o desempenho eleitoral de seus candidatos.

2. A avaliação do desempenho do governo actual é muito negativa tanto na generalidade quanto sectorialmente: ver gráfico em cima.

3. Segundo pesquisa de opinião realizada com 1.248 eleitores, margem de erro de 3%, neste primeiro semestre, a política de segurança pública recebe uma avaliação negativa: 56,6% dos eleitores reprovam a política de segurança pública.

4. A desagregação em categorias avaliativas diz o seguinte: 46,3% avaliam o desempenho da política de segurança pública como péssimo; 17,7% avaliam-na como medíocre, 25,6% dizem que é regular, 9,3% asseguram que é boa e 1,1% consideram que é excelente.

5. Os resultados não surpreendem quando, no dia-a-dia, a população sofre de assaltos, furtos, roubos ofensas à integridade física, homicídios e violência de toda espécie sem que haja, ao menos, sinais de sua contenção.

6. Porém, A relação entre favoritismo eleitoral e resultado eleitoral não é tão directa: nas legislativas de 2011, a oposição se despontava como favorita, considerando o quadro de desemprego, violência, desigualdade e pobreza, apagões vigentes mas triunfou-se o governo; nas eleições presidenciais de Agosto passado, o partido do governo era o favorito, porém, meteu os pés pelas mãos e deu no que deu. Agora, todos sabem que favoritismo ajuda mas não ganha eleição!

7. Eleições, em condições normais, sem fraudes nem práticas não ortodoxas se ganham com estudos, conhecimento, estratégia e muito trabalho.

A “boa governação” impera em meio a uma oposição tão “camarada” quanto os próprios “camaradas”!

JOÃO SILVESTRE ALVARENGA | joaostav@hotmail.com

Cabo Verde: ONG portuguesa apoia agricultores de Santo Antão com financiamento da UE



CLI - Lusa

Cidade da Praia, 20 mai (Lusa) - A Organização não governamental portuguesa Monte vai apoiar agricultores da ilha de Santo Antão no escoamento e colocação dos seus produtos no mercado nacional, através de um projeto financiado pela União Europeia no valor de 185 mil euros.

A iniciativa visa ajudar os produtores agrícolas no escoamento e colocação dos seus produtos no mercado e está a ser aplicada pela ONG portuguesa Monte, com sede no Alentejo, em parceria com a Comissão Regional de Parceiros (CRP) de Santo Antão, no âmbito dos programas de luta contra a pobreza.

As localidades de Mocho, Figueiral, Casa de Meio e Ribeira da Cruz nos três concelhos de Santo Antão já foram identificadas como as preferenciais para receber o financiamento da UE.

A iniciativa segundo, Adriel Mendes, representante da CRP de Santo Antão, tem por objetivo "ligar os produtores aos consumidores, já que esta ligação tem faltado aos produtores de Santo Antão no momento de vender os seus produtos".

"Uma das maiores preocupações com que se deparam os produtores agrícolas em Santo Antão tem a ver com dificuldades em escoar e colocar os seus produtos no mercado e viabilizar parte dos excedentes agrícolas desses agricultores", explicou.

A Monte e o Ministério do Desenvolvimento Rural vão formar os agricultores e ainda mediadores, que passarão a receber assistência técnica.

O projeto denominado "balaio de horta", financiado pela União Europeia já na fase de implementação e terá uma duração de três anos.

PJ organiza conferência internacional sobre terrorismo com participação do FBI



CLI - Lusa

Cidade da Praia, 20 mai (Lusa) -- A Polícia Judiciária de Cabo Verde organiza na próxima semana uma conferência internacional sobre terrorismo, que reúne na ilha do Sal polícias de vários países, disse hoje fonte do Governo cabo-verdiano.

A conferência "Luta contra o terrorismo, problemas e oportunidades na África e Médio Oriente" é organizada pela Policia Judiciária cabo-verdiana em parceria com a FBINAA (FBI ACADEMY ASSOCIATES), "uma associação sem fins lucrativos, cujos membros são agentes que frequentaram a Academia Nacional do FBI em Quantico - Virgínia, nos Estados Unidos da América", segundo fonte do Ministério da Justiça de Cabo Verde.

O encontro, que decorre entre segunda e quarta-feira, deverá contar com a presença de cerca de 150 participantes de diversos países de África, do Médio Oriente e dos Estados Unidos para troca de informações e experiências sobre questões policiais relacionadas com o terrorismo.

"A cooperação entre a África, Médio Oriente e os Estados Unidos da América é crucial para o combate ao terrorismo internacional. Cabo Verde, pela sua localização geográfica, no coração do mundo, não pode descurar o fenómeno, dado ser um país onde o setor do turismo é fundamental e a estabilidade tem sido um importante fator de desenvolvimento", disse.

"Todos os países partilham do mesmo objetivo e a cooperação e troca de informações é a chave", referiu a mesma fonte.

Paralelamente à conferência, será realizada uma sessão de formação sobre o tema "Interrogatório Policial" destinada a funcionários das forças de segurança nacionais.

A cerimónia de abertura da conferência será presidida pelo primeiro-ministro cabo-verdiano, José Maria Neves, e o encerramento conta com a presença do Presidente da República, Jorge Carlos Fonseca.

Portugal: MIGUEL RELVAS, O JORNALISMO E O CASO DAS SECRETAS




Direcção, Editorial - Público

Na carta que enviou para a Entidade Reguladora da Comunicação (ERC), com a qual pretendeu antecipar a averiguação já anunciada sobre o exercício de ameaças à jornalista do PÚBLICO que tem acompanhado o “caso das secretas”, o ministro Miguel Relvas dedica-se a teorizar sobre a qualidade do seu jornalismo, referindo a publicação de “várias peças noticiosas tendentes a construir uma narrativa que os factos não confirmam em pormenores decisivos” e sobre a prevalência de um “jornalismo interpretativo” que visa “construir um quadro narrativo inicial e tudo fazer depois para que a realidade se adapte a esse quadro”.

Contrariamente ao que seria de esperar, Miguel Relvas nada diz sobre a substância deste caso, a inadmissível promessa de retaliações à jornalista e ao jornal caso a investigação em curso sobre as suas relações com Jorge Silva Carvalho, ex-chefe do Serviço de Informações Estratégicas e de Defesa, prosseguisse.

A forma como o PÚBLICO e a jornalista Maria José Oliveira acompanharam o caso são por si só a melhor prova de que as nossas notícias se pautaram pelo rigor. Noticiámos em 28 de Janeiro que Jorge Silva Carvalho tinha enviado ao Governo um relatório com um plano de reformas para as secretas, o que Miguel Relvas considerou ser “absolutamente falso”; voltámos a noticiar a 9 de Maio que o ministro tinha recebido do ex-espião um e-mail e sms com propostas para as secretas, o que Miguel Relvas admitiria no Parlamento; e referimos que nas suas declarações no Parlamento Relvas se lembrara de ter recebido um “clipping” sobre uma visita de Bush ao México, o que contradizia a afirmação do ministro quando afirmara ter conhecido Silva Carvalho entre Março de 2010 e Junho de 2011 – a última visita de Bush ao México noticiada pela Reuters é de 2007. Em causa jamais estiveram interpretações, mas factos.

É verdade que, apesar de todos os mecanismos de controlo, há erros ou omissões que se detectam apenas a posteriori. Não temos problemas em corrigir títulos, como reconhece Miguel Relvas, nem de adiar a publicação de notícias até que sejamos capazes de lhes acrescentar o valor informativo que as tornam indispensáveis – como fizemos na quarta-feira.

Ao pretender contornar esta realidade com a construção de uma imagem distorcida sobre o jornalismo do PÚBLICO, Miguel Relvas elabora uma manobra de diversão. Recordemos: não é a qualidade da investigação sobre o caso das secretas que está em causa, mas a tentativa de intimidação à jornalista que a conduziu. Não dando explicações à ERC sobre os seus actos e as suas intenções, Miguel Relvas errou o alvo.

Relvas acusa PÚBLICO de “jornalismo interpretativo”, Passos nega ataque à imprensa




Documentação enviada à ERC

Isabel Gorjão Santos, com Lusa - Público

O ministro Adjunto e dos Assuntos Parlamentares, Miguel Relvas, acusou o PÚBLICO de fazer “jornalismo interpretativo”, segundo a documentação enviada à Entidade Reguladora da Comunicação Social (ERC), que vai esta semana analisar o caso das ameaças feitas pelo governante ao jornal e à jornalista Maria José Oliveira. A jornalista sublinha que “em nenhum momento da exposição [do ministro] existe uma explicação para as ameaças que foram feitas”.

Já o primeiro-ministro, Pedro Passos Coelho, rejeitou, neste domingo, que o ministro tenha “atacado a imprensa” e defendeu que “o Governo tem privilegiado muita transparência”.

Na exposição enviada à ERC, um documento de cinco páginas às quais se juntam dois emails com perguntas de Maria José Oliveira ao ministro sobre o “caso das secretas”, Miguel Relvas salienta o que considera como diversos erros nos artigos do PÚBLICO. “A técnica é conhecida: construir um quadro narrativo inicial e tudo fazer depois para que a realidade se adapte a esse quadro.”

O documento contém diversas críticas, por exemplo, a títulos publicados. O ministro defende que o título da notícia publicado na edição online na sequência da audição a que compareceu junto da Comissão dos Assuntos Constitucionais da Assembleia da República – “Relvas admite relatórios e propostas de nomes para as secretas” – “não correspondia à verdade” e salienta que “nunca havia recebido qualquer relatório proveniente dos serviços de informações” e que o título acabou por ser alterado após “vários contactos” efectuados pelo seu gabinete “junto de responsáveis editoriais do PÚBLICO”.

Esse título acabou por ser alterado para uma versão sem referência a relatório – “Relvas admite ter recebido propostas de nomes para as secretas”, sublinha o ministro, que diz ainda que “a rectificação foi rápida, reconheça-se, mas o mal estava feito”.

No texto que enviou à ERC Relvas faz ainda outras críticas ao PÚBLICO e aos artigos publicados. O ministro refere que “o PÚBLICO tem vindo a publicar, sempre com a assinatura da mesma jornalista, várias peças noticiosas tendentes a construir uma narrativa que os factos não confirmam em pormenores decisivos”. Dá como exemplo a peça publicada na edição de 15 de Maio que diz ser “construída em grande parte pela negativa, sempre num estilo de ‘jornalismo interpretativo’” e cita algumas frases: “Relvas não disse até quando recebeu aquelas informações”; “não especificou se foi nessa altura que se encontraram”; “não respondendo por que motivo não pediu a Jorge Silva Carvalho para lhe deixar de enviar emails e sms”.

Mails trocados com o gabinete de Relvas

Por fim, a documentação enviada por Relvas à ERC inclui também as mensagens trocadas entre a jornalista e o assessor do ministro, António Valle. Relvas refere que o seu gabinete recebeu uma questão de Maria José Oliveira no dia seguinte ao da audição na comissão parlamentar, 16 de Maio, pelas 15h28, com aquilo que considera “um tom imperativo”. Especifica depois que o email de Maria José Oliveira é concluído com a frase: “Aguardo resposta até às 16 horas, uma vez que a notícia será publicada na edição online do PÚBLICO”. Mais à frente classifica como “ultimato” o prazo de 32 minutos dados pela jornalista, dizendo que “por motivos facilmente compreensíveis, não foi possível cumprir”. Esse mail incluía apenas a questão: “O ministro afirmou lembrar-se da primeira notícia que recebeu no ‘clipping’ diário de imprensa: ‘Lembro-me que a primeira era: ‘George W. Bush visita México. Fonte: Reuters’ afirmou. Esta mensagem foi recebida em que altura?”

A resposta a esta questão, no entanto, acabou por chegar às 16h01, adianta Maria José Oliveira. E a resposta do assessor do ministro, António Valle, era: “Todos os esclarecimentos sobre este assunto foram oportunamente prestados em sede própria, ou seja, na 1ª Comissão Parlamentar”.

Mais tarde, pelas 17h15 viria a ser enviado outro mail com mais três perguntas, sendo a primeira: “Afirmou na 1ª comissão que apagou os emails diários com um ‘clipping’ de imprensa que lhe eram enviados por Jorge Silva Carvalho. No entanto, algum tempo depois, disse lembrar-se da primeira mensagem: ‘Lembro-me que a primeira era: George Bush visita o México. Fonte: Reuters’. Pode esclarecer se apagou ou não os emails?” E a segunda: “Disse ter conhecido Jorge Silva Carvalho quando era secretário-geral do PSD (entre Março de 2010 e Junho de 2011). A última notícia da Reuters sobre uma viagem de Bush ao México data de 2007 e desde então a agência noticiosa não tem mais ‘takes’ sobre qualquer viagem do antigo presidente dos EUA ao México. Com explica o hiato e desde quando começou a receber o ‘clipping’?”A resposta acabaria por chegar pelas 17h16, segundo Maria José Oliveira, com um texto idêntico ao que já tinha sido enviada à primeira questão, acrescentando-se apenas a frase: “O Ministro-adjunto reafirma que só conhecer o Dr. Silva Carvalho quando era secretário-geral do PSD”.

Ao comentar a documentação enviada pelo ministro, Maria José Oliveira sublinha: “Em momento nenhum existe uma explicação para as ameaças que foram feitas a mim e ao jornal”.

Passos: “Não há nenhum ataque”

Em Chicago, Estados Unidos, à margem da cimeira da NATO, Passos Coelho escusou-se a responder se Relvas tem condições para continuar no Governo, recusando falar sobre “questões de política interna” no estrangeiro.

O primeiro-ministro rejeitou, contudo, ter havido um ataque à imprensa por parte do ministro-Adjunto e dos Assuntos Parlamentares.

“Não há nenhum ataque a coisa nenhuma. Se há coisa que o governo tem privilegiado é muita transparência nesse aspecto”, disse o primeiro-ministro, escusando-se a responder a mais questões sobre o assunto.

Em dois telefonemas na passada quarta-feira, Miguel Relvas ameaçou promover um “blackout” ao PÚBLICO e divulgar dados da vida pessoal da jornalista Maria José Oliveira na Internet, na sequência das perguntas feitas pela jornalista acerca de incongruências nas declarações do ministro no Parlamento.

Portugal: QUE COZINHADO É ESTE SR. MINISTRO RELVAS?




Xavier - Bloguer Convidado - Aventar

1. Miguel Relvas, Ministro dos Assuntos Parlamentares, foi ouvido recentemente na Comissão de Assuntos Constitucionais, Direitos, Liberdades e Garantias, na Assembleia da República, a propósito das suas “ligações” ao Ex-Chefe das Secretas;

2. Ex-Chefe das Secretas, que segundo declarações públicas, terá enviado a Miguel Relvas, diversos “clipings” e um plano de Reforma dessas mesmas Secretas, propondo para directores do SIS e do SIED funcionários da sua confiança e nomes que não deveriam assumir cargos dirigentes;

3. O Ministro dos Assuntos Parlamentares, que inicialmente desmentiu a recepção dos ditos “clipings” e do Plano para as Reformar, acabou por admitir agora no Parlamento a recepção via mail dos referidos documentos, aos quais garantiu nunca ter respondido.

4. Chegados aqui, a 1.ª conclusão, é que Relvas mentiu!… E mentiu, porque negou primeiro, o que mais tarde confirmou.

5. A fazer fé na comunicação social, foi a jornalista Maria José Oliveira que em 09.05.2012, denunciou as ligações entre Relvas e o Ex-Chefe das Secretas;

6. Ex-Chefes das Secretas e Relvas que segundo noticias também difundidas são membros da maçonaria.

7. Segundo noticiou o Expresso online, o espião Jorge Silva Carvalho é suspeito de ter recorrido a peritos, para apagar do seu computador dados importantes, para a investigação das secretas;

8. A “limpeza” ocorreu antes do aparelho ter ido parar às mãos do Departamento de Investigação e Acção Penal (DIAP);

9. O DIAP utilizando software do FBI, conseguiu recuperar todos os dados;

10. Dados esses, igualmente referidos pelo Expresso e que incluiam milhares de contactos de figuras públicas e políticas, nomeadamente, aspectos da vida privada e orientação sexual dos visados, e que;

11. A procuradora Teresa Almeida, pese embora considerar a possibilidade e indicios de crime, decidiu arquivar, uma vez que é permitida a existência destas listas para uso pessoal ou doméstico.

12. Posto isto, a questão que se coloca, é se a jornalista Maria José Oliveira, era uma das “figuras” que fazia parte das listas do espião e se a sua vida privada, também teria sido enviada ao Ministro Relvas;

13. E se não fazia, onde é que o mesmo Ministro conseguiu os seus dados pessoais e o “relatório” da sua vida privada, que serviu como “ameaça” e “retaliação” à possibilidade de colocar uma noticia no Público na passada 4.ª feira e cujo conteúdo é desconhecido.

14. Outra questão: Qual a razão porque Miguel Relvas ameaçou fazer um blackout noticioso do Governo contra o jornal e divulgar detalhes da vida privada da jornalista Maria José Oliveira?!…

15. Qual a razão pela qual a direcção do jornal, vem defender o Ministro, afirmando que o mesmo agiu dentro da legalidade, quando foi o próprio Ministro a confirmar as pressões ao apresentar as suas desculpas ao jornal, o que, convenhamos, está longe de ser suficiente para sanar a questão?!…

16. Para terminar: Qual o conteúdo da noticia que tanto preocupou Miguel Relvas, ao ponto de se dar “ao luxo”, e de acordo com o comunicado do Conselho de Redação, de afirmar “que se o jornal publicasse a notícia, enviaria uma queixa à ERC, promoveria um black out de todos os ministros em relação ao “Público” e divulgaria na Internet dados da vida privada da jornalista”?!…

17. O que ficou por esclarecer na Comissão de Assuntos Constitucionais, Direitos, Liberdades e Garantias?!..

CONCLUSÃO: A serem verdadeiras as noticias que vêm sendo veículadas, o único desfecho possível para o caso de um Ministro que utiliza o poder que a democracia lhe confia para manipular o que uma publicação diz sobre si, ameaçando-a de boicote informativo por parte do Governo que integra, é obviamente a sua demissão. E o lugar de alguém, que usa os serviços secretos, para obter informações sobre uma jornalista, para em seguida a chantagear com vista à obtenção do seu silêncio, não é certamente no Governo. Repito: A ser verdade que tudo isto aconteceu e não me acredito que o Público não tenha reunido as provas que sustentam as suas acusações, fica portanto a faltar bastante mais do que uma simples demissão.

Relvas, a coisa


A coisa chamada Relvas mentiu na Assembleia da República, foi apanhada por uma jornalista, ameaçou, pediu desculpas de mau pagador, e agora acusa o Público de fazer jornalismo interpretativo. A coisa queria um jornalismo submetido: ele ditava, o jornal publicava e não se falava mais nisso.

Passos Coelho não sacude a coisa do governo, demonstrando duas coisas: que não manda e que já se cansou de ser primeiro-ministro. Não é preciso explicar porque acabam os governos que têm destas coisas, pois não?

Novo Presidente timorense reclama mais investimento de empresários portugueses



MSE - Lusa

Díli, 20 mai (Lusa) - O novo Presidente timorense, Taur Matan Ruak, disse hoje querer empresários portugueses em Timor-Leste para dar início a um novo tipo de assistência e relacionamento entre os dois países.

"Queremos empresários portugueses aqui com a sua criatividade e ousadia, com a sua determinação e trabalho árduo" até porque"são tantas as áreas e setores que os empresários portugueses podem investir e, daqui, apostar em outros países da região", afirmou o chefe de Estado timorense.

Taur Matan Ruak falava no banquete de Estado em honra do Presidente da República, Cavaco Silva, que se encontra no país em visita oficial.

"Terminaram as fases da ajuda humanitária, as fases de configuração e estruturação do nosso Estado. A presença de empresários portugueses pode e deve ser o início de um novo tipo de assistência e relacionamento entre os dois países", afirmou o Presidente timorense.

Na segunda-feira, no âmbito da vista de Cavaco Silva, realiza-se no Centro de Conferência de Díli o Seminário Empresarial Luso-Timorense com a presença de vários empresários portugueses, nomeadamente o administrador executivo da Caixa Geral de Depósitos, Rodolfo Lavrador, o administrador da Galp, Fernando Gomes.

No discurso, o Presidente timorense abordou também a cooperação entre Portugal e Timor-Leste no setor da justiça e educação como "áreas da maior importância estratégica".

Sobre a Comunidade dos Países de Língua Portuguesa (CPLP), Taur Matan Ruak disse que "há trabalho a fazer" e que a organização deve refletir sobre como deve chegar aos cidadãos.

"Timor-Leste já entregou formalmente o pedido para assumir a responsabilidade da presidência da CPLP durante o biénio 2014-2016. Será um enorme desafio, mas estamos prontos e desejosos para o enfrentar com sucesso", acrescentou.

Aviso aos leitores de Página Global

BOICOTE A NOTÍCIAS DE CAVACO SILVA NA VISITA A TIMOR-LESTE E "ARREDORES" – Página Global dá conhecimento aos leitores que em protesto contra a inexistência de uma publicação diária online em língua portuguesa sobre a realidade timorense vai boicotar a publicação de notícias referentes a Timor-Leste que envolvam a visita do PR de Portugal, Cavaco Silva, para as comemorações dos 10 anos da independência do país, assim como todas as outras notícias relativas a Cavaco nesta sua deslocação a países daquela parte do mundo. Consideramos inadmissível que 10 anos após a independência não exista um único órgão informativo em português sobre a atualidade timorense, apesar de a língua portuguesa ser considerada constitucionalmente língua oficial daquele país. (Redação PG)


“O MAIS TRANSPARENTE EM TIMOR-LESTE É A CORRUPÇÃO” – Mari Alkatiri



TVI24

Líder da oposição, Mari Alkatir, defende investigação profunda, num dia em que o país celebra 10 anos de existência

O primeiro-ministro e o líder da oposição de Timor-Leste, Xanana Gusmão e Mari Alkatiri, fizeram balanços distintos da situação do país, no dia em que se comemoram os 10 anos da restauração da independência.

De acordo com a Lusa, à margem das cerimónias do décimo Aniversário da Restauração da Independência de Timor-Leste, que foram acompanhadas pelo Presidente da República português, Cavaco Silva, Mari Alkatiri criticou o modelo de desenvolvimento do país, assente em «economia especulativa», disse que o dinheiro do petróleo está a ser mal gasto e aponta uma «corrupção galopante» no país.

Pelo contrário, Xanana Gusmão considera que o povo está satisfeito e, apesar de reconhecer que existe muito trabalho a fazer, diz que seria difícil exigir mais a um Estado democrático tão recente.

«O povo continua marginalizado na sua maioria, temos Díli e depois as zonas periféricas onde a pobreza grassa (...), a inflação é galopante e, embora se fale em crescimento económico de 12 por cento, é um crescimento que é não saudável, não gera emprego, só gera consumismo barato», lamentou Mari Alkatiri, no final da cerimónia de inauguração do Arquivo e Museu da Resistência timorense.

O dirigente da FRETILIN disse ainda não ter dúvidas de que o dinheiro proveniente do fundo de petróleo «está a ser mal gasto» e tem servido mais para especulação do que para desenvolver a economia, apontando a existência de uma «corrupção galopante» na sociedade timorense.

«Este é um país pequeno, somos vizinhos uns dos outros, alguns antes de serem ministros ou diretores-gerais não tinham nada em casa, hoje têm tudo», diz, defendendo uma investigação profunda neste campo. «O mais transparente em Timor é a corrupção».

Já o primeiro-ministro Xana Gusmão reconhece que foram dez anos difíceis, mas defende que Timor-Leste soube reconhecer e corrigir os seus erros.

«Hoje o que nos alimenta é continuar a consolidar as instituições já criadas e ter uma visão mais larga do desenvolvimento do país», disse, destacando a calma com que decorreram as cerimónias comemorativas do aniversário e a tomada de posse do novo Presidente da República, Taur Matan Ruak, empossado esta madrugada.

«Creio que sim [que o povo está satisfeito], não podemos exigir mais nesses curtos anos de construção do Estado», afirmou, apontando o desenvolvimento económico como a prioridade para os próximos dez anos.

Para Xanana, que será recandidato nas eleições legislativas de julho, só o desenvolvimento económico pode melhorar a cobertura de saúde e educação e gerar mais emprego.

«Em política apostamos em programas, creio que a satisfação geral que estamos a reparar no povo pode indicar que povo assumiu o plano de desenvolvimento estratégico», apontou.

Já sobre o que esperam de Portugal, ambos concordam que a cooperação entre os dois países deve ser reforçada ao nível da língua portuguesa e Mari Alkatiri espera que mais empresas lusas possam investir em Timor-Leste.

«Foi muito mais fácil utilizarem caravelas e chegarem aqui há 500 anos atrás do que trazerem empresas», ironizou.

DEZ ANOS DE TIMOR-LESTE E UMA LIBERDADE "COMO NÃO HÁ EM PORTUGAL"



Catarina Pereira - TVI24

Jurista português envolvido na crise política e militar de 2006 analisa a situação do país e aponta o que ainda falta fazer

Timor-Leste é um país independente há dez anos. A paz e a liberdade parecem definitivamente conquistadas. A economia é desequilibrada, a indústria é frágil e a dependência do Estado é quase total. Os timorenses já não receiam um atentado, uma guerra civil ou uma ocupação a todo o momento, até porque a maioria tem de preocupar-se em colocar comida em cima da mesa.

Este é o retrato traçado por Domingos Tristão, jurista português que se mudou logo a seguir à independência para o país recém-criado. «A maior conquista dos timorenses nestes 10 anos foi a liberdade, poderem falar. Existe aqui uma liberdade como não há em Portugal», disse, ao tvi24.pt.

Apesar do desenvolvimento económico, há ainda «muita gente que não tem o mínimo de sobrevivência económica». «A maioria ainda luta para ter dinheiro para comer. Há mais dinheiro no país, mas falta um desenvolvimento económico mais equilibrado e distribuído», lamentou.

Domingos Tristão, desde 2005 conselheiro do governo timorense, recorda «o momento mais difícil» destes 10 anos: em 2006, um grupo de mais de 500 militares submeteu uma petição ao chefe das Forças Armadas, Taur Matan Ruak [que este domingo toma posse como presidente], e ao presidente da altura, Xanana Gusmão. «Queixavam-se que não eram promovidos nos quartéis» e que havia discriminação nas Forças Armadas, pelo que «abandonaram os quartéis».

«Xanana prometeu-lhes que a situação ia ser analisada, mas que tinham de regressar aos quartéis», conta. Foi criada, então, uma comissão para analisar as queixas e a atitude dos militares, que não obedeceram à ordem. «O general Taur Matan Ruak pediu-me um parecer, numa altura em que não havia legislação e a organização administrativa era muito ténue. Uma vez que não tinham obedecido ao presidente, considerei que tinham abandonado o posto de serviço e aquilo descambou», afirma.

Os militares foram exonerados, manifestaram-se e provocaram uma crise política e militar que só terminou após a morte do major Alfredo Reinado, durante um atentado contra o então presidente José Ramos-Horta, a 11 de fevereiro de 2008, no mesmo dia em que dispararam contra a casa do primeiro-ministro Xanana Gusmão.

Vários deputados defenderam que Domingos Tristão «devia ser expulso» do país. «Não foi uma situação confortável. O palácio do governo destruído, fugiram todos. Houve dias em que ia para lá sozinho trabalhar, mas nunca tive problema nenhum, nunca me senti ameaçado», frisa.

Após a crise de 2006 e os atentados de 2008, o jurista garante que se instalou um clima de paz «que muita gente não acreditava ser possível» em apenas 10 anos. «As pessoas não têm receio que essas situações voltem a acontecer», assegura, dando como exemplo as eleições presidenciais de março e abril deste ano, que foram já «muito pacíficas». Taur Matan Ruak venceu à segunda volta, com mais de 60 por cento dos votos, e será investido no cargo este domingo.

Questionado sobre o papel da comunidade portuguesa nos últimos dez anos, Domingos Tristão garante que «os portugueses têm dado um apoio muito grande». «Os timorenses confiam especialmente nos portugueses, sabem que não estão aqui por interesse, mas para ajudar», diz, salientando que a «maior colaboração» se vê na educação e na justiça e que «a grande luta» tem sido no ensino da língua portuguesa, uma vez que «a geração até aos 40 anos não sabe falar português».

O conselheiro do governo timorense alerta que «falta ainda alguma formação» na área da segurança, pelo que, mesmo com o final da Missão Integrada das Nações Unidas (UNMIT) no país, em dezembro deste ano, espera que a GNR continue no terreno.

Para o futuro, Domingos Tristão espera que Timor-Leste procure «boas relações» com a Indonésia e a Austrália. «E devem expandir essas relações para outros países, como por exemplo os da CPLP. Este pode ser um bom caminho nas relações comerciais».

TIMOR E AS MEMÓRIAS QUE NÃO SE APAGAM



Luísa MeloTVI24

Um povo com gritos calados à força, com lágrimas já secas de tanto uso e a teimar no português. Um país de fé, que sempre fez pela vida

Ao pensar em Timor do pós-referendo e antes de ser oficialmente independente podia reter-me para sempre na família com quatro filhos que me oferecia insistentemente o seu almoço. «Comemos todos um bocado menos». E à noite? A pergunta meia inquieta, quase incrédula, perante a enormidade dos destroços de uma pequena casa queimada agora reduzida a uma chapa de zinco por cima de um palanque onde todos dormiam. «Logo se vê».

Seria redutor dizer que Timor podia caber só nisto, até porque nesse mesmo dia vi o perdão. Ali, em Manatuto, a população perdoou os membros das milícias Mahadomi que lhes destruíram casas, animais, estradas, o sistema de rega, que agrediram família e amigos. Pediram desculpa, foram reintegrados e agora ajudavam a reconstruir o que tinham destruído.

Um povo com gritos calados à força, com lágrimas já secas de tanto uso e a teimar no português, nas bandeiras portuguesas enterradas no jardim e nas imagens de calendário de Nossa Senhora de Fátima coladas nas paredes. Nunca deixaram de rezar. Nunca perderam a fé, mesmo quando tudo se foi. Filhos, casa, marido.

Lá, naquele Timor Lorosae, onde por aqueles tempos contentores de plástico cheios de água faziam as vezes de frigoríficos; onde se procurava com um telefone satélite nas mãos o sinal necessário para enviar um texto; onde fora de Díli as casas de banho eram um buraco no chão, onde os «estrangeiros» iam fazendo negócio com os «estrangeiros», a preços de dólar; onde o restaurante sensação era uma casa queimada, toda negra, sem teto; onde Sérgio Vieira de Mello, vestido de branco, indicava o caminho... Lá, nesse Timor, as frases de Xanana, continuavam a ser lei e a ser repetidas. «Nós somos diferentes dos indonésios. Somos o que somos e devemos isso aos 400 anos de colonização portuguesa».

«Portugal não veio com armas, mas com uma cruz. São 450 anos da nossa história», proclamava bem alto Domingos Doutel Soares. Candidato a professor do ensino básico depois de décadas na resistência, nas Falintil, nas montanhas e na cidade; depois de detenções, torturas e rapto da família. Portugueses, dizia, «ensinem-me a ensinar».

No início do ano 2000, nos navios de guerra australianos estacionados ao largo da costa de Díli dançava-se o «Mambo Nº5», comprava-se água «Evian» a preços absurdos, jogava-se bilhar e «arrendar» um quarto «no barco» custava cerca de 200 euros por noite. Cá fora, num país onde apenas as estrelas e a lua iluminavam os caminhos, comia-se noodles, bebia-se cerveja e tuasabe a qualquer hora, homens e mulheres mascavam tabaco e os jovens obrigados pelo antigo ocupante a regressar para um país sem emprego, com futuro incerto e com uma língua que não falavam nem queriam, vagueavam, bebiam, passeavam sem qualquer brilho nos olhos. Uns depositavam toda a esperança em Portugal, outros não acreditavam em nada.

Vi catanas no ar, vi abraços amigos, vi meninos a cantar, vi os mais velhos a desenterrar palavras proibidas, vi o salve-se quem puder num momento de pânico em Batugade, vi mulheres vergadas pelo peso da lenha que carregam até locais de venda, ouvi os risinhos das adolescentes (são todos iguais, não é?), vi cadáveres (já ossadas) serem desenterrados em Oecussi, vi um crocodilo que comia gente, vi o isolamento de famílias que vivem no meio de nada, vi a fome, a fé, a indiferença, a morte em vida, vi a alegria sôfrega do reencontro de famílias separadas por uma fronteira e ouvi gritos em forma de insultos de pró-indonésios: «A culpa disto tudo é vossa. Nós estávamos bem assim». E até soube bem ouvir.

E volto à família de quatro filhos. «Obrigada, tenho comida. Não é preciso. Comam vocês». E tinha. Nesse dia duas jornalistas dividiram e devoraram às quatro da tarde um croissant folhado com dois dias e uma lata de atum. E não soube a pouco.

"Barroso e Guterres são os melhores para liderar a ONU", diz Ramos Horta



Timor, 10 anos depois

Luciano Alvarez e Miguel Madeira (fotos), em Díli - Público

José Ramos Horta deixou a Presidência ao primeiro minuto da noite de 20 Maio e garante que não vai participar nas legislativas de Junho. Mas não exclui a possibilidade de entrar no novo Governo.

Numa análise aos resultados eleitorais que ditaram a sua derrota nas presidenciais, o prémio Nobel da Paz diz que tinha pouca motivação para continuar na chefia do Estado, afirma que só se candidatou porque lho solicitaram muito e admite mesmo que sua candidatura foi uma espécie de passagem de testemunho antecipado e propositado. Para ele, o balanço de dez anos de independência é "altamente positivo", mas não esconde as suas preocupações com a pobreza que ainda marca o país e com a corrupção que considera "grave" em alguns sectores do Estado.

A sua janela para ser secretário-geral da ONU, se alguma vez existiu, está hoje fora de questão. Depois do sul-coreano Ban Ki-moon, será a vez de um europeu. Ramos-Horta já tem dois candidatos em cima da mesa: Durão Barroso ou António Guterres

Que retrato faz de Timor-Leste dez anos depois da restauração da independência?

O balanço em geral é altamente positivo, embora salpicado ao longo desses dez anos pelos graves incidentes de 4 de Dezembro de 2002, em que a casa de Mari Alkatiri, então primeiro-ministro, foi assaltada e saqueada na sequência de tumultos e de protestos contra o Governo. A também tristemente famosa manifestação contra o Governo, que durou um mês e foi liderada pela hierarquia da Igreja católica. E ainda a grave crise de 2006, em que quase perdi a vida. Não foram dez anos isentos de problemas. Hoje o país está tranquilo, a economia tem conhecido um crescimento de 10% em média nos últimos quatro/cinco anos, graças a uma política de coragem do irmão Xanana Gusmão.

Que política de coragem foi essa?

Exige-se coragem para investir como ele investiu. Não hesitou muito, por exemplo, em assinar a ordem executiva para o contrato com a Finlândia e a China para a electrificação do país, na ordem dos 600 milhões de dólares (472,3 milhões de euros). Se eu fosse primeiro-ministro, a caneta tremia-me nas mãos a assinar um contrato daquela natureza e muitos outros investimentos públicos, nomeadamente na área humanitária, como as pensões aos veteranos, viúvas e idosos. A oposição diz que Xanana criou um Estado providência, mas, numa sociedade como a nossa, com tanta pobreza, porque não um Estado providência?

Apesar destas ajudas, a maioria da população ainda vive na mais absoluta pobreza. Não podia ter sido feito mais?

Sim, a pobreza ainda é generalizada e devíamos tê-la reduzido muito mais. A subnutrição infantil é inaceitavelmente alta, a tuberculose continua a ser a primeira doença do país, a malária e o dengue continuam a ser doenças generalizadas. Nem tudo tem sido um sucesso, mas é preciso ver o contexto. O Fundo do Petróleo só foi criado em 2004/2005. Começou com pouco mais de 200 milhões de dólares...

Mas hoje já atingiu os cerca de nove mil milhões de dólares (7,1 mil milhões de euros).

Mais, ultrapassou os dez mil milhões. Face a tudo isto, em cinco anos não me parece que se tivesse podido fazer muito mais.

Nas ruas de Díli, nos distritos, os timorenses mais pobres continuam a perguntar para onde foi o dinheiro do petróleo.

Talvez tenha faltado uma melhor comunicação por parte do Governo para com o povo. Se eu fosse o porta-voz do Governo, diria: entre 600 e 800 milhões de dólares para a electrificação do país que o povo tanto exigiu. Mais de 100 milhões de dólares por ano para as questões sociais e humanitárias. Muito dinheiro tem ido também para a formação académica e técnico-profissional. Quando a região e o mundo sofreram com a crise alimentar, Timor-Leste não sofreu, porque o Governo comprou o que era preciso comprar para armazenar e vender ao povo a um nível aceitável. Perguntem aos velhinhos se não estão satisfeitos com os 30 dólares por mês que recebem do Estado.

É sem dúvida uma ajuda, mas não chega para que deixem a pobreza.

Obviamente que não é suficiente, mas este país pode aumentar esse subsídio para 50 dólares por mês. E digo isto porquê? Quando nós ajudamos o pobre, os velhos, eles não vão pegar no dinheiro e comprar perfumes, ou um bilhete para irem de férias para Bali. Vão comprar mais repolho, mais tomate, ovos e galinhas na sua comunidade. E as pessoas na comunidade, que vendem estes produtos e diziam que não tinham a quem vender, agora já têm. Começa a circular o dinheiro e economia local começa a desenvolver-se.

A luta contra a corrupção foi sempre uma das suas bandeiras e de muitos outros políticos timorenses. Hoje muitos dizem que a corrupção já mina o país. A ministra da Justiça vai ser julgada por acusações de corrupção. Que percepção tem do fenómeno hoje em Timor?

É grave a nível de certos sectores do Estado que gerem obras públicas, em particular a sectores ligados à electricidade, saneamento e no Ministério da Comércio, Indústria e Turismo. A situação é grave e o primeiro-ministro está consciente e tem apontado o dedo, mas, como em qualquer Estado de direito, só o procurador-geral da República e os juízes podem apontar o dedo.

Dez anos depois da independência as relações entre Timor e os seus vizinhos Indonésia e Austrália parecem estar perfeitamente estabilizadas...

Conseguimos desenvolver excepcionais relações com os dois países. Não temos qualquer contencioso com eles, as relações no plano humano e no plano governamental são hoje excelentes. Feliz é aquele país que só tem bons vizinhos e Timor só tem bons vizinhos.

E o país irmão, como chama frequentemente a Portugal, que papel pode ainda ter em Timor?

País irmão, sim. Digo muitas vezes à nossa população que não seríamos livres, independentes, se não fosse a acção diplomática portuguesa, porque a nossa luta foi ganha pela via diplomática e não pela luta armada, embora mil vezes heróis são os que lutaram 24 anos nas montanhas. A vertente diplomática foi fundamental e aí Portugal foi fundamental. Eu fiz algo, mas o meu sucesso deve-se ao apoio que tive sempre de Portugal. E há algo que eu admiro muito: quando certos países conseguem uma vitória diplomática, fazem grandes celebrações, achincalham o supostamente derrotado. Portugal conseguiu uma grande vitória diplomática com a questão de Timor e, no entanto, nunca se ouviu nenhum elemento do Estado Português achincalhar aqueles que foram derrotados. Isto é muito apreciado pelos indonésios e australianos. Hoje as relações entre Portugal e Timor são de amizade e cooperação e assim vão continuar no futuro.

O que ainda não venceu em Timor foi a língua portuguesa. Apesar do enorme esforço humano e financeiro feito pelos dois países, ainda são muito poucos os que falam a segunda língua oficial do país.

Fiquei muito contente por ver uma recente estatística do Governo que apontava 20% dos timorenses a falar português. Podem não falar no dia-a-dia, mas se pegam num jornal em português e ouvem rádio entendem a língua. Acredito que nos próximos dez anos esse número pode chegar aos 50%. Será um português timorense, muito criativo, com muitas palavras novas inventadas pelo meio. Por outro lado, o tétum está a ser enriquecido pelo português. Às vezes farto-me de rir, quando estou a ler um texto supostamente em tétum, e 80% são palavras portuguesas.

O português está a mudar o tétum?

Sim. Por exemplo, a palavra "chefe" foi adaptada para tétum pelos timorenses, que escrevem "xefi" e reclamam que isso é tétum. Vejo um cartaz na rua e digo para mim mesmo: estão ali seis palavras e só uma é em tétum. Portanto, está a invadir muito rapidamente o tétum. Daqui a dez, 20 anos vamos ter um português moderno e um tétum impregnado de português. O português aqui não tem de ser o de Lisboa; eu, quando ouço um madeirense, um açoriano ou um algarvio falar, percebo metade. Agora, o português podia avançar muito mais rapidamente em Timor, se a RTP, que eu vou homenagear pelo muito que fez pela luta [de independência de Timor-Leste], fosse mais dinâmica, mais criativa e interessante, como é a TV Globo.

O que não lhe agrada na emissão da RTP (os timorenses têm acesso à emissão da RTP Internacional que alterna ao longo do dia com a Rádio e Televisão de Timor-Leste)?

A RTP tem de ser uma televisão para a Comunidade dos Países de Língua Portuguesa [CPLP]. E até pode ter a contribuição financeira de alguns países e ter produções em comum com as televisões locais. É difícil convencer a TV Globo a fazer isso, mas a RTP é para Timor como a Voz da América é para os Estados Unidos, como a BBC é para Inglaterra. A emissão internacional da RTP tem de ser repensada, até em Portugal, porque parece que a sua audiência está a diminuir, e olhar para os que a vêem fora de Portugal. Sem ofensa para o senhor Baião [João Baião, animador de programas da RTP], que eu nunca vejo na televisão. Mas volta e meia ligo a televisão e lá está ele com a sua palhaçada completa. Provavelmente os portugueses na Suíça gostam dele, mas Portugal tem coisas mais interessantes para mostrar ao mundo do que o Baião e outros tantos que não prestigiam a RTP.

Vai deixar agora a Presidência da República depois de ter perdido as eleições do mês passado. Que reflexão faz hoje sobre esse resultado eleitoral?

Quando anunciei a minha candidatura, afirmei que não faria campanha, disse que entrava na corrida apenas porque me solicitaram muito. Nas poucas ocasiões em que intervim durante a campanha foi para falar bem dos candidatos nos quais eu acreditava.

A sua candidatura não tinha como objectivo vencer? Era uma espécie de passagem de testemunho antecipado e propositado?

Propositado. Sobretudo em relação a Taur Matan Ruak e Lu Olo, homens que estiveram 24 anos na mata. Eu, já em 2007, quando Xanana me empurrou para a corrida à presidência contra o Francisco Guterres Lu Olo, senti-me muito mal. Eu disse ao Xanana antes da última eleição: vou-me candidatar outra vez contra o Lu Olo, ainda mais agora com o Taur Matan Ruak na corrida?

Também teve um papel importante na luta a nível diplomático.

Sim, extremamente importante, mas andar em Nova Iorque, em Lisboa ou Paris não era o mesmo que andar no mato, sempre em risco de vida e sem comida. Eu não sei se teria aguentado 24 anos como eles aguentaram. Por isso, Taur Matan Ruak tem todo o meu respeito, admiração e amizade. Estou tranquilo.

Durante os anos da luta e após a independência Ramos-Horta e Xanana Gusmão foram sempre aliados fiéis. Desta vez Xanana não o apoiou, colocando-se ao lado de Taur Matan Ruak. O que se passou?

Os brilhantes analistas e especuladores, que não estão sentados nas salas onde falo com o Xanana, dizem muita coisa, mas, na verdade, não sabem o que se passa. Por exemplo, antes da eleição eu já lhe tinha dito mais de uma vez: irmão, já estou sem vontade para continuar mais cinco anos. Ele queria que eu continuasse presidente e, para me encorajar, dizia que eu tinha feito um bom trabalho e que nos próximos cinco anos não tinha de me preocupar com a questão interna, e que iríamos ter um grande orçamento para a acção internacional. Numa outra conversa ele dizia: "Se não está motivado para continuar, é grave." Não estando motivado como seriam os próximos cinco anos? Iria ser desleixado, indiferente.

Essa sua corrida para perder foi "combinada" com Xanana Gusmão?

Não foi combinada, mas ele sabia que eu não era um candidato com vontade. Havia um candidato nada motivado, e dois candidatos supermotivados, o Lu Olo e o Taur Matan Ruak. No CNRT [partido de Xanana Gusmão] havia já muita gente a apoiar o Taur Matan Ruak e ele tinha também de o apoiar.

A amizade entre os dois continua viva.

Sim, claro. Ainda amanhã vou estar com ele. Há duas semanas levei a sua esposa e o três miúdos a passear, porque o Xanana não tem tempo. Às vezes até brinco com os miúdos e pergunto: Então? O vosso pai ainda está a fazer política? Vêm várias vezes aqui para casa e a primeira coisa que fazem é correr para o frigorífico a ver se tem chocolate. Depois vão brincar com as outras crianças do bairro e já não me ligam nenhuma. São umas crianças maravilhosas, uma simpatia, inteligentes. Gosto muito das crianças. Tenho uma óptima relação com o casal.

Os jornais timorenses têm especulado sobre a possibilidade de se aliar a Lasama Araújo e integrar a listas do Partido Democrático nas legislativas de Julho.

Podia entrar em várias listas partidárias, mas não o vou fazer, este país não tem ninguém neutral. Já várias pessoas me pediram encarecidamente para não entrar em nenhum partido.

Disse recentemente que há vida para além da presidência. Essa vida é a da figura independente dos partidos?

Sim. Uma figura independente e apaziguadora. Tentar fazer a ponte com todos para serenar os ânimos. É o que todos me pedem. Nunca dizendo não à possibilidade de contribuir para o próximo Governo.

Não exclui a hipótese de integrar o novo Governo?

Não. Terei de ver qual é a constelação política, quem é o primeiro-ministro, quem é quem e qual a agenda. Não excluo a hipótese de entrar no Governo, ou em alguma instituição a ser criada que, por exemplo, promova a adesão de Timor na ASEAN [Associação das Nações do Sudeste Asiático], porque só temos uma janela de oportunidade de entrada que é em Novembro 2013. Se não tivermos condições para entrar até lá, temos de esperar mais cinco anos.

Em tempos o seu nome também chegou a ser referido para ocupar o cargo de secretário-geral da ONU.

Se alguma vez isso foi possível, hoje está fora de questão, porque depois de Ban Ki-moon será a vez de um europeu. E na Europa defenderei acerrimamente dois candidatos: Durão Barroso ou António Guterres. Em termos de qualificações, não vejo ninguém na Europa que possa bater Barroso ou Guterres.

A missão da ONU vai colocar fim à sua missão Timor no final do ano. Preocupa-o essa saída?

Não. Apenas temos de manifestar a nossa gratidão pela contribuição exemplar que as Nações Unidas tiveram na estabilização do país. Espero é que o próximo Governo concorde comigo para que seja feito um acordo bilateral com Portugal para manter aqui uma companhia robusta da GNR, já a expensas de Timor, no mínimo dois a três anos. Devem continuar a formação que estão a fazer e intervir, caso seja necessário. É melhor jogar pelo seguro. Toda a gente gosta da GNR, a não ser os malfeitores, esses temem-na.

Como espera ver Timor daqui a dez anos?

Um país de desenvolvimento médio/alto, em que a pobreza, a malária, a tuberculose deixaram de existir. Um país com uma população alfabetizada, sem desemprego e com uma grande cultura democrática, de tolerância e solidariedade. Isto não é um sonho, é possível. Timor é possível.

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