domingo, 26 de junho de 2011

Brasil: HUMALA E CABRAL, DOIS EXTREMOS




MÁRIO AUGUSTO JAKOBSKIND* – DIRETO DA REDAÇÃO

Se alguém ainda tinha dúvidas sobre as transformações que estão a ocorrer no continente americano, o vizinho Peru pode servir de exemplo concreto sobre este novo tempo que desagrada os setores conservadores. Até bem pouco tempo, a Aliança Popular Revolucionária Americana, mais conhecida como Apra, o partido do atual Presidente Alan Garcia, mandava e desmandava. Mas nas últimas eleições teve um resultado pífio só conseguindo eleger quatro deputados. Ou seja, nem poderá formar um bloco parlamentar e consequentemente não terá forças para continuar dando as cartas políticas, como fazia anos atrás.

O partido de Alan Garcia tem raízes históricas, mas nem por isso conseguiu sobreviver aos novos tempos no país, que acabou resultando na eleição de Ollanta Humala. Vinculado à socialdemocracia, que hoje passou a ser uma linha auxiliar dos apologistas do esquema neoliberal e do deus mercado, a Apra colheu os frutos de sua prática, imaginando sempre que o processo político é imutável.

O exemplo peruano deve servir de reflexão não apenas para cúpulas partidárias que sucumbem à burocracia, transformando as suas agremiações políticas em meros departamentos cartoriais, como a políticos que imaginam estar acima do bem e do mal. No Brasil já temos exemplos, sobretudo à direita, mas de alguns partidos de esquerda, ou que se julgam de esquerda, embora nos últimos tempos venham adotando práticas diferenciadas do que defendiam antes.

Em termos regionais, o exemplo mais elucidativo está a ocorrer no Rio de Janeiro, onde partidos que se consideram de esquerda apoiam um governador, Sergio Cabral que reprime violentamente bombeiros que ganham salários de fome e ainda por cima concede as maiores facilidades para empresários em troca de favores especiais.

Já se imaginava que isso acontecia, embora a opinião pública estivesse iludida, como nas eleições de outubro do ano passado, quando sufragou Cabral por maioria absoluta. Agora, depois de uma tragédia em que morreram sete pessoas na queda de um helicóptero na Bahia, caiu a máscara. Isso tem um nome: promiscuidade. Ou será que tem outra denominação o fato de um governador estar usufruindo das benesses de um empresário, como Fernando Cavendish, proprietário da construtora Delta, a empreiteira responsável pela reforma milionária do Maracanã em associação com as do mesmo ramo Odebrecht e Andrade Gutierrez?

Escondendo o jogo, como faz sempre, Cabral foi a Bahia para participar de uma festa milionária de Cavenish, a quem presta favores. E o que dizer em pegar carona a hora que quiser no avião do trilionário Eike Batista? O empresário e o governador acham isso perfeitamente normal.

Há denúncias segundo as quais o governo Sergio Cabral está fazendo obras no Estado sem concorrência pública, o que mereceria pelo menos uma investigação mais apurada da Assembleia Legislativa e do Ministério Público.

Em outros países, por muito menos,  governos caíram porque os chefes do Poder Executivo se envolveram em jogadas prejudiciais ao Estado.

Cabral tem maioria na Assembleia Legislativa e dificilmente se conseguirá algum tipo de ação, salvo se a opinião pública se mobilizar e exigir, pois, afinal de contas, o Estado é responsável em gerir os impostos arrecadados de honestos cidadãos contribuintes.

O momento é grave. O Rio está na antevéspera de dois megaeventos que vão lidar com muitos milhões. Tudo agora gira em torno disso, inclusive no âmbito da Prefeitura, onde o alcaide Eduardo Paes está aprontando, como, por exemplo, promovendo  remoções de favelas que não estão em área de risco, mas são cobiçadas pela especulação imobiliária há tempos. O Morro dos Prazeres, em Santa Tereza, que o diga. E perguntem também que grupos econômicos apoiaram Paes.

Aliás, que pouca sorte tem o Rio de Janeiro. Depois de um Cesar Maia aparece um Paes. E um Maia que responde na Justiça pelo que foi feito na Cidade da Música, na Barra da Tijuca, que ainda por cima ganhou o nome de Roberto Marinho, um cidadão acima de qualquer suspeita, mas que em nenhum momento teve algum envolvimento com a música, seja clássica ou popular, salvo as editorias de cultura de seus meios de comunicação.

Maia imaginava que colocando o nome do finado proprietário das Organizações Globo poderia tudo que fez de errado ficar por isso mesmo. Mas como as denúncias se avolumaram, Cesar Maia terá de responder na Justiça as acusações de ilegalidades cometidas  na Cidade da Música.

O Rio de Janeiro, claro, merecia coisa melhor, mas como a região historicamente sempre primou pela resistência, embora nos últimos tempos, Cabral, Paes e antes Maia, para não falar em tempos mais distantes de Moreira Franco e Marcelo Alencar, que ocuparam o espaço político, transformando a área em uma verdadeira vergonha nacional, não se descarta que em algum momento o povo desperte e exija que sejam tomadas providências enérgicas para acabar com o atual estado de coisas. O integral apoio popular aos bombeiros vitimados por Cabral foi um aviso.

No Peru, o esquema meliante de Fujimori foi derrotado nas urnas e o partido de Alan Garcia, que apoiou a filha do ex-Presidente, a Keiko Fujimori, sofreu um revés sem precedentes históricos, que não imaginava poderia acontecer. Nos tempos de transformações porque passa o continente americano, não pode mais haver lugar para tipos como Alan Garcia, Alberto Fujimori, Cabral, Paes, ou Maia, muito menos para Moreira Franco, que virou Ministro de Assuntos Estratégicos, embora já se conheça há tempos que tipo de estratégia ela adota no seu fazer político.

Ah, sim, neste time fica faltando o chileno Sebastián Piñera, que conseguiu se eleger depois da falência do esquema da Concertación, mas, segundo as pesquisas, já é repudiado pela maioria da população.

* É correspondente no Brasil do semanário uruguaio Brecha. Foi colaborador do Pasquim, repórter da Folha de São Paulo e editor internacional da Tribuna da Imprensa. Integra o Conselho Editorial do seminário Brasil de Fato. É autor, entre outros livros, de América que não está na mídia, Dossiê Tim Lopes - Fantástico/IBOPE

O ITAMARATY NA ÉPOCA DA DITADURA




RUI MARTINS*, Berna – DIRETO DA REDAÇÃO

Berna (Suiça) - Eu estava em São Paulo, num cyber café de uma galeria na Avenida Paulista, quando li a concessão da anistia póstuma ao ex-consul-geral do Brasil em Stuttgart, na Alemanha, Arnaldo Vieira de Mello.

E me lembrei de sua viúva, hoje com 92 anos, que encontrei no Palácio das Nações, em Genebra, quando ela ali estivera, vinda do Rio de Janeiro para participar de uma solenidade da ONU em memória e homenagem ao seu filho, Sérgio Vieira de Mello, morto num atentado em Bagdá.

E me lembrei também do jovem Sérgio, com quem fizera diversas entrevistas no Alto Comissariado da ONU, em Genebra,  e que vira, pela última vez, já com a cabeleira começando a embranquecer, quando apresentava seu relatório sobre o Timor Leste, na comissão de Direitos Humanos. Ainda estava na CBN, quando, reportando noticiários internacionais,  comentara sua provável escolha para secretário-geral da ONU.

Sem dúvida, Sérgio Vieira de Mello (foto) foi o maior diplomata brasileiro de todos os tempos, mas não trabalhava para o Itamaraty e sim para a ONU. Tenho aqui comigo, sobre minha mesa, um livro ao qual prestei uma modesta colaboração, escrito por Jacques Marcovitch, cujo título é Sérgio Vieira de Mello, Pensamento e Memória, no qual tantos diplomatas e acadêmicos brasileiros lhe prestam merecida homenagem.

E por que Sérgio não fizera carreira inicial no Itamaraty, onde seu pai Arnaldo Vieira de Mello trabalhou 28 anos? Alguns poderão responder por ter sido a filosofia sua primeira grande preocupação, mas outros se lembrarão que o brilhante jovem estudante do colégio Franco-Brasileiro, no Rio, preocupado com os conceitos de justiça e de paz, viveu ali o golpe militar de 1964 e preferiu continuar seus estudos em Friburgo, na Suíça, e depois na Sorbonne, em Paris. Aquela não era a época ideal para seguir o pai e fazer o Instituo Rio Branco, como logo lhe mostraram os acontecimentos.

Com efeito, cinco anos depois do golpe, quando faltavam alguns meses para Sérgio concluir seu curso de filosofia na Sorbonne, o Itamaraty procedeu a um expurgo sem precedente na história brasileira e demitiu 44 funcionários entre eles diplomatas de carreira, como seu pai, Arnaldo Vieira de Mello.  “Não vejo nenhum sentido eu fazer carreira numa instituição que cassou meu pai”, diria ele aos amigos.

Da lista dos 13 diplomatas demitidos, em abril de 69, fazia também parte o poeta e diplomata Vinicius de Moraes. Ainda pouco antes de morrer, Vinicius tentou recuperar sua condição de diplomata, mas isso lhe foi negado pelo Itamaraty.

Alguns dos colegas cassados de Arnaldo e Vinicius, abandonados por amigos temerosos da repressão militar, acusados de homossexualismo, alcoolismo ou subversão,  passaram a ter vida difícil e próxima da miséria. O pai de Sérgio Vieira de Mello, morreu desgostoso, seis anos depois da cassação, que o tinha privado de uma próxima nomeação como embaixador.

No ato da concessão da anistia póstuma a Arnaldo Vieira de Mello, conta o relatório da Associação Brasileira da Imprensa, que o Conselheiro da Comissão de Anistia do Ministério da Justiça, Virginius José Lianza da Franca, fez ampla e minuciosa descrição daquela época de caça às bruxas e das violências então praticadas pelo Itamaraty sob a batuta e com o aval do Ministro Magalhães Pinto, que assinava à margem dos processos despachos determinando o prosseguimento da perseguição.

Lembrou Virginius que Sérgio Vieira de Mello deixou de concorrer ao Instituto Rio Branco, onde se tornaria funcionário do Itamaraty, em protesto contra o tratamento que o governo brasileiro dera a seu pai, cortando sua carreira sem processo regular nem direito de defesa. "A ditadura é uma realidade", disse então Sérgio Vieira de Mello.

Conta também uma reportagem publicada em O Globo, sob o título Repressão no Itamaraty – os tempos do AI-5, como agiu a ditadura militar para obter os nomes dos que seriam cassados:

“Para compor a lista, a comissão recrutou informantes civis e militares. Sua primeira medida foi despachar circular telegráfica aos chefes de missão no exterior, intimados a entregar os nomes de servidores “implicados em fatos ou ocorrências que tenham comprometido sua conduta funcional”. Arapongas das Forças Armadas cederam fichas individuais de mais de 80 diplomatas.??Também assinam o relatório os embaixadores Carlos Sette Gomes Pereira e Manoel Emílio Pereira Guilhon, que auxiliaram Câmara Canto na missão sigilosa.?? O chefe da comissão encerrou o texto com um autoelogio patriótico: “Tudo fizemos para atingir os objetivos colimados e preservar o bom nome do Brasil e do seu serviço exterior”. 

Não se pode deixar de pensar, nestes dias de debates sobre a Comissão da Verdade, onde estão e o que aconteceu com esses delatores que arruinaram a vida de tantos colegas.

Muitos ignoram que Sérgio Vieira de Mello, combativo e dinâmico funcionário da ONU, participou, em Paris, da revolta estudantil de maio de 1968, tendo sido preso pela polícia parisiense, quando se manifestava na Sorbonne. Uma comovente biografia de Sérgio é o livro O Homem que Queria Salvar o Mundo, de Samantha Power.

Também sobre minha mesa, o livro de Jason Tércio, Segredo de Estado, no qual se reconstitui o desaparecimento, durante a ditadura militar, do deputado Rubens Paiva. Nas primeiras páginas, o relato do telex com informações fornecidas pela embaixada brasileira de Santiago do Chile ao DoiCodi, denunciando duas passageiras do vôo Varig com mensagens de exilados que levariam ao deputado. Era uma época em que o Itamaraty trabalhava com a ditadura.

À saída do Palácio das Nações, ao cumprimentar dona Gilda e lhe contar minha admiração por seu filho, lhe perguntei se já havia recorrido à Comissão de Anistia com relação à cassação de seu marido. Se essa intervenção foi de alguma valia, sinto-me feliz. No meu texto para o jornal, depois de descrever a homenagem lembrei a injustiça ao pai de Sérgio Vieira de Mello cometida pelo Itamaraty. Não sei se foi publicada.

Nem sempre, mas geralmente as demissões arbitrárias, expurgos e perseguições de toda sorte são revistos e as nódoas ficam nos que as motivaram, agiram ou as aplicaram como ditadores, policiais ou pau-mandados.

* Jornalista, escritor, ex-CBN e ex-Estadão, exilado durante a ditadura, é líder emigrante, ex-membro eleito no primeiro conselho de emigrantes junto ao Itamaraty. Criou os movimentos Brasileirinhos Apátridas e Estado dos Emigrantes, vive em Berna, na Suíça. Escreve para o Expresso, de Lisboa, Correio do Brasil e agência BrPress.

BRASILEIRO JOSÉ GRAZIANO DA SILVA É ELEITO NOVO DIRETOR-GERAL DA FAO




DEUTSCHE WELLE

O brasileiro José Graziano da Silva foi eleito neste domingo diretor-geral da Organização das Nações Unidas para a Agricultura e Alimentação (FAO). Ex-ministro de Lula, ele coordenou o programa Fome Zero.

O brasileiro José Graziano da Silva, de 51 anos, foi eleito neste domingo (26/06) diretor-geral da Organização das Nações Unidas para a Agricultura e Alimentação (FAO), durante a 37ª conferência do órgão, realizada em Roma.

Ele obteve 92 dos 180 votos. Quatro a mais que seu principal adversário, o ex-ministro do Exterior espanhol Miguel Angel Moratinos.

José Graziano da Silva, até agora subdiretor da entidade, sucede no cargo o senegalês Jacques Diouf, há 18 anos no posto, e toma posse em 1° de janeiro de 2012.  A FAO, com sede em Roma, é a maior agência da ONU, com um orçamento anual de mais de 700 milhões de euros. 

Crise de alimentos

O brasileiro, que desde 2006 é também o representante regional da organização para a América Latina e Caribe, era considerado o favorito entre os seis candidatos. Agora, enfrentará o desafio de combater a fome em um mundo mergulhado em uma crise de alimentos.

Jacques Diouf se tornou  líder da organizaçãoem 1993, ao suceder ao especialista libanês Edouard Saouma. Diou assumiu o cargo um ano depois e foi reeleito duas vezes. O mandato do futuro diretor estará, entretanto, limitado a quatro anos, segundo a última reforma da entidade.

O objetivo da FAO é a luta global contra a fome e a melhora da produção e da distribuição dos produtos agrícolas em tempos de mudanças climáticas.

Agrônomo, professor e escritor, José Graziano foi ministro extraordinário de Segurança Alimentar e Combate à Fome entre 2003 e 2004, durante o primeiro mandato do presidente Luiz Inácio Lula da Silva. Ele coordenou a elaboração do programa Fome Zero e deu início à implementação do projeto.

Apoio de Brasília

O governo brasileiro se empenhou fortemente no apoio à candidatura de Graziano, que ocorreu num momento em que o país está expandindo sua produção agrícola e a lançando-se como produtor mundial de alimentos.

Há cerca de uma semana, a presidente Dilma Rousseff lançou o novo Plano Agrícola e Pecuário 2011/2012, que recebeu 107,2 bilhões de reais para financiamento da produção agropecuária do país.  A chefe de governo defendeu, na ocasião, que o Brasil seria o único país com capacidade de ampliar a sua produção de forma sustentável, sem causar danos ao meio ambiente.
  
Foi o próprio ex-presidente Lula da Silva quem manifestou, no ano passado, a intenção de indicar o nome de Graziano como candidato à liderança da FAO. Uma sugestão aceita pela atual presidente, Dilma Rousseff, que encaminhou, em janeiro deste ano, a indicação ao comitê responsável.

MD/lusa/dpa - Revisão: Francis França

EUROPA RECEBE PREMIÊ CHINÊS COM EXPETATIVA E DESCONFIANÇA




DEUTSCHE WELLE

O premiê chinês, Wen Jiabao, chega à Europa em um momento delicado das relações com o Velho Continente. Crise grega e direitos humanos devem ser abordados na viagem, que inclui Budapeste, Londres e Berlim.

A visita oficial de cinco dias do primeiro-ministro chinês, Wen Jiabao, começa no momento em que as relações da China com o Velho Continente são assoladas por discórdia. Apesar da cooperação econômica e da boa balança comercial, a preocupação com direitos humanos e com a crescente dependência econômica europeia em relação à China são o principal tempero de uma pauta agridoce de discussões.

Em sua primeira parada, em Budapeste, Wen assinou uma série de acordos de cooperação com o primeiro-ministro húngaro, Viktor Orban. O premiê chinês anunciou neste sábado (25/06) que a China está pronta para comprar títulos do governo da Hungria e ampliar para um bilhão de euros o crédito ao país. Esta é a primeira visita em 24 anos de um líder chinês à Hungria, país que até o final do mês detém a presidência da União Europeia.

De olho na crise grega

De acordo com Yan Jin, do Centro de Estudos Europeus na Universidade de Renmin, em Pequim, a crise da dívida na Grécia é o que mais preocupa o gigante asiático.

"A China está convencida de que a crise da dívida europeia e grega não é apenas um problema da União Europeia. Ela é importante para a economia mundial. E se a crise não for solucionada, pode afetar a economia de toda a Europa e, com isso, também a economia mundial e da China", diz Yan.

Mais do que tudo, a China está interessada em um euro estável e em parceiros comerciais europeus confiáveis. A República Popular investiu bilhões de suas enormes reservas cambiais em euros, além de ter comprado títulos dos governos da Grécia e da Espanha. E já anunciou a disponibilidade de investir mais. Mas ao mesmo tempo, especialistas chineses alertam aos europeus para não terem muitas expectativas de que a China vá socorrer a Europa.

Negócios na linha de frente

A visita de Wen Jiabao também tem o objetivo de ajudar a construir fortes laços comerciais. Empresas europeias esperam por grandes encomendas da China, mas muitas se queixam das desvantagens do mercado chinês.

Enquanto isso, os europeus estão cada vez mais desconfiados com o crescente engajamento da China em seu quintal. Recentemente, a controvérsia envolvendo a participação de uma empresa estatal chinesa em parte da construção uma estrada entre Berlim e Varsóvia ocupou as manchetes dos jornais.

Mas o vice-ministro do Exterior chinês, Fu Ying, disse que as preocupações de que a China planeje tomar conta de negócios europeus são infundadas. "Alguns políticos europeus atribuem motivos políticos a decisões econômicas. Isso não é verdade e não representa os fatos. Isso leva as empresas chinesas a perderem o interesse e a terem a impressão de que a Europa não é um campo acolhedor para investimentos."

Caso Ai Weiwei

Longe da arena comercial, Europa e China estão em lados opostos quando o assunto é direitos humanos. E o tema não deve passar em branco durante a visita de Wen, principalmente em relação ao tratamento que a China deu ao artista Ai Weiwei, que foi autorizado a voltar para casa na quarta-feira, depois de mais de dois meses preso.

Na sexta-feira, a polícia soltou o último dos quatro assistentes de Ai Weiwei que haviam sido presos junto com o artista, crítico do regime de Pequim. O assistente de Ai Weiwei, Wen Tao, voltou para casa na sexta à noite, segundo informou o próprio artista à agência de notícias AFP, através de uma mensagem de texto.

No dia anterior, o advogado de Ai havia anunciado a liberação de seu contador e do designer Liu Zhenggang. Na tarde da quinta-feira, o primo e motorista de Ai, Zhang Ais Jinsong tinham sido liberados.

Ai Wei Wei foi libertado após pagar fiança e se comprometer a obedecer regras severas. O artista, de renome internacional, está impedido de deixar Pequim sem permissão durante um ano. Com 54 anos de idade e sofrendo de diabetes, ele foi preso em 3 de abril e levado a local desconhecido e foi libertado após admitir culpa por evasão fiscal. Ai Weiwei está proibido de dar declarações à imprensa, mas sua família e aliados contradizem as acusações. Analistas atribuem a libertação de Ai Weiwei e seus assessores à viagem à Europa do primeiro-ministro chinês, Wen Jiabao.

Autor: Ruth Kirchner/Julia Elvers-Guyot (ff) - Revisão: Marcio Damasceno

Alemanha: Verdes optam por apoio a plano de Merkel para desligar usinas nucleares





Verdes decidiram apoiar o plano do governo alemão de desativar todas as usinas nucleares até 2022. Em congresso extraordinário do partido, maioria votou pelo sim, embora muitos delegados prefiram desligamento até 2017.

Com alguns votos contrários, algumas abstenções e muitas objeções, a maioria dos quase 800 delegados do Partido Verde aprovou o plano de desligamento das usinas nucleares na Alemanha proposto pela chanceler alemã Angela Merkel. Originalmente, o partido defendia o desligamento de todas as centrais nucleares já em 2017.

A lei será votada no Parlamento alemão na quinta-feira, e a decisão dos Verdes não influi no resultado, já que uma maioria parlamentar para aprovação da medida já está assegurada. Atualmente, oito das 17 usinas nucleares do país estão desativadas e não voltarão a funcionar. Os nove reatores restantes serão desativados gradualmente até 2022.

No encerramento do congresso especial do partido neste sábado, os Verdes afirmaram, entretanto, que vão "continuar trabalhando com todas as forças para que a última usina nuclear seja desligada da rede o mais rápido possível, inclusive claramente antes de 2022." Os Verdes também reivindicam que a desistência do uso de energia nuclear seja escrita na Constituição alemã, para que se torne irrevogável.

O governo de coalizão de Merkel havia originalmente votado em 2010 pelo prolongamento da vida das 17 usinas nucleares da Alemanha até 2040. Mas depois o desastre de Fukushima, em março deste ano, obrigou o governo a rever sua posição.

Controvérsias internas

Enquanto a maioria dos delegados do Partido Verde comemorou a decisão de Merkel de mudar a política energética, alguns membros mais ligados a movimentos antinucleares e a organizações ambientalistas desejam um "não" do partido ao plano do governo. Mas ao final da reunião, prevaleceu a coerência.

"Depois de décadas de luta, conseguimos uma vitória real", disse a presidente dos Verdes, Claudia Roth. O líder da bancada do partido no Parlamento, Jürgen Trittin, vê o "sim" do seu partido como uma vitória definitiva. "Este é um dia histórico. Não há mais nenhum partido pró-energia nuclear na Alemanha".

Algumas reivindicações centrais dos Verdes, no entanto, não farão parte da lei que será votada na quinta-feira. Entre elas, estão o fechamento do depósito de resíduos nucleares de Gorleben e a elevação dos padrões de segurança para usinas nucleares.

Reações da oposição

O secretário-geral da União Democrata Cristã (CDU), Hermann Gröhe, celebrou a decisão dos Verdes, mas se manteve cético. "É claro que fiquei contente com a decisão, mas uma andorinha só não faz verão", disse. Gröhe argumenta que o partido ambientalista ainda terá que mostrar se está a "assumir responsabilidades" ou se "continuará a incentivar protestos", negando seu aval a "medidas pouco populares, como construção de novas redes elétricas ou de usinas de gás mais eficientes", necessárias de agora em diante, segundo o conservador.

O deputado social-democrata Thomas Oppermann também comemorou a decisão.  "Foi uma prova de fogo para a capacidade de governar dos Verdes. O resultado é um bom sinal para um trabalho de cooperação entre verdes e social-democratas a partir de 2013", disse.

O líder do partido A Esquerda, Gregor Gysi, criticou o voto dos Verdes. "Tecnicamente falando, seria possível desativar as centrais nucleares já em 2014 ou em 2017, como os Verdes queriam. Mas como eles concordaram em votar a favor do desligamento em 2022, só para mostrar que podem se coligar com os conservadores, acabam tolerando vários anos nos quais a população continua sob o risco desnecessário de um desastre nuclear como o de Fukushima", lamentou.

FF/dpa/afp/rtr - Revisão: Marcio Damasceno

Passageiros retidos em Maputo passam mais uma noite em terra e dizem-se abandonados




PÚBLICO - LUSA

Os 220 passageiros do voo da Linhas Aéreas de Moçambique (LAM) que devia ter partido para Lisboa na sexta-feira vão passar mais uma noite na capital moçambicana e muitos criticam a diplomacia portuguesa e a TAP.

O voo TM da LAM devia ter partido de Maputo para Lisboa na noite de sexta-feira mas um embate contra uma viatura de abastecimento na pista de Mavalane levou à sua suspensão.

“Tivemos um contacto no sábado por parte da LAM, que assegurou que voávamos hoje, e hoje disseram-nos que já tinha sido fretado um aparelho mas que não podia voar por não ter autorização de Lisboa, o que é mentira”, disse à Lusa José Lucas, em viagem do Botsuana para a capital portuguesa.

“É incrível que não tenhamos tido nenhum apoio da embaixada portuguesa e do consulado, quando já é público que nos encontramos aqui há dois dias”, acrescentou o passageiro.

Contactada pela Lusa, a cônsul geral em Moçambique, Graça Gonçalves Pereira, diz ter estabelecido contactos com a LAM dos quais resultou a garantia de que “o avião fretado está pronto” e que transportará os passageiros na segunda-feira.

Essa foi também a última informação prestada hoje aos passageiros, às 17h00 (16h00 em Lisboa), que refere que o voo será realizado na segunda-feira pelas 21h00.

O voo Maputo-Lisboa-Maputo é efetuado pela LAM mas utilizando um aparelho e parte da tripulação da Euro Atlantic Airways, uma vez que a companhia moçambicana está proibida de voar para o espaço europeu.

Muitos dos passageiros, que voam de Joanesburgo para Lisboa, com escala em Maputo, mostraram à Lusa bilhetes electrónicos comprados no início do ano à TAP, quando a transportadora portuguesa ainda voava para a África do Sul.

Com o fim dessas operações, passou a ser a LAM a assegurar as ligações de cidades sul-africanas aos voos de Maputo para Lisboa.

“A TAP vendeu-me um serviço para me transportar de Joanesburgo para Maputo e de Maputo para Lisboa, andou em negociações com a LAM, o que não é o meu problema porque comprei o serviço à TAP e agora fico aqui”, queixou-se Fernando Cândido, que viaja com mulher e quatro filhos menores.

Alguns passageiros não portugueses, oriundos da África do Sul, acusam a LAM de divulgar as poucas informações apenas em língua portuguesa.

“Estou completamente perdido e se não fossem algumas pessoas a ajudarem-me não saberia nada do que se passa”, disse à Lusa John Jooste, de Joanesburgo.

Tanto a LAM como a TAP não responderam aos telefonemas da Lusa mas a companhia moçambicana fez saber que já tinha enviado 25 passageiros por Luanda e pelo voo da TAP.

*Foto em Lusa

Angola acolhe seminário internacional sobre combate de branqueamento de capitais





Peritos nacionais e internacionais e unidades de informação financeira, reúnem-se Segunda-feira, 27/06, em Luanda, num seminário internacional sobre o combate de branqueamento de capitais e ao financiamento ao terrorismo, apurou a RNA.

Numa iniciativa do executivo angolano, com o apoio técnico da fundação para a inovação africana o evento, segundo a sua coordenadora, Ana Cristina Almada, tem como objectivo, capacitar às instituições financeiras angolanas.

“O objectivo deste seminário, é engajar os actores relevantes no combate ao branqueamento de capitais e ao financiamento do terrorismo, angolanos e não só, num diálogo abrangente que venha a cobrir todas as deficiências, portanto, identificar quais são os riscos e quais as vulnerabilidades de Angola nesta matéria, no quadro das recomendações existentes internacionais e das convenções existentes”, informou.

Ana Cristina Almada, disse ainda, que a assistência técnica da African Innovation Foundation, passa pela organização de seminários e de acções de sensibilização e formação de vários sectores, por um lado forças de aplicação da lei, e por outro lado, das entidades obrigadas, existem as entidades financeiras e não financeiras, e por último também da população em geral, porque esta é uma matéria que têm a ver com todos nós na sociedade.

TIMOR-LESTE PRETENDE REFORÇAR COOPERAÇÃO NOS DOMÍNIOS ENERGÉTICOS E DA DEFESA




ANGOLA PRESS

Luanda - O Presidente da República Democrática de Timor-Leste, José Ramos Horta, disse hoje, domingo, em Luanda, que o seu país pretende reforçar a cooperação com Angola nos domínios energético e da defesa.

“O Timor-leste pretende reforçar a cooperação e a troca de experiência com Angola em vários domínios, entre os quais da defesa e energético”, disse.

Ramos Horta falava à imprensa no aeroporto internacional 4 de Fevereiro, logo após a sua chegada ao país, onde vai efectuar uma visita oficial de três dias .    

Referiu que pretende reforçar a cooperar com Angola no domínio da defesa, mais propriamente na questão da organização das forças armadas e desmobilização dos militares.

Para tal, disse, fazer-se acompanhar do titular da pasta da defesa do seu país e prevê a assinatura de acordos.

Já no domínio energético, referiu que Angola, é um país em crescimento económico, tem varias experiência no domínio de petróleos.

O presidente timorense vai visitar durante a sua estada em Angola a SONILS , adstrita à Sociedade Nacional de Combustíveis de Angola (Sonangol) uma empresa estatal do ramo petrolífero, responsável pela administração e exploração do petróleo e gás natural em Angola
  
Sublinhou que o seu país em fase de desenvolvimento energético produz pequenas quantidades de gás natural, o que numa primeira fase considera o necessário para o país.

Lamentou a falta de recursos humano em Timor-leste, citando o apoio que tem referido dos Países da Comunidade de Língua Oficial Portuguesa (CPLP) nesta área.      

Ramos Horta e a delegação que o acompanha foram recebidos a sua chegada pelo ministro da Defesa, Cândido Pereira dos Santos Van-Dúnem e por outros membros do governo angolano.

Angola e Timor Leste, dois países membros da CPLP cooperam em vários domínios entre os quais o parlamentar, educação e defesa.

PRESIDENTE DE TIMOR-LESTE ESTÁ EM ANGOLA





Luanda - O Presidente da República Democrática de Timor-Leste, José Ramos Horta, chegou hoje, domingo, ao país para uma visita oficial de três dias , destinada ao reforço da cooperação bilateral.

No aeroporto de Luanda, Ramos Horta e a delegação que o acompanha foram recebidos pelo ministro da Defesa, Cândido Pereira dos Santos Van-Dúnem e por outros membros do governo angolano.

De acordo com o programa da visita, segunda-feira o Chefe de Estado do Timor-Leste, vai depositar uma coroa de flores no monumento do primeiro presidente de Angola, António Agostinho Neto,  e logo em seguida parte para o Palácio Presidencial onde lhe serão dados os cumprtimentos de boas vinda, pelo seu homologo angolano, José Eduardo Dos Santos.

Após à cerimónia, os dois estadistas vão manter um encontro em privado, seguindo-se conversações entre delegações dos dois países.

José Ramos Horta vai ainda, de acordo com o programa,   participar de uma sessão solene extraordinaria da Assembleia Nacional, em sua honra.

A ida a lugares de interesse económicos e social, como o zona economica especial , onde vai visitar três unidades fabris, a base da Sonils e a unidade hospitalar Girassol, constam igualmente do programa do estadista timorense em Angola.

Timor-Leste é um dos países mais jovens do mundo, e ocupa a parte oriental da ilha de Timor no Sudeste Asiático, além do enclave de Oecussi, na costa norte ocidental de Timor, da ilha de Ataúro, a norte, e do ilhéu de Jaco ao largo da ponta leste da ilha.

As únicas fronteiras terrestres que o país tem ligam-no à Indonésia, a oeste da porção principal do território, e a leste, sul e oeste de Oecusse, mas tem também fronteira marítima com a Austrália, no Mar de Timor, a sul. Sua capital é Díli, situada na costa norte.

 É membro da Comunidade de Países de Língua Oficial Portuguesa CPLP, em que pertencem igualmente Angola, Brasil, Cabo-Verde, Guine Bissau,  Moçambique, Portugal e São Tome e Príncipe,    

POR QUE OS COMUNISTAS SÃO VERMELHOS?





Pouca gente sabe, ou lembra. Por trás da escolha do vermelho como a cor dos revolucionários há uma história de traição e sangue. É Marx quem melhor conta esta história em seu livro “As lutas de classes na França de 1848 a 1850”.

Na Revolução Francesa de 1789, os trabalhadores franceses se uniram a seus patrões para derrotar a nobreza. Mas, os aristocratas conseguiram retornar ao poder, em 1815. Para derrotá-la de vez, a burguesia contou com a mobilização dos operários. Graças às revoltas dos trabalhadores, em fevereiro de 1848, o rei Luis Filipe foi obrigado a renunciar.

A burguesia voltava a ser a absoluta em seu poder na França. Os trabalhadores, então, cobraram sua parte da vitória. Basicamente, queriam salários menos miseráveis, jornadas de trabalho menos massacrantes e mais empregos.

A burguesia se fez de surda. No máximo, fazia promessas vagas. A revolta voltou a explodir entre os operários. Sentiam-se traídos. Em junho, saíram às ruas exigindo seus direitos. Carregavam a bandeira tricolor da revolução de 1789. Foram recebidos a bala.

Depois de cinco dias de batalha entre trabalhadores quase sem armas e três exércitos, milhares ficaram mortos pelas ruas de Paris. As bandeiras tricolores caídas no chão. O branco e o azul tingidos pelo vermelho do sangue operário. Segundo Marx: Só encharcada no sangue dos revoltosos de Junho, a tricolor se tornou bandeira da revolução européia. A bandeira vermelha!

Ou seja, já não se tratava de uma revolução nacional. Nem de se aliar à burguesia. Esta se mostrou traiçoeira e preocupada apenas com seus interesses. 

Desde então, a bandeira dos comunistas é vermelha, sua causa é internacional e sua organização deve ser independente de patrões e governos.


Texto publicado em 17/06/2011 no blog Pílulas Diárias.

*Sérgio Domingues é Militante social e partidário (PSOL). Membro do coletivo Revolutas. Também tem um blog sobre mídia: Mídia Vigiada. Sociólogo.

CABOVERDIANOS EM BUSCA DO EL DORADO – GANHAR A VIDA NA GUINÉ EQUATORIAL




EXPRESSO DAS ILHAS

Grandes obras estão a ser feitas na Guiné Equatorial. Grandes empreendimentos que reclamam uma quantidade imensa de mão-de-obra qualificada. A ARG, uma empresa de construção civil brasileira, recrutou mais de uma centena de profissionais cabo-verdianos para trabalharem nas estradas que está a executar no país. E há ainda quase mil inscritos à espera de serem seleccionados, numa altura em que as inscrições estão suspensas.

À chegada, o que se vê parece ser uma cidade e com os seus cerca de 2000 habitantes quase poderia ganhar essa denominação. O acampamento da ARG em Oyala, Guiné Equatorial, tem dezenas de construções de madeira e contentores adaptados, tem tratamento de águas, salas de diversões, campos de futebol improvisados e habitantes de várias nacionalidades, inclusive cabo-verdianos.

Quando António Tavares Gonçalves, 30 anos, ouviu anunciar na rádio, que uma construtora estava à procura de mão-de-obra qualificada para trabalhar na Guiné Equatorial, decidiu inscrever-se.

Os três anos de experiência como electricista auto numa empresa também ligada à construção civil garantiram-lhe a passagem.

"Eu nunca tinha viajado, foi a minha primeira viagem. Fui daqui para São Tomé, onde estive três dias e depois para uma ilha desse país [Guiné Equatorial]. Depois fizemos mais uma viagem, até Bata. Daí até a Oyala foram 5 a 6 horas de carro", conta.

Na mesma viagem seguiam mais sete cabo-verdianos. Ao chegarem ao acampamento todos ficaram surpreendidos com a sua dimensão.

"Chegamos lá, vimos aquela gente toda. É um acampamento muito grande," diz António, ainda com algum espanto.

Foi em Maio do ano passado, que a ARG- empresa que recentemente assinou contrato com o Governo de Cabo Verde para a construção da Cidade Administrativa - se instalou na cidade da Praia para fazer selecção e recrutamento de mão-de-obra qualificada para a Guiné Equatorial. 

O país foi escolhido devido a essa "facilidade que tem com a emigração. Normalmente, os cabo-verdianos adaptam-se muito bem lá fora. Têm esse histórico-cultural. Foi feito um estudo e a ARG interessou-se. Além disso, Cabo Verde tem bastante mão-de-obra qualificada", conta Wilza Silva, representante da ARG em Cabo Verde.

As coisas correram bem. Num primeiro momento estiveram instalados no Centro de Formação Profissional da Praia. Depois mudaram-se para um escritório próprio na Achada de Santo António. Neste momento há 119 cabo-verdianos a trabalhar na Guiné Equatorial e 14 a serem treinados. A secção de recrutamento recebeu 1156 inscrições, de todas as ilhas e inclusive de imigrantes africanos no país. Devido ao elevado número de processos em espera, as inscrições foram temporariamente suspensas.

De momento, não há certezas quando ao número de trabalhadores que ainda poderão seguir para as obras da ARG.

"Pode ser que a empresa ganhe mais obras. Aqui temos uma espécie de um banco de dados sobre a mão-de-obra. Quando precisarmos, manda-se buscar", diz a representante.

Quanto aos que lá se encontram " a empresa está muito satisfeita, é pessoal qualificado. Eles vão com alguma experiência, e os técnicos lá também lhes dão alguma formação", avalia Wilza Silva.

Dos oito cabo-verdianos do grupo de António, apenas quatro ficaram no acampamento de Oyala. Os outros foram para Mongomeyen ou para Mongomo, locais onde a ARG está, actualmente, presente.

Além de Cabo Verde, a empresa recruta pessoas no Brasil e na Bolívia e apesar do bom ambiente em geral, a tendência no acampamento é para se juntarem em grupos, divididos por países. 

"Colaboramos mais no momento do trabalho", diz António.

Não costuma haver problemas. Se alguém não se adapta, a empresa responsabiliza-se pela viagem de regresso ao país.

A maior parte das pessoas que para aí vai, vai com um objectivo: "A nossa preocupação, nesse país, é o trabalho", diz António. Trabalhar, receber um salário que varia entre os 700 e os 1400 euros (cerca de 77 a 154 contos CV), conforme a função, e melhorar a qualidade de vida no regresso.

Enquanto o futuro não chega, o dia no acampamento começa às 6h00. Meia hora depois toma-se o pequeno-almoço e às 7h00 começa o trabalho. O dia só termina às 18h, com pausa de almoço pelo meio. São 10 horas de jornada. 

Ao regressar ao acampamento, muitos trabalhadores ainda aproveitam para fazer exercício físico. Depois jantam. Carne, quase sempre.

"Quando estou lá sinto saudades de pescado. Onde eu estou não há peixe e eu saí de um país que tem muito pescado", confessa António.

Depois do jantar é tempo de relaxar. Na televisão vêem-se futebol e telenovelas brasileiras. E na sala de diversões encontram-se grupos entretidos com diversos jogos. Os cabo-verdianos preferem os jogos de cartas.

"Nesse país" - é assim que António chama à Guiné Equatorial quase durante toda a entrevista - o domingo, único dia de folga, é passado consoante "os costumes de cada pessoa".

"Eu vou sempre à igreja. A igreja não fica no acampamento. No acampamento há uma sala onde se celebra a missa, mas apenas nas festas. Eu vou à missa, na cidade," conta.

A celebração religiosa é semelhante à que se faz em Cabo Verde. A única diferença é a língua. Aí, a missa é dita em espanhol, a língua oficial de maior projecção na Guiné Equatorial. 

Além do espanhol, há o francês e recentemente também o português foi institucionalizado como língua oficial. A Guiné Equatorial quer integrar a CPLP (Comunidade dos Países de Língua Oficial Portuguesa), mas a sua inclusão na comunidade tem alvo de controvérsia.Muitas vozes têm-se levantado contra essa integração, reivindicando que o país não cumpre os princípios orientadores da CPLP.

Teodoro Obiang Nguema Mbasogo, também actual presidente da União Africana, é Presidente da Guiné Equatorial desde 1979, e o seu regime é considerado corrupto, etnocêntrico, opressivo e não democrático.

A ARG, no entanto, não teve até à data problemas com o estado guinéu-equatoriano, com quem tem um acordo para a concessão dos vistos dos trabalhadores.

António, no entanto, fala, com algum cuidado, da pobreza que por lá vê.

"Eles não gostam que se fale disso. Mas sim. Eu presenciei muita pobreza, mesmo muita. O país está um bocado atrasado e as pessoas desse país também porque aí não há formação para jovens", avalia.

A cada seis meses os trabalhadores da ARG têm direito a, pelos menos, duas semanas de férias. A ARG paga as passagens e apesar de o trabalhador poder escolher ficar com o dinheiro destas, em vez de viajar, a verdade é que quase nenhum o faz. As saudades apertam e querem ver se a família está bem.

"A empresa também prefere que venham de férias. O profissional, quando vem para Cabo Verde está com a família e vê que está tudo bem. É motivante para ele," diz Wilza Silva. O bem-estar do trabalhador é uma preocupação constante da empresa, garante, e a ARG presta apoio aos mais diversos níveis, da informação sobre os processos legais mais correctos, ao cuidado com o conforto das instalações, nos acampamentos.

Depois das férias, os trabalhadores voltam para o trabalho mais tranquilos e mais concentrados.

António diz-se satisfeito com a sua decisão de ir trabalhar para a ARG, na Guiné Equatorial. Diz que a experiência está a corresponder às suas expectativas.

"Tenciono continuar. Não sei quanto tempo mais vai durar a obra, mas estou satisfeito e quero exercer o meu trabalho por mais algum tempo", assegura.

Perfil - Guiné Equatorial

A República da Guiné Equatorial situa-se na África Ocidental e divide-se em três territórios: um continental e duas ilhas. O país possui o maior PIB per capita do continente africano, mas é um país de médio IDH. A má distribuição da riqueza é uma das falhas apontadas.Estima-se que 60% da população viva na pobreza. Teodoro Obiang, por seu lado, é considerado o oitavo governante mais rico do mundo pela revista Forbes.

A Guiné Equatorial é, juntamente com Angola e Brasil, um dos mercados considerados com maior potencial de crescimento a médio prazo.

Há cerca de 20 anos, era considerado um dos países mais pobres do mundo, mas a descoberta de petróleo nos anos 90 veio mudar o panorama.

Vários empresários brasileiros têm apostado nas áreas das infraestruturas, nomeadamente na construção de estradas e de uma zona moderna na capital (Malabo). Estão também a ser construídos os estádios que, em 2012, irão acolher a Taça de África (CAN2012), que decorre no Gabão e na Guiné Equatorial.

*Sara Almeida, Redacção da Praia

Cabo Verde: MpD FALA DE “FRAUDE ELEITORAL” NO ORÇAMENTO DE ESTADO





Adalberto Silva denúncia incumprimento da promessa do décimo terceiro mês e critica o congelamento de salários.

O Movimento para a Democracia (MpD) considera que a proposta do Orçamento Geral do Estado para 2011 revela uma "fraude eleitoral" cometida pelo partido do governo.

De acordo com Adalberto Silva, deputado e empresário, em causa está o não cumprimento da promessa, feita durante a campanha, de criação do décimo terceiro mês para a função pública, medida que, já se sabe, ficou de fora das contas do executivo para este ano.

O antigo presidente do BCA e actual parlamentar ‘ventoinha' entende que o orçamento, que vai ser debatido e aprovado na generalidade durante a próxima sessão plenária da Assembleia Nacional, é uma "continuidade daquilo que foi o Orçamento de Estado para 2010".

Ontem à tarde, no Mindelo, na abertura de um encontro alargado entre os deputados do MpD e operadores económicos da ilha de São Vicente, Adalberto Silva relembrou também o congelamento dos salários dos funcionários do Estado, apesar da inflação estimada pelo Banco de Cabo Verde se situar nos cinco por cento, o que se traduzirá numa diminuição do poder de compra.

Muito crítico em relação à política de investimentos seguida pelo elenco governativo, liderado por José Maria Neves, Adalberto Silva acredita que se "deve por em causa a eficiência e eficácia dos investimentos público que têm sido feitos", uma vez que, defende, estes não têm criado valor à economia.

"Temos de exigir dos poderes públicos que a aplicação dos dinheiros do Estado seja feita com economia, eficiência e eficácia", preconiza.

Liderada pelo líder parlamentar, Elísio Freire, a comitiva do MpD foi constituída, além de Adalberto Silva, pelos deputados eleitos pelo círculo eleitoral de São Vicente. Jorge Santos, Humberto Cardoso, Eva Caldeira Marques e António Delgado marcaram presença na sala de conferências da Associação Comercial.

Sobre o facto de o país estar desde Janeiro, sem Orçamento e a viver de duodécimos, Fernando Elísio Freire considera tal facto como "dramático" e defende a necessidade de se encurtar os prazos legais.

"Claro que há a questão das eleições, da tomada de posse e de aprovação do programa de governo, mas acho que os prazos têm de ser encurtados e isso passa por uma revisão do Código Eleitoral e da própria Constituição, que o MpD está empenhado em fazer, porque o país não pode ficar seis meses, num ano de eleições, sem Orçamento", comprometeu-se.

O debate de terça-feira foi o primeiro de um ciclo de três que o Movimento para a Democracia espera fazer no Mindelo, até ao final do ano. Em Julho, os parlamentares estarão de regresso com o ‘estado da Nação' na agenda. Depois do verão e das presidências, em Outubro, será debatido o ‘estado da justiça'.

*Nuno Andrade Ferreira, Redacção Mindelo

Mais lidas da semana