segunda-feira, 7 de outubro de 2013

Portugal: PASSOS COELHO NA ARMADILHA RTP

 

Balneário Público
 
Da Agência Lusa e do jornal Expresso: “Passos entrevistado por 20 portugueses”. Segue-se o lead: “O primeiro-ministro vai ser entrevistado por 20 portugueses na quarta-feira à noite no programa da RTP “O País Pergunta”, que foi adiado depois de uma polémica que motivou queixas na Comissão Nacional de Eleições (CNE).” No desenvolvimento da notícia é referido que: “Os 20 cidadãos foram escolhidos por duas empresas de estudo de mercado e é suposto serem representativos do país a vários níveis: em termos etários, regionais, profissionais ou socioeconómicos.” E que “As perguntas são escolhidas pelos próprios, que estarão em estúdio com o primeiro-ministro e líder do PSD.” Devemos temer que tudo isto seja uma armadilha montada pelos que habitualmente apupam e têm prazer em denegrir o desempenho de um dos mais incansáveis salvadores de Portugal (só comparável a Salazar e a Cavaco Silva). Quem são essas empresas de estudo de mercado? Provavelmente dos que constituem o grupo “Que se lixe a troika”. E, muito provavelmente, elementos daquela associação de velhinhos que já deviam ter ido de viagem e que teimam em estar por cá a pesar no orçamento do Estado. Assim, por esses, as perguntas serão construidas para levar o primeiro-ministro salvador ao ridículo. E depois lá vêm os apupos da ordem porque esses maganos o que melhor sabem fazer é apupar. Mal-agradecidos é o que são. O País Pergunta. Mas que miséria de nome de programa é este? Pergunta o quê? Pergunta porquê? Mas nem sabem que a obra do grande salvador e primeiro-ministro ainda agora começou e que não está acabada? Não sabem que têm dificultado ao máximo a governação? Não sabem que o Tribunal Constitucional só tem colocado escolhos no caminho deste governo de salvação? Não sabem que os professores têm destruido o ensino público deixando as crianças sem escolas, sem professores, sem giz, sem papel higiénico? Não sabem que até o Infantário da Banharia tem criado imensas dificuldades na governação? E não sabem que só a coragem, discernimento, patriotismo, perseverança e sapiência de Pedro Passos Coelho, seus ministros, Cavaco Silva, a troika, os banqueiros, grandes empresários, o Oliveira e Costa do BPN-SLN, e mais alguns ilustres portugueses (Dias Loureiro e etc.) têm agido em prol da nossa salvação, portugueses, e de Portugal? Sabem. Fazem é que não querem saber. Injustos. Ingratos. Exatamente por essa razão a suspeita de que este programa da RTP venha a constituir uma armadilha ao salvador de Portugal tem fundamento. É que está quase todo o país contra ele e contra o seu governo. Até estão contra o presidente Cavaco Silva. Um senhor que é um gentleman e que sobrevive com uma parca reforma, assim como a sua bondosa esposa e restante família. Nem sequer ainda conseguiram pagar o Pavilhão Atlântico, nem a modesta vivenda do Algarve, na Aldeia da Coelha, em Albufeira. Coitados dos Silvas que só têm é dívidas por causa destas crises e da reforma de miséria que lhes cabe. Não está certo. Nem está certo que seja permitido que Passos Coelho, o salvador, seja exposto às perguntas de vinte pessoas num programa em direto na RTP. Quem são estes vinte inquisidores? Ainda se fossem do PSD, assim sim. Nem pensar se também forem do CDS pois esses podem vir a ser a extensão da armadilha. E do PS é que não. Cá para mim isto significa que Passos Coelho, o salvador, tem a armadilha montada na RTP. Ó rico não vá lá. Alegue que está com dores de barriga ou coisa desse género. Invente uma desculpa, uma mentira. Sabemos que não gosta de mentir mas nestas circunstâncias seria perfeitamente compreensível. Não caia nesta armadilha nosso rico salvador.
 
Ana Castelar
 
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UMA EMERGÊNCIA FRÁGIL E VULNERÁVEL – I

 

Martinho Júnior, Luanda
 
1 – As palavras de Dilma a 24 de Setembro do corrente na ONU, ainda ressoam nos nossos ouvidos, num discurso cuja primeira parte foi dedicada à denúncia da espionagem que os Estados Unidos têm levado a cabo tendo como alvo o Brasil e a sua emergência:

…“Senhor Presidente,

Quero trazer à consideração das delegações uma questão à qual atribuo a maior relevância e gravidade.

Recentes revelações sobre as atividades de uma rede global de espionagem eletrônica provocaram indignação e repúdio em amplos setores da opinião pública mundial.

No Brasil, a situação foi ainda mais grave, pois aparecemos como alvo dessa intrusão. Dados pessoais de cidadãos foram indiscriminadamente objeto de interceptação. Informações empresariais – muitas vezes, de alto valor econômico e mesmo estratégico - estiveram na mira da espionagem. Também representações diplomáticas brasileiras, entre elas a Missão Permanente junto às Nações Unidas, e a própria Presidência da República tiveram suas comunicações interceptadas.

Imiscuir-se dessa forma na vida de outros Países fere o Direito Internacional e afronta os princípios que devem reger as relações entre eles, sobretudo, entre nações amigas. Jamais pode uma soberania firmar-se em detrimento de outra soberania. Jamais pode o direito à segurança dos cidadãos de um país ser garantido mediante a violação de direitos humanos e civis fundamentais dos cidadãos de outro país. Pior ainda quando empresas privadas estão sustentando esta espionagem.


Não se sustentam argumentos de que a interceptação ilegal de informações e dados destina-se a proteger as nações contra o terrorismo.

O Brasil, Senhor Presidente, sabe proteger-se. O Brasil, Senhor Presidente, repudia, combate e não dá abrigo a grupos terroristas.

Somos um país democrático, cercado de países democráticos, pacíficos e respeitosos do Direito Internacional. Vivemos em paz com os nossos vizinhos há mais de 140 anos.

Como tantos outros latino-americanos, lutei contra o arbítrio e a censura e não posso deixar de defender de modo intransigente o direito à privacidade dos indivíduos e a soberania de meu País. Sem ele – direito à privacidade - não há verdadeira liberdade de expressão e opinião e, portanto, não há efetiva democracia. Sem respeito à soberania, não há base para o relacionamento entre as Nações.

Estamos, Senhor Presidente, diante de um caso grave de violação dos direitos humanos e das liberdades civis; da invasão e captura de informações sigilosas relativas às atividades empresariais e, sobretudo, de desrespeito à soberania nacional do meu País.

Fizemos saber ao Governo norte-americano nosso protesto, exigindo explicações, desculpas e garantias de que tais procedimentos não se repetirão.

Governos e sociedades amigas, que buscam consolidar uma parceria efetivamente estratégica, como é o nosso caso, não podem permitir que ações ilegais, recorrentes, tenham curso como se fossem normais. Elas são inadmissíveis.

O Brasil, Senhor Presidente, redobrará os esforços para dotar-se de legislação, tecnologias e mecanismos que nos protejam da interceptação ilegal de comunicações e dados”…

2 – O Brasil tem toda a legitimidade em defender-se e à sua dignidade, perante um monstro que de há muito perdeu o sentido do respeito para com a humanidade, para com as promessas de democracia e liberdade que apregoa e para com os seus próprios concidadãos, um monstro que tem ultrapassado os limites da coerência e da decência, se comporta com arrogância e faz constante uso da mentira, da manipulação e do ódio!

Denunciar os meios de que se serve a hegemonia para realizar a espionagem, é a posição que também eu tenho vindo a sustentar pelo que ao longo do mês de Setembro e agora em Outubro de 2013 fui produzindo alguns artigos sobre o tema, evidenciando o papel da ilha-pirata de Ascensão no Atlântico Sul.

É nessa ilha que se encontram instaladas as “grandes orelhas” que permitem coleccionar todos os dados referentes aos países do hemisfério sul do Atlântico, tendo o Brasil um dos alvos dilectos para os interesses norte americanos que movem a “iniciativa” UKUSA-ECHELON-NSA!

A posição da Presidente Dilma Roussef na ONU vale pela posição de todos os países banhados pelo Atlântico Sul e na profundidade dos dois continentes, América e África!

Essa responsabilidade merece contudo ser sujeita à “radiografia” própria da consciência crítica: até que ponto essas palavras são substantivas e têm suporte consolidado? Até que ponto a posição não é mais um “bluff”, um desabafo num vazio?

3 – Constato que as palavras da Presidente do Brasil mereceram outra interpretação de quem no Brasil tem cultivado pontos de vista críticos e patrióticos em relação à sua actuação enquanto Presidente e também em relação ao contexto da espionagem norte americana.

Para esses críticos, em muitos aspectos o Brasil está a proceder de modo a que, conforme as políticas neo liberais em curso, as portas sejam escancaradas para com aqueles que levam a cabo a missão de espiar em função dos interesses da hegemonia norte americana, na presunção de alguma coisa corresponder aos interesses estratégicos do Brasil!

Levar a cabo esse efeito é relativamente fácil; em muitos casos basta promover “pontes” a fim de absorver conceitos, tecnologias e investimentos… para justificar o estado de letargia próprio dos incautos… mas isso evidencia como, com quem e em nome do quê se estão a fazer as emergências pelo menos de dois dos BRICS: o Brasil e a África do Sul!

Foto:
Dilma discursa na ONU; foto de 24 de Setembro de 2013 –
http://www.jb.com.br/internacional/noticias/2013/09/24/espionagem-e-grave-violacao-dos-direitos-humanos-critica-dilma-na-onu/

A consultar:
. Espionagem do governo dos EUA –
http://www.esquerda.net/opiniao/espionagem-do-governo-dos-eua/29697
. El proceso de ocupación de America Latina en el siglo XXI – http://www.rebelion.org/noticia.php?id=174715
. BRASIL COBRA ESCLARECIMENTOS DOS EUA SOBRE ESPIONAGEM – http://paginaglobal.blogspot.com/2013/07/brasil-cobra-esclarecimentos-dos-eua.html
. "Brasil é o grande alvo dos EUA", diz jornalista que obteve documentos de Snowden – http://noticias.uol.com.br/internacional/ultimas-noticias/2013/09/04/brasil-e-o-grande-alvo-dos-eua-diz-jornalista-que-obteve-documentos-de-snowden.htm
. Brazil s Foreign Policy Ambitions And Global Geopolitics – Analysis – http://www.eurasiareview.com/16092013-brazils-foreign-policy-ambitions-global-geopolitics-analysis/
. Como eles espionam? – http://www.defesaaereanaval.com.br/?p=28041
. Dilma escala Cardozo para coordenar resposta à espionagem dos EUA – http://www.cartamaior.com.br/templates/materiaMostrar.cfm?materia_id=22626&editoria_id=4
. Dilma está cega e sendo enganada por puxa-sacos – http://www.viomundo.com.br/denuncias/stedile-dilma-esta-cega-e-sendo-enganada-por-puxa-sacos.html
. Espionagem contra a Petrobrás permitiu aos EUA obter dados sigilosos sobre o Pré-Sal – https://geopoliticadopetroleo.wordpress.com/2013/09/14/espionagem-contra-a-petrobras-permitiu-aos-eua-obter-dados-sigilosos-sobre-o-pre-sal/
. Os próximos? "Brasil é o GRANDE ALVO dos EUA" – http://www.libertar.in/2013/09/os-proximos-brasil-e-o-grande-alvo-dos.html#ixzz2fGqX9my3
. DILMA ADIA VISITA OFICIAL AOS ESTADOS UNIDOS –
http://paginaglobal.blogspot.com/2013/09/dilma-adia-visita-oficial-aos-estados.html
 

Brasil: QUEM MATOU JK?

 

Urariano Mota, Recife – Direto da Redação
 
Recife (PE) - O leitor perdoe o título de telenovela desta coluna. É que a minha dificuldade hoje não é pequena. Depois do ótimo artigo de Mário Augusto Jakobskind, publicado no Direto da Redação Clique aqui , fiquei sem resposta para a pergunta: sobre o que vou escrever esta semana? Daí que zanzei, zanzei, mas terminei sendo salvo por esta notícia:
 
“Motorista envolvido em acidente de JK diz que recebeu oferta para assumir a culpaO motorista do ônibus envolvido no acidente que matou o presidente Juscelino Kubitschek, em agosto de 1976, disse em depoimento à Comissão da Verdade da Câmara Municipal de São Paulo nesta terça-feira (1º) que recebeu oferta com uma mala de dinheiro para que assumisse na época a culpa da tragédia.
 
Josias Nunes de Oliveira, 69, afirmou que cinco dias depois do acidente foi procurado em sua casa em São Paulo por dois homens. ‘Eram dois cabeludos, que vieram em uma moto e se identificaram como repórteres. Eles disseram que se eu assumisse a culpa, receberia a mala cheia de dinheiro. Eu vi a mala, cheinha de dinheiro. Mas não assumi, pois não tinha a menor culpa’ ".
 
Onde há interesse em mentir sobre um acontecimento, há culpa. Então pude recuperar anotações da pesquisa que fiz há alguns anos sobre essa morte. Passo a elas.
 
De imediato, o leitor observe, primeiro, que o “acidente” sofrido por Juscelino Kubitschek chegou a ser anunciado como um destino, uma profecia, como era costume na ditadura, que às vezes perdia o timing entre assassinato e notícia. Vinte dias antes do óbito de JK, nas redações dos jornais já corria o boato de que ele havia morrido.
 
Ora, as mortes de Juscelino Kubitschek, João Goulart e Carlos Lacerda, em um período de 9 meses, já deveriam ter inspirado em nossa imprensa mais que conjeturas. Assim como Deus, a história não joga dados. Aos dados que não se jogam, portanto, nos limites de JK.

1. Em 1975, o jornalista Jack Anderson revelou que o general chileno Manuel Contreras qualificou Kubitschek como uma ameaça, em uma carta enviada ao ditador João Figueiredo. Contreras era chefe do Serviço de Inteligência do regime do Augusto Pinochet, responsável pela morte do ex-chanceler chileno socialista Orlando Letelier, ocorrida em 1976 em Washington, e atribuída à Operação Condor.

2. Segundo o cientista político Luiz Roberto da Costa Jr, em artigo no Observatório da Imprensa, ao mencionar as circunstâncias da morte de JK: “Não houve choque com o ônibus da Cometa, pois este estava atrás da Caravan verde. Testemunhas do ônibus que afirmam ter visto o clarão (‘sol’, como quer a versão oficial) e ouvido a explosão (‘batida’, como quer a versão oficial) não depuseram...”. E importante: “O Opala periciado em 1996 não corresponde ao Opala do acidente em 1976, o chassi é diferente”.

3. Na revista Época de 29.3.1999, sob o título de Um tiro na história, foi publicado: “Depois de 35 anos trabalhando como perito criminal na Polícia Civil de Minas Gerais, o historiador Alberto Carlos Minas está se aposentando e decidiu fazer uma revelação: ‘Eu vi um buraco de bala no crânio do motorista Geraldo Ribeiro’. Era Geraldo Ribeiro quem dirigia o Opala do ex-presidente Juscelino Kubitschek no dia 22 de agosto de 1976, quando bateu num ônibus na Via Dutra...” teria batido, segundo a polícia, corrigimos. “Segundo Minas, quando o corpo de Geraldo Ribeiro foi exumado, há pouco menos de três anos, o crânio estava inteiro e tinha um buraco. ‘De bala’, garante. ‘Depois que vi isso não me deixaram entrar na sala novamente’ ”.

4. E mais, do mesmo Carlos Alberto, em uma rápida entrevista: “As fotos das vítimas sumiram. Em 1996 o processo foi reaberto, mas jamais poderia ter prescrito. A família do motorista nunca viu o corpo dele. Eu era o perito do caso e não pude acompanhar de perto a exumação dos corpos. Quando levantaram a ossada do Geraldo Ribeiro, vi um buraco de bala no crânio dele... Do tamanho da tampa de uma caneta, de cerca de 7 milímetros. O crânio estava íntegro e intacto. Eu o vi inteiro na minha frente, ele não estava esfacelado como depois apareceu. Podem dizer que eu estava enganado quanto ao buraco, mas, se eu estiver errado, como eles explicam um objeto metálico dentro do crânio do Geraldo? Por que o crânio ficou fragmentado depois dos exames?”.

5. Em livro que me foi enviado por Maria de Lourdes Ribeiro, filha do motorista de JK, há o laudo número 12.31/96, do IML de Minas Gerais. Nele se escreve: “... fragmento metálico de forma cilindro-cônica, medindo sete milímetros de comprimento e diâmetro médio de dois milímetros, revelando-se como fragmento de prego enferrujado e corroído, recolhido do interior do crânio...”.

Dados como os acima voltam agora. Em relação a JK, a história ainda está rolando os dados.
É pernambucano, jornalista e autor dos livros "Soledad no Recife" e “O filho renegado de Deus”. O primeiro, recria os últimos dias de Soledad Barrett. O segundo, seu mais novo romance, é uma longa oração de amor para as mulheres vítimas da opressão de classes no Brasil.
 
Leia mais em Direto da Redação
 

Brasil: CIA FAZ DEVASSA EM BUSCA DO MAPA DA MINA

 


A notícia de que a CIA realizou uma verdadeira devassa no Ministério das Minas e Energia, agora num mutirão com o serviço secreto canadense, confirma uma tradição. A agencia é um labrador dos interesses norte-americanos em busca do mapa da mina -no caso, mais literal que metafórico. Um livro de mil páginas lançado no Brasil em 1998, "Seja Feita a Vossa Vontade", dos jornalistas americanos Gerard Colby e Charlotte Dennett , detalha, sem muita repercussão então, a abrangência, os métodos e a intensidade das violações cometidas pelos EUA para avaliar e controlar recursos do subsolo brasileiro. O livro foi lançado num momento sensível, o que talvez explique a repercussão contida. Um ano antes, o governo do PSDB havia privatizado a Vale do Rio Doce, o primeiro e um dos mais polêmicos episódios de uma série. Em ‘Seja Feita a Vossa Vontade", Colby e Charlotte não tratam da Vale. Mas mostram o entrelaçamento entre a cobiça privada de Nelson Rockefeller e os serviços de espionagem dos EUA na rapinagem das riquezas minerais brasileiras. As denúncias atuais, baseadas em informações vazadas por Edward Snowden, mostram uma grau de ousadia ímpar. A desfaçatez pode estar associada à pressa em obter informações estratégicas, antes da votação do novo Código Mineral, proposto pelo governo. Ele transfere a uma estatal o gerenciamento da pesquisa no país.
 
(LEIA MAIS) - Carta Maior, 2ª feira, 07.10.2013
 

UM ÚNICO BRASIL E DOIS PROJETOS EM DISPUTA

 


Com a decisão de Marina de unir-se ao PSB, as eleições de 2014 terão três candidaturas com potencial de disputa [além de outras periféricas]: Dilma, Aécio Neves e Eduardo Campos. Embora sejam três candidaturas principais, a disputa se dará, porém, somente em torno a dois projetos e a duas perspectivas antagônicas para o Brasil.
 
Jeferson Miola – Carta Maior, em Debate Aberto
 
Com o fim da peregrinação esotérica e “sonhática” de Marina Silva, fica provisoriamente desanuviado o cenário eleitoral de 2014.

Como vem acontecendo em todas as eleições presidenciais desde o fim da ditadura militar, em 2014 o povo brasileiro novamente elegerá uma opção entre dois projetos e duas visões de país inteiramente distintas entre si. Será outra vez uma polarização sem matizes, sem relativismos, sem “terceiras-vias” e sem subterfúgios. Uma confrontação, enfim, de duas perspectivas frontalmente diferentes para o Brasil.

Como em todas as seis eleições passadas, o PT constituirá um dos dois polos em disputa. Em 1989, Lula disputou palmo a palmo com Collor, somente sendo derrotado por um golpe sujo da Rede Globo. Nas eleições seguintes, o PT polarizou a disputa da Presidência com Lula [em 1994, 1998, 2002 e 2006] e com Dilma, em 2010. Venceu em três ocasiões e perdeu em duas.

Do outro lado da polarização, o PSDB e o condomínio reacionário por ele dirigido. Esse partido, com uma plumagem falsamente moderna e socialdemocrata, capitaneou o conservadorismo neoliberal com forte tom reacionário, racista e baseado nas oligarquias regionais daquele Brasil da Casa Grande e da Senzala. Venceu duas e perdeu três.

Com a decisão de Marina de unir-se ao PSB, as eleições de 2014 terão três candidaturas com potencial de disputa [além de outras periféricas]: Dilma, Aécio Neves e Eduardo Campos. Embora sejam três candidaturas principais, a disputa se dará, porém, somente em torno a dois projetos e a duas perspectivas antagônicas para o Brasil.

A pantomima de ingresso de Marina e outros “sonháticos” no PSB [com hino cantado e bandeira nacional ao fundo do palco] não deixa dúvidas sobre o objetivo da decisão: “acabar com a hegemonia e o chavismo do PT no governo” [Jornal O Globo de 06/10/2013].

Nos discursos dela e do Eduardo Campos, abundaram referências contra o que consideram “a velha política”, a “velha República” e outras baboseiras do gênero. Na pantomima, Marina e Eduardo destacaram a importância de conhecidos personagens: Gilmar Mendes, o líder do PSDB no TSF, e Pedro Simon, o “grande brasileiro”, aquele seletivo cobrador de pênaltis sem goleiro, que se notabiliza por escolher a corrupção que pretende combater – normalmente a dos inimigos.

Soa como ironia a manifestação moralista e religiosa de Marina, que ganhou projeção nacional e mundial como petista e Ministra da “velha república” de Lula até 2009. E é irônico para o PSB, partido que consolidou sua construção no governo do PT da “velha política” até poucos dias, e que hoje conta nos seus quadros com oligarcas do que passaram a considerar a “Nova República”, como a família Bornhausen [os racistas que propugnaram o fim da “raça dos petistas”] e o “moderno” Heráclito Fortes. A lista de “novos”, “puros” e “superiores”, em nome do pragmatismo, seguramente deve ser ainda maior e não deverá surpreender.

No instante imediato, o gesto de Marina poderá fortalecer Eduardo Campos - a mídia já está produzindo uma narrativa conveniente. Mas, ao mesmo tempo, complica a vida de Aécio, que corre o risco da estagnação.

Até agora, a principal beneficiária desse jogo é Dilma, por uma razão muito simples. Em 2010 Marina foi creditada com 19 milhões de votos, teoricamente de oposição ao PT, mesmo que se considere aquela votação como produto de uma tremenda maquinação da mídia para assegurar o segundo turno eleitoral entre Dilma e Serra.

Com a retirada de Marina das eleições, os 19 milhões de votos, se existissem, ficariam “órfãos”, por outra simples razão: somente tem voto o candidato a Presidente. Candidato a Vice-Presidente não tem voto, ainda que possa oferecer base parlamentar e tempo de televisão para uma aliança eleitoral, o que também não é o caso de Marina, que não tem partido constituído.

As dificuldades se assomam do lado das candidaturas conservadoras de Eduardo Campos/Marina e de Aécio Neves/DEM.

Para se credenciar ao segundo turno contra Dilma, Eduardo será obrigado a flertar ainda mais à direita para tirar votos de Aécio. Terá de fazer mais que simplesmente atrair a famiglia Bornhausen, Heráclito Fortes e se coligar com Ana Amélia no RS e com outros 20 tucanos nos estados. Ele terá de recitar o receituário neoliberal da ortodoxia econômica para saciar os desejos do capital financeiro. E parece estar disposto a isso, ainda que não saiba se isso será remédio ou veneno.

Aécio, por outra parte, tem de demonstrar ser maior que sua sombra Serra, o que passará a ser uma contingência complexa nos próximos meses.

A situação é de dificuldades maiores para a oposição de direita. Nos próximos meses saberemos se Eduardo será Marina ou se Aécio será José Serra. Os atuais titulares da disputa pela oposição, se não demonstrarem viabilidade, poderão ser substituídos por seus suplentes. Tudo em nome do anti-petismo.

Por enquanto, Dilma sai na frente, com perspectiva real de vitória no primeiro turno.
 
(*) Analista político.
 
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CÓLERA JÁ MATOU 24 PESSOAS NA GUINÉ-BISSAU DESDE MARÇO

 


A epidemia de Cólera na Guiné-Bissau já matou 24 pessoas de um total de 379 casos registados desde Março, anunciou Ayigan Kossi, representante da Organização Mundial da Saúde (OMS) na Guiné-Bissau.
 
Os números representam um acréscimo de 88 casos e mais dois mortos em relação aos números registados no final de agosto, sendo que a doença afeta sobretudo as regiões de Tombali e Quinara, no sul do país.
 
A época das chuvas, de maio a outubro, dificulta os acessos e facilita a transmissão da bactéria, que se aloja no intestino humano, sobretudo através do consumo de água contaminada.
 
Na última semana, a OMS entregou ao governo de transição da Guiné-Bissau um conjunto de medicamentos e material sanitário no valor de 200 milhões de francos CFA para o combate à doença.
 
Em declarações aos jornalistas, Ayigan Kossi disse acreditar que, depois das chuvas, "com o envolvimento do governo e com as ajudas já recebidas, será possível acabar com a Cólera" e a partir daí "aprofundar a prevenção".
 
No Hospital de Catió, capital regional de Tombali, funciona um Centro de Tratamento de Cólera para o sul do país que conta com o apoio de organizações internacionais.
 
Vasco Sanca, médico da unidade, contou à agência Lusa que fazem falta mais profissionais de saúde.
 
"O que mais nos podia ajudar eram recursos humanos", conta o médico
 
"Com quatro médicos para um hospital tão grande e com este Centro de Tratamento de Cólera, esta é uma tarefa muito difícil", referiu.
 
Entre as medidas que têm sido tomadas na região para estancar a epidemia constam a formação de ativistas, instalação de latrinas a usar pela população e a dinamização da estadia de escuteiros para realizar sensibilização dos residentes.
 
Lavar as mãos sempre antes de comer e depois de sair da casa de banho são princípios básicos que têm sido transmitidos e que se fazem ouvir também através de campanhas nas rádios.
 
Notícias ao Minuto - Lusa
 

Primeiro-ministro de Timor-Leste chora ao ver más condições de quartéis na Guiné-Bissau

 


Bissau, 07 out (Lusa) - O primeiro-ministro de Timor-Leste, Xanana Gusmão, chorou hoje ao constatar as más condições de alguns quartéis do exército guineense, no dia em que trocou o fato civil por uma farda militar.
 
O primeiro-ministro timorense está a cumprir o terceiro de quatro dias de visita oficial à Guiné-Bissau e hoje foi acompanhado pelo general António Indjai, chefe do Estado-Maior General das Forcas Armadas guineense, líder do golpe de Estado realizado pelos militares em 12 de abril de 2012.
 
O contacto com as chefias militares guineenses acontece um dia depois de o governante e antigo líder da resistência timorense ter pedido aos políticos e militares da Guiné-Bissau, num discurso no Palácio da Presidência, para acabarem com golpes de Estado e conflitos internos que estão a arrastar o país para a miséria.
 
Hoje, a realidade dos quartéis deixou-o abalado.
 
"Fui militar, não posso compreender como é possível que aqui vivam e trabalhem militares", disse Xanana Gusmão aos jornalistas, tomado em lágrimas, e sem entrar em detalhes".
 
"Vesti-me assim [com farda militar] para poder estar mais à vontade com os meus camaradas", observou Xanana Gusmão, ao chegar ao quartel do Estado-Maior General, onde foi recebido por uma parada constituída pelas chefias militares guineenses.
 
Após cumprimentar os presentes com continência e um firme aperto de mão, Xanana Gusmão depositou uma coroa de flores no mausoléu de Amílcar Cabral (pai da independência da Guiné-Bissau e Cabo Verde) e percorreu depois, demoradamente, todas as dependências do Estado-Maior.
 
Sempre na companhia do general António Indjai, o primeiro-ministro de Timor-Leste entrou na cozinha, onde conversou com as cozinheiras, entrou nas camaratas dos soldados e ainda nos gabinetes dos chefes militares.
 
De seguida, e já no gabinete do líder militar guineense, Xanana Gusmão entregou algumas lembranças a Indjai, nomeadamente panos tradicionais, estatuetas e livros de Timor-Leste.
 
"Peço que todos os chefes militares deste vosso país leiam este livro", recomendou Gusmão, ao entregar ao general um exemplar de um livro sobre a história da resistência timorense.
 
O primeiro-ministro timorense, que se fazia transportar na mesma viatura que António Indjai, visitou depois o quartel do exército no bairro de Bra, onde também entrou em todas casernas.
 
No final, em breves declarações aos jornalistas, Xanana Gusmão começou por questionar as condições em que os militares guineenses vivem e trabalham, mas foi levado por lágrimas.
 
"Peço paciência aos meus camaradas das Forças Armadas da Guiné-Bissau. Dias melhores virão", afirmou Xanana Gusmão.
 
O primeiro-ministro timorense encontra-se reunido com as chefias militares num hotel de Bissau desde as 14:20 (15:20 em Lisboa).
 
MB/LFO // JMR – Lusa
 
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Angola: VICENTE NÃO CONSEGUE LAVAR IMAGEM DO EXECUTIVO NA ONU

 


Folha 8 – edição 1161 – 05 outubro 2013
 
O vice-pres­idente de Angola reconhe­ceu na As­sembleia Geral da ONU, que, “apesar de a economia estar no caminho certo”, ainda “muito há a fazer para atingir os Objec­tivos de Desenvolvimento do Milénio”. Não foi a acei­tação do fracasso mas es­teve próximo disso. Desde logo porque se há algum país que tem tudo para ter êxito, esse país é (ou deve­ria ser) Angola.
 
Manuel Vicente garantiu, em Nova Iorque, que o seu Governo está “consciente desse desafio” e “continua a desenvolver programas para reduzir as desigual­dades sociais existentes”.
 
Ou seja, o Governo sub­verteu os objectivos e em vez de trabalhar para os milhões que têm pouco ou nada está, assumidamente, a trabalhar para os poucos que têm milhões. A seu fa­vor, reconheça-se, joga o exemplo de ter conseguido que uma humilde cidadã, que começou a vender ovos nas ruas de Luanda, seja hoje multimilionária e a mulher mais rica de África.
 
Nas palavras do “número dois” de Angola, o país “vive actualmente um período de consolidação das suas instituições democráticas e do Esta­do de Direito”, enquanto aposta na “consolidação da estabilidade macroe­conómica”, o que justifica a adesão ao “programa de países elegíveis a deixar­em a categoria dos menos desenvolvidos”.
 
Manuel Vicente esque­ceu-se de dizer que, se­gundo o Presidente, a democracia “foi imposta” e que, por isso, falar de consolidação das insti­tuições democráticas é uma treta. Basta, aliás, ver o desrespeito pelos direi­tos humanos, a corrupção e a tentativa violenta de limitar a liberdade de expressão à verdade ofi­cial. Desta forma, falar de um Estado de Direito é a mais ignóbil tentativa de passar um atestado de “matumbez” a um Povo que é grado com fome, nasce com fome e morre pouco depois com a bar­riga… vazia.
 
No discurso, desviando estrategicamente o cerne da questão, Manuel Vi­cente abordou ainda o estado da paz e segurança internacionais, manife­stando “preocupação face à escalada de violência que está a ter lugar no Egipto” e à crise humani­tária resultante do con­flito na Síria.
 
Como se Angola fosse um caso menor e acessório, recordou o persistente conflito israelo-palestini­ano, manifestando o apoio de Angola ao direito à au­todeterminação do povo sarauí, instando Marrocos a negociar à mesa inter­nacional, e classificou o bloqueio internacional a Cuba como “uma violação do Direito Internacional”.
 
Desconhecendo, o que fica sempre bem, que os conselhos dados a Mar­rocos se aplicam que nem uma luva a Angola no caso de Cabinda, Manuel Vicente continuou a sua análise internacional, fa­lando de cátedra para um auditório petroliferamente submisso.
 
Saudando “a normalização legal e constitucional em alguns países africanos, que, após períodos de in­stabilidade, foram bem sucedidos na realização de eleições livres e justas”, como o Mali, Manuel Vi­cente salientou também os “desenvolvimentos positivos” em países onde a “instabilidade se man­tém”, como é o caso da Guiné-Bissau. “Apelamos à comunidade internacional que apoie os esforços em curso nesses países para atingirem a paz e a estabili­dade”, disse.
 
“Reiteramos a importân­cia de revitalizar o sistema das Nações Unidas, par­ticularmente reformando o Conselho de Segurança, que deve reflectir uma representação justa de to­das as regiões, aumentando o número de membros permanentes”, sustentou, reafirmando a candidatura de Angola a membro não permanente do Conselho de Segurança, na eleição que terá lugar na próxima sessão da Assembleia Geral.
 
Os Objectivos de Desen­volvimento do Milénio são oito metas internacionais estabelecidas em 2000, no termo da Cimeira do Milénio das Nações Uni­das, com a adopção da Declaração do Milénio das Nações Unidas sub­scrita na altura por todos os Estados-membros da ONU e pelo menos 23 or­ganizações internacionais, com o compromisso do seu cumprimento até 2015.
 
A pouco mais de dois anos do limite estabelecido, An­gola, assim parece (apenas parece), cumpriu o primei­ro, ao reduzir para metade a percentagem da popu­lação afectada pela fome e subnutrição.
 
O próprio ministro Afonso Pedro Canga destaca que o Governo angolano está a dar passos significativos no que se refere ao cum­primento do compromisso de combater a fome e a subnutrição, proeza que se deve “à visão estra­tégica do Chefe do Estado, José Eduardo dos Santos, que elegeu a segurança ali­mentar, o combate à fome, à pobreza e o desenvolvi­mento rural como priori­dades”.
 
As Nações Unidas, por exemplo, sabem que para alcançar estes resultados o Governo, sempre sob a superior e divina égide do Presidente, implementou (dizem) um conjunto de programas nos domínios social e económico-produ­tivo, especificamente nos sectores da agricultura, pescas, indústria, empre­go, construção de infra-estruturas, transportes, comércio, desminagem, saúde, assistência social, educação e ensino, for­mação profissional, assim como uma boa (seria mais correcto dizer excelente) governação, que se traduz na gestão cuidada dos re­cursos públicos, factor que – não dizem eles mas dize­mos nós – conseguiu colo­car o nosso país nos últi­mos lugares da corrupção. Nos últimos lugares se, esclareça-se, estivermos a ver a lista ao contrário.
 
Para Afonso Canga, os êxi­tos alcançados encorajam (como se isso fosse preci­so) o Governo a prosseguir com mais dinamismo e de­terminação nos esforços de reconstrução nacional, visando satisfazer as ne­cessidades e as aspirações justas dos angolanos, em particular, o direito à ali­mentação.
 
“O Executivo angolano, liderado pelo engenheiro José Eduardo dos Santos, vem aumentando, anu­almente, os orçamentos destinados à segurança ali­mentar e nutrição, à saúde, à educação, à assistência social e ao combate à po­breza”, diz o ministro, sub­linhando que a produção alimentar tem conhecido aumentos, os níveis de emprego têm subido, os índices de pobreza estão a reduzir e a esperança de vida dos angolanos está a aumentar.
 

"Mentiras" impediram a manifestação sobre habitação em Angola, diz SOS Habitat

 

Deutsche Welle
 
Dia 7 de outubro comemora-se o dia Internacional da habitação. Uma manifestação que queria celebrar a data foi impedida pela polícia angolana. De acordo com a organizadora da marcha, usou-se mentiras para a impedir.
 
Em Angola, uma manifestação antecipada para celebrar o dia Internacional da Habitação foi impedida pelas autoridades angolanas. De acordo com a SOS Habitat, organizadora da marcha, o Governo de Luanda socorreu-se de mentiras e artimanhas de forma premeditada para impedir a manifestação.

"Até agora não sabemos porquê mas nós cumprimos com todos os requisitos necessários que contém na nossa Constituição que diz que o cidadão ou as organizações sempre que precisam fazer uma manifestação ou uma marcha devem comunicar ao Governo Provincial de Luanda e isto foi feito isso", diz Rafael Morais, coordenador da SOS Habitat.

Esta organização não-governamental (ONG) angolana e as comunidades lesadas pelos constantes desalojamentos decidiram celebrar a data instituída pela Organização das Nações Unidas (ONU) no último sábado dia 5, com uma manifestação de sensibilização ao Governo angolano, mas este não lhes quis dar ouvidos.

"O Governo Provincial de Luanda mentiu à sociedade"
 
De acordo com o coordenador da SOS Habitat a realização de uma prova de ciclismo no local onde deveria acontecer a manifestação, foi a justificação apresentada pelas autoridades de Luanda para impedir os planos da ONG. "Não aconteceu a tal prova de ciclismo. O Governo Provincial de Luanda mentiu à sociedade e mentiu à SOS Habitat, no sentido de mais uma vez impedir um ato que está plasmado na Constituição", afirma Morais.
 
Esta ONG garante que respeitou os prazos exigidos pela lei para a submissão do pedido de manifestação ao Governo de Luanda. O pedido deu entrada a 27 de setembro e a resposta deveria ter sido dada 24 horas depois, mas tal só veio no dia 4, um dia antes da manifestação. Para Rafael Morais a resposta tardia foi propositada:

"Na nossa comunicação vão os nossos números de telefone e e-mails" que permitiria ter recibo a resposta com antecedência.
 
Detenção "premeditada"
 
E mais factos se juntam a esta tentativa de impedimento da manifestação. Rafael Morais e outras pessoas foram interpeladas pela polícia de Viana quando se dirigiam ao local da concentração e levados à esquadra. E com isso foi abortada a manifestação. Os motivos da detenção não fazem sentido, de acordo com o coordenador, que vai mais longe ao considerar que ela foi premeditada.
 
As autoridades justificaram-se dizendo que os veículos que detinham "estão num grupo de viaturas que estão a ser procuradas pela polícia porque foram roubadas" e explica que pela maneira que foram interpelados pelas autoridades "dava ideia que alguém estava à espera da nossa viatura" e explica que muitos outros carros que passaram não foram parados. Pelo comportamento da polícia Rafael Morais diz que deveriam previamente ter "a matrícula do carro, todas as diretrizes da viatura e estavam à nossa espera", afirma o coordenador da ONG.
 
Entretanto, a SOS Habitat vai manifestar-se contra a atitude e decisão do Governo de Luanda, mas de outra forma.
 
"Nós estamos a preparar uma conferência de imprensa para amanhã (08.10)" para informar a sociedade do sucedido, adianta Morais. Querem apresentar a sua "indignação sobre o comportamento do Governo Provincial de Luanda". Avança que querem marcar audiência com o Governador Provincial de Luanda para os próximos 15 dias, e também com o vice-presidente do Movimento Popular de Libertação de Angola (MPLA). Este, conta ainda que membros do partido do MPLA tentaram dissuadir a sociedade a participar na marcha, um comportamento que segundo ele visa "desinformar as comunidades".
 
Na foto: Jovens angolanos que vivem na rua
 

O CANTOR DE INTERVENÇÃO BONGA PEDE DIREITOS E RELEMBRA DEVERES A ANGOLA

 

Deutsche Welle
 
O músico angolano, Bonga, apela ao Governo de Angola a respeitar o direito à manifestação e à liberdade de expressão. Mas o cantor também pede aos jovens que exerçam o seu direito de manifestação com civismo e ordem.
 
Assume-se como cantor apartidário, idóneo, ciente das suas opções artísticas, que brilha unicamente à custa do profissionalismo. Diz que não canta para fazer propaganda política. Canta sim, em defesa da tradição e das raízes da cultura angolana. E como angolano e músico de intervenção, está também atento ao que se passa em Angola e no mundo.

José Adelino Barceló de Carvalho ou Bonga, como todos o conhecem, critica a violação do direito à manifestação, bem como a ação policial sob os jovens do Movimento Revolucionário, que recentemente, têm vindo a avançar com protestos contra as injustiças sociais .

Bonga afirma que se cometem muitos erros de organização ideológica. "O defeito de usar a juventude como carne para canhão num passado recente, o defeito incrível das famílias desmembradas, o grande defeito de usarem sistematicamente as pessoas e as coisas" e por estes motivos, diz que "muitas coisas ficaram defeituosas".

Com este passado, a entrada para a democracia está a gerar "medo da reação das pessoas" e o cantor diz que "a melhor forma é não impedir" a democracia.
 
Manifestação mas com civismo, apela
 
Entre outros casos, em meados do mês passado, jovens do referido Movimento, acusados de distúrbios, desobediência e atos de vandalismo, foram detidos em Luanda e libertados depois, na sequência da proibição de uma manifestação anti-governamental em defesa de mais justiça social.

O cantor angolano pensa que, "na democracia temos que nos manifestar, temos que dizer que não estamos contentes", mas também relembra que estes movimentos sociais podem acontecer ordeiramente. "As pessoas quando se manisfestam também não é para partir, eu não estou de acordo. Há regras para tudo na vida", relembra Bonga.

Entre os vários movimentos da sociedade civil que protestam em Angola, diz existirem pessoas de bom censo e sublinha que o civismo é a chave para a conquista. "Se queremos de facto que o povo beneficie com as reivindicações, é preciso que a reivindicação tenha um efeito positivo e não negativo". Adianta que as injustiças sociais não existem apenas em Angola, mas que lá, é necessário que as manifestações ocorram "ordeiramente".

Angola atualmente mais "desordenada"

Bonga afirma que o país hoje está mais "desordenado", que no passado e pede uma distribuição mais justa da riqueza nacional.

Para ele é urgente que "os angolanos sejam assistidos" e lembra que não basta "vangloriarmo-nos que temos diamantes e petróleo", se o lucro destes recursos não chega à população. "Estes dinheiros e esta riqueza têm que servir as pessoas que têm muito mais necessidades que no tempo colonial", reitera o cantor.

A música – concorda – pode ajudar a mudar esta realidade. Bonga reconhece, no entanto, o empenho do Governo de Luanda em mudar a imagem de Angola e melhorar o futuro dos angolanos desfavorecidos.

Defensor pelo mundo fora do semba – uma das fortes tradições musicais de Angola –, este antigo atleta, campeão de Portugal dos 400 metros, já conta com 40 discos. Para já, no auge da maturidade, diz que não tem pressa para lançar um novo trabalho. "Estou naquela reta em que cortei a meta e vou indo calmamente até arrefecer", conclui Bonga.

A DW África entrevistou o músico à margem de mais três atuações, na semana passada, no Teatro Ibérico, em Lisboa. Bonga, que vai cumprindo a agenda de vários concertos pelo mundo. Espera ser uma das vozes inevitáveis das celebrações do 11 de novembro, no 38º aniversário da independência de Angola.

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Moçambique - Maputo: “CHAPAS” FAZEM GREVE

 


A paralisação afectou as principais rotas que ligam os bairros periféricos de Maputo ao centro da cidade
 
William Mapote – Voz da América
 
Na capital moçambicana, transportadores semicolectivos de passageiros paralisaram hoje as suas actividades, em protesto contra a actuação da polícia camarária.
 
Foram mais de quatro horas de paralisação que transtornaram a vida de muitos munícipes que foram impedidos de chegar a horas aos seus locais de destino.

Os transportadores queixam-se do que chamam de cobranças ilícitas por parte da polícia camarária.

A paralisação afectou as principais rotas que ligam os bairros periféricos de Maputo ao centro da cidade, que resultaram em constrangimentos de cidadãos que procuravam se fazer chegar aos diversos pontos de actividades, durante a manhã de hoje.

A polícia camarária negou estar a fazer cobranças ilícitas e disse que a acção que motivou a paralisação, teve a ver com os encurtamentos de rota dos chamados chapa 100, o que resulta em prejuízos para os cidadãos.

Os transportadores retomaram as suas actividades no fim da manhã, depois de longas conversações com as autoridades da polícia camarária.

Moçambique: Arcebispo de Nampula quer mais abertura por parte do governo

 


Os bispos católicos têm vindo, nos seus encontros, a promover reflexões em torno da paz.
 
Faizal Ibramugy – Voz da América
 
O Arcebispo de Nampula, afirmou que em Moçambique a falta de vontade política por parte do governo está na origem para a actual conjuntura política que coloca em estado de emergência a paz, conquistada há 21 anos atrás.
 
Dom Tome Makueliua salientou que os Moçambicanos estão precisando da verdadeira paz, divulgada por Deus através do Jesus Cristo: “ a paz que parte do amor, respeito dos direitos, da justiça e da verdade e não a paz imposta pelas armas, pelas ameaças, pelas torturas e a ameaças”.

Nesta vertente, importa sublinhar que os bispos católicos têm vindo e de forma constante, nos seus encontros, a promover reflexões em torno da paz, o que muitas vez vezes, tem resultado na emissão de notas ou de cartas pastorais, contendo conselhos para os governantes, comunidades religiosas e políticos de forma a continuar a levar a cabo acções visando, cada vez mais, consolidar a paz.

O Arcebispo de Nampula, considera que mesmo com os referidos conselhos o público-alvo não tem mostrado interesse de pôr em prática os referidos conselhos.

A igreja Católica em Moçambique considera que há muitos avanços alcançados graças à paz. A justiça e o bem comum são alguns desses frutos e, estes associam-se no início do processo de restauração e regeneração da unidade nacional e a boa imagem que Moçambique goza ao nível mundial com o fim do conflito armado que durou sensivelmente 16 anos. Mas, apesar disso, a igreja através dos bispos considera que falta ao país uma cultura de paz.

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ELEIÇÕES EUROPEIAS: VOTO CONTESTATÁRIO AUMENTA E ASSUSTA

 
 
Le Monde, Paris – Presseurop
 
O sucesso dos partidos antieuropeístas nos países-membros anuncia uma onda eurocética nas eleições europeias de maio do próximo ano. Os seus temas preferidos – imigração, austeridade e a rejeição de Bruxelas – já dominam a campanha.
 
 
A revelação do partido antieuro na Alemanha, o impulso da extrema-direita na Áustria, a pressão dos antieuropeístas de Nigel Farage sobre os conservadores britânicos, o desastre eleitoral nos municípios dos partidos portugueses no poder, por causa da austeridade, constituem um preâmbulo à campanha para as eleições europeias de maio de 2014, que se a riscam a ficar marcadas pelos grupos hostis à ortodoxia de Bruxelas.
 
Aos tradicionais votos anti-imigração e antiBruxelas, que alimentaram as ondas eurocéticas, nas eleições anteriores, junta-se um voto antiMerkel e antitroika, que prospera desde a crise do euro e dos repetidos planos de austeridade. Estas frentes de “antis” cruzam-se muitas vezes. Os eurocéticos estão preocupados com o aumento da imigração, ao mesmo tempo que a austeridade alimenta a recusa de uma Europa liberal.
 
Enquanto os partidos nacionais estão mais preocupados com as eleições do que com a fraca participação nas europeias, os “antis” contam capitalizar no escrutínio de 22 e 25 de maio de 2014 para estabelecerem a sua influência. Este movimento aparece num momento em que o Parlamento Europeu ganha poderes mais importantes, nomeadamente no que diz respeito à escolha do presidente da Comissão.
 
Um coquetel explosivo
 
O presidente do Partido para a Independência do Reino Unido (UKIP), Nigel Farage, faz das eleições europeias o seu principal objetivo para impor as suas ideias ao Reino Unido e para alterar a relação de forças em Bruxelas. E o ato eleitoral é também uma prioridade para os Verdadeiros Finlandeses ou para a Frente Nacional (FN), tal como para Beppe Grillo, em Itália, ou para o Syriza, o principal partido de oposição na Grécia. Todos esperam cristalizar os votos “antis” que se expressam mais facilmente neste escrutínio. “As europeias são as eleições tradicionalmente favoráveis aos partidos periféricos”, explica o politólogo Dominique Reynié. “Usam o método proporcional e aí a abstenção é importante, sobretudo junto do eleitorado moderado.”
 
Os ingredientes do coquetel são conhecidos: imigração, burocracia e austeridade. Por vezes, misturam-se de tal maneira que podem tornar-se explosivos. Em França, a polémica sobre os ciganos mostra que a imigração – tanto para a Europa como dentro da União – será um dos temas da campanha. Da Dinamarca à Grécia, passando pela Holanda, pela Áustria e pela França, esse é o fundo de maneio da extrema-direita.
 
É, também, um tema voluntariamente adotado pelos eurocéticos do UKIP e pelo novo partido anti-euro Alternativa para a Alemanha (AfD). Para uma parte dos europeus que estão preocupados com a crise, a livre circulação é encarada como uma ameaça ao emprego. O trabalhador romeno ou búlgaro está a tentar substituir o canalizador polaco.
 
O euroceticismo aproveita com a crise. Às críticas à burocracia de Bruxelas junta-se a má gestão da tempestade financeira. “Desde a crise da dívida, os países do Sul estão convencidos de que aquilo que lhes está a acontecer é culpa de Berlim, enquanto os países do Norte defendem que é por causa de Bruxelas que têm de dar dinheiro ao Sul”, diz o eurodeputado do Partido Popular Europeu (PPE) Alain Lamassoure. Os Verdadeiros Finlandeses veem na ajuda à Grécia a justificação para o seu euroceticismo, tal como o Partido da Liberdade de Geert Wilders, na Holanda, que consegue 30% nas sondagens.
 
Não a Merkel, não à troika
 
A par destas duas oposições tradicionais, a crise fez surgir uma frente antiMerkel e antitroika que prospera na Europa do Sul, tanto na esquerda como na extrema-direita. Na Grécia, o Syriza e o partido populista dos gregos independentes querem tirar partido da grande rejeição às medidas impostas por Bruxelas e pelo Fundo Monetário Internacional (FMI) para se imporem em Estrasburgo. Em Espanha, o Movimento dos Indignados prometeu apresentar listas para as eleições de maio.
 
“O projeto europeu está perante um enorme risco”, reconhece Anni Podimata, vice-presidente do Parlamento, eleita pelo Partido Socialista grego (PASOK). “O sentimento antieuropeísta está a agravar-se muito. Isso deve incitar os partidos a assumirem a sua mensagem europeia.” Até aqui, a extrema-direita e os movimentos eurocéticos, muito divididos, tinham um peso limitado no Parlamento Europeu. Os eurodeputados da FN são não-inscritos, enquanto outros movimentos estão dentro do grupo Europa da Liberdade e da Democracia, que gira em torno de Nigel Farage e dos membros da Liga do Norte. O sonho da FN é criar um grupo com o FPÖ austríaco, que acaba de ultrapassar os 20% nas legislativas de 29 de setembro.
 
“Haverá entre um quarto e um terço dos deputados que votarão ‘não’ a tudo mas isso não impedirá o Parlamento de funcionar. O entendimento entre o PPE e os sociais-democratas será ainda mais necessário”, defende Lamassoure. Os dois partidos anunciaram que fariam uma campanha direita-esquerda, mas a entrada em campanha dos sociais-democratas coincide com a decisão do SPD de participar no Governo Merkel.
 
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EM ISRAEL, DIREITA SEM MÁSCARAS

 


Após abertura e diálogo propostos pelo Irã, discurso agressivo do primeiro-ministro Netanyahu soa grotesco na ONU. Obama permanecerá submisso a Telaviv?
 
Robert Fisk – Outras Palavras - Tradução: Vinícius Gomes

São tempos difíceis para a direita israelense. Acostumada a conseguir o que quer dos EUA — e especialmente de seu presidente inconstante – ela descobriu de repente que o mundo inteiro quer paz, e não guerra, no Oriente Médio. Os britânicos e norte-americanos não quiseram ir à guerra na Síria. Agora, com o sorriso amável do presidente iraniano Hassan Rouhani aparecendo nos televisores, aceitando os fatos do holocausto judeu — ao contrário de seu antecessor alienado e infantil — os americanos (75%, segundo as pesquisas) também não querem uma guerra com o Irã.
 
Tendo humilhado o presidente Obama diante da TV, em sua visita anterior à Casa Branca (ao lhe dizer que esquecesse a resolução 242 do Conselho de Segurança da ONU, que exige uma retirada das forças israelenses das terras ocupadas após a guerra de 1967), o primeiro-ministro de Israel, Benjamin Netanyahu, humilhou-se um pouco também, nesta segunda-feira. Ele já não exige um fim de todas as atividades nucleares do Irã. Agora é apenas o “programa militar nuclear” iraniano que deve ser finalizado.
 
Claro: assim como no caso do “programa” de armas de destruição em massa do Iraque, que o presidente George W. Bush teve de inventar quando ficou claro que as próprias armas eram uma mentira, nós ainda não sabemos se a versão de Netanyahu a respeito do “programa militar nuclear” iraniano, é algo real.
 
O que seguramente sabemos é que, quando o presidente Rouhani começou a falar tudo o que exigíamos ouvir do Irã há anos, Israel enlouqueceu. Netanyahu condenou Rouhani antes mesmo de ele dizer uma única palavra: “um lobo em pele de cordeiro”. Mesmo quando Rouhani falou em paz e em acabar com as suspeitas sobre o programa nuclear, o ministro de “Assuntos Estratégicos” — seja lá o que isso signifique — de Israel disse que o tempo para futuras negociações acabou. Yuval Steinitz alegou que “se os iranianos continuarem com seu programa nuclear, em seis meses terão capacidade de construir uma bomba”.
 
A própria assessoria de Netanyahu juntou-se à campanha de difamação. ”Não devemos nos deixar enganar pelas palavras mentirosas do presidente iraniano”, ironizou um dos homens do primeiro-ministro: “os iranianos estão circulando pela mídia para que suas centrífugas continuem rodando”. O discurso de Rouhani seria uma armadilha de mel. O próprio Netanyahu disse que o discurso do presidente iraniano na ONU — uma fala de enorme importância, após 34 anos de total divórcio entre Irã e EUA — era “cínico” e “totalmente hipócrita”.
 
Um editorial panfletário do Israel Hayom, jornal do partido de Netanyahu (Likud), retomou outra vez o antigo argumento, que vem de antes da Segunda Guerra e a direita israelense utiliza há mais de trinta anos. “Um vento de Munique [1] sopra no Ocidente”, disse a publicação. Talvez ele tenha seus efeitos. Se não tivesse tanto medo de Israel — como a maior parte dos governantes norte-americanos — o presidente Obama poderia ter apertado a mão de Rouhani na semana passada; apesar de que talvez o próprio Rouhani preferisse não tocar nas mãos do “Grande Satã” tão cedo. Em vez disso, Obama satisfez-se com um mísero telefonema e mostrou que sabe dizer “adeus” em Farsi. Patético é a palavra para isso.
 
No passado, os representantes árabes retiravam-se abruptamente da Assembleia Geral da ONU, quando os israelenses subiam à tribuna. Quando o louco presidente iraniano Ahmadinejad falava, as nações ocidentais e Israel se retiravam. Mas quando Rouhani discursou, elas juntaram-se ao plenário, para ouvi-lo falar. Israel se retirou.
 
“Um gesto estúpido”, segundo o velho e sábio Uri Avnery, filósofo e escritor israelense. “Tão racional e eficaz quanto um ataque de raiva de uma criança, quando seu brinquedo favorito é tomado. Estúpido, porque apresentou Israel como desmancha-prazeres, em um momento no qual o mundo inteiro está tomado por uma onda de otimismo, após os recentes eventos em Damasco e em Teerã. Estúpido, porque demonstra a todos que Israel está agora totalmente isolado”. Avnery sustenta que o governo de Israel desejava duas guerras: uma contra a Síria e outra contra o Irã. Ele escreveu há semanas, quando o Congresso dos EUA hesitava em bombardear Damasco: “os cães de caça foram soltos. O Aipac (o maior grupo lobista pró-Israel nos EUA) enviou seus rottweillers parlamentares ao Capitólio, para destroçar qualquer senador ou deputado que se opusesse”.
 
Mesmo assim, na Casa Branca nesta segunda-feira, o primeiro-ministro israelense acalmou-se. Duvido que isso irá durar. Suspeito que Israel fará de tudo para minar as propostas de Rouhani, seja lá o que pense a opinião pública americana. E lá estava o presidente Obama, elogiando Netanyahu por seu suposto apoio [na Palestina] à solução de “dois-estados” [um israelense, outro palestino] — mas ressalvando que haveria um “tempo limitado para alcançar esse objetivo”.
 
E por que haveria apenas um “tempo limitado”? Nenhum jornalista deu-se ao trabalho de fazer a pergunta. Se existe apenas “um tempo limitado” (em minha opinião, não há mais tempo algum) para atingir esse objetivo ilusório, é porque o governo de Netanyahu está roubando, contra todas as leis internacionais, ainda mais terras dos palestinos, mais rapidamente que em qualquer outra época, para garantir que um Estado Palestino jamais venha a existir.
 
A direita israelense está bem ciente disso. E quando o presidente Obama não consegue nem ao menos explicar esse estranho “tempo limitado”, os israelenses percebem que ele ainda é submisso. É a isso que tudo se resume. Medo. E mesmo Obama tivesse a coragem de se impor em seu último mandato, podemos ter certeza que Hillary Clinton, para citar Thomas Morus, não gasta saliva com isso, pois quer ser a próxima presidente apaziguadora.
 
O Likud isolou Israel do mundo por ora — mas tenha certeza que a covardia norte-americana irá poupá-los.
 
[1] Referência ao “Acordo de Munique“, firmado em 1938 pela Alemanha nazista, Inglaterra e França. Permitiu que Adolf Hitler anexasse parte da Checoslováquia, com cumplicidade de Londres e Paris. É usado frequentemente de modo abusivo, como metáfora da suposta capitulação do Ocidente a poderes autoritários. No caso, a direita israelense procura compara os dirigente iranianos ao nazismo (Nota do Editor)
 
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