quinta-feira, 28 de agosto de 2014

DESBRAVANDO A LÓGICA COM SENTIDO DE VIDA! – IV



Martinho Júnior, Luanda (continuação – ver anteriores)

10 – O Presidente José Eduardo dos Santos liderou na incessante busca da paz, tendo pela frente obstáculos como o “apartheid” e as suas sequelas, assim como poderes retrógrados que existiam em África, que só podiam subsistir em função da história colonial e do subdesenvolvimento humano que afectava os povos do continente-berço.

A trilha dessa etapa tão rude, foi ainda mais difícil que a anterior, pois as conjunturas externas fizeram-se sentir com todo o seu peso e vigor e as geo estratégias das potências tendiam muitas vezes a interpretações e acções que prolongavam os conflitos, estabelecendo seus encadeados de forma manipuladora, engenhosa e terrivelmente desgastante.

A batalha do Cuito Cuanavale, que levou à derrota das SADF, reconhecida a nível interno pelo regime do “apartheid” a 28 de Agosto de 1988, iria abrir a independência da Namíbia, do Zimbabwe e à democratização da África do Sul, por tabela de toda a África Austral, mas não inibia oportunistas como Mobutu e outros dirigentes retrógrados de África, como não inibia Savimbi!

Ultrapassado o obstáculo do “apartheid” com o corolário dos Acordos de Nova York a 22 de Dezembro de 1988, foi por isso possível às sequelas coloniais e desse regime, associadas ao regime de Mobutu, transferir a base logística de retaguarda do sudeste de Angola para norte, influenciando imediatamente quer nas conjunturas regionais, quer na desestabilização do país, uma vez mais com recurso da exploração de imensas riquezas naturais a fim de levar a cabo a guerra.

Essa obstinação foi realizada apesar dos acordos de G’Badolite, a 22 de Junho de 1989, que vinculava política e diplomaticamente o próprio Mobutu, que acabou por deixar que os interesses estranhos à paz se sobrepusessem aos interesses dos povos africanos!

O Presidente José Eduardo dos Santos deu prova de paciência, clarividência e persistência, pois sabia que, com a “implosão” do “socialismo real” e o enfraquecimento do Não Alinhamento activo e progressista, os impactos da globalização neo liberal acabavam por criar conjunturas explosivas em África, conjunturas que quer Mobutu, quer Savimbi, quer outros, oportunisticamente aproveitavam da maneira mais nefasta e em completo desrespeito para com as mais legítimas preocupações de paz, democracia, liberdade e solidariedade.

11 – O Presidente Agostinho Neto havia garantido estrategicamente, no sector de exploração de petróleo, o lugar que a corporações norte americanos do petróleo haviam ocupado desde os tempos coloniais.

Essa garantia teve sempre o seu peso, inclusive mesmo quando os Estados Unidos não haviam reconhecido Angola, pois alimentava uma contradição básica: enquanto a jovem nação pretendia estabelecer relações com todos os países, nações e povos do mundo, só a Guerra Fria, com personagens “ocidentais” do tipo de Henry Kissinger, ou Frank Charles Carlucci, ou Ronald Reagan, para ilustrar o carácter de sucessivas administrações republicanas e democratas de então, o impedia directa ou indirectamente.

A luta contra o “apartheid”, propiciou a Angola acrescidas credenciais em abono da abertura dos relacionamentos para com os Estados Unidos: quando o “apartheid” lançou a 21 de Maio de 1985 a Operação Argon, os Estados Unidos foram apanhados na armadilha estratégica do“laboratório de Cabinda”, pois eram os aliados dos norte americanos que procuravam sabotar Malembo, atacando os interesses das multinacionais norte americanas (e da SONANGOL) e eram os cubanos como os angolanos que o impediram de armas na mão!

A acção do grupo de reconhecimento nº 4 das SADF utilizou propaganda da UNITA, com que pretendía mascarar-se e esse é um facto relevante também a levar em consideração nessa acção: a UNITA não se coibia que essa propaganda fosse feita nesses termos, muito menos se coibia em se tornar, desse modo, parte daqueles que, demonstrando desespero, chegaram ao ponto de atacar Malongo, isto é, intereses directos norte americanos, implantados de longa data e garantidos pelo governo de Angola!

Não seria de estranhar quando mais tarde Savimbi se deciciu a atacar as instalações petrolíferas do Soio e voltar a ameaçar Cabinda!...

A partir dessa data, 21 de Maio de 1985, o “ocidente”, sob a égide das administrações de serviço, começaram a procurar uma saída que tornasse possível quer o fim do “apartheid”, quer o eventual reconhecimento de Angola, beneficiando da aproximação do final da Guerra Fria.

A estratégia angolana para que isso se tornasse possível, com o suporte do Não Alinhamento activo tendo Cuba como referencia, só tinha de manter a sua posição de coerência e de princípio!
  
28 de Agosto de 2014, dia de aniversário do Presidente José Eduardo dos Santos.

Foto: Agostinho Neto e José Eduardo dos Santos líderes dos Programas Mínimo e Maior do MPLA. 

(Continua)

Portugal: UM BANQUETE PERVERSO



Mário Dias Ramos – jornal i, opinião

A nossa classe política espelha-se na comunicação social que temos e vice-versa

Misérias e falsas grandezas dos políticos são fabricadas com os mesmos ingredientes com que estes constroem, por sua vez, as misérias e falsas grandezas dos jornalistas quantos deles alimentados pelos próprios políticos.

Neste quadro há, como em tudo na vida, excepções que servem para confirmar a regra.

De facto, nem todos os jornalistas deste país estão interessados em sujar as mãos enquanto certos políticos, desesperadamente, as tentam limpar esfregando-as nas costas de certos jornalistas.

E não pensem que este fenómeno é exclusivamente português. Os mais bem informados com o que ocorre no mundo de hoje, na sociedade mediática e na classe política, sabem perfeitamente que, na Europa como na América o fenómeno é igual.

Em Portugal dá mais nas vistas pelas razões que se conhecem: o País é pequeno e o espírito não tem por onde se expandir.

Fácil, pois, concluir que no compromisso partidário onde políticos e jornalistas vão bebendo da mesma água inquinada e do mesmo púcaro, algumas promiscuidades hão-de afectar, por força do inevitável, quem menos culpa tem dos “caldinhos” cozinhados por ambas as partes, tudo praticado com total despudor.

Estou-me a referir aos cidadãos, contribuintes e eleitores, que pagam e não bufam o nefasto e perverso banquete.

Jornalista

ZARA: NEM IGNORÂNCIA NEM MAU GOSTO




Depois de protestos, a Zara retirou do mercado este pijama infantil (clique na imagem para ampliar). As riscas e a estrela amarela não lembram somente a perseguição dos nazis contra os judeus, evocam explicitamente os campos de concentração. O pijama era o uniforme daqueles condenados à morte. É uma provocação e um insulto.

Perante o escândalo, a empresa pediu desculpa e retirou o produto. Mas ficámos sem qualquer explicação consistente sobre a razão da escolha do produto, que tem forçosamente por passar por várias etapas de estudo de mercado e de aprovação dentro da empresa. O que permitiu que a Zara lançasse este pijama? Porque verdadeiramente é isso que interessa, para percebermos o mundo de hoje.

A explicação mais simples é ignorância e displicência. É difícil de aceitar, porque numa multinacional como a Zara tem de haver quem tenha alguma sensatez ou pelo menos alguma memória. No entanto, não houve quem impedisse a produção e venda deste pijama. Há então outra explicação menos condescendente: poderia ser uma tentativa de criar um facto publicitário, uma polémica. Mas para quê, se a polémica impõe uma imagem negativa da empresa? Ambas as explicações assumem a irresponsabilidade e portanto desvalorizam-na, desculpando-a.

Uma terceira explicação, talvez a mais banal e a mais assustadora, é a que é sugerida pela frase que está à entrada do edifício do Deustsche Bank em Munique: “das ideias nascem mercados”. A indiferença perante a mercadoria aparece assim em relevo, porque das ideias, de toda a ideia, surge um mercado, é criada uma possibilidade de venda. Multiplicar produtos, numa floresta de sinais, é o modo de chegar a toda a gente, perante a indiferença toda a gente. Nas grandes empresas, esta cultura de ideias novas, o frenesim dos mercados novos, permite um margem de actuação que pode ser a explicação para este produto.

Para a Zara, ou para estes ideólogos do Deutsche Bank, talvez um pijama seja um pijama, uma coisa como outra qualquer, mesmo que seja um uniforme de um judeu condenado à morte. É um produto, é uma ideia, é um mercado, é transcendente, é uma divindade: porque é que alguém se havia sequer de incomodar com o que ele é mesmo? Se é essa é a explicação, a indiferença fatal a que se referia o post anterior, então não a podemos desculpar.

REVIRAVOLTA NOS JUROS DA DÍVIDA, DÚVIDAS REGRESSAM




Desde o início da manhã que a trajetória dos juros da dívida para mínimos se inverteu nos periféricos da zona euro. Reinstalaram-se as dúvidas geopolíticas e sobre o comportamento do BCE.

Jorge Nascimento Rodrigues – Expresso

Na sessão da manhã assistiu-se a uma reviravolta no mercado secundário da dívida soberana da zona euro. A trajetória de descida para mínimos históricos nas yields da dívida dos periféricos foi invertida.

As yields das Obrigações do Tesouro português no prazo de referência, a 10 anos, subiram entre as 8h45 e as 11h até um pico diário de 3,14%, depois de terem fechado em 3,03% na quarta-feira com um mínimo intradiário de 2,952%. Pelas 12h30 registavam 3,11%, segundo dados da Investing.com.

O mesmo movimento de subida registou-se para as yields das obrigações dos restantes periféricos naquela maturidade, com uma subida mais acentuada para as obrigações gregas.

O movimento de descida das yields para novos mínimos históricos continua a observar-se para as obrigações alemãs e francesas no prazo a 10 anos que desceram para 0,889% e 1,24% respetivamente pelas 12h30.

Continuam a surgir as más notícias económicas sobre a zona euro. A situação do conjunto da moeda única deteriora-se. As expetativas centram-se, agora, na divulgação dos dados preliminares sobre a inflação em agosto pelo Eurostat na sexta-feira. Os analistas esperam uma descida para 0,3% na taxa de inflação homóloga, ou seja, a confirmação de que prossegue o processo de desinflação.

A degradação dos principais indicadores económicos da zona euro - estagnação do PIB, desinflação, quebra na confiança dos consumidores e no sentimento económico, contração contínua do crédito ao sector privado, má situação macroeconómica das três principais economias, Alemanha, França e Itália - tem alimentado uma onda especulativa entre os investidores na expetativa de que o Banco Central Europeu (BCE) irá passar das palavras de Mario Draghi, o seu presidente, em Jackson Hole na passada sexta-feira ("fazer pouco é pior do que fazer demasiado")  para a ação efetiva ainda este ano. A reunião de 4 de setembro do BCE é agora um ponto alto na agenda para avaliar os "sinais".

Hoje, segundo os analistas, regressaram as dúvidas. As palavras do ministro das Finanças alemão, proferidas na quarta-feira em entrevista a um jornal da Baviera, de que se estava a empolar o que Draghi disse nos Estados Unidos reinstalaram a incerteza sobre a trajetória do BCE, a par da evolução das tensões geopolíticas no leste. Kiev acusou hoje Moscovo de ter em curso uma invasão do sudeste da Ucrânia.

No plano da agenda interna de alguns membros da zona euro contam-se a repercussão da formação recente do terceiro governo Hollande (segundo de Antonio Valls), os resultados no domingo das primeiras eleições regionais na Saxónia, na Alemanha, a divulgação a 1 de setembro pelo Banco de Portugal do nível de dívida pública no final de julho, e a reunião no dia 2 do governo grego com a troika em Paris.

Leia mais em Expresso

Portugal - Educação: Professores contratados querem saber quando são colocados




Os professores contratados querem saber em que data serão colocados este ano, tendo solicitado urgência na resposta, em carta enviada aos serviços do Ministério da Educação, anunciou hoje a associação que os representa.

Em causa está a colocação inicial destes profissionais, que costumava acontecer no final de agosto, permitindo que participassem em todas as atividades administrativas e pedagógicas relacionadas com o início do ano escolar, desde a receção aos alunos às reuniões de conselho de turma e de grupos de departamento.

"Em agosto de 2013, pela primeira vez, tal não aconteceu, ficando os estabelecimentos de educação pública sem muitos dos docentes essenciais ao seu bom funcionamento", afirma em comunicado a Associação Nacional de Professores Contratados (ANPC).

O resultado, recorda a estrutura, foi que, no dia 02 de setembro, milhares de professores acorreram aos centros de emprego de todo o país para requerer o subsídio de desemprego, "ainda que passadas algumas semanas tivessem de devolver o valor recebido, após a sua colocação atrasada pela tutela".

O Ministério da Educação e Ciência (MEC) garantiu hoje à agência Lusa que os professores dos quadros de escola, agrupamento e de zona pedagógica vão apresentar-se na segunda-feira ao serviço, avançando que os concursos para preencher necessidades temporárias, com professores contratados, estão a decorrer como "previsto".

"Os diversos procedimentos concursais, incluindo a mobilidade interna e o preenchimento das necessidades temporárias de pessoal docente das escolas, para o ano escolar de 2014-2015, estão a processar-se como previsto e planeado, de modo a garantir a colocação dos docentes necessários ao normal funcionamento dos agrupamentos de escolas e escolas não agrupadas", refere uma nota do MEC enviada à Lusa.

De acordo com a edição de hoje do jornal Diário de Noticias, os diretores de escolas temem que os atrasos nos concursos, a rescisão de docentes e a contratação através da oferta de escola para os agrupamentos com autonomia compliquem as colocações e que as aulas comecem com professores em falta.

Questionado pela Lusa, fonte do MEC, avançou que, na segunda-feira, "devem apresentar-se nas escolas apenas os docentes dos quadros de escola, quadro de agrupamento e quadro de zona pedagógica".

Em relação ao reposicionamento na tabela salarial de 959 professores durante agosto, que já levantou várias queixas nos sindicatos, de acordo com o Jornal de Negócios de hoje, o MEC revela que "os procedimentos relativamente a este processo continuam a decorrer".

O arranque do ano letivo 2014-2015 ocorre entre 11 e 15 de setembro, sendo que os professores se devem apresentar nas escolas no dia 01, para preparar o ano letivo.

Lusa, em Notícias ao Minuto

Leia mais em Notícias ao Minuto

Portugal - Eleições: Criado novo partido que não quer colocar os pés no Parlamento




Foi criado mais um movimento que pretende ir a eleições e conquistar o seu lugar no Parlamento. Contudo, os membros do Partido das Cadeiras Vazias garantem que se forem eleitos não vão ocupar os lugares reservados no Parlamento como forma de protesto, indica o SOL.

Partido das Cadeiras Vazias, é assim que se intitulam. Este movimento foi criado há pouco mais de um mês e já está a dar que falar nas redes sociais, noticia o SOL.

“Pretendemos dar voz aos que, no momento de votar, não se identificam com nenhum dos partidos concorrentes e respetivos candidatos. Queremos ser a voz silenciosa dos descontentes, dos esquecidos, dos que querem mais para Portugal”, é assim que se apresentam na página oficial do Facebook.

O objetivo passa por deixar de ser apenas um movimento para se tornarem num partido e ir a eleições. E caso sejam eleitos: “os lugares conseguidos no Parlamento não serão ocupados como forma de protesto”, e é desta forma que justificam o seu nome, Partido das Cadeiras Vazias.

“Se os votos no Partido das Cadeiras Vazias der lugares vazios no Parlamento, há menos lugares para os mesmos Boys de sempre e, esperemos, os partidos, em face dessa situação, escolherão melhores pessoas para deputados com intuito de manter as suas cadeiras ocupadas”, acrescentam.

Notícias ao Minuto

Leia mais em Notícias ao Minuto

Angola - SAMAKUVA ACUSA: BESA ESTÁ AO SERVIÇO DE ACTOS ILÍCITOS



Folha 8, 23 agosto 2014

O “caso” BESA cons­titui “um exemplo de como pessoas nas vestes de agentes do Estado uti­lizam os fundos públicos e a autoridade pública para actos ilícitos”, afirma Isaías Samakuva.

O presidente da UNITA classificou o “caso” Ban­co Espírito Santo Angola (BESA) como exemplo da utilização de fundos pú­blicos para “actos ilícitos”, questionando-se sobre o interesse de “tantos ban­cos” no país.

“O caso do BESA também levanta sérias questões sobre a integridade do sis­tema bancário angolano. Como perguntam os mais ingénuos: porque é que um país de desemprega­dos, sub-empregados e de trabalhadores mal pagos que não fazem poupan­ças tem tantos bancos? O que atrai os bancos para Angola?”, questiona Isaías Samakuva.

As dúvidas do líder do Galo Negro aludem aos 25 bancos que operam no país. “São as oportunida­des de ganhar dinheiro fácil através da delapida­ção do Tesouro Nacional? Será que os que governam o país precisam dos ban­cos internacionais, que são respeitados interna­cionalmente, para virem cá e receber o produto do roubo na forma de depó­sitos?”, interrogou-se ain­da Samakuva, acusando o sistema bancário de não perguntar pela origem do dinheiro.

“Pegam numa parte desse dinheiro e distribuem a certas pessoas do regime. E outra parte entra em aviões para destinos des­conhecidos. À distribuição que fazem chamam em­préstimos, só que depois nunca mais pagam tais empréstimos”, enfatizou.

Sobre o BESA, detido maioritariamente pelo Banco Espírito Santo por­tuguês (55 por cento) e agora sob intervenção do Banco Nacional de Angola, o líder da UNITA afirma que o “caso” constitui “um exemplo de como pessoas nas vestes de agentes do Estado em Angola utili­zam os fundos públicos e a autoridade pública para actos ilícitos”.

Aludindo ao crédito mal­parado naquele banco, que segundo a UNITA po­derá atingir os cinco mil milhões de dólares, Isaías Samakuva recordou que esses empréstimos, alegadamente sem garantias suficientes, serviram o in­teresse privado.

“Estes privados ficaram com o dinheiro, ficaram com as casas, ficaram com as empresas e não querem pagar”, acusa, reclamando a constituição de uma co­missão de parlamentar de inquérito, nomeadamente sobre a emissão de uma garantia soberana do Es­tado – cuja revogação foi entretanto anunciada pelo BNA – sobre estas dívidas. “Quem fala do BESA, fala também dos buracos que existirão nos outros ban­cos e das lavagens de di­nheiro aí praticadas. Todo o sistema bancário está minado”, afirma o líder da UNITA.

Retomando as críticas à liderança de José Eduar­do dos Santos, Samakuva afirma que “um grupo de predadores que se con­funde com o Estado” e uti­liza o sistema financeiro nacional “para executar operações ilícitas de bran­queamento de capitais, enriquecimento ilícito e corrupção, dentro e fora de Angola”. “E a Justiça angolana mostra-se inca­paz de investigar e julgar tais crimes”, remata.

APARTHEID RECONHECE DERROTA EM ANGOLA



Artur Queiroz – Jornal de Angola

O Presidente da África do Sul, PW Botha, convocou para o dia 28 de Agosto de 1988 uma reunião classificada como ultra secreta para tomar decisões de Estado sobre a derrota das forças armadas de defesa e segurança no Triângulo do Tumpo.

Estavam presentes os mais altos dirigentes sul-africanos e tomaram uma decisão dolorosa: acabar com o regime de apartheid e acatar a Resolução 435 da ONU sobre a Independência da Namíbia.

O documento secreto ao qual o Jornal de Angola teve acesso tem poucas palavras mas são significativas. A acta final é hoje, dia do aniversário do Presidente da República, revelada ao mundo com todos os detalhes.

Na reunião de alto nível estiveram presentes além do Presidente PW Botha, o ministro da Defesa, general Magnus Malan, o ministro das Relações Exteriores, Pik Rudolf Botha, o general Jannie Geldenhuys, o major general Neil Van Tonder e Kat Liebenberg. A agenda da reunião tinha quatro pontos: Fracasso na tomada do Cuito Cuanavale (número um), fracasso na tomada da aldeia do Tumpo (número dois), material de guerra capturado pelo inimigo (número três) e as baixas em combate (número quatro).

O Presidente da República, usando os seus poderes constitucionais decidiu “desmobilizar a 82ª Brigada e o 61º Batalhão Mecanizado, que foram formados para a Batalha do Tumpo”. Mas o momento mais importante estava para vir. A acta refere taxativamente: “O ministro da Defesa e o general Geldenhuys assumem aqui a total responsabilidade da derrota”. Está escrito!

A acta da reunião ultra secreta revela outro aspecto dramático para o regime de apartheid mas bom para a África Austral e o mundo civilizado: “Dadas as consequências da derrota no Cuito Cuanavale, o Governo da África do Sul foi obrigado a aceitar a Resolução 435 da ONU sobre a Independência da Namíbia”. PW Botha e os seus pares reconheceram naquele momento que a Batalha do Cuito Cuanavale os deixou de tal forma vulneráveis, que foram obrigados a abrir mão da sua colónia.

Contacto com Mandela

A acta da reunião datada de 28 de Agosto de 1988 revela um detalhe fundamental para compreender o alcance político da vitória das FAPLA na Batalha do Cuito Cuanavale. O Presidente PW Botha, mais uma vez invocando os seus poderes constitucionais “delegou no Dr. Neil Barnard, Chefe da Inteligência Nacional, para preparar negociações com Nelson Mandela e providenciar a sua libertação”.

Os grandes chefes do regime de apartheid perceberam que a derrota no Triângulo do Tumpo era o fim do regime e tinham que agir rapidamente para não perderem tudo. Por isso correram a abrir as portas da cadeia onde se encontrava Nelson Mandela. Em Angola estavam combatentes do ANC, prontos para “explorar o sucesso” da derrota das forças de defesa e segurança da África do Sul na Batalha do Cuito Cuanavale.

A acta secreta entra, a seguir a este ponto, nas justificações para a derrota no Triângulo do Tumpo. Primeira justificação descrita no documento: “todos os ataques para desalojar as FAPLA do seu último reduto, fracassaram”.

Reconhecimento da derrota

Mais uma justificação: “todos os ataques a Este do rio Cuito (Tumpo) também falharam. A partir daí, o Alto Comando das SADF convenceu-se de que só era possível destruir o inimigo introduzindo forças massivas o que ia implicar pesadas perdas de vidas sul-africanas. Politicamente isso era inaceitável”.

PW Botha e os seus generais foram forçados a reconhecer a derrota. Abílio Numa, Paulo Lukamba e Demóstenes Chilingutila dizem que a Batalha do Cuito Cuanavale “está mal contada”. Que apresentem uma versão diferente desta que está escrita na acta secreta da reunião de 28 de Agosto de 1988, no gabinete do Presidente PW Botha.

Os assuntos tratados na reunião eram de tal forma melindrosos que PW Botha obrigou todos os presentes a assinar a acta. O documento foi de facto assinado em primeiro lugar pelo Presidente PW Botha, a seguir assinaram Magnus Malan, Pik Rudolf Botha, Jannie Geldenhuys, Neil Van Tonder e Kat Liebenberg. 

Nada nem ninguém pode contar a Batalha do Cuito Cuanavale, melhor do que uma acta oficial, secreta, à qual o Jornal de Angola teve acesso, com o respectivo anexo. Para se sentirem moralizados, os grandes chefes do apartheid dão a eles próprios um motivo de ânimo: “As três derrotas no Tumpo foram as únicas que a África do Sul sofreu na guerra em Angola”. Esqueceram o fracasso da “Operação Protéa”, lançada há 33 anos, e que “bateu contra a parede” na Cahama.

O final da acta tem uma dimensão grotesca e mostra a situação do Presidente PW Botha: “Eu fui mal informado sobre a situação no Tumpo e por isso obrigo todos os presentes a assinarem a acta desta reunião”. Data:28/8/88. Dia do aniversário do Presidente José Eduardo dos Santos. Uma boa prenda para o Comandante em Chefe das forças vitoriosas.

Directiva Política

Além da acta, a reunião de 28 de Agosto de 1988 produziu uma directiva política que só por si confirma a estrondosa derrota das forças do “apartheid” no Triângulo do Tumpo. A reportagem do Jornal de Angola teve acesso ao documento que significa a liquidação do apartheid. 

“Directiva Política Urgente para o Gabinete do Presidente. Directiva Política das SADF” É assim que se intitula o documento ao qual tivemos acesso e serve de base a esta reportagem. Contém várias decisões. Primeiro ponto. “O Tribunal Militar deliberou em relação às responsabilidades assumidas antes, durante e depois das operações militares ‘Hooper’ e ‘Packer’ na Região do Tumpo, expulsar a partir da data efectiva de 28 de Agosto de 1988, os oficiais Mike Muller, Gerhard Louw e Cassie Schoeman”. Recordo que Mike Muller foi o comandante sul-africano que afirmou: “se tomo o Tumpo vou direito ao Cuito Cuanavale”. Foi derrotado.

Segundo ponto. “Os seguintes oficiais foram despromovidos na Parada Militar e transferidos para o Quartel-General de Pretória: Jan Malan e Koos Lienbenberg.

Terceiro ponto. “Origem e data. Tribunal Militar MC/302/5B. Data 28/8/88”. Desta directiva política foram enviadas cópias para a Autoridade Controladora do Tribunal Militar Principal, Chefe do Exército, Chefe do Estado-Maior das Operações, Chefe da Força Aérea, General Cirurgião, Chefe do Estado Maior da Inteligência, General Capelão e Chefe do Estado Maior das Divisões. O documento é assinado por Magnus Malan. No dia 28/8/88, após a reunião ultra secreta onde foi reconhecida a derrota em Angola, os chefes do apartheid arranjaram logo bodes expiatórios para o fracasso no Triângulo do Tumpo.

Os mísseis de Reagan

Os sul-africanos tomavam grandes decisões sobre Angola no dia do aniversário do Presidente José Eduardo dos Santos. Um ano antes da reunião ultra secreta a cuja acta tivemos acesso, no dia 28 de Agosto de 1987, o poderoso general Jannie Geldenhuys chamou Savimbi à sua presença e disse-lhe que precisava dos mísseis Stinger que o Presidente Reagan lhe tinha dado.

Este episódio vem descrito com muitos pormenores no livro “Guerra em Angola” de autoria do analista militar sul-africano Helmoed Roemer Heitman. Ele revela que o general Geldenhuys chamou Savimbi “para actualizá-lo” e de seguida disse-lhe que precisava dos seus mísseis Stinger para proteger os canhões G5 na guerra de Angola.

O Presidente Reagan sabia que ao dar os mísseis a Savimbi estava a colocá-los nas mãos dos sul-africanos, mas assim não podia ser acusado de violar as sanções impostas pela comunidade internacional ao regime de apartheid. Claro que Savimbi obedeceu de imediato às ordens do seu general. Na página 43 do livro, está descrito o encontro entre ambos.

Foto Paulino Damião

Moçambique: FIM DE COLUNAS ENTRE MUXÚNGUÈ E SAVE




Foi desactivada a partir da manhã de ontem a escolta das Forças de Defesa e Segurança que acompanhava diariamente a coluna de viaturas ao longo da Estrada Nacional Número Um (N1) num perímetro de 110km no troço compreendido entre o posto administrativo de Muxúnguè, no distrito de Chibabava, em Sofala, e a Vila Franca do Save, em Govuro, na província de Inhambane.

Tal deve-se à assinatura na noite de domingo do acordo de cessação das hostilidades entre o Governo e a Renamo, sendo que a vida voltou já à normalidade com o pleno funcionamento de todas as instituições públicas e privadas com o registo de intenso movimento de pessoas e bens naquela única rodovia que liga o país do Rovuma ao Maputo.

A Reportagem da nossa Delegação da Beira, que propositadamente se posicionou logo pela manhã de ontem na vila de Muxúnguè, testemunhou que o primeiro dia foi caracterizado pelo regresso massivo das pessoas que no então período de tensão político-militar se haviam deslocado para locais mais seguros, como maior destaque para as cidades da Beira, Chimoio e Inhambane. 

Funcionários de vários estabelecimentos, com realce para as unidades sanitárias e escolares, estavam envolvidos até ao princípio da tarde de ontem em jornadas de limpeza e ornamentação dos seus tradicionais locais de actividade.

O facto, que também coincide esta semana com o calendário escolar nacional do início das aulas neste terceiro trimestre, excitou sobremaneira a actividade de ensino/aprendizagem.

Cenário semelhante estendeu-se na reabilitação das bancas e barracas fixas, incluindo residências que se encontravam completamente abandonadas. O ananás e a amêndoa da castanha de caju, que constituem o cartaz do produto de rendimento em Muxúnguè, voltaram à ribalta, enquanto, paradoxalmente, estabelecimentos de indústria hoteleira e similares estavam ainda a dar os primeiros passos para o reinício da actividade normal.

No geral, o custo de vida contínua alto, mas autoridades administrativas, operadores económicos e residentes de Muxúnguè esperam que gradualmente os preços de produtos da primeira necessidade venham a estabilizar-se até baixar nos próximos dias.

Desde o dia 4 de Abril do ano passado até esta quarta-feira a circulação de pessoas e bens estava condicionada entre Muxúnguè e rio Save a duas colunas por dia, sendo uma de manhã e outra no período da tarde, expondo os viajantes a riscos de vida com ataques de homens armados da Renamo, culminando com o luto, mutilações e avultados danos materiais.

Consequentemente, isto criava pânico no seio dos utentes da rodovia e quase que todos os moradores de Muxúnguè e ao longo do traçado da Estrada Nacional Número Um, anteriormente crítico, incluindo Machanga, pernoitavam nas matas, conforme relataram ontem ao nosso repórter no terreno. Porém, desejaram a manutenção da paz para impulsionar cada vez mais a economia e o bem-estar de todos.

Horácio João  - jornal Notícias (mz)            

MOÇAMBIQUE PRECISA DE ESTABILIDADE POLÍTICA




Moçambique precisa de estabilidade política e de estar em paz para continuar a manter os elevados índices de crescimento económico e social que tem vindo a registar nos últimos anos, bem como para consolidar a sua democracia.

Este posicionamento foi apresentado ontem em Maputo pelo Vice-Ministro italiano para o Desenvolvimento Económico, Carlo Calenda, à saída do Gabinete do Presidente da República, Armando Guebuza, onde foi recebido em audiência pelo Chefe do Estado.

Carlo Calenda afirmou que o país precisa igualmente de estabilidade para realizar as próximas eleições gerais, marcadas para 15 de Outubro próximo, com tranquilidade e num clima pacífico.

“Estamos muitos satisfeitos com os últimos desenvolvimentos do quadro político e do entendimento alcançado entre o Governo e a Renamo. Isso é muito importante para a estabilidade num período em que deverão ser realizadas as eleições gerais”, disse Carlos Calenda.

O governante italiano referiu ainda que a estabilidade é factor motivador para os investidores nacionais e internacionais continuarem a financiar projectos de desenvolvimento do país.

Segundo Calenda, o alcance do acordo de entendimento entre o Governo e a Renamo é também demonstração da capacidade de liderança do Chefe do Estado, Armando Guebuza.

Sobre o encontro com o Presidente da República, o governante italiano afirmou que é mais um sinal de confirmação da existência de uma forte ligação entre Itália e Moçambique.

“A relação entre os dois países não é apenas política e de amizade mas também de interesses económicos mútuos, tudo com vista a garantir o bem-estar dos seus povos”, afirmou Carlo Calenda.

Exemplo disso, segundo o governante transalpino, é que a Itália tem muitas empresas que vão começar a trabalhar directamente em Moçambique nalguns sectores de produção, como de cimento e mármore.

Pela quarta vez em Moçambique num período inferior a 12 meses, Carlo Calenda disse sentir-se satisfeito com o actual nível de relacionamento entre os dois países e garantiu que a cooperação será cada vez mais fortificada.

“A Itália está a pensar em abrir um centro de negócios que será um espaço para a exposição de produtos italianos em Moçambique e alargar parcerias, como por exemplo no âmbito da FACIM, a decorrer desde segunda-feira em Maputo”, acrescentou.

Ainda ontem o Chefe do Estado, Armando Guebuza, recebeu no seu gabinete de trabalho o representante do Vaticano no país, António Arcadi.

O Núncio Apostólico vinha apresentar a sua despedida depois de cumprir um mandato de cinco anos naquele cargo.

Jornal Notícias (mz)

Primeiro-Ministro timorense em Bali e Samoa para participar em conferência da ONU




Díli, 28 ago (Lusa) - O primeiro-ministro de Timor-Leste, Xanana Gusmão, viajou hoje para Bali, Indonésia, para participar no 6º Fórum Mundial da Aliança das Civilizações da ONU, seguindo depois para a Samoa para a conferência sobre Pequenos Estados Insulares em Desenvolvimento.

Segundo uma nota informativa divulgada pelo governo timorense, em Bali, Xanana Gusmão vai fazer um "discurso na sessão de abertura do Fórum, juntamente com o secretário-geral da ONU, Ban Ki-Moon, e com o Presidente da Indonésia, Susilo Bambang Yudhoyono".

"Aproveitando o facto de vários líderes mundiais estarem também presentes no Fórum, o primeiro-ministro vai ter reuniões bilaterais com altos funcionários da ONU e líderes estrangeiros", refere a nota.

Na segunda-feira, o primeiro-ministro timorense segue para a Samoa, onde permanece até quarta-feira, para participar na Conferência da ONU sobre Pequenos Estados Insulares em Desenvolvimento, que vai contar também com a presença do secretário-geral da ONU e vários chefes de Estado e de Governo.

Na Conferência da ONU sobre Pequenos Estados Insulares em Desenvolvimento, Xanana Gusmão vai falar sobre a "necessidade de paz e estabilidade para alcançar as metas de desenvolvimento" das Nações Unidas e reunir-se com vários chefes de Estado e de governo.

MSE // JCS - Lusa

Especialistas brasileiros defendem Acordo Ortográfico e rejeitam simplificação da língua




São Paulo, 27 ago (Lusa) - A implantação do Acordo Ortográfico de Língua Portuguesa (AO) foi defendida hoje por um académico, um historiador e um linguista brasileiros, que rejeitaram o projeto de simplificação do idioma, analisado pelo Senado brasileiro, durante um debate em São Paulo.

O debate ocorreu na 23.ª Bienal Internacional do Livro e contou com a participação do gramaticista e membro da Academia Brasileira de Letras Evanildo Bechara, do linguista e coordenador da comissão brasileira no Instituto Internacional da Língua Portuguesa (IILP) Carlos Alberto Faraco, e do historiador Jaime Pinsky.

Faraco criticou o adiamento do prazo para a obrigatoriedade de alicação do AO no Brasil, de janeiro de 2013 para janeiro de 2016, e defendeu a integridade do documento, ou seja, que o acordo não sofra alterações.

O projeto de simplificação do idioma tem sido defendido por linguistas brasileiros, liderados por Ernani Pimentel, e está em análise na Comissão de Educação do Senado brasileiro.

A proposta, que já foi apresentada em Portugal e em África, prevê a adoção de uma nova ortografia que suprima, por exemplo, a letra "H" não pronunciada e mude as atuais regras de uso do "g" e do "j".

"O que se propõe é vandalismo ortográfico", afirmou Faraco. "Não há fundamentação técnica ou razão social, cultural e económica para mexer numa ortografia estabilizada", afirmou Faraco, para quem a escrita fonética (aquela que segue o som das palavras) seria um "descalabro" e o "fim da ortografia".

O historiador Jaime Pinsky citou um artigo que escreveu para o jornal Correio Brasiliense, em maio. No texto, problematiza a questão dos sotaques regionais que, no caso de uma escrita fonética, causaria confusão na grafia das palavras - o mês de abril, por exemplo, é pronunciado "abriu" ou até "abrir" em diferentes localidades brasileiras.

"É ridícula a ideia de escrever como se fala. A língua tem fatores de caráter históricos, que não podem ser desconsiderados", disse.

O académico Evanildo Bechara lembrou que a opção por uma escrita fonética em português já foi rejeitada no século XIX, quando foi proposta, e realçou que a língua tem princípios culturais e sociais. "Há de se trabalhar para que a coletividade escreva [o português] de uma maneira única, mas quem deve propor [as regras] são os técnicos, as academias e as universidades", afirmou.

Bechara disse também que não concorda com todas as regras do AO, e que ele necessita de algumas adaptações, mas que serão feitas com o tempo.

Faraco usou como exemplo a falta de padronização para as palavras provenientes do idioma banto, em África, mas que essas questões poderão ser resolvidas localmente, como fez Moçambique ao incluir vocabulário dessa língua, nas normas ortográficas.

O Acordo Ortográfico começou a ser negociado em 1975, foi assinado em 1990 pelos oito países de língua oficial portuguesa (Angola, Brasil, Cabo Verde, Guiné-Bissau, Moçambique, Portugal, São Tomé e Príncipe e Timor-Leste) e ratificado por seis deles, com exceção de Angola e Moçambique.

FYB // MAG - Lusa

Brasil: O Fundo, a autofagia e o risco de mais um elefante branco



Afropress, editorial

A proposta da criação de um Fundo Nacional de Combate ao Racismo (FNCR), que será lançada esta semana em Brasília, é uma boa iniciativa – a única, depois de anos de paralisia de um movimento social que se congelou no tempo, sem lideranças autênticas, e com porta-vozes chapa-branca, que se acomodaram aos puxadinhos dos partidos ou dedicaram-se a engordar currículos na Academia. Nada contra currículos, nem partidos, desde que não pretendam ser porta-vozes de quem não lhes passou procuração.

Com as exceções de praxe, que existem exatamente para confirmar a regra, não temos um movimento social negro, capaz de aglutinar as grandes massas vítimas, de um lado, da exploração econômica e dos piores níveis de desigualdade mantidos por todos os Governos, independente do partido e da orientação política-ideológica dos mesmos; e de outro, da pior modalidade de racismo praticada no planeta, o racismo brasileiro, que tem como peculiaridade a dissimulação, a hipocrisia de jamais se assumir sem, no entanto, deixar de ser tão letal quanto qualquer outro.

As lideranças que apareceram nos últimos 40 anos, ou estão presas à lógica partidária, ou fazem carreira nas Academias. Tornaram o estar nos partidos ou na Academia um meio de vida, dando as costas a imensa maioria pobre e negra que vegeta nos territórios da exclusão, matando 10 leões por dia para sobreviver com alguma dignidade.

O mais interessante é que essa gente pretende falar por todos, como se tivessem alguma procuração ou mandato divino. Vítimas das sequelas de que foram alvos nossos antepassados pelos quase 400 anos de escravidão, e da cultura racista que nos divide à custa de migalhas para manter a supremacia da elite branca nos postos de comando, boa parte dessas lideranças perdeu a noção de que somos a maioria da sociedade e, portanto, não devemos continuar falando para os guetos onde querem nos aprisionar e manter.

Por outro lado, o grau de agressividade, de violência e de truculência com que tratam seus pares – muitas vezes, apenas pelo crime de discordarem de suas estratégias e discursos vazios – é assustadora.

Ainda na semana passada, um conhecido jornalista e historiador, cujo nome nos reservamos ao direito de não mencionar em respeito à ausência, assacou com paus e pedras, seguidos de insultos e de uma retórica furibunda na sua rede social, apenas por que ousamos dizer que a polêmica em torno das cotas criada por conta da posição editorial assumida pela Folha, "era fora de hora e de propósito” e, parea nós, chamar de racista quem é contrário às cotas soava a "fundamentalismo evangélico de algumas seitas neopentescostais para quem toda aquele que não comunga com suas crenças e ritos está condenado ao fogo do inferno".

Há cerca de vinte dias, em outro episódio, uma militante catarinense com tese de mestrado na UFSC, cujo nome também omitimos para não alimentar intrigas nem ódios tolos, reagiu como se tivesse sido gravemente ofendida quando confrontada com uma opinião de que determinada situação relatada não se configurava como crime de racismo.

Fica decretado que qualquer divergência de opinião deve ser respondida com insultos. Essa parece ser, para alguns, a regra de ouro, em especial, para esse autoproclamado grupo de iluminados, que se pretende porta-voz das nossas demandas.

Não poucas vezes, temos sido obrigados a interromper mensagens pela rede social, porque certas pessoas estão (mal) acostumadas ao exercício da agressividade gratuita e as brigas, as inimizades, as quizilas. Os maus tratos e insultos surgem do nada. Entre pares negros rugem como leões ferozes; entre brancos com poder, miam como gatinhos, já disse alguém com toda propriedade.

Só há uma explicação para tanta agressividade e para tais práticas: são as sequelas, mantidas vivas e que fundamentam a autofagia que é, em regra, a base da relação interpessoal entre negros militantes.

A conhecida síndrome do caranguejo, que é perceptível por quem já viu a briga de foice entre esses crustáceos colocados numa panela, uns tentando subir a todo custo passando por cima dos outros, e outros tentando no desespero segurar os que sobem: quando alguém se destaca uma tropa inteira está pronta para segurá-lo, barrá-lo, impedí-lo de ascender.

Voltando ao Fundo, a boa idéia – em especial, partindo de um técnico e ativista respeitado como o é Mário Theodoro Lisboa – não significa que não haja problemas que precisam ser enfrentados. Coletar 1,4 milhão de assinaturas não é tarefa fácil e requer, inclusive, uma logística e uma organização razoáveis.

Por outro lado, a notícia de que o Fundo deverá ficar sob a rubrica da SEPPIR é um balde de água gelada sobre milhares de ativistas para quem o papel daquela Secretaria está mais do que óbvio: foi criada para simular uma inclusão que deve permanecer no plano do simbólico e para servir de cabide de empregos para lideranças negras comprometidos com os seus próprios esquemas partidários.

O Fundo, uma vez criado – tarefa que exige uma gigantesca mobilização, não apenas para coleta das assinaturas mas para forçar sua aprovação pelo Congresso e posterior sanção pela Presidência da República – deve ser gerido por um Comitê Intergovernamental com autonomia de decisão e capaz de fazer com que os recursos não se percam nos caminhos e escaninhos da burocracia.

Colocá-lo sob a influência da SEPPIR e da Palmares – transformadas uma e outra em meros guetos dos grupos que obedecem as ordens e os comandos dos seus gestores e dos seus partidos, e que perseguem quem ousa não fazer parte dos seus esquemas, especialmente na atual gestão – é o mesmo que dá um tiro no pé. Cabe a SEPPIR e a Palmares disputar os recursos no interior dos Governos dos quais participam e geri-los bem, independente do Partido a que pertençam, o que não acontece hoje, se é que aconteceu algum dia.

Por fim, o lançamento, em plena campanha eleitoral, do movimento para a coleta assinaturas em apoio a um Projeto de Iniciativa Popular que terá de ser aprovado pelo Congresso Nacional a ser eleito em outubro, deveria ser seguida de uma ampla mobilização para pressionar parlamentares e candidatos nestas eleições a tomarem uma posição em relação ao tema.

Qual é a posição dos candidatos ao Senado e a Câmara Federal sobre o Fundo? Qual é a posição dos presidenciáveis, especialmente, dos três melhor situados nas pesquisas – Dilma Rousseff, Aécio Neves e Eduardo Campos?

Por que não comprometê-los ou, ao menos, saber que posição defendem e, em função disso, orientar o voto de todo(a)s o(a)s negro(a)s brasileiro(a)s?

Sem isso, a proposta do Fundo, ainda que correta, fica deslocada no tempo e no espaço e, principalmente, do contexto político, e corre o sério risco de virar um elefante branco – sem viabilidade nem serventia. A conferir.

PROTESTO NEGRO CONTRA VIOLÊNCIA POLICIAL UNE BRASIL, NY E FERGUSON



Edson Cadette - Afropress

Nova York/EUA – Um dia depois de pelo menos 50 mil pessoas terem saído às ruas em várias cidades brasileiras, a população do bairro de Staten Island, em Nova York, liderada pelo reverendo e ativista Al Sharpton, fez o mesmo no último sábado (23/08) em protesto pela morte de Eric Garner, um negro vendedor de cigarros, morto pela polícia novaiorquina em julho passado.

Os protestos no Brasil e em Nova York acontecem em meio a Revolta de Ferguson, a pequena cidade do Estado do Missouri, onde a população tem saído às ruas quase diariamente para protestar contra a morte do jovem Michael Brown, de 18 anos, alvejado com seis tiros por um policial branco no dia 09 de agosto passado.

Garner, pai de seis filhos, suspeito da venda ilegal de cigarros, foi morto por um policial com um golpe de gravata no dia 17 de julho, depois de já estar dominado. Um vídeo amador mostra um policial apertando o pescoço de Garner, que desmaiou e já chegou morto ao hospital. A prática da gravata havia sido abolida pelo Departamento de Polícia em Nova York (NYPD) em 1993, depois que um outro cidadão negro foi morto no bairro do Bronx.

O correspondente de Afropress, Edson Cadette, esteve na manifestação e conversou com o presidente do Sindicato dos Porteiros de Nova York, Hector Figueroa (na foto da capa), um dos organizadores do protesto.

Confira o relato do nosso correspondente.

Staten Island, Nova York – “Não estamos aqui para destruir. Estamos aqui para construir. Não somos contra a Polícia, mas aqueles que são infratores devem responder criminalmente como qualquer outro cidadão”. Como estas palavras, o pastor e ativista Al Sharpton,  presidente da National Action Network  (Rede de Ação Nacional) liderou, no último sábado, (23/08) cerca de 2.500 pessoas pelas ruas do bairro de Staten Island/NY para protestar contra a morte, no mês passado, de Eric Garner.

Cartazes com os dizeres – “Parem de nos Matar”, “Respeitem os direitos humanos”, “Justiça e Direito Civis para Todos”, “Polícia de Nova York (NYPD)=KKK” foram carregados pelos manifestantes pelas ruas do bairro. A Polícia acompanhou o protesto sem intervir.

Entre os manifestantes estava Saul Nieves, um líder comunitário que há mais de 10 anos trabalha para o Sindicato dos Porteiros de Nova York. Segundo ele, “a militarização da Polícia no país é um problema sério que deve ser debatido pela sociedade, assim como todas as formas de racismo”. Michelle Crentsil, outra líder comunitária  participou do protesto e condenou “a brutalidade da Polícia no trato com cidadãos negros”.

Organizações Não-Governamentais (ONGs) e representantes políticos, entre entre os quais, o ex-governador de Nova York, David Patterson, o presidente do Sindicato dos Professores, Michael Mulgrew e o presidente do Sindicato dos Porteiros de Nova York, Hector Figueroa, marcaram presença na manifestação. O atual prefeito de Nova York, Bill de Blasio, cuja presença era esperada, porém, decidiu não comparecer.

Com o slogan “Direitos trabalhistas se equivalem aos direitos civis”, o presidente Hector Figueroa concedeu entrevista ao correspondente de Afropress, Edson Cadette, enquanto participava do protesto.

Afropress: A corporação policial mudou muito nestes últimos 30 anos. Há muitas minorias nos seus quadros, mesmo assim, você acredita que a policia continua visando as minorias?

Hector Figueroa: Houve muito progresso, com certeza, porém o assédio policial (racial profiling), ainda é uma prática disseminada dentro da Polícia, e ela precisa ser discutida por todos na sociedade. Ela tem de acabar. Devemos ter regras dentro da Polícia, e quando elas não forem cumpridas deve haver consequências. Como, porexemplo, a prática da gravata que foi abolida há quase 20 anos e que resultou na morte de Eric Garner. A Polícia tem que abrir-se mais para a comunidade.

Afropress: Qual é a mensagem que o Sindicato dos Porteiros de Nova York envia para o Comissário de Polícia e também para o prefeito Blasio?

HF: Uma mensagem de união que nós queremos segurança para toda nossa comunidade, para todos nossos cidadãos, independentemente de como eles se parecem, sua raça, sua orientação sexual, ou sua religião. Temos que ver isto como uma luta contínua para erradicar os preconceitos que, infelizmente, ainda afetam nossa sociedade e nossas Instituições como o Governo, a Polícia, e nossos sindicatos. Todos temos que nos esforçar para nos comportarmos de uma maneira que inclua todas as  pessoas. O Departamento de Polícia precisa entender que somos uma comunidade e com isso proteger a todos.

Afropress: Não sei se é do seu conhecimento, mas ontem no Brasil houve uma grande manifestação contra a violência policial que atinge desproporcionalmente os jovens negros. Você acredita que os países da América Latina devem olhar para o que está acontecendo aqui em Nova York e usar esta manifestação como exemplo?

HF: Acredito que este tema é algo que sempre está acontecendo ao redor do mundo. Nós devemos observar o que aconteceu com o Eric Garner e nos perguntar: “estamos fazendo o suficiente para prevenir o que aconteceu?” “Estamos fazendo o suficiente  para que uma pequena infração não resulte na morte de um cidadão pai de 5 filhos que certamente deveria esta aqui?” Temos que ter certeza que isso não aconteça novamente.

Afropress: Quantos associados o Sindicato 32BJ tem no momento?

HF: Um total de 145 mil em 11 estados da Federação.

Afropress: Muito obrigado.

HF: De nada.



Mais lidas da semana