domingo, 10 de novembro de 2013

BARACK OBAMA: PATO MANCO?

 


Muito precocemente Obama parece ter esgotado completamente os sonhos com que foi eleito há cinco anos e com as esperanças com que foi reeleito há um ano.
 
Emir Sader – Carta Maior, em Blog do Emir
 
Completa-se um ano da reeleição do Obama e nada indica que seu mandato será distinto do primeiro. Nada de terminar com Guantanamo, as guerras do Iraque e do Afeganistão não amainam, não desencalha a reforma da saúde e não consegue aprovar a nova lei de imigração. Muito cedo o Obama virou pato manco. É como se seu mandato começasse a terminar precocemente.

Até no plano da política internacional as coisas estão longe do que Obama planejava. No começo do ano, tinha em perspectiva um ataque à Síria, que debilitasse o governo do Assad, acreditando que retomaria as negociações de Genebra, com o suposto da saída do presidente atual como condição.

Obama não conseguiu crias as condições politicas para militarizar o conflito, como os EUA costumam fazer. Perdeu o apoio da Grã Bretanha, dos norte-americanos, até mesmo dos militares dos EUA. Teve que se somar à iniciativa russa de negociações de paz, que se afirmam como a via de solução do conflito sírio.

O passo seguinte, que seria o de passar da derrota do governo do Assad ao isolamento do Irã e a abertura da via para o ataque ao Irã, não pôde concretizar-se. Ao contrário, o que parecia impossível no começo do ano, se concretiza: negociações diretas dos EUA com o Irã. Nos dois casos, Síria e Irã, se está prestes à assinatura de acordos de paz, para desespero de Israel, da Arábia Saudita e do Kuait.

A projeção da Rússia como agente de negociações de paz no mundo e a da imagem de Putin como líder mais poderoso do que Obama, complementam um quadro internacional que teve inflexões importantes nestes últimos meses.

Não faltasse todo esse cenário, os escândalos de espionagem denunciados por Snowden, não param de provocar desgastes aos EUA, até com seus aliados mais próximos, como a Alemanha a França e o México.

Muito precocemente Obama parece ter esgotado completamente os sonhos com que foi eleito há cinco anos e com as esperanças com que foi reeleito há um ano. Entram os EUA em ano de eleições parlamentares e os cenários presidenciais começam a ser desenhados, entre um novo líder republicano e a nova tentativa de Hilary para ser a candidata dos democratas.

Para quem foi eleito como o primeiro presidente norte-americano, depois do desgaste de George Bush, numa bela campanha, o fim do mandato de Obama é melancólico, sem nem sequer garantir que poderá eleger seu sucessor. Mais um sintoma do longo processo de decadência da hegemonia norte-americana no mundo. Também no plano político – além do econômico – se desenha o mundo multipolar do século XXI.
 

BRASIL ESPIONOU DIPLOMATAS DA RÚSSIA, IRÃ E IRAQUE

 


 
Ser ou não ser santo de pau oco, eis a questão, senhora presidente Dilma Rousseff. Na seara das relações internacionais não existem inocentes, não escapa ninguém, nem o Brasil: todos são lobos em pele de cordeiro. Vejam a reportagem abaixo.
 
Espiões brasileiros vigiaram diplomatas da Rússia, Irã e Iraque em suas embaixadas e residências durante operações de contrainteligência da Agência Brasileira de Inteligência (ABIN), em 2003 e 2004, segundo reportagem publicada nesta segunda-feira (4) pelo jornal Folha de S.Paulo.
 
O veículo teve acesso a um relatório secreto da ABIN que detalha dez operações realizadas por espiões brasileiros nos primeiros anos do governo do então presidente Luiz Inácio Lula da Silva. Segundo a Folha, eles seguiram e fotografaram diplomatas russos envolvidos em negociações de exportação de equipes militares, vigiaram diplomatas iranianos para tentar identificar seus possíveis contatos no Brasil e fotografaram atividades dos iraquianos na embaixada do Iraque e em suas residências.
 
Em comunicado, o Gabinete de Segurança Institucional da Presidência da República afirmou que as operações de contra-inteligência da ABIN estão previstas na legislação e “obedeceram a legislação brasileira de proteção dos interesses nacionais”, mas que não pode comprovar a autenticidade de um relatório ao qual não teve acesso. “Como a Folha de S. Paulo preferiu não enviar cópia dos documentos obtidos, não podemos validar sua autenticidade.” A nota diz ainda que o vazamento de relatórios classificados como secretos constitui um crime e que o governo, sem violar as garantias constitucionais à liberdade de imprensa, adotará medidas para processar os responsáveis pela entrega dos documentos.
 
A divulgação do relatório pela Folha acontece em um momento em que o ex-técnico da Agência de Segurança Nacional americana (NSA, na sigla em inglês) Edward Snowden tornou público que o governo americano havia desenvolvido o maior programa de monitoramento em massa de comunicações de que se tem conhecimento no mundo. A partir de documentos secretos entregues por ele a jornais de vários países nos últimos meses, Snowden mostrou que líderes aliados dos Estados Unidos, como a presidente Dilma Rousseff, a chanceler alemã, Angela Merkel, e o presidente francês, François Hollande, foram alvo de espionagem. As denúncias têm causado uma das piores crises diplomáticas dos Estados Unidos em décadas.
 
Com a colaboração do jornalista americano Glenn Greenwald, a quem Snowden repassou os documentos sigilosos, no final de julho, ÉPOCA revelou com exclusividade arquivos que mostram que a NSA espionou oito membros do Conselho de Segurança da ONU, no caso das sanções contra o Irã, em 2010. Em seguida, ÉPOCA teve acesso a uma carta ultrassecreta em que o embaixador americano no Brasil, Thomas Shannon Jr., agradece o diretor da NSA, general Keith Alexander, pelas “excepcionais” informações obtidas numa ação de vigilância de outros países do continente, antes e depois da 5ª Cúpula das Américas, em Trinidad e Tobago, em abril de 2009. Shannon celebra, no documento, como o trabalho da NSA permitiu que os EUA tivessem conhecimento do que fariam na reunião os representantes de outros países. Em entrevista a ÉPOCA, o ministro das Comunicações, Paulo Bernardo, disse que manter dados em segredo faz parte do jogo diplomático, mas que a espionagem em negociações pode configurar uma forma de fraudá-las. “Estamos diante de um escândalo de proporções globais.”
 
Snowden pede “solução global” para limitar a espionagem.
 
No caso do Brasil, as denúncias de que a NSA espionou conversas de Dilma, políticos e empresários, além de atividades da Petrobras, levaram a presidente a cancelar uma visita de Estado que iria realizar a Washington em outubro. Críticas à espionagem americana tiveram destaque no discurso de Dilma na abertura da 68ª Assembleia Geral da ONU. Na semana passada, Brasil e Alemanha levaram à ONU um projeto com regras sobre o direito à privacidade na internet. O documento ressalta que a vigilância ilegal das comunicações e a interceptação constituem “atos altamente intrusivos que violam o direito à privacidade e à liberdade de expressão e que podem ameaçar os fundamentos de uma sociedade democrática”.
 
Fonte: Redação ÉPOCA, com Agência EFE e Agência Brasil.

*Júlio César Cardoso é bacharel em Direito e servidor federal aposentado e mora em Balneário Camboriú – SC –
juliocmcardoso@hotmail.com
 

Brasil: MARINA PODE VOLTAR ATRÁS NA IDEIA DE SER VICE DE EDUARDO CAMPOS

 


Ser vice para quê? Essa é a pergunta que começa a ser feita cada vez mais por membros do Rede Sustentabilidade, de Marina Silva.
 
Antonio Lassance – Carta Maior
 
Um integrante do Rede revelou à Carta Maior que a ideia de ser ou não ser vice de Eduardo Campos não está “sacramentada”; vai ficar para 2014 e será submetida ao “coletivo”. Esse é o compromisso que Marina teria assumido diante da perplexidade e, aos poucos, da insatisfação que tem sido gerada entre seus seguidores na relação com o PSB nacional e nos estados.

Segundo esse integrante, que participou recentemente da reunião em São Paulo que juntou dirigentes do PSB e membros do Rede, ambos os partidos estão ainda se conhecendo melhor, e as arestas a serem desbastadas são muitas.

A ideia de Marina ser vice não teria sido um compromisso. Foi simplesmente isto: uma ideia. Tendo sido proposta pela própria Marina, ela não estaria impedida de tirar o time de campo. O único acordo definitivamente selado entre os dois é o de que o candidato é Eduardo Campos. Marina, em hipótese alguma, disputará a cabeça de chapa do PSB.

Mesmo que quisesse romper esse acordo, o Rede sabe que não teria como derrotar a indicação mais que previsível do PSB. Além do controle de Campos sobre os diretórios estaduais, Marina Silva tem adversários à esquerda e à direita, no PSB, como, respectivamente, Roberto Amaral (primeiro vice-presidente nacional da sigla) e Márcio França (deputado federal e presidente do Diretório Estadual de São Paulo).

A chance de uma reviravolta na vaga para a vice-presidência não é o desejo pessoal de Marina Silva, que, como diria Vicente Matheus, entrou na chuva para se queimar. Por enquanto, também não é um assunto sequer cogitado por Eduardo Campos. Mas cresce, entre integrantes do Rede, a convicção de que não vale a pena estar na chapa presidencial.

Os argumentos contrários a se compor a vice do PSB são fortes e, paulatinamente, se tornam mais convincentes.

Até 2014, os pontos centrais da decisão vão depender, primeiro, do quanto Eduardo Campos conseguir receber de transferência de intenções de voto antes endereçadas a Marina. Segundo, de essa transferência ser capaz não apenas de provocar segundo turno, mas de fazer Campos superar Aécio. Por enquanto, o cenário atual, confirmado por pesquisas sucessivas, indica vitória de Dilma em primeiro turno, com Aécio em segundo, bem atrás de Dilma, e Campos em terceiro, bem atrás de Aécio.

Claro que eleições são ganhas ou perdidas durante uma campanha, assim como corridas são ganhas nas pistas, a cada curva, e não no grid de largada. Mas a estratégia precisa estar definida pelo piloto antes de ligar os motores.

A preocupação maior de setores ligados a Marina é a de que ela já fez demais por Campos e precisa se preservar para 2018. Esta seria a grande aposta, com uma candidatura “puro sangue”, com o Rede já constituído enquanto partido. Hoje, sendo inquilinos no senhorio do PSB, a parte que lhes cabe nesse latifúndio é considerada cada vez mais estreita, incômoda e constrangedora.

Marina Silva adoraria mostrar que transfere votos para quem bem desejar, mas a tarefa não parece tão simples. De todo modo, sem precisar estar na vice, ela poderia perfeitamente continuar fazendo campanha ao lado de Campos e aparecer de forma ostensiva no programa eleitoral, como aconteceu recentemente. E daria outra prova de desprendimento, dizem.

Além do mais, fora da chapa, estaria livre inclusive para associar sua participação em um eventual governo a um acordo mais amplo com o PSB, o que não pôde ser feito na filiação decidida atabalhoadamente, da noite para o dia.

Pensando em 2018, fora da vice, o Rede estaria livre até para se desvencilhar completamente de um governo Eduardo Campos. Em sua experiência como governador, Campos não tem um único traço da tal “nova política”. É adepto incontestável do presidencialismo de coalizão, ou seja, de coalizões grandes o suficiente para garantir maioria legislativa, e de equipes governamentais multipartidárias, contemplando todas as siglas de sustentação parlamentar.

A tal “nova política”, de que Marina muito fala, mas pouco explica, foi melhor esclarecida pelo deputado Márcio França (PSB-SP). Ele patrocina o acordo do PSB com o PSDB pela reeleição do governador Geraldo Alckmin, inclusive com a possibilidade de ser o candidato a vice. Contrário à ideia de candidatura do marineiro Walter Feldman e mesmo da correligionária Luíza Erundina (PSB-SP), ele explicou a Feldman, há poucos dias, que o acordo com Alckmin já estava fechado antes do Rede aportar nas praias do PSB.

Sua irônica exegese da bula marinada da nova política foi a de que, como Marina disse que é pra governar com os melhores do PT e do PSDB, está mais que confortável em apoiar Alckmin, que ele, por conta e risco, considera “um dos melhores” do PSDB. A nova política, assim, corre o risco de virar uma lista dos bons e dos justos escondida na cachola de Marina Silva, enquanto outros têm suas próprias listas guardadas no bolso.

Os sonháticos começam a perceber que seu partido barriga de aluguel, o PSB, e a candidatura a vice de Eduardo Campos estão mais para pesadélicos do que psicodélicos.
 
Créditos da foto: Arquivo
 

Portugal: O ESTADO FALIU

 


Paulo Baldaia – Diário de Notícias, opinião
 
Vivo do trabalho e não oriento a minha vida para um dia poder ser considerado rico nem sonho com o título de milionário, esse estatuto a que no último ano ascenderam mais 85 portugueses e que se começa a medir a partir dos 22,5 milhões de euros. Mas tenho ambições e espero viver melhor no próximo ano e assim sucessivamente.
 
Não tenho nada contra os ricos nem mesmo contra os milionários. Não espero que nenhum deles tenha um dia de viver com os meus rendimentos, antes prefiro poder merecer viver com um rendimento parecido com o deles.
 
Tenho, no entanto, como certo que as minhas ambições pessoais devem sempre estar enquadradas com uma justa distribuição da riqueza na sociedade de que faço parte. No meio da maior crise de que há memória, existirem mais 85 milionários e a fortuna conjunta dos 870 que detêm esse estatuto ter crescido este ano cerca de 11% (vale 75 mil milhões de euros, quase metade do PIB anual do país), é coisa para me deixar preocupado.
 
Tendo tão pouco, é verdade que vários milhões de euros me parece muito dinheiro, mas admito que os milionários saibam muito bem como gastar o dinheiro que acumularam. A questão, insisto, não é pessoal, é mesmo política. Como é possível que menos de 0,01% da população tenha ficado cerca de oito mil milhões de euros mais rica, enquanto a maioria da população ficou bastante mais pobre? Onde estava o Estado? Onde estavam os senhores e as senhoras que elegemos para governar o País?
 
O Estado faliu. Pode ainda ter dinheiro para pagar pensões e ordenados e não faltar quem lhe empreste para pagar as PPP e os juros dos empréstimos, mas faliu na sua condição de garante de uma distribuição mais justa da riqueza produzida. A democracia não pode servir apenas para legitimar um modelo de sociedade que se assemelha na distribuição de riqueza à época feudal.
 
Os dados são do banco suíço UBS e também mostram até que ponto boa parte da riqueza mundial está concentrada num número reduzido de pessoas. Podemos berrar a esquerda e a direita e eleger o A ou o B, enquanto a ambição pela riqueza pessoal não for acompanhada em igual medida pela ambição de uma sociedade mais justa, não haverá política que nos valha.
 
O Estado faliu. Sem nenhuma vergonha na cara, os que nos representam continuarão a exigir dos mais fracos o cumprimento de todas as obrigações, sem se mostrarem capazes de fazer o mesmo com os mais fortes. Os mais ricos ficam mais ricos e os mais pobres ficam mais pobres. E tudo acontece como se a responsabilidade não fosse de ninguém. De que vale ser político, se se for totalmente incapaz nesta matéria? Ambicionam o quê? As migalhas?
 
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Portugal: RUI MACHETE, DELINQUENTES AO ATAQUE

 

Balneário Público
 
Rui Machete, do Bando de Cavaco Silva… ou dos do governo – coisa assim do género declarada por Mário Soares – veio à liça com o papão do novo resgate em preâmbulo para descarregar sobre o Tribunal Constitucional. Declarações à Lusa que pode ler no Económico sob o título: “Portugal só evita novo resgate se juros descerem para 4,5%”. A artimanha completa-se quando lemos que: “O ministro dos Negócios Estrangeiros admite subida do IVA para compensar chumbo constitucional, mas diz que “seria grave”. E que: “Para o ministro, ao fazê-lo, o TC não teria em consideração “que as alternativas são claramente piores, nuns casos, ou não existem, noutros”. O aumento dos impostos seria uma das alternativas, “o que seria grave”.” Mas pelo texto diz mais. Vão ler. Machete, o tal que é avesso à separação de poderes – como se viu no caso Angola, e que mentiu ou fez-se distraído, ou omitiu na Assembleia da República sobre as suas “negociatas” – está na Índia (farta-se de passear) e foi por lá que fez estas declarações (subentende-se). Declarações que demonstram uma estratégia orquestrada e que engloba vários dos coveiros de Portugal, de Cavaco a Durão Barroso, a outros estrangeiros da UE, a Passos, a Portas, etc., etc. O ataque ao Tribunal Constitucional, as pressões, não páram. Ainda muito menos à Constituição. Têm sido eles, os políticos, que governam e que têm governado mal – que se têm preocupado em governar-se – os responsáveis por todo este desaire nacional. Mas todas as culpas passam-nas para o Tribunal Constitucional, para a Constituição. Se isto não é uma devassa e uma fuga de assumir responsabilidades o que será? Bem diz Mário Soares que estes salafrários são um bando de delinquentes – ou coisa assim do género. E são. Não são? Tanto são que voltam sempre e em força ao ataque a tudo e a todos menos a eles próprios, à sua clientela, aos da sua família mafiosa.
 
Robles Neto
 
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Portugal: O DESEMPREGO VISTO PELO JOTINHA

 

João Mendes  - Aventar
 
De toda a estupidez, servilidade e desonestidade que poluem violentamente a quase totalidade da nossa Assembleia da República, nada me irrita mais do que os jotinhas pró-austeridade que fazem o papel de caixinha patética de ressonância dos patrões dos seus patrões. Irrita-me porque são jovens, irrita-me porque acham que falam em nome dos jovens e irrita-me sobretudo porque são a prova de que a classe política insiste na incapacidade de se renovar e continua a produzir lixo, carreiristas e lambedores de botas à custa do erário público. Estranho conceito de mérito.
 
Dei com o chefe das camadas jovens laranjas, um rapaz caro de manter num pais sem dinheiro para pagar salários, a falar sobre o desemprego em Portugal. Ver um jotinha, principalmente um que exerce funções de deputado, a falar sobre desemprego, causa-me sempre alguma confusão. Fica no ar a sensação de não saber muito bem do que está a falar. Não só porque nunca esteve desempregado, mas principalmente porque joga num campeonato diferente no que toca ao acesso ao emprego, já que fez a sua carreira nos corredores da jota, serviu as pessoas certas e agora é mais um deputado sem experiência nenhuma para o ser apenas e só porque a meia-dúzia que manda no PSD o escolheu para o lote de “seleccionáveis” no qual os partidos políticos nos permitem votar.
 
Estarei a ser injusto? Se calhar estou. Confesso que ver os jotinhas na reserva a dar cabo deste país com o jotinha cor-de-rosa do outro lado da trincheira a brincar à oposição é capaz de me toldar um bocado o juízo. A minha paciência é cada vez mais limitada quando estão em causa aldrabões, hipócritas, corruptos e monstruosidades similares.
 
Mas se calhar este jotinha é dos bons! Senão vejamos: ele faz parte da Comissão de Assuntos Constitucionais, Direitos, Liberdades e Garantias e, se há coisa que podemos ter a certeza, é que nada está tão protegido neste país como a Constituição, os nossos Direitos, as nossas Liberdade e as nossas Garantias. Pelo menos no caso do Hugo. Podemos também encontra-lo na Comissão de Educação, Ciência e Cultura, áreas que, como bem sabemos, têm sido amplamente apoiadas e dinamizadas pelo governo em funções. Onde mais podemos encontrar o nosso deputado? Nem mais nem menos do que na Comissão Parlamentar de Inquérito à Celebração de Contratos de Gestão de Risco Financeiro por Empresas do Sector Público, outra que, para além de ter dado imensos frutos, tem sido uma excelente plataforma para o acto de mentir compulsivamente que tanto caracteriza este governo. E, para fechar o imenso rol de distintas funções com chave de ouro, aquela que considero ser a prova inquestionável do exímio trabalho que o Hugo está a fazer na AR: o jovem deputado é coordenador Grupo de Trabalho – Acompanhamento da Aplicação das Medidas Políticas e Legislativas de Combate à Corrupção. Se há coisa que tem funcionado neste país é o combate à corrupção. Apanham os gajos todos, não escapa um! Grande trabalho Hugo Soares, tu e o teu grupo de trabalho estão mesmo de parabéns!
 
Depois é vê-lo a falar do desemprego como se a situação estivesse mesmo a evoluir no sentido positivo. O jotinha critica a oposição, com o foco no ex-jotinha Seguro, afirmando que acha “absolutamente inacreditável que qualquer partido da oposição, mas designadamente o Partido Socialista, num momento em que nós conhecemos dados tão bons e tão importantes relativamente à criação de emprego, continue a ter um discurso tão anti-patriótico.”. Anti-patriótico é usar o patriotismo para enganar a Pátria Hugo. E nem precisamos de estar para aqui com grandes teorias, o Arménio Carlos explicou de forma simples como se desmonta mais uma mentira governamental: empregos sazonais e aumento da emigração.
 
Se a emigração continuar a aumentar brutalmente, o desemprego vai continuar a diminuir em todas as variáveis comparativas manhosas que tu e os teus compinchas usam para atirar areia para os olhos dos portugueses. É esperar mais uns dez ou quinze anitos e já devemos estar abaixo dos 10% de desemprego e dos 9 milhões de habitantes. Seremos um agradável e falido país de velhos.
 
Quem queres enganar tu Hugo Soares? Pensas que estás a fazer de parvos os putos da tua concelhia?
 
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Portugal: Presidente da República é o “padrinho deste Governo”, diz João Semedo

 


Coordenador do BE afirma que Cavaco é cúmplice da maioria
 
Público – Lusa
 
O coordenador do Bloco de Esquerda, João Semedo, disse neste domingo que o Presidente da República é o "padrinho do Governo" e que há cada vez mais gente "a queixar-se da passividade do chefe do Estado".
 
"Há muita gente a queixar-se da passividade do Presidente da República, porque olham e vêem que é cúmplice desta política, é o padrinho deste Governo, é o único apoio que mantém este Governo a governar", afirmou.

Em declarações a Lusa quando, esta tarde, visitava a romaria do S. Martinho, o dirigente do BE vincou que as pessoas com as quais já tinha falado protestavam muito contra o Presidente da República e também por perceberem que "o Orçamento do Estado vai ser prejudicial para as famílias".

"As pessoas manifestam, no contacto comigo, o seu protesto, o seu desagrado. As pessoas queixam-se do empobrecimento e do desemprego. Não há nenhuma família que não tenha alguém que não tenha perdido o emprego" disse, acrescentando:

"As pessoas têm consciência que este Orçamento do Estado vai piorar a sua situação de vida e de trabalho. Este orçamento acrescenta, ao brutal aumento de impostos e à austeridade do ano passado, outras tantas medidas de austeridade: mais cortes nos salários, nos empregos, nos subsídios e até as pensões de sobrevivência".

Para o coordenador do Bloco de Esquerda, que estava acompanhado de dirigentes locais daquele partido, são "naturais" as queixas dos cidadãos da região do Vale do Sousa devido às elevadas taxas de desemprego ali registadas.

"Muitas pessoas já não têm a angústia de saber como vão viver, têm a angústia de saber como vão sobreviver. Isso é a mudança de dois anos e meio de austeridade que empobreceu o país e as pessoas", observou.

João Semedo reafirmou que o Bloco de Esquerda defende que o Presidente da República devia pedir a fiscalização da constitucionalidade do Orçamento do Estado de 2014, por "conter cláusulas que são flagrantemente violadoras da Constituição".

Disse também que Aníbal Cavaco Silva devia também submeter à apreciação do Tribunal Constitucional a proposta de lei dos regimes de aposentação.
 

"As troikas são uma aberração para a lógica do projecto europeu" – Elisa Ferreira

 


A eurodeputada Elisa Ferreira afirmou, em entrevista ao Público, que a união monetária agrava dos desequilíbrios entre os países e que os mais “fortes têm uma quase tutela dos países mais fracos”. Para a socialista, “as troikas são uma aberração para a lógica do projecto europeu”.
 
“As troikas são uma aberração para a lógica do projecto europeu”. Quem o diz é Elisa Ferreira, uma das eurodeputadas impulsionadoras da investigação que o Parlamento Europeu está a fazer à actuação da troika nos países sob resgate financeiro.
 
“Vamos analisar a substância e a qualidade das recomendações feitas aos Estados, porque a qualidade é péssima” e pode ter levado à “interrupção do processo democrático”, esclareceu, em entrevista ao Público.
 
No entanto, como explica Elisa Ferreira, “quando questionamos aos membros da troika quem é que os controla e perante quem é que respondem, não há ninguém”.
 
Contudo, “não é possível que não haja um responsável quando os países estão a passar por uma brutalidade e uma agenda de ajustamento que forçou uma recessão gravíssima”.
 
“Os países fortes têm uma quase tutela dos países mais frágeis” e “os grandes apologistas [da austeridade] eram os que estavam a ganhar com a situação”, acrescentou a eurodeputada socialista, referindo-se em particular ao caso da Alemanha.
 
É por isso que o Parlamento Europeu vai avançar com avaliações aos programas de ajustamento da troika, levados a cabo nos países sob resgate financeiro.
 
Notícias ao Minuto
 

IRÃO E O CIRCO NUCLEAR

 

Cristina Oyarzo Varela
 
Não tem nada de curioso que as potências ocidentais costumem utilizar o medo como instrumento para justificar suas guerras, uma ferramenta de fácil uso que apela com descaro às emoções humanas mais primárias para nublar a análise. Já vimos no Iraque, onde a partir da afirmação da existência de armas de destruição em massa e o perigo do terrorismo internacional para toda a comunidade internacional, procederam à invasão ilegal do país. Pouco depois, esta hipótese foi destruída pelos fatos e a partir daí, os ocupantes não se preocuparam mais em elaborar desculpas. Já tinham derrubado um governo que consideravam incômodo, fizeram grandes negócios e destruíram o país.
 
O caso do Irã tem certas semelhanças. A recorrência ao terror como estratégia é, mais uma vez, a encarregada incidir nas consciências e a partir daí, introduzir facilmente o discurso da "necessidade" de uma guerra neocolonial. Desta vez, com a desculpa de uma possível guerra nuclear.
 
Fala-se sem discriminação, nos espaços políticos e na mídia, da "ameaça nuclear iraniana". Em primeiro lugar, essa "ameaça" - conceito de difícil retenção - não foi confirmada por nenhuma instância internacional, já que até agora e segundo fontes especializadas, o Irã não possui a capacidade de construir armas nucleares. Então, o que se busca efetivamente é evitar a obtenção desse tipo de capacidades. E nenhuma organização oficial pode afirmar com certeza a hipótese de que o Irã está à procura desses instrumentos. Por outro lado, o Irã declarou diversas vezes que seus planos de desenvolvimento nuclear são com exclusivos fins civis, o que se traduz em "pacíficos". Resumindo, não estamos diante de uma ameaça nuclear, mas sim, estritamente, diante da possibilidade de que um Estado específico construa os instrumentos para, possivelmente, desenvolver armas nucleares. É um pouco difícil perceber a diferença, mas no fundo, é um detalhe fundamental.
 
Os Estados Unidos, a União Europeia e Israel apresentaram esta dramática cena só pela possibilidade de que, em algum momento, o Irã possa ter as ferramentas para construir armas nucleares. Pelo menos é um elemento que deve ser considerado ao analisar o contexto geral.
 
Por outro lado, é possível que continuemos considerando legítimo que se exija a não nuclearização de alguns países enquanto outros possam estar livremente, não mais com capacidade de construção de armas, mas sim em posse de armas nucleares?
 
Segundo o Tratado de Não Proliferação de Armas Nucleares de 1968, existem países que não podem ter armas nucleares - quase o mundo inteiro - e outros que podem.
 
Evidentemente, os únicos que podem ter este tipo de armas são as potências: Estados Unidos, França, Inglaterra, Rússia e China.

Coincidentemente, são os vencedores da 2ª Guerra Mundial e, portanto, os membros permanentes do Conselho de Segurança da Organização das Nações Unidas, possuidores do poder de veto, e aqueles que decidem, arbitrariamente, o que é ou não uma ameaça para a paz e segurança internacional. Isto por acaso respeita o princípio de igualdade soberana dos membros da Organização das Nações Unidas, estabelecido no artigo nº 2, parágrafo 1, de sua Carta fundacional?
 
Porque deveríamos considerar com maior força os argumentos dos Estados Unidos, Israel e da União Europeia? Porque, precisamente, os Estados Unidos, que não ratificaram o Tratado de Proibição de Testes Nucleares, e Israel, que não assinou este nem o Tratado de Não Proliferação Nuclear, fazem exigências a um terceiro país, quando não cumprem nem pensam cumprir com os mínimos acordos internacionais sobre o tema? Perguntas extremamente ingênuas e ao mesmo tempo irônicas. Prepotência absoluta.
 
Como antecedente adicional, e situação ainda mais absurda, é que precisamente Israel, o principal promotor da invasão, é o país que possui mais de 200 ogivas (a maior capacidade depois dos membros permanentes do Conselho de Segurança) não declaradas. Esta informação foi divulgada, inclusive, pelo ex-presidente dos Estados Unidos, Jimmy Carter.
 
Voltando à contingência, devemos destacar que especialistas norte-americanos e israelenses, entre outros, alertaram sobre as dificuldades de um ataque bem-sucedido de Israel contra o Irã, com ou sem os Estados Unidos. Em primeiro lugar, as distâncias, as armas existentes e as dificuldades de conseguir localizações precisas dos objetivos, não permitiriam um bombardeio definitivo e, no melhor dos casos, o resultado seria o atraso de alguns meses dos supostos planos nucleares, mas não a destruição das instalações. Devemos acrescentar que as rotas de voo implicariam a autorização de uso do espaço aéreo pela Jordânia, Arábia Saudita, Turquia ou Iraque, o que não é necessariamente um assunto de fácil resolução.
 
Considerando as fraquezas militares de Israel - em relação a esta conjuntura específica - pode-se dar credibilidade à hipótese de que, a partir dos bombardeios que com certeza não conseguiriam muita coisa, a aposta do atacante seja produzir uma desestabilização interna, capaz de derrubar o governo dos aiatolás. Questão que, por outros motivos, está explicitamente proibida pela Carta da Organização das Nações Unidas.
 
E para que tenta o reduto ocidental no Oriente Médio acabar com o regime islâmico?
 
Na minha perspectiva, a resposta é complexa e ainda mais incerta. Isto porque além da necessidade de controlar a rota do petróleo, questão óbvia, há bastante evidência para estabelecer que existe um ascenso do Irã como potência regional. Tanto no nível da liderança política como econômica. De alguma forma, é preciso tentar inserir o tema do Irã (e o da Síria, o aliado mais "fiel" do Irã até o momento) no mapa político regional. Basta ver como as intervenções dos Estados Unidos e da OTAN no Afeganistão e no Iraque foram um fracasso, fazendo impossível a instalação de governos com a estabilidade suficiente para controlar os seus povos e submetê-los às diretrizes políticas estrangeiras; como as relações com o Paquistão estão cada vez mais tensas e como a influência das potências chinesa e russa articulam um cenário complexo para o "ocidente", onde cada vez mais, os processos de decisão são assumidos com certa margem de autonomia internacional.
 
Além do tema do petróleo, tema de controvérsias por excelência, o que está em jogo hoje é a hegemonia total de uma cultura, de alguns modelos políticos específicos, de um modo de fazer economia dos Estados que, pelo menos durante o século 20, se aproveitaram da posição de poder absoluto.
 
Definitivamente, os argumentos usados pelos Estados com poder para atacar o Irã são absurdos. Se a preocupação pelas ameaças contra a paz e a segurança internacionais fosse certa, o primeiro questionado seria Israel, país que nos últimos 50 anos invadiu o Líbano (1978, 1982 e 2006); bombardeou a Síria em 2007 e mantém a Palestina invadida desde 1967, com ofensivas militares que deixaram milhares de mortos em 1967, 1987, 2000, 2008 e 2009, além das vítimas permanentes da ocupação, entre outros assuntos militares.
 
Dessa forma, é possível que algum país ou organização internacional tenha a ousadia de dar um ultimato ao "bullying" de Israel? É possível ver o Conselho de Segurança exigindo aos Estados Unidos, Rússia ou Israel um desarmamento imediato para garantir a paz mundial?
 
E se mesmo sob este argumento maluco (que parte da premissa de que somos, o resto do mundo, totalmente idiotas), é realizado um ataque que dificilmente possa cumprir o seu objetivo, a que tentativa de síntese poderíamos chegar? Hegemonia.
 
E hegemonia para quê?
 
 

NORTE-AMERICANOS ACIMA DE QUALQUER SUSPEITA

 


Wikileaks revela: EUA pressionam e ameaçam para nunca ter ações de seus cidadãos julgadas internacionalmente
 
Vinicius Gomes – Outras Palavras, em Blog da Redação
 
Quando, em 2002, a Corte Internacional de Justiça foi estabelecida em Haia, na Holanda, seu norte foi: julgar indivíduos acusados de crimes de guerra, crimes contra a humanidade e genocídio. O mais polêmico país da considerável lista dos que se recusaram a ratificar o Estatuto de Roma – colocando-se, assim, fora da jurisdição da Corte – são os Estados Unidos.
 
No auge de sua invasão ilegal ao Iraque, os EUA não apenas se negaram a integrar a Corte como também realizaram agressiva campanha de pressão sobre diversos países para que assinassem o chamado Artigo 98, mais conhecido como “Acordo Bilateral de Imunidade”. Os países que assinam tal acordo com os EUA se comprometem a jamais entregar, sem o consentimento de Washington, qualquer cidadão norte-americano para julgamento da Corte Internacional.
 
Centenas de documentos diplomáticos que vieram a conhecimento público, graças ao Wikileaks, mostram como a administração Bush usou de sanções, promessas e ameaças a países mais fracos para coagi-los a assinar esses acordos – e assim reforçar a política de nunca sujeitar suas ações às leis internacionais. A política de Washington era bem clara: como diz o documento do Wikileaks, “eles ajudariam aqueles que assinassem o acordo e cortariam ajuda àqueles que se recusassem”.
 
Os exemplos de promessas e coerções são vários. Ao primeiro-ministro do Sri Lankae ao governo das pequenas ilhas das Maldivas, ambos no oceano Índico, foi prometida uma “considerável atenção positiva entre os tomadores de decisão em Washington”. Ao país africano de Lesoto – um dos mais afetados do mundo pela AIDS – foi dito que “devido a seu status de não-signatário do acordo do Artigo 98, a ajuda dos EUA estava sendo negada”. Países europeus como Romêniae Croácia também se encontraram em situação difícil, por estarem entre as pressões dos EUA e a necessidade de integrar a política externa da União Europeia (que havia ratificado o Estatuto de Roma).
 
Devido às controvérsias sobre esses acordos bilaterais, alguns países tiveram de fazê-lo em segredo e, pior, ilegalmente. Foram os casos do Paraguaie do Bahrein. Os dois países se viram sob uma pressão norte-americana muito maior, uma vez que a concordância para assinar o Artigo 98 deveria ser submetida a seus parlamentos.
 
Esses casos, e dezenas de outros, ocorreram entre 2002 a 2009, mas a prática de pressão e ameaças ainda não terminou. Cerca de um mês atrás, o secretário de estado John Kerry viajou ao Afeganistão para formalizar as negociações a respeito da permanência de tropas norte-americanas no país, desde que todo norte-americano em solo afegão estivesse sob jurisdição das leis dos EUA. O presidente afegão discordou e as negociações ainda estão em andamento.
 
A prática de proteger seus militares e ter controle sob a jurisdição a que estão submetidos é exercida até mesmo dentro dos EUA. Nenhum militar acusado de qualquer crime enfrenta um tribunal comum, e sim a Corte Marcial. Nas guerras contra o Iraque e o Afeganistão o controle foi além, uma vez que muitos soldados, contratados por empresas privadas de segurança, tinham seus crimes jogados num limbo jurídico: não podiam ser julgados pela Corte Marcial dos EUA (não eram soldados) e também não podiam ser julgados pela Corte Internacional (pois eram norte-americanos).
 
O terreno fica ainda mais pantanoso quando o assunto são os drones. O relatório da Anistia Internacional “Serei eu o próximo? Ataques de drones norte-americanos no Paquistão”contabilizou, desde 2004, quase 4.700 pessoas, incluindo civis, que morreram com os ataques de drones nas regiões tribais do Paquistão.
 
A pergunta óbvia parece ser: como conter o desrespeito às leis internacionais e aos direitos humanos por parte dos governos dos EUA, quando seus cidadãos e soldados são blindados juridicamente? A quem acusar pelos assassinatos, quando bombas são jogadas por aviões não-tripulados?
 
Na imagem: “War bonds”, poster de N.C. Wyeth, 1942
 
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UE: OS POPULISTAS NÃO SÃO O VERDADEIRO PROBLEMA

 


La Repubblica, Roma – Presseurop – imagem Cost
 
Rotular de populistas e reacionários todos os movimentos de protesto que vão surgindo só serve para contornar as raízes do problema. A União Europeia, tal como se apresenta hoje, não está ameaçada pela ira dos seus cidadãos, mas pela relutância dos governos em delegar-lhes a soberania.
 
 
Concordo com a criação de uma Europa federal e a salvação da moeda única. Caso contrário, teremos, em vez da União, muitos pequenos Estados sem grandeza mas não sem ignomínia, sem amigos mas mais do que nunca vassalos do poder norte-americano. Regressaremos à estaca zero: derrotados pelo nosso nacionalismo, como nas guerras mundiais do século XX.
 
Por que está a crescer na Europa uma humanidade tão infeliz, tão revoltada, que alimenta a extrema-direita e partidos eurocéticos? Chamar-lhe populista ou reacionária é ficar-se pelo “porquê”, fugindo à razão de ser desse grito. A resposta será inútil, se os protestos e propostas, tão diferentes entre si, forem tratados como uma massa compacta que obstrói qualquer tipo de progresso.
 
Estigmatizar o problema com desprezo e rejeição é ignorar que a Europa de hoje destila venenos crónicos. Não basta, como fazem os governos atuais, invocar o seu nome para que ela exista. Isso serve para esconder o que é, contudo, óbvio: nacionalismo e conservadorismo são vícios que afligem as próprias instâncias dirigentes e as elites dos Estados da União Europeia.
 
Também aqui, temos de ousar ir além das palavras. Se excluirmos a França, a palavra “federação” deixou de ser tabu. Evocada pela direita e pela esquerda, não é, no entanto, seguida por ações práticas, como a partilha das dívidas públicas, o crescimento impulsionado por euro-obrigações e recursos financeiros europeus de maior magnitude do que os atuais. Ou mesmo um Parlamento Europeu com novos poderes e uma Constituição comum, que seja expressão do sentir dos seus cidadãos. Em suma, uma Europa que seja para eles um refúgio em tempos de angústia e não o bastião que protege uma endogâmica oligarquia de poderosos que se protegem uns aos outros.
 
Povos soberanos
 
A Europa, tal como existe hoje, não está ameaçada pela ira (à direita ou à esquerda) dos seus cidadãos. Está ameaçada por governos relutantes em delegar a soberania nacional, não apenas fingida, mas usurpada, visto que em democracia, o soberano é o povo. A crise de 2007-2008 atormenta-a desmesuradamente devido a essas distorções. Uma austeridade que aprofunda a pobreza e a desigualdade, um Pacto de Estabilidade que nenhum Parlamento pode discutir: é esta a Europa que se quer livrar do populismo. É a miséria grega. É a corrupção de governos, que se alimenta das desigualdades e de falsa estabilidade.
 
O caso da esquerda radical na Grécia é exemplar. O Syriza, uma coligação de movimentos de cidadãos e grupos de esquerda, foi apodado de populista e antieuropeu, nas duas eleições de maio e junho de 2012. Os governos europeus mobilizaram-se para descrever o Syriza como o monstro a abater. Berlim ameaçou fechar as torneiras da ajuda. Mas nem o Syriza nem Alexis Tsipras, que o dirige, são antieuropeus. Exigem é uma Europa diferente e é isso que apavora os poderes instalados.
 
Em 20 de setembro, quando apresentou o seu programa no Kreisky Forum, em Viena, Tsipras surpreendeu aqueles que o tinham enxovalhado. Disse que a arquitetura do euro e os planos de resgate esmagaram a União, em vez de lhe curarem as feridas. Recordou a crise de 1929 e o dogma neoliberal com que foi tratada. Tal como hoje. “Os governos negaram a arquitetura aberrante dos seus projetos, insistindo na austeridade e na mera revitalização das exportações”.
 
Crise europeia e corrupção
 
O resultado foi a miséria “e a ascensão do fascismo no Sul da Europa e do nazismo na Europa Central e Setentrional”. É por isso que a União tem que ser refeita a partir do zero. Retomando propostas dos sindicatos alemães, o Syriza propõe um Plano Marshall para a Europa, uma união bancária real, a dívida pública gerida centralmente pelo Banco Central Europeu e um enorme programa de investimento público lançado pela União Europeia.
 
Mas Alexis Tsipras disse mais: há uma ligação que tem de ser denunciada, entre a crise europeia e as democracias corruptas de Atenas e de muitos países do Sul. “A nossa cleptocracia forjou uma forte aliança com as elites europeias”, e esse casamento alimenta-se de mentiras sobre as culpas de gregos ou italianos, sobre os salários demasiado altos e um Estado demasiado generoso. Essas mentiras “são usadas para transferir a culpa dos ombros dos cleptocratas nacionais para os das pessoas que trabalham duramente”.
 
É uma aliança que não tem qualquer oposição desde que a esquerda tradicional adotou, na década de 1990, os dogmas neoliberais. Grande parte da população ficou, pois, sem representantes. Perdida, abandonada, castigada por manobras que parecem exercícios recessivos. É essa parte – a maioria, se contarmos com os abstencionistas – que protesta contra a Europa.
 
Elites consanguíneas
 
Às vezes, sonha com um retorno irreal às moedas e às soberanias nacionais; outras, reclama uma Europa diferente, que não esqueça o clamor dos pobres, como foi possível no período do pós-guerra e no final dos anos de 1970. Assim fala Tsipras. E Grillo, em Itália, diz coisas semelhantes, ainda que de forma mais caótica.
 
Se nada acontecer, a Europa deixará de ser um abrigo e passará a ser um lugar em que as pessoas ficam expostas, sem protecção. Administrada por elites consanguíneas, assemelha-se cada vez mais ao “Escritório das cartas mortas” de Bartleby, o solitário escriturário do conto de Herman Melville [Bartleby, the Scrivener: A Story of Wall Street]. À força de compilar e deitar fora muitos milhares de cartas nunca enviadas aos seus destinatários, Bartleby acaba por amadurecer a sua recusa plácida, que fará com que responda a qualquer ordem ou pedido, com uma tranquilidade cadavérica: “Prefiro não fazer”.
 
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Portugal: PR – GOVERNO. CANGALHEIROS, COVEIROS, PS

 

Balneário Público
 
“Orçamento: Cavaco quer que Governo ouça o PS”. É título no Expresso. Diz ainda: “O Presidente da República quer que a maioria governamental ouça as propostas e contributos do PS para melhorar o documento do Orçamento de Estado para o próximo ano.” Que simpático, este PR vocacionado para cangalheiro de Portugal e se possível também cangalheiro do Partido Socialista (PS). Cangalheiro de tudo e de todos que não sejam unanimistas da forma do seu pensamento e desempenho. “Eu é que sei. Deixem-me trabalhar”, é uma das divisas de Cavaco. Recordemos que Cavaco tem estado sempre a tentar comprometer o PS nas políticas deste governo que patrocina e de que é cúmplice empenhadissimo, ou até seu mentor. Quando da crise de demissão de Gaspar e de Portas o PR Cavaco fez das tripas coração para enredar o PS com o governo. E Seguro esteve quase a ceder – parcial ou totalmente – mas vultos socialistas ergueram-se contra a aliança-armadilha montada por Cavaco. Agora, com mais manha, Cavaco volta à carga. Veremos no que resulta. É prevísivel que o PS continue a não se deixar enredar neste orçamento e nestas políticas fúnebres da democracia, da justiça, das liberdades e direitos constitucionais. Cavaco e o seu governo querem o aval do PS para a continuidade e agravamento das suas políticas – assentes na exploração desenfreada, na manutenção do nepotismo e da corrupção, no atropelo da democracia e da Constituição. O que fará o PS? Fará a vontade a Cavaco e ao governo, a dupla de cangalheiros e coveiros de Portugal?
 
Ana Castelar
 
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Portugal - UE: DURÃO, O ALDRABÃO

 

We Have Kaos in the Garden
 
Durão Barroso garantiu que "A Comissão Europeia reconhece ao Tribunal Constitucional português como ao tribunal constitucional de qualquer país, o direito – mais, o dever – de verificar se as normas adoptadas [pelos parlamentos] são ou não compatíveis com a respectiva Constituição".
 
"O que a Comissão Europeia tem o dever de fazer é, isso, sim, salientar aquelas que podem ser as implicações de determinadas decisões", sublinhou. O que significa que se o TC considerar inconstitucionais "as principais medidas [do Orçamento do Estado] que a Assembleia da República aprovou ou vai aprovar, então isso poderá sem dúvida colocar em causa o regresso de Portugal aos mercados na data prevista. Isto é para nós uma evidência", vincou. Se isso acontecer, disse ainda o presidente da Comissão, "Portugal terá de substituir essas medidas por outras medidas (...) provavelmente mais gravosas e medidas que provavelmente terão um efeito mais negativo em termos de crescimento e emprego. Essa é a análise unânime feita pela Comissão Europeia, pelo Banco Central Europeu, pelo Fundo Monetário Internacional e pelos países da zona euro", justificou. Bruxelas tem um "respeito absoluto pelas decisões do TC" mas "ao mesmo tempo, temos de dizer que as decisões têm consequências", insistiu.
 
Então esta besta diz que nunca pressionou nem pressionará o Tribunal Constitucional mas depois passa o resto da conferência de imprensa a fazer isso mesmo. Se chumbam as medidas não cumprem o memorando e não há mais dinheiro, prejudicam a economia e o emprego, blá, bla blá. Esta gente tem mesmo cara de pau e são tão merdosos que nem o seu país respeita. Gananciosos que pensam que estão a falar com mentecaptos. Da próxima vez que pusesse o pé em Portugal deveria ser imediatamente detido e julgado por traição ao seu país, aos direitos dos cidadãos e por gatuno, corrupto e aldrabão. Bandalho.
 
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Portugal: UNS MADUROS

 


Pedro Marques Lopes – Diário de Notícias, opinião
 
1. Durão Barroso, que pôs Portugal nas bocas do mundo quando ensinou George Bush a dizer correctamente José, decidiu não pressionar o Tribunal Constitucional português. E não o pressionou dizendo que se o Tribunal chumbasse algumas normas do Orçamento as consequências para Portugal seriam medidas ainda piores, mais gravosas.
 
Como Durão Barroso é presidente de uma instituição que faz parte dos credores de Portugal, está-se mesmo a ver que não está a pressionar coisa nenhuma. É assim como dizer "se não fizeres como te disseram, dou-te uma marretada na cabeça". Como está bom de ver, isto não é uma ameaça, é uma sugestão.
 
Ao lado do presidente da Comissão Europeia estava o primeiro-ministro de Portugal. Como é evidente, Passos Coelho teve bem a noção de que Durão Barroso não pressionou o Tribunal Constitucional. Se assim não fosse, o primeiro-ministro teria imediatamente posto na ordem o presidente da Comissão. Guardião da independência nacional e defensor da democracia liberal, jamais admitiria que um representante de uma organização internacional ameaçasse uma instituição fundamental da nossa democracia. O primeiro-ministro não pactuaria com ataques às instituições do seu país. Mesmo pensando que as medidas que serão avaliadas são óptimas e que o Tribunal estaria a prestar um péssimo serviço ao País se as chumbasse.
 
É que se assim não fosse, poderíamos pensar que Durão Barroso e Passos Coelho estavam a levar a cabo uma inconcebível farsa. Estaria o guloso a pedir para o desejoso. Que havendo um alinhamento completo de vontades entre os dois, o presidente da Comissão estaria a ameaçar o Tribunal para reforçar os já habituais ataques do Governo e do primeiro-ministro. Passos diria mata, Durão Barroso esfola, o povo português, bem entendido. Ou seja, Passos Coelho não se importaria - e até combinaria - com o presidente de uma organização estrangeira um ataque a uma fundamental instituição portuguesa. Não, não poderia ser. Seria demasiado infame. Seria um acto tão impensável que se assim fosse podíamos duvidar do patriotismo do primeiro--ministro - e eu penso, francamente, que não é o caso.
 
Quanto ao outro senhor, o Durão Barroso, enfim, é o que é, anda lá por fora a tratar da sua vida.
 
2.Como é do conhecimento geral, a culpa de termos tido governos incompetentes, de não conseguirmos reformar o Estado, de não sermos capazes de fazer reformas estruturais e até da crise, é da Constituição. Aliás, se o genial plano da troika, com os inestimáveis aumentos, revisões e melhorias do Governo, não correr bem existirão dois principais responsáveis: a Constituição e o Tribunal Constitucional.
 
O Tribunal Constitucional, como também é sabido, é composto por um bando de malandros que teimam em não interpretar a Constituição como deve ser. Os juízes agarram-se a princípios reaccionários como o da igualdade, da segurança jurídica ou da confiança, em vez de interpretar o texto à luz das circunstâncias actuais. Talvez até seja necessário, no caso de voltar a acontecer uma crise destas, retirar do texto constitucional aqueles detalhes impeditivos do crescimento económico e da necessária austeridade.
 
Muito se devem divertir os que não querem a Constituição mudada, com tanto cretino a dar todas as desculpas para que ela de facto não mude.
 
3. Maduro, o venezuelano, decretou a antecipação do Natal para Novembro. Há umas semanas tinha instituído a Secretaria de Estado da Felicidade Suprema. Maduro, o português, disse que o pior para Portugal já tinha passado e que agora é que ia ser. Um secretário de Estado do seu gabinete, Pedro Lomba, afirmou, e não foi num dos seus célebres briefings, que a redução de horário de trabalho na função pública é uma medida "amiga da família". Como também, claro está, será a loucura de dinheiro, cada vez maior, que os funcionários trazem para casa. A família deve estar agradecidíssima: não há dinheiro mas há mais amor.
 
A cada país o seu maduro.
 

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