António Perez Metelo
– Dinheiro Vivo, opinião
Desde que a
economia de casino da grande banca nos EUA ( e seus parceiros na UE) lançou o
mundo na maior e mais funda recessão dos últimos 80 anos, abriram-se duas vias
de resposta à crise económica e financeira dos dois lados do Atlântico. Os EUA,
com o prestígio soberano da sua divisa à escala global, empreenderam um forte
programa de estímulo monetário que, passados cinco anos, dá frutos já
sensíveis: o emprego sobe, o desemprego desce (está, agora, nos 6,7%) e o PIB
cresce a um ritmo anualizado, no 3.º trimestre de 2013, de 4,4%. Até a reforma
da saúde da Administração Obama acaba de vencer a obstrução sistemática da
direita republicana, através do acordo orçamental agora conseguido no
Congresso. A via keynesiana de centro-esquerda ficará na História como tendo
constituído a resposta dos EUA à Grande Recessão 2008/2011.
Por oposição, na
UE, sem Tesouro unificado, sem financiamento monetário direto à economia, com a
crescente oposição política dos seus membros superavitários para canalizar
verbas de apoio aos sobreendividados, a via foi a da queda forçada da despesa
global, sobretudo através de cortes profundos nas despesas públicas. A
austeridade fez descer os custos de trabalho por unidade produzida, precarizou
ainda mais as relações laborais, cortou politicas sociais de redestribuição de
rendimentos, aumentou a carga fiscal e parafiscal.
Agora, a economia
nos países sobreendividados começa a sair do espartilho do crédito escasso e
caro, esperando-se um tímido crescimento económico na UE, em 2014. Mas o
desemprego mantém-se acima dos 12% na zona euro - e, nos países mais atingidos
pela crise, este desgraça estende-se a impensáveis 15% a 25% dos seus ativos.
Como não há mal que
sempre dure, abriu a temporada das congratulações à via empreendida na UE: na
entrega do Prémio Carlos V a Durão Barroso repetiram-se os discurso de
autosatisfação. Mas não nos enganemos: desta crise emerge uma Comissão Europeia
menorizada pelo Diretório de facto da Alemanha com seus aliados próximos, e uma
Europa mais desigual, com o tecido social desgarrado, refém de posições
politicas eurocéticas em crescimento. Ou seja, aos olhos dos cidadãos, menos
Europa e pior Europa.
Redator principal -
Escreve à sexta-feira