sábado, 3 de novembro de 2018

Moçambique quer fim de impunidade por crimes contra jornalistas

Fernando Gonçalves, presidente do Misa-Moçambique
A data foi criada pela ONU em dezembro de 2013, após o assassinato de dois jornalistas franceses no Mali a 2 de novembro de 2013. A primeira celebração deste dia internacional em defesa dos jornalistas ocorreu em 2014.

O dia internacional pelo Fim da Impunidade pelos Crimes contra Jornalistas foi instituído pelas Nações Unidas, como forma de prestar homenagem aos profissionais da área em todo o mundo que perderam a vida ou foram vítimas de atentados no exercício do seu trabalho.

O MISA-Moçambique, uma organização de defesa da liberdade de imprensa, faz uma avaliação negativa da situação no país.

Fernando Gonçalves é o Presidente do MISA-Moçambique e diz que a "situação em Moçambique não está muito boa. Nós já acompanhamos situações de jornalistas que foram alvo de ataques, raptos e mesmo de ameaças contra a sua integridade física".

Fernando Gonçalves recordou que ainda muito recentemente registaram-se casos de ameaças de jornalistas durante as eleições autárquicas.

Por seu turno, , investigador e jornalista afirmou a DW África que "eu faço uma avaliação muito pessimista em relação a esta questão. Em Moçambique em termos históricos nunca houve sinais claros de combater este tipo de crime".

Mabunda considera uma exceção o desfecho do caso Carlos Cardoso sublinhando que resultou de pressão internacional muito forte e do próprio envolvimento do Estado na identificação e punição dos autores do crime.

Falta vontade política

Segundo Lázaro Mabunda o grande problema é a falta de vontade política do poder executivo, do poder judicial que deixa impune os infratores e até mesmo do poder legislativo, que só se posiciona quando se registam crimes hediondos.

"No ano passado por exemplo observamos quase duas  dezenas de crimes relacionados com a imprensa (protagonizados por políticos, dirigentes a nível dos distritos, ao nível das províncias e também da policia) mas em nenhum desses crimes reportados houve responsabilização dos autores".

"Este ano já foram denunciados vários casos mas uma vez mais nenhum deles foi responsabilizado mesmo pela procuradoria", acrescentou Lázaro Mabunda para quem este facto não se deve a ausência de legislação para punir este tipo de crimes.

Já Fernando Gonçalves considera que os crimes cometidos contra jornalistas não resultam da ausência de um quadro jurídico nem da sua não aplicação mas da iniciativa de alguns indivíduos criminosos que agem contra jornalistas quer intimidando ou agredindo quer detendo ilegalmente.

Balanço da ONU preocupante

Segundo as Nações Unidas, nos últimos 10 anos morreram 700 jornalistas apenas por fazerem o seu trabalho e 90% dos casos de violência contra os jornalistas não são devidamente punidos.

Nesta data a ONU denuncia casos de violação dos direitos humanos dos profissionais dos meios de comunicação social espalhados pelo mundo e apela aos governos e às organizações para tomarem medidas que impeçam e castiguem essas violações.

Também o Presidente do MISA-Moçambique deixa um apelo:

"Aproveitamos esta ocasião para instar o governo Moçambique para tomar medidas de modo a garantir que os jornalistas façam o seu trabalho num ambiente de liberdade, num ambiente de segurança, para além também de que o Governo deve tomar as medidas necessárias para punir exemplarmente aqueles que proferem ameaças contra jornalistas".

UE insta Governos a protegerem jornalistas

 A Alta Representante da União Europeia (UE) para a Política Externa, Federica Mogherini, lamentou a insegurança em que vivem os jornalistas em todo o mundo e pediu aos Governos que garantam a segurança dos profissionais de informação.

Numa declaração, por ocasião do Dia internacional pelo Fim da Impunidade dos Crimes contra Jornalistas, a chefe da diplomacia europeia lembrou que "a democracia não pode sobreviver sem meios de comunicação livres, plurais e independentes", lamentando, contudo, que "muitos destes" sejam alvo de ameaças e atentados "simplesmente por fazerem o seu trabalho", enquanto os seus autores ficam impunes.

Mogherini mencionou o caso recente do assassinato do jornalista saudita Jamal Khashoggi, e ainda a morte dos jornalistas de investigação Daphne Caruana Galizia (Malta) e Jan Kuciak (Eslováquia) na União Europeia, três exemplos que, na sua opinião, demonstram que "nenhuma região do mundo está a salvo" dos atentados à liberdade de imprensa.

Tendência de limitar o jornalismo livre

A também vice-presidente da Comissão Europeia constatou ainda que em muitos países existe "uma tendência preocupante de restringir e limitar o jornalismo livre", com as autoridades a porem em causa indiscriminadamente a credibilidade dos meios de comunicação "para desacreditar e debilitar o seu trabalho". 

Federica Mogherini instou os Governos a garantirem, através de "um sistema jurídico sólido", um ambiente no qual os jornalistas possam trabalhar em segurança e protegidos, tanto na internet, como fora dela, sem serem vítimas de assédio, pressões políticas, censura ou perseguição.

"O jornalismo livre é a pedra angular das sociedades livres: limitá-lo é limitar a nossa própria liberdade", concluiu.

Leonel Matias (Maputo), Agência Lusa | em Deutsche Welle

Garimpo ilegal em Angola é problema de "segurança nacional", diz Manuel Domingos Augusto


Em visita a Maputo, ministro angolano das Relações Exteriores garante que Operação Transparêcia não foca combate à imigração, mas "atacar os fundamentos do garimpo". 

Cooperação bilateral: Moçambique quer exportar açúcar

Em visita de trabalho de três dias a Moçambique, iniciada esta sexta-feira (02.11), o ministro das Relações Exteriores de Angola, Manuel Domingos Augusto, disse que a Operação Transparência não é dirigida a congoleses, sublinhando que o objetivo do Governo é travar a exploração indevida de diamantes.

"O Governo angolano tem consciência do que está a fazer. Esta operação visa atacar os fundamentos do garimpo. Não estamos contra nenhuma nacionalidade, nem contra a imigração ilegal", declarou Manuel Domingos Augusto, falando à imprensa em Maputo, no final de um encontro com o seu homólogo moçambicano, José Pacheco, esta sexta-feira.

Em causa está uma operação iniciada pelas autoridades angolanas em 25 de setembro e que decorre em sete das 18 províncias do país - Lunda Norte, Lunda Sul, Moxico, Bié, Malanje, Cuando Cubango e Uíje - e que visa combater a exploração indevida de diamantes.

De acordo com Manuel Domingos Augusto, a exploração indevida de diamantes na região está a ser protagonizada por redes de crime organizado, que estão a transformar àquela zona num Estado autónomo.

"Temos regiões onde a população é toda constituída por imigrantes e foi montada uma estrutura, com chefia e guarda armada. É um problema sério de segurança nacional", observou o governante angolano, acrescentando que o problema mais grave é a destruição ambiental provocada pela ação dos garimpeiros ilegais.

Criticas não afetam decisão do Governo

"As organizações não-governamentais, que estão sempre à espera de desgraças em África para poder ganhar dinheiro, começam a criar a imagem de que há uma crise humanitária. Já se começa a dizer que são necessários milhões para atender crianças que estão a ser deportadas massivamente. Mas, o Governo angolano sabe o que está a fazer", frisou Manuel Domingos Augusto.

Dados avançados pelo ministro das Relações Exteriores de Angola indicam que desde o início da operação 400 mil imigrantes ilegais congoleses foram repatriados.

"A operação policial vai continuar até que tiremos o último garimpeiro ilegal", concluiu o governante.

Na passada quinta-feira (01.11), o Conselho Norueguês para os Refugiados (CNR) alertou para os "graves problemas" que se vivem na província do Kasai, no sul da República Democrática do Congo (RDC), depois da "expulsão" de cerca de 360.000 cidadãos congoleses de Angola - o que tem agravado a crise humanitária na região.

Num comunicado enviado à agência Lusa, o CNR refere que o fluxo de cidadãos da RDC, além de estar a agravar a "já problemática crise humanitária" na região, pode "alimentar novos conflitos".

Em outubro, o CNR estima que tenham sido expulsos de Angola (o Governo angolano fala de "regresso voluntário" por se encontrarem em situação ilegal) 360.000 congoleses, situação que está enquadrada, segundo Luanda, na "Operação Transparência".

A maior parte dos congoleses agora "expulsos" de Angola são uma mistura de imigrantes de longa duração que trabalham no garimpo e de refugiados que deixaram a RDC durante o conflito regional que assolou o Kasai entre meados de 2016 e 2017.

Na passada terça-feira (30.10), a Liga Guineense dos Direiros Humanos denunciou que cidadãos guineenses que terão sido espancados e detidos ilegalmente pela Polícia angolana no âmbito da Operação Transparência.

A Secretária de Estado e das Comunidades informou, em comunicado na quarta-feira (31.10), que pretende enviar à Luanda uma delegação de alto nível composta por uma equipa de emissão de passaportes para constatar a situação.

Segundo os dados oficiais de Luanda, a operação registou a apreensão de mais de um milhão de dólares, 17.000 quilates de diamantes e 51 armas de fogo, aluem do encerramento de centenas de casas de compra e venda de diamantes e de 91 cooperativas.

A operação deve ser estendida a mais quatro províncias - Luanda, Bengo Cuanza Norte e Zaire.


Relações bilaterais com Moçambique

Os Governos de Moçambique e de Angola querem dinamizar as relações comerciais, anunciaram esta sexta-feira (02.11) os ministros que dirigem as diplomacias dos dois países após uma reunião técnica na capital moçambicana.

"Queremos que as trocas comerciais entre os dois países comecem a fluir de forma mais acelerada", declarou o ministro dos Negócios Estrangeiros e Cooperação de Moçambique, José Pacheco.

O chefe da diplomacia moçambicana falava momentos após um encontro, na noite desta sexta-feira (02.11), em Maputo, com o seu homólogo angolano, Manuel Domingos Augusto.

Pacheco disse que a exportação de açúcar moçambicano para Angola está entre as principais prioridades nas discussões entre grupos técnicos dos dois países, apesar de não avançar detalhes sobre o modelo que será adotado. 

"Nós temos um excedente de açúcar em Moçambique. Vamos estudar questões relacionadas com preço e logística para que, a ser viável, comecemos a cooperação neste ponto", observou Pacheco. 

Além do comércio, acrescentou o governante moçambicano, Moçambique quer a experiência de Angola no que diz respeito à indústria extrativa.

"Angola tem uma experiência na área de hidrocarbonetos e nós estamos a estudar formas para colher um pouco mais desta experiência, tendo em conta que a indústria extrativa em Moçambique tem conhecido um desenvolvimento rápido", acrescentou José Pacheco.

Por sua vez, o ministro das Relações Exteriores de Angola destacou as relações históricas existentes entre os dois países, considerando que há vários pontos em que podem cooperar.

"Tivemos conversações produtivas e muito importantes para o futuro próximo desta cooperação bilateral. É do nosso desejo estreitar as relações com a república irmã de Moçambique", declarou Manuel Domingos Augusto, acrescentando que é imperioso que as partes passem "do discurso político para a ação".

Além de estreitar relações de cooperação, a visita de três dias de Manuel Domingos Augusto vai servir para preparar uma visita de Estado do Presidente angolano, João Lourenço, a Moçambique, numa data ainda por anunciar. 

Agência Lusa, cvt | Deutsche Welle

Angola | "Operação Resgate" gera onda de contestação nas redes sociais


Cidadãos, entre figuras públicas e anónimos, reprovam a medida que visa combater a venda desordenada na cidades angolanas. Feminista, ativistas e juristas mostram-se indignados. Marcha em protesto prevista para dezembro.

"Operação Resgate" pretende acabar com a venda ambulante de bens e serviços nas cidades angolanas, foi anunciada pelo Governo angolano no passado dia 24 de outubro.


“Triste! Será que estamos a combater o povo?”, pergunta o internauta.

Já Mandume de Carvalho usou o Twitter para criticar a "Operação Resgate" e exigir organização a parte do Governo angolano:

Por seu torno, Nelson Domingos escreve na sua conta no Facebook onde acredita que deveria começar o combate à venda desordenada nas cidades: 

"O 'resgate' do Estado deve ser feito contra aqueles que se enriqueceram ilicitamente com o dinheiro público ou contra o povo empobrecido que apenas procura sobreviver?" critica.

Figuras conhecidas também contestam

Não são apenas os chamados cidadãos anónimos que se manifestaram contra a medida nas redes sociais. José Patrocínio, coordenador da ONG OMUNGA, com sede na província angolana de Benguela, também fez a sua crítica.

"Vamos iniciar o "resgate" nas instituições públicas, como a polícia", critica no Facebook.

Numa outra publicação na mesma rede social, escreve em defesa das comerciantes ambulantes, conhecidas como zungueiras:

"Se as zungueiras esão desorganizadas, é porque o Estado está desorganizado," afirma.

Eva Rap Diva, uma das rappers femininas mais respeitadas em Angola, também não ficou indiferente. Sua publicação no Facebook repercutiu, tendo sido compartilhada mais de uma centena de vezes.

"Querem acabar com a venda ambulante, querem acabar com as zungueiras e zungueiros na rua, querem acabar com o mercado informal. Ok! Mas criem políticas sérias, arranjem alternativas e soluções, porque a zunga não foi criada ao acaso por pessoas que decidiram ir vender em locais impróprios com o objetivo de infringir a lei", escreve.

José Gomes Hata, conhecido ativista do caso "15+2", mostrou-se também incrédulo com o que Governo chama de "resgate da autoridade do Estado":

"Sinceramente, nunca me passou pela cabeça que o Estado angolano assumisse publicamente que perdeu autoridade, mas ainda assim continua a governar," critica também no Facebook.

"Operação resgate: problema ou solução?"

Segundo Orlando Bernardo, diretor do Gabinete de Comunicação Institucional e Imprensa do Comando Geral da Polícia, a "Operação Resgate", visa combater, entre outros, a venda "desordenada", fora dos mercados, de bens e serviços nas cidades angolanas, que "atrapalha, e de que maneira, a circulação automóvel ao nível das cidades”. Vai também fiscalizar a venda de telemóveis, cartões de recargas telefónicas, venda de acessórios de viaturas e o garimpo da água em locais impróprios.

Na sua conta do Facebook, o jovem jurista Serrote Simão, se propõe a responder à pergunta: "Resgate é um problema ou uma solução?":

"O Estado deveria facilitar a regulamentação das zungueiras assim como aqueles estrangeiros que exercem actividades económicas no nosso país de forma ilegal de modo a aumentar as receitas do Estado por via de impostos e das taxas", defende ao final de um longo texto.

Para responder também a essa questão, a DW África ouviu o jornalista e analista Alexandre Neto Solombe.

"Olha, o que está acontecer é que 'a corda da diversão' já não dá mais espaço de manobra, para quem quis passar a imagem daquilo que não é realmente: democracia," explica Solombe.

Solombe acrescenta: "Aos poucos, o circo do Presidente fecha-se e ele vai estando menos disponível, optando por ditar as regras a partir da Sodoma dele".

"Já imaginou o estado de tensão que está a gerar o anúncio de tal operação e os perigos que daí decorrem?" questiona o também economista.

Alexandre Neto Solombe desconfia que "vão revistar, vão invadir quintais. Sabe, estas ações fazem-me recordar as ações populares de assalto que eram realizadas no âmbito do poder popular".

Mas em declarações à imprensa, a Polícia angolana garantiu que não haverá excessos na "Operação Resgate".

Marcha contra o desemprego à vista

O anuncio da "Operação Resgate" já provocou o encerramento de cantinas e outros postos de trabalho, num mercado já precário devido à crise económica e financeira resultante da baixa do preço do petróleo no mercado internacional que assola o país desde 2015.

Segundo um estudo realizado em 2016 pelo Instituto Nacional de Estatística (INE), 20% da população em idade ativa está desempregada. Os jovens são os mais afetados - 46% não tem emprego.

Durante a campanha eleitoral, em 2017, O MPLA, partido no poder, através do seu candidato, João Lourenço, atual Presidente da República, prometeu a criação de cerca de 500 mil postos de trabalho. A não concretização da metade da promessa, até, pelo menos, julho de 2018, levou um grupo de jovens a realizar uma marcha nacional. Na altura, centenas de jovens gritaram nas ruas de Luanda: "O Desemprego não é escolha, é má Governação".

O mesmo grupo convocou para 8 de dezembro próximo, uma marcha nacional contra o desemprego. A DW África conversou com o ativista Arante Kivuvu, um dos organizadores da manifestação:

"O objetivo é pressionar o Governo com vista à criação de políticas urgentes para que a juventude possa ter emprego, escasseado pela crise económica. Não vemos vontade política por parte do Governo para resolver o problema. A marcha será na metade do país. Já temos algumas províncias confirmadas como Benguela, Zaire, Malanje e Uige," garante. 

Manuel Luamba (Luanda) | Deutsche Welle

Guiné-Bissau vai averiguar caso de guineenses supostamente violentados pela Polícia em Angola


Autoridades guineenses tomaram medidas no caso dos guineenses que terão sido espancados e detidos ilegalmente pela Polícia angolana no âmbito da Operação Transparência. Mas em Angola escasseiam informações sobre o caso.

Circulam nas redes sociais imagens de supostos guineenses alegadamente violentados pela polícia angolana no âmbito da Operação Transparência, que tem por objetivo por termo ao garimpo ilegal de diamantes e a imigração ilegal.

E eles estariam ainda a ser perseguidos e a ser alvo de ameaças de deportação. Neste contexto, na terça-feira (30.10), a Liga Guineense dos Direiros Humanos denunciou a situação.

O presidente da Liga, Augusto Silva, conta à DW África o que ouviu das suas fontes: "Nós recebemos denuncias de três cidadãos guineenses que nos telefonaram, estavam num ambiente que não lhes permitia falar à vontade e não tinham muito tempo para nos facultar os elementos necessários"

E Silva especifica: "Mas recebemos chamadas de três guineenses em situações diferentes a relatar que estavam numa situação de detenção e espancamento e estavam a ser submetidos a situações degradantes. E não estavam em condições de divulgar o número de guineenses envolvidos."

Escasseia informação sobre o caso em Angola

A Liga Guineense dos Direiros Humanos diz que já pediu apoio de ONG angolanas ligadas aos direitos humanos. Mas a DW África apurou que escasseiam dados concretos sobre o caso dos guineenses em Angola.

Por exemplo, a OMUNGA, uma ONG que tem trabalhado de perto no caso do repatriamento compulsivo, não tem muita informação sobre os guineenses. José Patrocínio é o coordenador e diz: "Nós tomamos conhecimento através das redes sociais e não estamos em posição de confirmar isso. Estamos em posição de confirmar violência em relação a outros grupos de imigrantes, como congoleses, gambianos e senegaleses."

Nem mesmo a Coordenação Geral dos Refugiados em Angola tem conhecimento do caso. Musengele Kopel é o coordenador: "Neste momento não temos informações sobre tortura contra cidadãos guineenses perpetrada pela Polícia."

Bissau já se mexe para esclarecer

A Liga Guineense dos Direiros Humanos decidiu tornar público o caso para chamar a atenção das autoridades guineenses e a partir de mecanismos diplomáticos procurar apurar a real situação.

E as autoridades guineenses reagiram imediatamente, tendo a Secretária de Estado e das Comunidades informado em comunicado na quarta-feira (31.10) que pretende enviar à Luanda uma delegação de alto nível composta por uma equipa de emissão de passaportes para constatar a situação.

E Augusto Silva revela que mesmo em Bissau já estão a ser tomadas medidas, que "o Ministério dos Negócios Estrangeiros já entrou em contacto com a embaixada de Angola em Bissau."

Mas a Liga Guineense dos Direitos humanos condena a atuação da Polícia angolana, justificando que ela não pode prender ilegalmente cidadãos estrangeiros e muito menos espancá-los, embora reconheça que Angola tem o direito de defender o seu território e os seus recursos naturais. Não se sabe quantos guineenses residem em Angola e nem em que situação vivem.

Nádia Issufo | Deutsche Welle

Portugal | A falta que faz “um cheirinho de alecrim”


Voltamos pois a ficar descansados quanto aos destinos da nação que, se evitou o negro abismo para onde o governo PSD-CDS a estava a arrastar, ainda continua longe dos amanhãs que cantam.

Jorge Seabra | AbrilAbril | opinião

Manda urgentemente
Algum cheirinho de alecrim
«Tanto mar», Chico Buarque, 19751

Depois do susto das nacionalizações do PREC, brandindo o «papão» vermelho e a conversa fiada da «Europa dos cidadãos», a «elite nacional», que vivera à sombra do regime salazarista e do domínio das colónias, recuperou o fôlego após o 25 de Novembro, mostrando-se pronta ao patriótico desígnio de vender-se a interesses maiores, pondo em causa os principais instrumentos do desenvolvimento do país.

E enquanto ensaiava algumas fracassadas aventuras de internacionalização (de que a PT é bom exemplo), que apenas confirmaram a promiscuidade dos «donos disto tudo» com os governos do «arco do poder» (PS,PSD e CDS-PP), um coro de compenetrados analistas foi apregoando as vantagens da perda de soberania a que a modernidade da globalização obrigava, embrulhada no ilusionismo da «regulação» e do controlo das «golden share», acabando por vender tudo a pataco.

Entrevistado recentemente pelo Público (4 de Março de 2018), David Miller, autor do livro A Century of Spin: How Public Relations Became the Cutting Egde of Corporate Power (2008) e professor de Sociologia na Universidade de Bath, no Reino Unido, refere:

«A criação desta indústria (relações públicas, propaganda), foi uma resposta da classe dos negócios ao crescimento de uma classe trabalhadora organizada e às reivindicações associadas ao sufrágio, universal.»[...]

«Com o objectivo de transferir recursos, então sob alguma forma de controlo democrático, para o sector privado, argumentou-se que a propriedade pública era ineficiente. Este argumento foi criado por uma série de think tanks apologistas do mercado livre e financiados pelo poder económico».

Nada de verdadeiramente novo que não se soubesse já. Mas é sempre consolador ouvir insuspeitos académicos confirmarem os mecanismos que levaram à propagação da falácia da superioridade da gestão privada que, ainda hoje – após o ruir da banca e de grandes corporações privadas atoladas em especulação e gestão danosa – se ouve afirmar como verdade incontestável, nomeadamente quando se fala do Ensino, da Saúde ou da Segurança Social.

A negociata da ANA

Não deixa, contudo, de ser irónico que jornais e jornalistas que sempre teceram loas às privatizações e sustentaram os governos que as fizeram, assumam de vez em quando o papel de virgens ofendidas, denunciando a posteriori e quando lhes convém, negócios e negociatas:

«Vítor Gaspar é demasiado inteligente para não saber o que que estava a fazer: em 2012, concessionou dez aeroportos durante cinquenta anos à Vinci, recebendo um balúrdio à cabeça em troca de um monopólio privado com altíssimos lucros e taxas de rentabilidade.» – escreve Pedro Santos Guerreiro, actual director do Expresso, na edição de 5 de Outubro de 2018.

O jornalista, escusado será dizer, está longe de ser um radical de esquerda. E o Expresso e o seu dono, Francisco Balsemão, dificilmente podem situar-se como tendo alinhado nas «críticas que foram levantadas naquela altura», que o director do semanário também refere. Menos ainda de terem apoiado os partidos considerados irrealistas e demasiado à esquerda (PCP e BE) que se opuseram à escandalosa concessão.

E o director do Expresso acrescenta: «A operação da ANA Aeroportos foi vendida com um contrato que permite subir as taxas em aeroportos que têm hoje uma procura extraordinária. A mesma Vinci que pagou três mil milhões naquele ano teve, num só dos 50 anos da concessão, um lucro operacional de 500 milhões de euros. José Luís Arnaut, presidente da ANA, deve ter o retrato de “empregado da década” nas paredes da Vinci.»

Como parece ser hábito, não é também de estranhar a promiscuidade dos agentes do negócio feito em 2012 pelo governo de Passos Coelho, num tempo em que a subida da procura dos aeroportos já não era propriamente uma surpresa. Ponce de Leão, do gabinete de advogados que preparou a privatização, foi nomeado presidente da ANA (pública), passando depois a presidente da ANA (privada), já entregue à Vinci, e é agora presidente da NAV Portugal, que vai regular as condições para o novo aeroporto a negociar com a Vinci, dona da ANA, sua antiga empregadora.

Como resultado de toda essa dança, o contrato da privatização foi redigido de tal forma que blindou a ANA contra qualquer «incómodo» que pudesse ser levantado pelo Estado português no futuro.

Desde essa data, a ANA vai já a caminho do décimo aumento das tarifas aeroportuárias, o que levou a uma queixa das representantes das companhias de aviação (IATA e A4E) junto da Direcção Geral da Concorrência em Bruxelas, a que a Vinci e a ANA responderam argumentando que não foram elas que estabeleceram as condições da privatização que lhes permite tal feito!...

Quase apetece manifestar a nossa admiração pelo cinismo da resposta, que nos faria rir se não fosse antes caso para chorar, ainda mais se nos lembrarmos do «apagão» que as restrições tarifárias (inicialmente previstas no contrato), tiveram a meio do ajuste directo que o estado proporcionou à Vinci.

Como no negócio que inaugurou a «moda» das parcerias público-privadas, promovido nos anos oitenta por Cavaco e Silva com a Lusoponte (com o ministro Ferreira do Amaral também passado a presidente da empresa com quem tinha negociado), em que qualquer nova ponte em Lisboa tem de ser acordada com a Lusoponte dando origem a apetitosas «compensações», também a construção de um novo aeroporto vai obrigar o estado a ter de pagar à Vinci para viabilizar essa sua «soberana» decisão.

«Teremos de negociar com a concessionária… mas não é fácil, tendo em conta o modelo de privatização» – disse o até há pouco ministro do Planeamento e das Infraestruturas, Pedro Marques, acrescentando: «temos uma concessionária que tem quase o monopólio, logo as negociações serão difíceis».

Assim, a privatização da ANA – como a de outras empresas públicas levadas a cabo por governos PS, PSD e CDS-PP, vendidas a preços de saldo a empresas que depois premiaram os negociadores do Estado com altos cargos e mordomias –, para além do que representou de perda de património colectivo e fonte de rendimento, limita, durante meio século, a intervenção do Estado português no que diz respeito à acessibilidade dos seus aeroportos e ao seu desenvolvimento.

Como complementa o director do “Expresso”, «a ANA, essa, vai ser uma vaca leiteira francesa até 2063. Mas nada temei: quando aqueles que agora estão na escola primária forem ministros, recuperaremos os negócios».

O inimputável SIRESP

Também o concurso do conhecido SIRESP (Sistema Integrado de Redes de Segurança), desencadeado em 2005 pelo governo de Santana Lopes já depois de demitido (com a justificação de ter carácter de urgência…), atravessou vários governos PS, PSD e CDS-PP com denúncias e protestos, passando de 538 milhões de euros para 485 milhões, cortando exigências à empresa constituída para o negócio pelo notável grupo, BPN, BES e PT, cujos dirigentes estão agora todos a contas com a justiça…

Aparentemente, nem metade disso valia, segundo alguns peritos, para além de desempenhar um papel estratégico que devia impedir a sua privatização.

Ora o SIRESP é agora, também, uma «”vaca leiteira” francesa» (da Altice), já com um curriculum invejável:

Depois de ter falhado na Cimeira da NATO (2010), na visita do Papa (2010), nos incêndios florestais de 2011, 2012, 2013 e 2016, e nas tempestades de 2013 e de 2016, conseguiu finalmente alcançar as primeiras páginas por ter continuado a falhar na tragédia dos fogos de 2017.

No ano passado, o habitualmente sorridente primeiro-ministro, António Costa, rosnou e mostrou os dentes à Altice e à PT, ameaçando com multas (o ministro do PSD, Miguel Macedo, já o tinha feito depois da tempestade de 2013), acrescentando a firme intenção de assumir o controlo público do SIRESP.

Mas, depois desse «segurem-me que se não eu bato-lhes!...», nada aconteceu.

«SIRESP escapa ao pagamento de multas por falhas nos incêndios», refere o Público de 13 de Outubro deste ano.

Razões? Segundo o próprio Ministério da Administração Interna, «não foram recolhidas evidências do incumprimento dos níveis de serviço contratualmente estabelecidos». Foi tudo cumprido.

Podemos então ficar descansados: a empresa a quem foi atribuído um contrato para assegurar comunicações de emergência, voltou tragicamente a falhar, cumprindo plenamente os termos contratuais estabelecidos!

Quanto ao controlo público do SIRESP (e depois do Conselho de Ministros ter atribuído, em Abril, mais 15,65 milhões de euros à empresa para reforço das comunicações, medida depois chumbada pelo Tribunal de Contas), a Altice acabou por comprar mais uma fatia de acções ficando a ter a maioria, deixando o Estado com 33% e o enorme poder de nomear dois dos sete administradores!

Os duramente «castigados» CTT

Deixemos agora os aeroportos e as comunicações de emergência e façamos uma breve passagem pelos correios.

Privatizados em 2013 e 2014 pelo PSD/CDS-PP e transformados em banco, os CTT deixaram de ter a vocação prioritária de correios. As cartas chegam demasiado tarde, as encomendas também, as distribuições diminuem, os postos fecham, os trabalhadores são despedidos, os protestos multiplicam-se, o país refila, e só o presidente da administração vai dizendo, com um ar ponderado e sério, que está tudo cada vez melhor, como mostram as estatísticas.

Como diria Mark Twain, «os factos são teimosos mas as estatísticas são mais flexíveis»…

Recusada a proposta do PCP e do BE de renacionalização e perante a teimosia dos factos, a entidade reguladora, ANACOM, decidiu pôr uma cara zangada e considerou que «os CTT incumpriram em 2017 dois indicadores da qualidade de serviço».

Os indicadores em causa são demoras de encaminhamento do correio azul no continente (cerca de dois milhões de cartas de correio azul demoraram mais de um dia útil a serem entregues) e no correio transfronteiriço intracomunitário (4,5 milhões de cartas foram entregues fora do prazo).

Por isso, a ANACOM, revoltada com essa desregulação, resolveu castigar exemplarmente os CTT que ousaram cobrar dinheiro aos cidadãos por compromissos que depois não cumpriram, sabe-se lá com que prejuízos.

Assim sendo, e «tendo em conta que a actualização dos preços implementada pelos CTT para este ano tinha sido de 4,5%,», e após calcular rigorosamente uma «média ponderada», a ANACOM decidiu que o aumento passasse a ser «apenas» de 4, 415% !...

Ponderando ainda melhor a média do aumento já devidamente ponderado (e, diga-se de passagem, muito acima da inflação), a ANACOM decidiu ainda que o duro abatimento de 0,085 pontos percentuais no aumento, teria uma aplicação no mínimo de 3 meses (!) porque, como dizia a minha avó, «o que é de mais parece mal!».

Voltamos pois a ficar descansados quanto aos destinos da nação que, se evitou o negro abismo para onde o governo PSD-CDS-PP a estava a arrastar, ainda continua longe dos amanhãs que cantam.

Entretanto, do Brasil, nosso país irmão, tão sacrificado e enganado, volta a chegar-nos a lúcida voz de Chico Buarque com «a coisa aqui está preta!».2.

Por cá, Chico, a coisa não está tão preta assim. Pelo menos isso, conseguimos evitar. Mas ainda falta o tal «cheirinho de alecrim»…

Notas:
1.Versos finais da letra original da canção, gravada em Portugal por ter sido censurada no Brasil. Depois do 25 de Novembro de 1975, com a Revolução Portuguesa à defesa, o cantor viria a escrever uma nova versão, em 1978, concluindo a letra com os versos «Manda novamente/Algum cheirinho de alecrim».
2.Do verso «mas o que eu quero é lhe dizer que a coisa aqui tá preta», da canção «Meu caro amigo», de Chico Buarque (1976).

Portugal | Cultura à borla, ainda hoje e amanhã em Lisboa e no Porto


Num apontamento do Notícias ao Minuto segue-se a chamada Agenda Cultural que por vezes trazemos aqui. Lisboa e Porto são as cidades citadas em eventos culturais. Claro que há muitas mais manifestações culturais por todo o país. Este é só um aperitivo. E é à borla. Aproveite. (Redação)

Fim de semana está aí. Saiba o que pode ver à borla em Lisboa e no Porto

Espreite as borlas culturais que pode aproveitar por estes dias na Grande Lisboa e no Grande Porto.

Novembro chegou e com ele continuam as borlas culturais.

Na Grande Lisboa e no Grande Porto há eventos a ter em conta, capazes de agradar a gostos bem diferentes.

Tanto por terras 'alfacinhas' como pela cidade Invicta há exposições variadas mas também música, dança e espectáculos para aproveitar.

Como nunca é demais lembrar, há também monumentos e museus por todo esse país fora que contam com as portas abertas ao domingo à espera da sua visita, sem que a carteira tenha grandes razões de queixa.

Grande Lisboa

Há curtas no Metro

Este domingo, dia 4 de novembro, o Gerador volta a juntar-se ao Metropolitano de Lisboa para uma sessão de curtas-metragens de animação com a curadoria da Bang Awards- International Animation Awards. A entrada é livre, com as curtas a serem exibidas na estação do Cais do Sodré. Saiba mais aqui.

Ver com outros olhos

Em Lisboa há uma exposição que explora outros sentidos que não a visão. Chama-se 'Ver com outros olhos', vai estar na Fundação Calouste Gulbenkian e dá ênfase ao trabalho desenvolvido com pessoas cegas ou com baixa visão. A exposição pretende explorar diferentes processos de interpretação das obras, através de outros sentidos que não a visão. A exposição vai estar patente no edifício sede da Fundação Calouste Gulbenkian até ao dia 12 de novembro.

Indian Motorcycle por Lisboa

Os amantes das motas têm chamariz no Casino Lisboa. A histórica Indian Motorcycle, fundada em 1901, conta com modelos muito especiais e alguns bem raros que podem ser vistos por estes dias junto das slot machines. Patente até 4 de novembro.

Caricaturas do tempo do salazarismo

A Galeria Valbom celebra os 40 anos da publicação do conjunto de desenhos agrupados sob o título 'Caricaturas Portuguesas dos Anos de Salazar' e os 90 anos do artista com uma Exposição em torno dessa obra-prima de João Abel Manta, um dos mais importantes artistas gráficos portugueses do último século. A exposição está patente até 10 de novembro.

Arena Live 2018

Esta é uma exceção, porque é às segundas-feiras que vai decorrer. Mas fica a nota: O Casino de Lisboa está a oferecer-nos uma série de dez concertos para ouvir até ao final do ano na Arena Lounge. A entrada, como se quer, é livre. Os Xutos e Pontapés deram o pontapé inicial mas há ainda muito boa música para ouvir.  Saiba tudo aqui.

Academia a dançar por Lisboa

Este sábado, 3 de Novembro, há Lisboa a Dançar na praceta da Rua Visconde Santarém, em frente à Academia Danças do Mundo. Entre as 17h e as 20h, há convite aberto a todos os que queiram dar um 'pezinho de dança' e aprender um pouco mais.

Grande Porto

Há programa paralelo na Galeria Municipal

Uma conversa sobre as rádios livres e uma visita-guiada fazem o programa paralelo das exposições 'Musonautas, Visões & Avarias 1960-2010 - 5 décadas de inquietação musical no Porto' e 'Curveball Memory', já este sábado, dia 3, na Galeria Municipal do Porto. A entrada é livre, como se quer. Mais detalhes aqui.

Há música no Mercado do Bom Sucesso

O Mercado do Bom Sucesso tem contado com animação musical para os mais variados gostos. O espaço está numa das zonas nobres da cidade e convida ao passeio. Este sábado, 3 de novembro, pelas 22h, há The Royal Band para ouvir. Saiba mais aqui.

A arte de Mariana Barrote

A jovem artista Mariana Barrote apresenta o seu trabalho numa exposição que pode ser vista no Silo-Espaço Cultural, no Norte Shopping. 'Bacia Encantada' está patente até ao próximo dia 11 de novembro. Saiba mais clicando aqui.

Dominguinhos no MAR Shopping

O MAR Shopping continua a dar-nos Dominguinhos, manhãs de domingos com animação a pensar na pequenada. Este domingo, com o Halloween à espreita, há Atelier de Reciclagem - Transformar um cd num pião. É gratuito mas será necessário fazer a inscrição. Clique aqui

Bom fim de semana e boas ofertas culturais!

Notícias ao Minuto

Portugal | Tourada não é arte, é só triste


Manuel Molinos | Jornal de Notícias | opinião

Não devia ser preciso pensar "muito, muito, muito" para chamar às touradas o nome que lhe é devido. E não, não se trata de uma atividade cultural, não é arte. É simplesmente um espetáculo de tortura deplorável no século XXI. Classificar a tourada como "atividade cultural" é triste.

A ministra da Cultura admitiu discutir em sede de especialidade do Orçamento um eventual alargamento dos espetáculos abrangidos pela redução do IVA de 13% para 6%, mas excluiu a tauromaquia por "ser uma questão de civilização". No que às touradas diz respeito, esteve muito bem! Aplausos como se estivéssemos na arena do Campo Pequeno. Mas o Governo podia ter estado ainda bem melhor. Se já é difícil entender que os espetáculos ao ar livre sejam taxados a 13% e os realizados em recintos fechados a 6%, é ainda mais complicado assistir a uma tourada ao vivo numa sala de teatro ou num palco de um festival de verão. É que só assim, e com muito esforço, se perceberia a aproximação da tourada à arte, uma vez que está tudo no mesmo pacote!

Civilizado, portanto, seria proibir a realização de touradas em Portugal.

A este propósito, convém que a ministra da Cultura não se esqueça que a RTP classifica as touradas como cívicas, pois enquadra-as no serviço público. Aliás, numa resposta enviada aos subscritores de uma petição que pede o fim da transmissão de touradas na RTP, o provedor dos espectadores indicou que não irá pressionar o diretor de programas para que erradique as touradas do ecrã. "Não me cabe qualquer dúvida de que a instituição à qual compete representar a vontade dos portugueses é a Assembleia da República", diz.

Assim, já que o PAN até aprovou um Orçamento onde a tourada ainda é vista como arte, e se aliena de uma das mais escandalosas violações dos direitos dos animais, e já que Assunção Cristas vê a tourada como um "bailado", e se pensar "muito, muito, muito" é capaz de ter pena dos animais, resta a esperança de que a civilização apregoada pela nova ministra da Cultura não seja mais uma cornada em vão.

Quando a bola é redonda | Benfica na mó de baixo e sem Vitória?


Acontece aos melhores. Alguma vez também têm de ficar na mó de baixo e perder. É o caso do Benfica, como de outros clubes. Daí a construir-se um drama vai muita paranóia, muito clubismo irracional e injustificado. Compreende-se, são as emoções. Disso trata o que aqui lhe trazemos do Notícias ao Minuto. Nem que seja para mais tarde recordar, quando o Glorioso regressar às vitórias, com ou sem Vitória, o atual treinador. Aqui para nós, Vitória não merece esses tais lenços brancos de “despedida” mas sim de exigência permanente de que os onze vença, vença. Vença sempre, o que pode constituir de vez em quando uma impossibilidade. A bola é redonda e os adversários também jogam. (Redação)

Três jogos, três derrotas. E a Luz perdeu a paciência com Rui Vitória

Assobios, gritos de 'demissão' e lenços brancos para o treinador do Benfica após a derrota com o Moreirense, por 1-3.

O Moreirense agravou, esta sexta-feira, a crise de resultados pelo qual o Benfica atravessa, ao vencer em pleno estádio da Luz por 3-1. Esta foi a terceira derrota consecutiva dos encarnados, numa noite em que a Luz perdeu, de vez, a paciência com Rui Vitória.

Assim que Nuno Almeida apitou para o final do encontro da nona jornada, o reduto das águias foi ‘inundando’ por uma monumental assobiadela, no meio da qual ressaltaram gritos de ‘demissão’ e alguns lenços brancos.

Os encarnados entraram bem, com um golo de Jonas logo aos dois minutos, mas permitiram a reviravolta a uma equipa bem orientada por Ivo Vieira, que fez a festa graças aos tentos de Chiquinho, Pedro Nuno (ambos dispensados do Benfica no último verão) e Loum.

'Fantasmas' transformaram-se em 'assombração' 

Rui Vitória queria ultrapassar os ‘fantasmas’ das derrotas com Ajax e Belenenses SAD, e esboçou um sorriso quando Jonas marcou logo na primeira ocasião de que dispôs. No entanto, foram precisos apenas três minutos para esse mesmo sorriso desaparecer.

Chiquinho, com um belo remate de fora da área, repôs a igualdade no marcador, e Pedro Nuno, após uma arrancada de Arsénio, consumou a ‘cambalhota’ no resultado. O terceiro e último golo da noite surgiu aos 36 minutos, quando Loum desferiu uma ‘bomba’ que não deu hipóteses a Vlachodimos.

Já no segundo tempo, o treinador encarnado fez ‘all in’, ao lançar Salvio e Castillo para o lugar de André Almeida e Pizzi. O Benfica ‘acampou’ no meio-campo adversário, mas, com exceção de dois lances duvidosos na grande área, não conseguiu incomodar o Moreirense.

Pelo meio, houve ainda lugar para a expulsão de Jardel, que perdeu a cabeça e agrediu Arsénio com uma cotovelada. Uma ‘ajuda’ da qual, certamente, Rui Vitória dispensaria num dos mais delicados momentos desde que assumiu as rédeas do clube da Luz.

Cónegos históricos deixam águias 'encarnadas' de vergonha

Quanto ao Moreirense, saiu da Luz com aquela que é a primeira vitória de toda a sua história num dos estádios dos chamados três ‘grandes’ do futebol português. Um registo inédito, ao qual se soma um outro: o de ter marcado três golos num palco desta dimensão.

Este é, aliás, o melhor arranque de temporada de sempre por parte dos cónegos. São já 13 pontos conquistados ao cabo de nove jornadas, o que lhes vale o sétimo lugar, à condição. E isto depois de já ter também defrontado Sporting e FC Porto, ainda que sem a mesma felicidade.

Já o Benfica, averbou a terceira derrota consecutiva, algo que não acontecia há já oito anos. Além disso, contabiliza dez golos sofridos, o pior registo defensivo à nona jornada desde 2001/02. Na altura, era Toni que assumia as rédeas do clube da Luz.

Os encarnados são terceiros classificados, mas poderão cair para a quinta posição. O ambiente é de cortar à faca, isto a apenas cinco dias da receção ao Ajax, que, em caso de derrota, complicará (e muito) as contas do apuramento para os oitavos-de-final da Liga dos Campeões.

Carlos Pereira Fernandes | Notícias ao Minuto | Foto: Global Imagens

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