Pedro d´Anunciação - Sol, opinião
Até um editorial do
relativamente conservador diário económico Jornal de Negócios dizia
recentemente isto: "Desde quando é que os países se tornaram economias
apoiadas em empresas que dependem do apoio dos contribuintes? O
vice-primeiro-ministro protagonizou a assinatura de 12 contratos de
investimento que envolvem apoios públicos. Começa a ser tão normal, aqui como
nos outros países, assistir a estas iniciativas que já ninguém se pergunta, mas
afinal em que tipo de economia vivemos nós?"
Pois é. Apesar dos
cortes drásticos nos mais desfavorecidos, e de se chuparem os contribuintes até
ao tutano, o vice-primeiro-ministro gasta-lhes o dinheiro (aos contribuintes),
sempre com um sorriso aberto, e sem qualquer remorso. Primeiro, foram os submarinos.
E agora esta: o vice-primeiro ministro Paulo Portas surgiu radiante há dias a
distribuir pazadas de dinheiro (185 milhões de euros) dos contribuintes, por 12
grandes empresas: a chinesa 360 Steel Materials, e outras onze 11, ligadas a 2
institutos públicos, a AICEP e o IAPMEI. Entre estas, a Portucel, a Borgwarner
Emission, a Borgstena Textille Portugal, Europac, Font Salem, Poliprogical,
Visteon Portuguesa, Wuhan Industries, Indasa e Polivouga. Nem sempre as que
recebem mais criam maior número de empregos.
Curiosamente, um
estudo recente explicava o insucesso das empresas portuguesas, por excesso de
apoios e falta de capitais próprios.
Entretanto, segundo
estudo recente do INE, a carga fiscal imposta aos portugueses aumentou 8,1%
entre 2012 e 2013, atingindo 34,9% da riqueza nacional (32,4% no ano anterior).
Aumento maior dos impostos directos, como o referente ao trabalho, IRS, e menor
do IRC (imposto aplicado às empresas). Os impostos indirectos (IVA e outros
impostos sobre a produção e importação) tiveram uma variação nula em 2013, mas
o IVA, que representa cerca de 60% desta carga fiscal, e está a níveis
estratosféricos, recuou 2,0%, uma redução mais acentuada do que a variação
nominal do consumo privado e da procura interna (-1,4%).
Entretanto, já
ninguém se impressiona que, passado o susto maior da crise do subprime, a
Finança volte à especulação desenfreada. Estudos internacionais indicam que 93%
dos negócios actuais são de especulação financeira, continuando os produtos
tóxicos, e só 7% equivalem a transacções da economia real. Por outro lado, um
livro acabado de sair do economista francês Thomas Piketty, já considerado no
NYT o ‘livro da década’, mostra com contas que a valorização do capital (em que
o autor inclui o património) é muito superior à do PIB – pelo que a economia de
mercado, mesmo sem governos como o nosso, tende a acentuar distorções – que só
as Grandes Guerras de 1914 e 1939 contrariaram – embora apenas
conjunturalmente, e por um preço excessivo para quase todos.