quarta-feira, 1 de outubro de 2014

Guiné-Bissau: EXPLOSÃO DE MINA DÁ QUE PENSAR




Aquando do conflito político-militar de 7 de Junho de 1998, muitas zonas, palco de teatros de operações militares, foram minadas pelas então forças beligerantes.

Lassana Casamá – Voz da América

A Guiné-Bissau já observou os dois dias de luto nacional na sequência da morte, no último fim-de-semana, de 22 pessoas vítimas da explosão de uma mina anti-tanque no troço que liga Bissorã à Encheia, localidades no norte do país.

O incidente está a suscitar muitos ângulos de abordagem. É que aquando do conflito político-militar de 7 de Junho de 1998, muitas zonas, palco de teatros de operações militares, foram minadas pelas então forças beligerantes.

Terminado o conflito, de quase um ano, com o apoio da comunidade internacional, os guineenses beneficiaram de um programa de desminagem, executado por algumas ONG’s nacionais que, há mais de cinco anos, declararam a Guiné-Bissau livre de minas.

Em consequência deste incidente, a Voz da América falou com César de Carvalho, Director do Centro Nacional de Coordenação de Acção Anti-mina, uma entidade estatal, responsável pela desminagem das zonas então afectadas pelas minas ou explosivos.

A explosão da mina que resultou em 22 mortos, reporta à época colonial, confirmou César de Carvalho, que explica ainda as incidências técnicas que sobrepõem a explosão do engenho.

Contrariamente ao que se fazia acreditar no passado, baseando nos elementos oficiais, o responsável máximo do Centro Nacional de Coordenação de Acção Anti-mina, afirma que, daqui a 10 anos, a Guiné-Bissau não pode arrogar-se que estará livre de minas.

Angola: MAUS-TRATOS E HUMILHAÇÕES POR QUE PASSAM NACIONAIS LUNDA TCHOKWE




Por falta de emprego e a procura de sobrevivência, nossos pais, irmãos, tios, cunhados e, em toda e qualquer família Lunda Tchokwe já terá experimentado o sabor dos maus tratos por parte dos agentes do regime do presidente José Eduardo dos Santos.

Confira neste vídeo do dia 29 de Agosto de 2014, captado no projecto mineiro LUMINA, pertencente a generais da Casa Militar da Presidência da República, na localidade do Camaxilo, província da Lunda Norte.

As cenas de violência gratuita, maus tratos e humilhações contra cidadãos nacionais Lunda Tchokwes são o pão de cada dia entre jovens desempregados, chamados e considerados criminosos por estarem a garimpar diamantes em sua própria terra pelos intrusos ocupacionista e colonizadores da Nação Lunda Tchokwe.

Os agentes malfeitores, neste vídeo, são da empresa de segurança privada K & B, também pertença a generais do regime - confirme as etiquetas nos seus uniformes.

Até quando vão manter estas humilhações, acompanhadas de genocídio silencioso, impunemente? 

MOVIMENTO DO PROTECTORADO LUNDA TCHOKWE

NA REGIÃO CENTRO-AUSTRAL DE ÁFRICA ANGOLA É QUEM LIDERA (QUASE) TUDO



Folha 8, 27 setembro 2014

O investigador angolano Eu­génio Costa Almeida, do Centro de Estudos In­ternacionais do ISCTE (CEI-IUL), e ha­bitual colaborador do F8, apresentou no IX Congres­so de Estudos Africanos, recentemente realizado na portuguesa cidade de Coimbra, um tema subor­dinado ao título “O papel de Angola como vértice do eixo centro-austral de África: Contributos para a segurança regional” e inserido no painel «Arqui­tecturas de Segurança na África Subsaariana. O pa­pel das Organizações Re­gionais Africanas na gestão estratégica dos conflitos. Impactos para a segurança regional».

O investigador dividiu o seu tema em três grandes tópicos: “Angola e a po­lítica de defesa da África central”; “Angola e a sus­tentabilidade do golfo da Guiné”; e “A SADC como supedâneo do triângulo es­tratégico centro-africano”.

Eugénio Costa Almeida recorda na introdução à sua apresentação que a “política de defesa regional da África central assen­ta primordialmente num triângulo organizacional estratégico composto pela Comunidade Económi­ca dos Estados da África Central (CEEAC), pela Co­missão do Golfo da Guiné (CGG) e pela Comissão In­ternacional da Região dos Grandes Lagos (CIRGL). Angola está presente nes­tes três centros decisórios, sem descurar a sua ver­tente austral, onde assume papel de relevo na Comu­nidade para o Desenvol­vimento da África Austral (SADC) e, em paralelo, na 5ª Brigada Militar de Uni­dade Africana”.

Por isso, a comunicação apresentada pretendeu analisar o papel de “Angola como vértice nas relações político-militares nas duas sub-regiões (CEEAC e SADC) da África Subsaa­riana”.

Ora, como recorda este in­vestigador, Angola ao ser membro efectivo destas duas importantes sub-re­giões político-económicas colide com as directrizes da União Africana que de­seja – impõe – que um Esta­do não possa ser membro, em simultâneo, de duas sub-regiões. E Angola é um dos 11 Estados-membro da CEEAC e um dos 15 Esta­dos-membro da SADC.

Além de ser um dos es­tados observadores, com uma voz activa, na Co­missão Internacional da Região dos Grandes Lagos (CIRGL).

Com esta tripla função o investigador mostra-nos uma Angola a emergir como a principal força es­tabilizadora do continente na área centro-africana e como um dos principais parceiros político-econó­mico da África Austral.

Acresce ainda que Angola é-nos apresentada, tam­bém, como um Estado fornecedor de efectivos militares para a composi­ção da 5ª Brigada Militar de Unidade Africana (African Standby Forces), com sede em Gaborone, Botswana. Esta força foi criada no espaço da área de defesa da União Africana e tem como base o Protocolo Re­lativo ao Conselho para a Paz e Segurança (CPS) da União Africana, entrada em vigor em 26 de Dezem­bro de 2003, visando para a promoção da paz, seguran­ça e estabilidade em África. Foi criada no âmbito da “Arquitectura de Paz e Se­gurança Africana” para o Século XXI.

Ora, segundo Costa Almei­da, perante estes princípios, Angola tornou-se num “dos principais vértices da po­lítica de Paz, estabilidade e segurança africanas na desordenada região centro do continente” com parti­cular relevo para a zona dos Grandes Lagos delimitada, segundo este investigador, entre o leste da RDC e os Estados que tiveram a sua origem no antigo reino de Urundi (Ruanda e Burundi).

Os outros dois vértices do triângulo são a CEEAC e a Comissão do Golfo da Gui­né (CGG). Esta comissão, recorda, surgiu em 2001 em Libreville, após proposta da Nigéria, em 1999, e tem a sua sede em Luanda.

De notar, como salientou Costa Almeida, esta co­missão agrega alguns dos principais produtores e ex­portadores de hidrocarbo­netos de África, represen­tando “cerca de 5 milhões de barris/dia de produção petrolífera; só Angola pro­duz entre 1,9 e 2,1 milhões de barris/diários”.

Mas como notou Eugénio Costa Almeida, a zona do Golfo por causa de ser uma rota importante no comér­cio marítimo transconti­nental e de ser a zona de produção, por excelência, de crude, tornou-se um alvo particular da pirataria marítima a que leva esta­dos não africanos (euro­peus, asiáticos e da Afri­com) a policiar a região.

Como se sabe, e Costa al­meida o recorda, os esta­dos africanos nunca foram muito “propensos a olha­rem para as suas marinhas de guerra como um instru­mento necessário para a defesa territorial e dos seus recursos estratégicos mari­nhos offshore”. Estes eram vistos mais como fornece­dores dos hidrocarbonetos e nada mais.

E é aqui, segundo o orador, que Angola está a inverter a sua posição geográfica. Além de ser também um Estado-membro da Zona de Paz e Cooperação do Atlântico Sul (ZOPACAS), Angola está a apetrechar a sua esquadra naval com novos meios, tendo, re­centemente, “comprado alguns barcos de patrulha costeira à R.P. da China e, falou-se, de também com­prar alguns à Alemanha e, recentemente, comprou ao Brasil 7 navios patrulhas de alto-mar sendo 4 fabrica­dos pelos brasileiros e os restantes nos recuperados estaleiros navais de Porto­-Amboim, na província do Kuanza Sul”.

Costa Almeida recordou que “em África a África do Sul é a única que mantém uma frota de guerra mais avançada. Comprou, há cerca de 5 anos 3 submari­nos”, embora, como recor­dassem durante o debate, que a Nigéria também tem, embora insipiente, uma marinha de guerra.

Na última parte da sua ex­posição, o investigador Eu­génio Costa Almeida apre­sentou a SADC como um suporte – a que ele chamou de “supedâneo” – do gran­de triângulo estratégico de Angola na região centro­-africana.

Costa Almeida, recordou, em breve síntese a impor­tância de Angola na SADC e, particularmente, como um dos suportes de uma das brigadas internacionais cria­das pela União Africana, no “âmbito da Defesa e Segu­rança interna do Continente no espaço da “Arquitectura de Paz e Segurança Africana para o Século XXI”. São as African Standby Brigades ou African Standby Force (ASF) e, no caso presente, [Angola está presente na] 5ª Brigada Militar da União Africana (SADC-Standby Force ou SADCBRIG), com sede em Gaborone, Bots­wana”; embora, como Costa Almeida salientou, também aqui Angola está presente em duas ASF a SADCBrig, na região austral, e a FO­MAC, na região centro.

Em conclusão, o investiga­dor Eugénio Costa Almei­da salienta que Angola, “ou mais correctamente, a po­lítica externa angolana, não está limitada a uma única sub-região africana nem é, ou se restringe, a uma única dimensão. Angola contribui, à sua maneira, para o fortale­cimento de duas sub-regiões continentais africanas – a CEEAC e a SADC – dentro da União Africana segundo o prima de construção de uma ordem regional e mun­dial pacíficas e solidária, fun­dada no Direito e nos prin­cípios do multilateralismo, consciente da sua inserção regional, do seu peso terri­torial, económico, cultural e da sua política interna e ex­terna”.

Outra das preocupações da política externa ango­lana, segundo o investiga­dor, assenta “no vector de segurança, como Estado com projecção regional forte, está inserida, igual­mente, na CGG onde a ideia de segurança se re­fere à garantia dos interes­ses económicos e políticos dos Estados-membros; tal como em paralelo está na ZOPACAS, outra organi­zação onde a segurança predomina, com a garan­tia que esta organização lhe permite assegurar a defesa de Paz no Atlântico Sul. Ora estas duas organi­zações de Paz e Segurança na região equatorial apre­sentam-se como sustentá­culos da nova configuração político-militar da CEEAC assente na constituição da brigada FOMAC” acom­panhada do apoio da ZO­PACAS e da total asserção da cooperação Sul-Sul, que Angola não dispensa.

Na foto: Eugénio Costa Almeida

Angola: MPLA ESTÁ EMPENHADO NA CRIAÇÃO DAS AUTARQUIAS



Adelina Inácio – Jornal de Angola

O líder do grupo parlamentar do MPLA, Virgílio de Fontes Pereira, garantiu ontem que o MPLA está empenhado na preparação de todo o pacote institucional para a realização das  autarquias locais

Virgílio de Fontes Pereira falou à imprensa no final da reunião da comissão permanente da Assembleia Nacional, que aprovou o programa da cerimónia de  abertura do novo ano parlamentar. O deputado afirmou que o MPLA tem respeitado as etapas para que se possam institucionalizar órgãos como as autarquias locais. 

“As autarquias locais precisam de ser institucionalizadas na base de um conjunto de condições que devem ser organizadas, consolidadas para poder corresponder às exigências de um poder autárquico”, disse o líder da bancada parlamentar do MPLA, defendendo que as eleições autárquicas não são apenas responsabilidade do Executivo e da Assembleia Nacional, mas de todo o país.

“Não deve fazer as autarquias por fazer, mas sim por ser uma necessidade imperativa do Estado e o MPLA está empenhado para que as autarquias surjam no momento preciso”, disse o deputado do Virgílio de Fontes Pereira.

O deputado referiu que o grupo parlamentar vai se empenhar em garantir  o cumprimento das  iniciativas que concorrem para a consolidação da vida parlamentar e da actividade do Executivo. 

O deputado adiantou que o MPLA está, também, empenhado na reforma parlamentar e que, por isso, ainda  neste ano parlamentar, que abre a 15 de Outubro, o partido vai concretizar a apresentação de uma proposta de revisão do regimento da Assembleia Nacional, principal instrumento de organização e funcionamento do Parlamento. Virgílio de Fontes Pereira referiu-se ainda à promoção da alteração de outros diplomas que fazem parte do pacote legislativo parlamentar, citando a Lei Orgânica da Assembleia Nacional, o estatuto dos Deputados, entre outros. 

O líder da bancada parlamentar do MPLA sublinhou que o seu partido vai apoiar as iniciativas do Executivo no âmbito da Reforma da Justiça e do Direito, Economia, Reforma Tributária e a organização administrativa do Estado.

Partidos da oposição

Os presidentes dos grupos parlamentares da UNITA, CASA-CE e PRS esperam que o Presidente da República, no seu discurso à Nação, se pronuncie sobre a realização das eleições autárquicas. O deputado da UNITA, Raul Danda, pronunciou-se nesse sentido. O seu colega de bancada, Adalberto da Costa Júnior, disse esperar que o Presidente da República fale dos “grandes desafios do país”.

Reconheceu que o discurso do Presidente da República sobre o Estado da Nação é “importante” já que, disse, o país vai ser informado sobre os desafios do ano legislativo e parlamentar.

O presidente do grupo parlamentar da CASA-CE, André Mendes de Carvalho, espera que o Presidente da República no seu discurso à Nação aborde aquilo a que chamou de “questões pendentes”, como o caso das autarquias locais, o caso BESA e o engajamento de tropas de Angola em missões de  paz. “Nós não estamos contra a participação, mas com o número de tropas que vão ser envolvidas numa primeira fase”, disse André Mendes de Carvalho.

Grande expectativa

O deputado Benedito Daniel, do Partido de Renovação Social, PRS, disse que aguarda com “grande expectativa” a abertura do ano parlamentar. Sublinhou que o Parlamento deve priorizar as eleições autárquicas, matéria que, em sua opinião, deve merecer o consenso de todos os partidos políticos representados na Assembleia Nacional. “O PRS não quer apresentar um ante-projecto e depois ser reprovado. Devemos procurar consenso com todos os partidos políticos representados na Assembleia Nacional”, disse o deputado Benedito Daniel.

Abertura do ano parlamentar

Na reunião de ontem, orientada pelo Presidente da Assembleia Nacional, foi aprovado o programa da cerimónia de abertura do novo ano parlamentar, que acontece no próximo dia 15. O documento foi apresentado pelo deputado Raul Lima, segundo secretário de mesa da Assembleia Nacional.

O deputado Raul Lima recordou que o ponto mais alto da abertura do ano legislativo é o discurso do Presidente da República, José Eduardo dos Santos, dirigido à Nação. O documento foi aprovado na reunião de líderes parlamentares, na sexta-feira.

A Constituição e o Regimento Interno da Assembleia Nacional refere que o ano parlamentar tem início a 15 de Outubro, com a realização de uma sessão solene, tendo como ponto alto a mensagem do Presidente da República sobre o Estado da Nação.

O artigo 118 da Constituição refere que o Presidente da República dirige ao país na abertura do ano parlamentar uma mensagem sobre o Estado da Nação e as políticas preconizadas para a resolução dos principais assuntos, promoção do bem-estar dos angolanos e o desenvolvimento do país. 

O segundo secretário de mesa da Assembleia Nacional garantiu, igualmente, que estão criadas todas as condições para a realização, com êxito, da abertura solene da Assembleia Nacional.

Foto: Paulo Mulaza

América Latina: Ou nos unimos ou seremos a estrela 51 dos EUA, alerta Atilio Borón




Quito, (Prensa Latina) O futuro da América Latina é a unidade e o avanço sem pausa para a integração ou nos converteremos na estrela 51 da União Americana, advertiu nesta terça (30/09) aqui o cientista político argentino Atilio Borón. 

O autor de "América Latina na geopolítica imperial" e outros livros, participa em um encontro de partidos e movimentos de esquerda latino-americanos que se realiza no Equador, e cujo objetivo principal é traçar um plano de ação frente à restauração conservadora em marcha na região.

A ameaça é muito forte, e o projeto estadunidense busca que a América Latina volte à situação que havia até a noite de 31 de dezembro de 1958, assegurou Borón à Prensa Latina, em alusão à véspera do triunfo da Revolução Cubana liderada por Fidel Castro, e que mudou o panorama político da região. Segundo o intelectual argentino, os planos de Washington passam por apoiar e estimular o ressurgimento da direita latino-americana, que se viu obrigada a retroceder pelo triunfo quase simultâneo de governos de esquerda na Venezuela, Bolívia, Nicarágua, Equador, Argentina e Brasil no início deste século.

O que os Estados Unidos faz agora é lançar esta restauração conservadora para tentar recuperar esta região que sempre considerou sua, enfatizou Borón, que ontem interveio em uma das seis mesas de trabalho do Encontro Latino-Americano Progressista que encerra nesta terça-feira em Quito. Em sua opinião, estes eventos são muito positivos, pois propiciam o debate e as análises sobre os perigos que enfrentam os partidos e organizações de esquerda, e blocos integracionistas como a Comunidade de Estados Latino-Americanos e Caribenhos e a União das Nações Sul-Americanas, onde Washington não tem participação.

Tem sido um encontro muito frutífero, muito rico nas discussões, opinou Borón sobre a reunião organizada pela dirigente Aliança PAÍS, que lidera o presidente Rafael Correa, e que ontem também exortou aos participantes a consolidar a unidade latino-americana para contrapor as tentativas desestabilizadoras da direita.

O evento que reúne 37 organizações de esquerda de mais de vinte países prevê aprovar nesta terça-feira um plano de ação frente a essa restauração conservadora denunciada por Correa.


Brasil - Eleições: O movimento negro chapa branca e suas formas de beija-mão e adesismo



Afropress, editoral

Ninguém pode ser contra que os negros do PT e do PC do B, representados por suas articulações e entidades como a CONEN (Coordenação Nacional de Entidades Negras) e a UNEGRO (União de Negros pela Igualdade) manifestem sua adesão a candidata que tem o apoio desses partidos no Governo – no caso, a Presidente Dilma Rousseff, do PT, que disputa a reeleição.

Ninguém pode ser contra que os negros do PSB ou da Rede ou de qualquer partido apóiem sua candidata, a ex-senadora Marina Silva, que tem aparecido nas pesquisas sempre em segundo lugar e, a esta altura – a uma semana das eleições – parece ter fôlego para chegar ao Planalto, ainda que em queda nas intenções de voto.

Ninguém tampouco pode ser contra que os negros do PSDB, do DEM, do PMDB, ou de qualquer outra legenda integrante desses aglomerados que conformam a sopa de letras do cenário partidário brasileiro (o Brasil é o único país do mundo que tem 32 partidos registrados no Tribunal Superior Eleitoral) se manifeste a favor dos seus preferidos nas eleições.

O que não se pode conceber nem aceitar é que os negros de tais partidos se assumam como porta-vozes dos negros brasileiros e lancem manifestos de apoio a este ou aquele candidato, na condição de representantes da população negra, como se falassem pelo todo, por todos nós.

Trata-se de fraude, que precisa ser denunciada para que a enganação e o embuste não prosperem. Os negros brasileiros nada tem a ver com o "caciquismo negro", com essas tristes figuras que transformaram a ocupação de "puxadinhos" - seja nos partidos, seja no Estado, onde exercitam a subserviência e o jogo da bajulação aos donos desses partidos - em meio de vida. Ninguém deu a eles procuração.

Que se manifestem em campanha por seus candidatos ou candidatas, estão no seu papel, que é exatamente este: o de cabos eleitorais de luxo, símbolos e alegorias dessa inclusão que nunca acontece de verdade, de olho numa emenda parlamentar, num projetinho a ser patrocinado por esta ou aquela estatal, expediente de que o Governo atual usou e abusou para servir a essa gente as migalhas que sobram da farta mesa do poder.

Mas, não falem pelos negros brasileiros, que se constituem em 53,1% da população de 202,7 milhões habitantes, de acordo com a mais recente Pesquisa Nacional de Amostras de Domicílio 2013 (PNAD), 55% dos eleitores, segundo levantamento recente do Instituto Patrícia Galvão.

Ao fazerem, se inserem no movimento de mistificação e da mentira; fazem o jogo dos que, simplesmente, estão preocupados com a manutenção do poder e se fazem de surdos à necessidade de transformações estruturais no Brasil, que comecem por uma agenda que tenha como prioridade a inclusão dos que foram deixados à margem por uma Abolição nunca concluída. O que querem, na prática, é garantir espaço nos "puxadinhos" para os próximos quatro anos, no que revelam o caráter de um movimento negro chapa branca, que tem o adesismo ao Governo (qualquer Governo) gravado no seu DNA.

A maior prova disso é que não tiveram os negros apoiadores da candidata que disputa a reeleição, sequer o cuidado e o pudor de apresentarem um documento com propostas e reivindicações. Foi um ato de pura adesão, um beija-mão explícito transformado em peça de campanha.

Os argumentos utilizados de que estão em jogo “não apenas uma disputa eleitoral, mas projetos políticos” e que a opção feita foi “por aquele que tem conquistas mais próximas às bandeiras historicamente defendidas”, são risíveis, hilários mesmo, um jogo de palavras que que tem um único objetivo: disfarçar, com certa pompa e arroubos de retórica, o adesismo mais xinfrim e a ausência de autonomia e independência, na tentativa de ludibriar incautos e desinformados. (veja matéria em http://www.afropress.com/post.asp?id=17532).

Da mesma forma, os negros apoiadores da ex-ministra do Meio Ambiente do Governo Lula, considerada por ele próprio a “Pelé do Ministério” quando saiu, mas agora satanizada, apresentada como de extrema-direita, apenas pela conveniência eleitoral em que, assim como na guerra, a verdade é a primeira vítima.

O texto divulgado por eles remete a uma reunião ocorrida com a candidata no dia 20 de setembro último em Salvador, e nele há uma série de reivindicações, a sugerir proposta de um suposto programa de Governo. Não há, contudo, uma única explicação sobre o grau de concordância da candidata a tais reivindicações, o que evidencia que se está diante, igualmente, de uma peça de campanha escrita de improviso e nos joelhos.

Tanto num caso como no outro, estamos diante de uma encenação que beira o surreal: tais lideranças negras, que se apresentam como representantes da maioria dos eleitores brasileiros (55%, repetimos) aceitam, passiva e dócilmente, que as duas principais candidaturas não assumam um único compromisso com essa maioria, nos seus eventuais governos.

Não há um único ponto, uma única proposta, com a qual tenham fechado questão como condição para apoio como seria de se esperar. É como se estivéssemos todos muito contentes, todos muito satisfeitos e, portanto, a única coisa a fazer fosse apoiar os benfeitores de plantão, esperando deles favores e benignidade. Não há como não associar isso aos rituais do beija-mão, reverência tão em voga sob o escravismo.

É surreal, sim, mas revela muito do porque o Brasil - a 7ª economia do mundo - é um dos países campeões no quesito desigualdade, e porque após 126 anos da Abolição estamos como estamos.


Brasil – Eleições: Para jornal dos EUA, Marina é nova visão nas relações raciais



Afropress

S. Paulo – Reportagem do The Wall Street Journal, um dos mais prestigiados jornais norte-americanos, destaca a disputa sucessória entre as candidatas Dilma Rousseff (PT) e Marina Silva, do PSB, e apresenta a ex-ministra do Meio Ambiente, como "negra, filha de seringueiros da Amazônia", para exaltar a mudança de visão nas relações raciais do país que foi o maior importador de negros escravizados para as Américas e o último, no mundo, a abolir esta prática.

A reportagem, assinada pela jornalista Loretta Chao, enfatiza que a possibilidade real da eleição de um presidente (no caso uma presidente negra) está atraindo comparações com a eleição do presidente Barack Obama e remete às dramáticas mudanças econômicas e ideológicas ocorridas no Brasil na última década. Lembra que, sob os governos Lula e Dilma “milhões de negros brasileiros ascenderam da pobreza por meio de programas de bem-estar, bolsas de estudos e as leis que criaram cotas para negros nas universidades”.

Para a matéria a jornalista entrevistou o demógrafo José Eustáquio Diniz Alves, da Escola Nacional de Ciências Estatísticas do IBGE, Adriana Barbosa, criadora e organizadora da Feira Preta e o jornalista Dojival Vieira, editor de Afropress.

Veja a reportagem na íntegra:

Brasil - Eleições: Única presidenciável negra, Marina sofre resistência entre afrodescendentes



Ricardo Senra - BBC Brasil em São Paulo

"Brasileira nata, nascida em Rio Branco - AC, no dia 08/02/1958, do sexo feminino, cor/raça preta", diz o documento do Tribunal Superior Eleitoral que oficializa a candidatura de Marina Silva à presidência.

Em 2010, quando disputou o Planalto pela primeira vez, Marina disse querer ser "a primeira mulher negra, de origem pobre, presidente da República Federativa do Brasil". Quatro anos depois, ela aparece, segundo o Ibope, na liderança de intenções de voto entre eleitores brancos, mas atrás de Dilma Rousseff entre os negros e pardos.

Apesar de ser a única entre os três principais candidatos a dedicar um capítulo inteiro do programa de governo à população negra, a ex-senadora não é percebida como representante dessa parcela dos eleitores.

Evangélica, filha de mãe mestiça e pai negro, Marina é analisada com desconfiança por professores universitários, institutos de pesquisa, coletivos, organizações sociais e ativistas ouvidos pela BBC Brasil.

As críticas mais frequentes questionam a postura da candidata sobre temas importantes à militância negra. Liberdade para religiões de matriz africana, registro de terras para comunidades quilombolas, viabilização de políticas afirmativas, como cotas raciais, e a falta de vínculos com o movimento foram os principais pontos levantados pelos entrevistados.

"Ficamos muito felizes que alguém se autodeclare negro, mas em hipótese alguma Marina representa a luta dessa população", diz o professor Paulino Cardoso, presidente da Associação Brasileira de Pesquisadores Negros (ABPN) e pesquisador da cultura afrobrasileira há 30 anos.

"Somos [os negros] os mais miseráveis entre os miseráveis no Brasil", afirma Cardoso. "Será que o Estado enxuto que ela promete, de caráter neoliberal, com Banco Central independente, vai conseguir financiar nossas políticas sociais? Os negros dependem muito dessas iniciativas, elas custam mais de R$ 12 bilhões ao governo e são mal vistas pelas oligarquias", diz o professor.

O comitê de Marina assegurou que a candidata responderia pessoalmente às questões enviadas sobre o tema pela BBC Brasil. Após desmarcar duas vezes o compromisso, os assessores deixaram de atender a reportagem.

Aliados

A doutora em psicologia Elisa Nascimento, presidente do Ipeafro (Instituto de Pesquisas e Estudos Afro Brasileiros), diz que os aliados políticos de Marina podem comprometer sua postura em relação à tolerância religiosa.

À imprensa, Marina Silva disse repetidas vezes defender um "estado laico". A candidata, entretanto, tem o apoio de importantes lideranças políticas evangélicas - caso do deputado federal Marco Feliciano (PSC-SP), que já disse "profetizar o sepultamento dos pais de santo" e o "fechamento dos terreiros de macumba".

"Tenho visto Marina tentar desvincular religião de seus posicionamentos, mas fica evidente que suas crenças influenciam sua ação política. Há neopentecostais que repetidamente desrespeitam o candomblé e a umbanda. Há terreiros sendo invadidos e destruídos. Religiosos sendo perseguidos. Marina não se posiciona e tem apoio de alguns dos principais inimigos destas religiões."

Ouvida pela BBC Brasil, Valneide Nascimento, coordenadora nacional de política e promoção da igualdade racial da campanha, reconhece falhas.

"Não detalhar (a política sobre religiões) foi um erro nosso", disse à reportagem, por telefone.

"Como Marina, eu que sou a coordenadora nacional também sou protestante e a gente não tinha um acúmulo de conhecimento sobre religiões de matriz africana", diz. "Nós deixamos de colocar porque não tínhamos um entendimento sobre como deveria ser, na época."

Valneide, no entanto, nega outra alteração no programa de governo - no fim de agosto, o PSB eliminou trechos do capítulo destinado aos direitos LGBT (lésbicas, gays, bissexuais, travestis, transgêneros e transexuais). A mudança foi justificada na época como "falha no processo de editoração".

"Não vamos alterar. As religiões estão no programa, o que faltou foi o detalhamento. Mas vamos anunciar esses detalhes pessoalmente no dia 20, em Salvador."

Quilombolas

Segundo dados de 2013 da Fundação Cultural Palmares, de pelo menos 1.281 comunidades quilombolas em processo de oficialização, só 21 tiveram seus territórios efetivamente titulados, como recomenda a Constituição.

O programa de governo divulgado por Dilma Rousseff não cita quilombolas em nenhum momento.

Já Aécio Neves menciona a "implementação de programas de apoio e auxílio a comunidades quilombolas", além de referências a "setores vulneráveis" como "mulheres, crianças, idosos, afrodescendentes, LGBT, quilombolas, ciganos, pessoascom deficiências, vítimas da violência e indígenas" (veja mais no quadro).

Além de citar quilombolas 34 vezes, o programa de Marina é o único a dedicar um capítulo ao tema.

No texto, ela promete "acelerar os processos de reconhecimento e titulação de terras quilombolas", "melhorar o abastecimento de água, rede de esgoto e coleta de lixo", "coibir a especulação imobiliária em áreas de quilombos e arredores", entre outras iniciativas. Mesmo assim, suas propostas encontram resistência.

"Culturalmente, os limites da negociação de terras para comunidades tradicionais esbarra na agropecuária. A demarcação nunca vai ser interesse dos proprietários", diz João Jorge Rodrigues, mestre em Direito Público e presidente do Olodum, na Bahia.

"Como alguém pode anunciar uma série de políticas para comunidades quilombolas e ao mesmo tempo ter um dos líderes do agronegócio como vice?", indaga.

Paulino Cardoso, da Associação Brasileira de Pesquisadores Negros (ABPN), também é cético. "Marina se alia a bancos e oligarquias para fazer o que chama de nova política. Papel aceita tudo. A gente precisa saber como vai ser feito."

Cotas por dez anos

Os três principais candidatos à presidência nestas eleições defendem a política de cotas raciais em universidades.

Em seu programa de governo, a ex-senadora diz "reafirmar a importância das cotas para população negra brasileira, como medida temporária, emergencial e reparatória da dívida histórica, com data prevista para terminar".

Já Dilma Rousseff afirma pretender "tornar realidade a Lei de Cotas no serviço público federal, garantindo-lhe a mesma efetividade já alcançada pela lei de cotas nas universidades". Aécio Neves vai na mesma linha, pregando a "defesa e manutenção das ações afirmativas de inclusão social, inclusive cotas, em razão de raça".

Viúva do ex-senador Abdias Nascimento, criador do Teatro Experimental do Negro nos anos 1940 e premiado pela Unesco por seu pioneirismo na luta pelos direitos da população negra, Elisa Nascimento, a presidente do Ipeafro, critica o texto do programa da candidata do PSB sobre cotas.

"Ela fala sobre as cotas como medida com data prevista para terminar, mas não vejo como determinar uma data. Estamos longe de uma situação social de equilíbrio, sem desigualdades estatísticas entre negros e brancos", diz.

Segundo o IBGE, 66,6% dos estudantes brancos de 18 a 24 anos frequentam universidades, enquanto 37,4% dos negros ou pardos estão no ensino superior.

Ouvida pela BBC Brasil, a coordenação do programa racial de Marina afirma que 10 anos seriam o horizonte esperado para a transição de cotas raciais para cotas sociais.

"A gente não quer que o negro fique para sempre dependendo das cotas", diz Valneide Nascimento.

"O recorte racial nas cotas é necessário, porque pobreza e racismo são coisas diferentes", contra argumenta Elisa. "O fator racial é outro e não se resolve com políticas generalistas."

Símbolo

Para a médica Jurema Werneck, da Articulação de Organizações de Mulheres Negras Brasileiras, a falta de propostas efetivas para a população negra é um problema comum a todos os candidatos.

A possibilidade de uma presidente negra "é simbolicamente importante", diz a ativista.

"Mas este é um simbolismo que fala mais do passado, da luta que o movimento negro travou e que permitiu que ela chegasse lá", diz. "Marina Silva e nenhuma outra candidatura à presidência se colocaram [sobre políticas para os negros]. A classe política ainda está muito atrasada nisto."

Para Thaís Santos, do Coletivo Negro, da USP, a candidata se declarar ou não negra "não significa muito".

"Num país onde muitos dos negros não se entendem como negros, não a entenderão também. Se ela declarasse isso nas propagandas, se isso fosse parte de sua campanha, era outra coisa."

A biografia da candidata, publicada em seu site oficial de campanha, não menciona sua cor.

Ainda assim, Dennis de Oliveira, professor da USP e coordenador do coletivo Quilombação, considera importante que afrobrasileiros ganhem espaço em esferas de poder - e cita Joaquim Barbosa, ex-presidente do Supremo Tribunal Federal.

"Marina militou com seringueiros, mas não me lembro de políticas para a população negra", afirma. "Ela é muito mais percebida pela questão ambiental do que pela identificação com os negros."

Segundo a coordenadora de políticas raciais, Valneide Nascimento, "o programa foi construído com a participação de representantes da sociedade e da militância em todo o Brasil".

Questionada sobre quais grupos de militância participaram, Nascimento não soube responder. "Eram muitos, a gente chamava e eles iam."

Portugal: O MAL-AMADO



Baptista-Bastos – Diário de Notícias, opinião

A derrota de António José Seguro, pela extensão e pelo número, configurou o escorraçar de um mal-amado e o desfazer de um equívoco. A política do secretário-geral do PS (ou, melhor, a falta dela) para enfrentar e combater a agenda do PSD; os indícios fornecidos pelas grandes manifestações populares; as decisões do Governo, cada vez mais autoritário e infenso aos clamores e às angústias da população, tudo isso exigiam uma disposição, uma coragem e, sobretudo, uma força moral de que Seguro não dispunha.

As suas intervenções, no Parlamento e fora dele, a falsa desenvoltura e o oculto embaraço; a miséria de uma retórica que personalizava tudo com um "eu quero" enfático, haviam feito deste homem obsoleto a caricatura de um político a sério. Adicione-se a estas falhas as deficiências de carácter, reveladas logo após a queda de Sócrates, que apenas por pudor não insisto em relembrar.

Durante a campanha assistimos à simpatia com que Seguro era tratado por elementos do Governo, e por comentadores e jornalistas estipendiados, e ao mal dissimulado desdém destes por António Costa. Sem esquecer as afirmações do Marcelo e do Marques Mendes, os quais entendiam que uma vitória de Seguro seria mais benévola para Passos Coelho. Penso que as coisas não são assim tão distendidas entre Costa e Seguro, mas o primeiro provém de outra cultura ideológica, de outra família política e de predicados consolidados em lutas antigas e nobres. Um legado nada despiciendo.

Não se pense que, assim de repente, Costa vai restituir as funções, as noções e os princípios comuns a um partido socialista, há muito esquecidos e traídos. No Fórum Lisboa revi muitos daqueles que ressuscitam sempre que lhes cheira a poder, a empregos e a funçanatas.

O PS, cheio de artroses, de vícios e de cãibras, tem de ser removido, e Costa e os seus enfrentam trabalhos e ciladas enormíssimos. Esta é a questão mais premente que se apresenta. Que Partido Socialista deseja António Costa, depois de desenterrar velhos símbolos, como o punho erguido, e o cravo vermelho, afastados do proscénio, como se ambos não fossem pertença de uma longa história resistente e sem donos?

Os obstáculos que o grande vencedor das primárias vai encontrar têm que ver com os que querem um PS sossegadinho e brunido, de vã retórica e absorto no "deixar andar", e aqueles que ambicionam rumar a outros portos. A votação de domingo surge como o despertar de qualquer coisa de veemente e de profundo. Claro que a participação dos "simpatizantes" e o número significativo dos votantes, aparentemente não filiados, sugerem outras injunções e permitem admitir que os "externos" deram um impulso poderoso ao movimento das coisas. Os sinais e as exigências de mudança, no partido e no País, não podem ser ignorados por uns e por outros.

Portugal - GES: Tudo sobre reunião de milhões que 'anunciava' fim dos Espírito Santo




Cinco milhões de euros obrigaram a uma reunião sobre assinaturas. Em causa estaria uma forma de legitimar um pagamento que estaria já a ser investigado, conta o jornal i, que fez a reconstituição de uma reunião particularmente reveladora, do Conselho Superior do Grupo Espírito Santo (GES).

O jornal i faz hoje primeira página com a revelação adiantada ontem: os cinco principais clãs dos Espírito Santo receberam cinco milhões de euros, em comissões dos submarinos. Numa reconstituição da reunião, percebemos como Ricardo Salgado e a cúpula família debatiam negócios, nomeadamente os que tinham chamado a atenção da Justiça.

Nesta reunião, que decorreu a 7 de novembro de 2013, da cúpula da família, que envolveu os membros do Conselho Superior do Grupo Espírito Santo (GES), José Maria Ricciardi terá contestado abertamente pela primeira vez a liderança de Ricardo Salgado, sinal de que nem tudo ia bem no ‘reino’ dos Espírito Santo.

Mas a reunião dá-nos a conhecer mais pormenores: quando o Estado pagou 30 milhões de euros em consultadoria à Escom, na polémica compra de submarinos, os Espírito Santo terão recebido cinco milhões, distribuídos posteriormente por toda a família. “Deram-nos cinco a nós e eles [administradores da Escom] guardaram 15”, terá dito Ricardo Salgado. Cinco milhões de euros, um valor que terá sido bastantes vezes repetido no decorrer da reunião, conta ainda o i.

Na reunião, Salgado pedia “a assinatura dos cinco”, uma defesa para quando o processo fosse “tornado público”. A razão? Salgado queria que “institucionalizasse” este pagamento como um ato de gestão. Na altura já decorria uma investigação ao caso dos submarinos que tinha levado ao levantamento do sigilo bancário na Suíça.

Era certo que pelo menos três membros do Conselho Superior tinham recebido um milhão de euros, acrescenta o mesmo jornal. O DCIAP, departamento da Procuradoria-Geral da República, sabia. Ricardo Salgado também. A preocupação agora era legitimar os valores pagos.

Terá sido nesta reunião que se falou dos pormenores de todo o negócio, das contas encerradas pela justiça na Suíça, do processo que decorria envolvendo a Escom, empresa de quem o GES era acionista maioritário, com 67%. Sobre o caso dos submarinos, Salgado tinha também a sua própria impressão sobre um processo que levou a condenações na Alemanha e na Grécia, que também adquiriu submarinos, mas não em Portugal: o processo “poderia vir a ser arquivado”.

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Portugal – BES: CONSELHO SUPERIOR, ONDE TUDO ERA DISCUTIDO SOB SIGILO



Sílvia Caneco – jornal i

Salgado descreveu-o como o órgão onde tudo era “discutido até à exaustão”. Era ali que era discutido o futuro do grupo por representantes dos cinco ramos da família: em 2012 passou a ter nove elementos, mas só cinco continuaram a ter poder de voto

A decisão foi tomada depois de o Estado sair do capital do banco e de Ricardo Salgado se ter tornado, aos 47 anos, o mais jovem membro da família a assumir o cargo de presidente executivo do BES. Os Espírito Santo queriam promover o diálogo e que todas as decisões importantes relacionadas com o grupo fossem tomadas por consenso e sob um manto de confidencialidade. Foi com esses objectivos que, em 1991, criaram o Conselho Superior do GES e, em Junho de 1993, o regulamentaram.

“O Conselho Superior tem por missão zelar, de forma permanente, pela preservação e realização dos interesses do Grupo Espírito Santo e das actividades das sociedades que o compõem”, diz o regulamento do Conselho Superior assinado em Maio de 2011, e a que o i teve acesso. O decano do clã, António Ricciardi, apresentou-o assim: “O órgão com a missão de colegialmente decidir superiormente em relação a qualquer actividade do grupo.” Salgado elogiou a capacidade de diálogo que o órgão promovia: “O grupo discute até à exaustão e só quando todos estão de acordo a decisão é tomada.”

No órgão de cúpula da família estavam representados cinco clãs. Todos eles com o mesmo poder de voto e todos eles accionistas da Espírito Santo Control, a sociedade-mãe do conjunto de empresas que formam o Grupo Espírito Santo. Mário Mosqueira do Amaral era o único que não pertencia à família, mas era tratado como se pertencesse. António Ricciardi, pai de José Maria Ricciardi, presidia ao Conselho. Além dele e de Mosqueira do Amaral, o grupo era constituído por Ricardo Salgado, José Manuel Espírito Santo Silva e Manuel Fernando Espírito Santo, representante de Maria do Carmo Moniz Galvão Espírito Santo. A estrutura viria a crescer em 2012, quando os cinco ramos da família decidiram abrir o órgão a novos elementos. Cada um podia designar até dois representantes.

Só Ricardo Salgado não apresentou um número dois. António Ricciardi nomeou o filho, José Maria Ricciardi, presidente do Banco Espírito Santo Investimento. José Manuel Espírito Santo nomeou o sobrinho Ricardo Abecassis Espírito Santo, que vive no Brasil. Manuel Fernando Espírito Santo designou o irmão José Manuel. E Mário Mosqueira do Amaral escolheu o filho Pedro, que viria a substituí-lo após a sua morte, em Março de 2014. Só uma coisa não mudou na génese do Conselho Superior: os novos membros tinham direito a participar nas reuniões e a discutir soluções, mas não podiam votar. Na prática, o poder mantinha-se nas mesmas cinco mãos.

Regras O regulamento do Conselho Superior deixa claro que não faltavam regras na organização da lógica familiar. Os ramos da família que estavam no Conselho Superior e que tinham o poder de decidir, por exemplo, sobre a aquisição ou alienação das participações sociais das sociedades que compunham o grupo, estavam vinculados “ao estrito dever de sigilo e confidencialidade” sobre assuntos discutidos naquelas reuniões, a menos que por unanimidade decidissem partilhar com terceiros algumas decisões. A regra da confidencialidade aplicava-se também ao contrato que tinham assinado: ninguém, além dos mesmos, poderia conhecê-lo. Se decidissem vender parte ou a totalidade das suas acções na ES Control, tinham de informar o Conselho por escrito sobre quem ia comprar, quantas acções seriam transmitidas, em que condições e por que preço. Para impedir que o controlo saísse das mãos da família, os outros membros tinham direito de opção em caso de venda. O importante era que não se violasse a cláusula 1: os membros do Conselho Superior obrigavam-se a que a sua participação conjunta na ES Control nunca fosse inferior a 51%.

As regras também ditavam que os ramos da família representados no Conselho Superior deveriam reunir-se ordinariamente uma vez por mês e, extraordinariamente, sempre que o presidente ou dois dos seus membros o convocassem, com pelo menos uma semana de antecedência. Dadas as emergências, nos últimos tempos do antigo Conselho Superior, entre o final de 2013 e o Verão de 2014, houve reuniões separadas por dias.

Mas nem só de regras se compunha o regulamento da cúpula. As empresas do GES onde os membros do Conselho Superior exercessem funções, por exemplo, deveriam ter planos de reforma que passassem por dar aos seus trabalhadores pensões iguais aos seus salários brutos. Em caso de morte, o cônjuge e os filhos menores teriam direito a uma pensão de sobrevivência equivalente a 60% do salário pensionável. No caso dos filhos, até que atingissem a maioridade.

Leia mais em jornal i (edição em papel)

Portugal: A IMPUNIDADE DOS ESPÍRITO SANTO



Luís Rosa – jornal i, editorial

A ganância, esse pecado capital, acaba por afundar ainda mais a família por causa de 5 milhões de euros

Depois de darmos a história que publicamos aqui ao lado como confirmada, só me ocorreu uma palavra: “ganância”. Não é só de Ricardo Salgado, mas sim de praticamente toda uma família de banqueiros. São todos os ramos que se fazem representar no Conselho Superior do Grupo Espírito Santo. Todos terão recebido uma comissão de um milhão de euros pelo negócio de compra dos submarinos por parte do Estado português.

O trabalho de Sílvia Caneco demonstra que a família Espírito Santo não pára de nos surpreender – a nós, os os comuns mortais. Já tínhamos assistido a uma guerra familiar em plena praça pública, à derrocada do banco da família e à falência de sociedades fundamentais do Grupo Espírito Santo (GES). Mas ainda não sabíamos que a família Espírito Santo tinha recebido alegadas “comissões” do negócio dos submarinos. E muito menos que discute de forma aberta, e em reuniões de um órgão institucional do grupo, o alegado pagamento de “comissões” que empresas do GES alegadamente fizeram aos administradores da casa mãe. São 5 milhões de euros que Ricardo Salgado, então presidente executivo do BES, confirmou várias vezes naquele dia 7 de Novembro de 2013 que foram pagos aos cinco ramos da família Espírito Santo, liderados por Ricardo Salgado, José Manuel Espírito Santo (ao qual pertence Ricardo Abecassis), Moniz Galvão (representado por Manuel Fernando Espírito Santo), comandante António Ricciardi e Pedro Mosqueira do Amaral.

A primeira pergunta é simples: porquê? A que título estes banqueiros têm direito a receber uma comissão por um negócio do qual uma empresa do seu grupo foi consultora? A que propósito é criada uma rede obscura de circulação de dinheiro para pagar 5 milhões de euros aos ramos da família Espírito Santo? E qual a necessidade de uma “comissão” sobre um negócio com o Estado português com os dividendos e os salários principescos que receberam anualmente do GES e do BES? Que necessidade tinham? Uma coisa é certa: as comissões que foram pagas pela Escom muito dificilmente terão justificação legal. Trata-se de receitas que constituem património da Escom e que não podem ser utilizadas desta forma. Ajustiça ditará. O Departamento Central de Investigação e Acção Penal tem aqui mais uma excelente oportunidade e um desafio para desenvolver as investigações ao BEsgate.

Ricardo Salgado já tinha dado provas do seu relativismo moral com a história da prenda dos 14 milhões de euros que recebeu do seu cliente José Guilherme. Tentou desvalorizar o óbvio: o presidente executivo de um banco não pode receber prendas ou promover consultorias a clientes. Com o trabalho de investigação que o i hoje revela também se comprova que Ricardo Salgado geriu a família ao longo dos últimos 30 anos com mão de ferro e com base na regra “não sabe, não pergunte”, ao mesmo que tempo que a adocicava a boca dos restantes familiares com generosos pagamentos de dividendos a cada ramo ou de alegadas “comissões”, como a dos submarinos, divididas por todos. O facto de assuntos como as “comissões” dos submarinos serem discutidos e aprovados pelo Conselho Superior do GES revela igualmente que afinal a estratégia de Ricardo Salgado pode ter fundamento. Afinal todos sabiam o que Salgado fazia?

FMI. INVESTIMENTO PÚBLICO NOS RICOS, AUSTERIDADE NOS POBRES



António Ribeiro Ferreira – jornal i

Relatório apela a mais despesa pública em países como a Alemanha. Zona euro cada vez mais ameaçada pela deflação

É mais uma pedrada no charco da zona euro. Vem de Washington, do Fundo Monetário Internacional, uma organização que nos últimos meses tem sido bastante crítica da política europeia e em particular da levada a cabo e imposta pela Alemanha. O FMI tem vindo a referir de forma sistemática que a zona euro e a União Europeia são responsáveis pelo fraco crescimento da economia mundial. Ontem, no seu outlook do Outono, a instituição liderada por Christine Lagarde abre nova polémica ao defender mais investimento público nos países com economias desenvolvidas, isto é, como a Alemanha. Mas Berlim, alvo de críticas fortíssimas por ter excedentes comerciais enormes e não fomentar mais a procura interna, uma forma de ajudar os periféricos a aumentar as exportações, responde de forma gelada: já instituiu o salário mínimo e subiu pensões num ano em que na sua economia está a sofrer com a crise da Ucrânia, com crescimentos abaixo das expectativas, a confiança dos empresários a cair de mês para mês e o desemprego a subir ligeiramente. Mas vamos ao FMI. O Fundo Monetário Internacional defende, num capítulo do World Economic Outlook divulgado ontem, que um aumento do investimento público em infra-estruturas pode ajudar a impulsionar a actividade económica e a criar empregos, sem aumentar a dívida. No caso das economias avançadas, o Fundo indica que "um aumento de um ponto percentual no PIB em despesas de investimento em infra-estruturas aumenta o nível de produção 0,4% no mesmo ano e 1,5% quatro anos depois".

CRESCIMENTO COMPENSA DÍVIDA 

Além disso, "o crescimento no PIB que um país ganha através do aumento do investimento público em infra-estruturas compensa o aumento da dívida", conclui o FMI: "Por outras palavras, o investimento público pagar-se-ia a si próprio se feito de forma correcta." Para o fundo, os ganhos do investimento dependem do grau de folga económica, da eficiência do próprio investimento e da forma como é financiado. Segundo o estudo, os dados sobre os países com economias avançadas "sugerem que o investimento público que é financiado através de emissão de dívida tem efeitos produtivos mais prolongados que quando é financiado através do aumento de impostos ou da redução de despesa".

INFLAÇÃO PRESSIONA DRAGHI 

A taxa de inflação anual na zona euro recuou em Setembro 0,1 pontos, para os 0,3%, face a Agosto, segundo uma estimativa rápida ontem divulgada pelo Eurostat. Mais um dado a pressionar Mario Draghi e o BCE, que reúne amanhã o Conselho de Governadores. Segundo o gabinete oficial de estatísticas da União Europeia, o sector dos serviços foi o que registou uma taxa de inflação mais elevada (1,1%, contra 1,3% em Agosto), seguindo-se os da alimentação, bebidas alcoólicas e tabaco (0,2%, face aos -0,3% de Agosto), bens industriais (0,1%, comparando com 0,3% de Agosto) e energia (-2,4%, face aos -2,0% registados em Agosto). Com Lusa

Foto: Yuya Shino/Reuters

Hong Kong: Manifestações continuam. Chefe do Executivo apupado no Dia Nacional da China




Manifestações estendem-se à zona de comemorações do Dia Nacional da China

01 de Outubro de 2014, 08:01

Hong Kong, China, 01 out (Lusa) - As manifestações pela democracia e pelo sufrágio universal em Hong Kong estenderam-se esta noite à zona onde está prevista a cerimónia do hastear da bandeira nas celebrações do Dia Nacional da China, na quarta-feira.

Grupos de manifestantes concentrados em Admiralty, zona onde se encontram os escritórios centrais do governo local, começaram por volta da meia-noite (17:00 em Lisboa) a deslocar-se para a praça 'Bauhinia Dourada', cujo acesso já se encontrava bloqueado por agentes da polícia.

Os manifestantes deslocaram-se para a praça Bauhinia Dourada, que tem o nome da flor-emblema da Região Administrativa Especial de Hong Kong, numa altura em que estavam em vigor avisos meteorológicos de trovoada, e amarelo de chuva forte entretanto levantados.

Pelas 06:30 de quarta-feira em Hong Kong (23:30 em Lisboa), não chovia e os manifestantes aguardavam na zona pelo início das celebrações do Dia Mundial da China, marcado para as 8:00 (01:00 em Lisboa).

Estudantes circulavam entre os manifestantes com cartazes e ecoando 'slogans' de apelo à não violência: 'Nós somos estudantes e dizemos não à violência".

A decisão de levar manifestações em prol da democracia em Hong Kong para a cerimónia do içar da bandeira não agradou a todos.

"Partes do movimento não apoiam a ideia de ir para aquela praça porque não queremos que a sociedade pense que estamos a criar muita confusão com esta campanha. É muito sensível porque é o Dia Nacional da China", disse à agência Lusa grau Yiu, de 23 anos.

"Não queremos dar nenhuma desculpa à polícia para usar a violência outra vez", acrescentou o funcionário de terra do aeroporto.

O amigo que o acompanha, Luigi Cheung, de 31 anos, subscreveu a ideia de voltar para o protesto instalado em Admiralty.

Já outros ativistas prognosticaram que a concentração junto ao local do hastear da bandeira deverá decorrer pacificamente e sem perturbar as cerimónias. "Só queremos falar com o chefe do Executivo", disse uma jovem não identificada.

O eventual regresso da chuva também não amedronta os manifestantes. "O tempo não nos vai parar. Depois da chuva, as flores vão florescer mais depressa e vamos criar uma floresta", disse Luigi Cheung, diretor de arte do grupo ActKi.

"Se realmente queremos este lugar e se formos criados neste lugar, então temos de lutar", sublinhou Gary Yiu.

A praça Bauhinia Dourada fica na zona de Wan Chai, adjacente a Admiralty, onde têm decorrido protestos.

FV/ANC // JPS

Festejos do Dia Nacional da China arrancam em ambiente pacífico

01 de Outubro de 2014, 12:44

Hong Kong, China, 01 out (Lusa) - As celebrações do Dia Nacional da China arrancaram hoje sem incidentes em Hong Kong, com os estudantes a pedirem a nomeação civil dos futuros candidatos ao chefe do Executivo e a democracia plena, entre apelos à não-violência.

As cerimónias tiveram início pelas 08:00 com o hastear da bandeira na Praça Bauhinia Dourada, que tem o nome da flor-emblema da Região Administrativa Especial de Hong Kong.

O chefe do Executivo de Hong Kong e governantes foram recebidos pelos manifestantes ali concentrados com apupos, mas de forma ordeira e pacífica.

O início das celebrações do Dia Nacional da China foi, também, diferente para o deputado ao Conselho Legislativo de Hong Kong Leung Kwok-hung, conhecido por "long hair" (cabelos compridos), que todos os anos se dirige à zona para protestar, mas é bloqueado pelas autoridades.

"Esta foi a primeira vez que nos deixaram passar porque os estudantes estão aqui", disse à agência Lusa Mark Lee, um dos elementos que formava uma alegórica representação fúnebre ao Partido Comunista Chinês (PCC).

Este mesmo cortejo circulou durante breves minutos entre as duas entradas, bloqueadas, da praça com mensagens a defender o fim do comunismo e partido único na China.

"Como o PCC é muito poderoso, se a China não se tornar democrática, vai ser difícil alcançarmos uma verdadeira e justa democracia em Hong Kong", afirmou o m esmo responsável.

"Este é o maior protesto e o mais pacífico ao qual eu já assisti com zero violência, só (quebrada) pelo governo", sublinhou.

Estudantes e membros do movimento pró-democracia 'Occupy Central' pedem a demissão do chefe do Executivo de Hong Kong e a eleição direta dos futuros candidatos a líderes da região.

FV // JCS

Dirigente do 'Occupy Central' pede continuação das manifestações

01 de Outubro de 2014, 08:53

Hong Kong, China, 01 out (Lusa) - Um dirigente do movimento 'Occupy Central' condenou a violência e defendeu a continuidade dos protestos nos próximos dias, num discurso para os manifestantes na noite de terça-feira junto à sede do governo.

"Precisamos de prosseguir com a democracia", afirmou Chan Kin Man, ao referir a necessidade de serem mantidos os vários locais de protestos no centro financeiro e de negócios de Hong Kong.

Numa intervenção em Admiralty (sede do governo), em que começou por invocar o lançamento, no domingo, de gás lacrimogêneo sobre os manifestantes, Chan Kin Man repetiu apelos aos estudantes para não reagirem a eventuais novas ações de violência.

Depois explicou os dois objetivos do 'Occupy Central': a demissão do chefe do Executivo, CY Leung, e a revogação da decisão tomada no final de agosto pelo governo central, de que o candidato a líder da região de Hong Kong deve ser sujeito a um processo de pré-seleção por Pequim.

"O governo tem a polícia, a autoridade e o dinheiro. Nós cidadãos, temos o nosso próprio sonho, e temos a humanidade e a justiça, por isso devemos ganhar", concluiu.

Já Eason Chung, secretário-geral da Federação de Estudantes, disse à agência Lusa que a organização "pondera estender a ação de protesto com bloqueios a direções do governo", mas sem avançar mais explicações.

FV// JPS

Chefe do Executivo destaca o que diz ser "melhoria" do sistema

01 de Outubro de 2014, 13:44

Hong Kong, China, 01 out (Lusa) -- O líder do Governo de Hong Kong, Leung Chung-ying, destacou hoje a "melhoria" do sistema eleitoral aprovado por Pequim para 2017 que garante um "voto por pessoa", apesar da população ter de escolher entre candidatos triados pelo comité eleitoral.

"É entendível que muita gente diferente tenha diferentes opiniões sobre o sistema desejável. Mas é melhor ter sufrágio universal que o não ter. É definitivamente melhor que o líder local seja eleito por cinco milhões de votantes que por 1.200 pessoas", defendeu Leung Chung-ying na cerimónia do hastear da bandeira por ocasião do Dia Nacional da China que hoje se assinala.

O mesmo responsável respondia, assim, aos milhares de manifestantes que continuam a ocupar as ruas do centro da cidade e que, hoje, apesar de em menor número, continuavam em protesto e apuparam o Executivo antes do início da cerimónia, exigindo não só a demissão do líder do Governo como a democracia plena na cidade.

Após a cerimónia do hastear da bandeira, Leung Chung-ying juntou, num brinde, muitas das personalidades de Hong Kong, sempre secundado por protestos dos estudantes que, na cerimónia em si, se mantiveram silenciosos e ordenados.

Entre os manifestantes estava o líder estudantil Joshua Wong, de 17 anos, detido no sábado e libertado no dia seguinte.

À chegada de Leung Chung-ying, um grupo de manifestantes gritava "abaixo 689", numa referência aos 689 votos que este recolheu quando foi eleito em 2012.

No mesmo local, outro grupo, mas de apoiantes do Executivo, gritou algumas palavras de ordem a favor do Chefe do Governo.

A Região Administrativa Especial de Hong Kong tem sido palco de protestos, contra a recusa de Pequim em admitir o sufrágio universal para a eleição do chefe do executivo local, que ganharam uma dimensão inesperada.

No domingo, a polícia antimotim recorreu a gás pimenta e gás lacrimogéneo para dispersar manifestantes após o intensificar dos protestos nas ruas durante o fim de semana, altura em que o movimento 'Occupy Central' se juntou a protestos estudantis, antecipando o início da sua campanha de desobediência civil prevista para arrancar na quarta-feira, dia 01 de outubro, Dia Nacional da República Popular da China.

Os protestos são motivados pela decisão de Pequim que anunciou, em 31 de agosto, que os aspirantes ao cargo de chefe do executivo de Hong Kong vão precisar de reunir o apoio prévio de mais de metade dos membros de um comité de nomeação, controlado pelo governo central chinês, para poderem concorrer à próxima eleição e que apenas dois ou três candidatos serão selecionados.

A população de Hong Kong poderá exercer o seu direito de voto mas só depois daquilo que os democratas designam de 'triagem'.

A China tinha prometido à população de Hong Kong, cujo chefe do Governo é escolhido por um colégio eleitoral composto atualmente por cerca de 1.200 pessoas, que poderia escolher diretamente o seu líder em 2017.

JCS (DM) // JCS

Movimento vai "aumentar consciencialização da população" - líder estudantil

01 de Outubro de 2014, 15:19

Hong Kong, China, 01 out (Lusa) - O líder do movimento estudantil que em Hong Kong exige o sufrágio universal pleno para a eleição do chefe do Governo, Eason Chung Yi-wa, disse que o movimento pró-democrata visa "aumentar a consciencialização da população".

"Queremos que um cada vez maior número de pessoas se aperceba do que lhe corresponde: do seu direito de voto", destacou o dirigente estudantil numa entrevista à agência Efe, junto ao palco improvisado instalado no centro do local de manifestação, perto da entrada da sede do Governo, em Admiralty.

Como um dos secretários-gerais da Federação de Estudantes, organização que apelou ao boicote às aulas e, posteriormente, à ocupação das ruas do centro da cidade, o jovem admite estar impressionado com a magnitude adquirida pelo movimento.

"Quando anunciámos o boicote não pensamos que teríamos uma resposta tão esmagadora", admitiu o estudante universitário, manifestando-se mesmo emocionado com os acontecimentos que colocaram Hong Kong no centro mediático do mundo.

Eason Chung Yi-wa explicou também que o movimento começou com pequenos eventos e planos na universidade e acabou em confrontos com a polícia depois de os agentes antimotim terem tentado reprimir a manifestação, recorrendo a gás pimenta no início dos protestos.

"Então todo o mundo se sentiu parte da nossa luta e começou a aumentar o número de pessoas que se juntaram", recordou ao salientar que espera hoje, quando se celebra o Dia Nacional da China, que mais pessoas se juntem ao movimento por democracia plena na cidade.

Eason Chung Yi-wa disse também não haver ainda um plano para as ações populares de hoje do movimento que está bem organizado e estruturado, mas não tem um líder formal.

A Região Administrativa Especial de Hong Kong tem sido palco de protestos, contra a recusa de Pequim em admitir o sufrágio universal para a eleição do chefe do executivo local, que ganharam uma dimensão inesperada.

No domingo, a polícia antimotim recorreu a gás pimenta e gás lacrimogéneo para dispersar manifestantes após o intensificar dos protestos nas ruas durante o fim de semana, altura em que o movimento 'Occupy Central' se juntou a protestos estudantis, antecipando o início da sua campanha de desobediência civil prevista para arrancar na quarta-feira, dia 01 de outubro, Dia Nacional da República Popular da China.

Os protestos são motivados pela decisão de Pequim que anunciou, em 31 de agosto, que os aspirantes ao cargo de chefe do executivo de Hong Kong vão precisar de reunir o apoio prévio de mais de metade dos membros de um comité de nomeação, controlado pelo governo central chinês, para poderem concorrer à próxima eleição e que apenas dois ou três candidatos serão selecionados.

A população de Hong Kong poderá exercer o seu direito de voto mas só depois daquilo que os democratas designam de 'triagem'.

A China tinha prometido à população de Hong Kong, cujo chefe do Governo é escolhido por um colégio eleitoral composto atualmente por cerca de 1.200 pessoas, que poderia escolher diretamente o seu líder em 2017.

JCS (DM) // PJA

*Título PG

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