CGTP e movimentos cívicos querem uma multidão no Terreiro do
Paço
Rita Brandão Guerra, Fabíola Maciel –
Público
A manifestação “Todos a Lisboa contra o roubo dos
salários, pensões e reformas”, convocada pela CGTP para este sábado às 15h, no
Terreiro do Paço, promete contar com a participação massiva de diversos
movimentos cívicos.
Unidos contra as políticas do Governo e da troika,
estarão ao lado da maior central sindical do país activistas da manifestação do
passado dia 15 de Setembro, do Movimento 12 de Março (M12M), do Movimento sem
Emprego (MSE) ou do movimento “Acordai”.
Ao PÚBLICO, o secretário-geral da CGTP, Arménio Carlos, reconhece como positiva
a participação de diversas plataformas. “Valorizamos uma grande unidade na
acção e fazemos um apelo à participação de todos. Esta manifestação procura dar
espaço a todos os que estão contra as políticas de direita e da troika e
que exigem um novo rumo para o país. Todos são bem-vindos e serão recebidos de
braços abertos”, diz.
Desta vez, a CGTP assume a bandeira de querer ultrapassar aquilo que é o seu
universo típico. Ainda que de olhos postos na administração pública e nos
grandes sectores de actividade, como são por exemplo os transportes e a
indústria, mas também nos reformados e pensionistas, os mais de 10 mil
delegados sindicais envolvidos na manifestação, assim como dois a três mil
dirigentes da CGTP, não descuram o que já não podem controlar.
E se continuaram a privilegiar o contacto directo com os trabalhadores nos seus
postos de trabalho e se desdobraram na realização de plenários e sessões de
esclarecimento nas duas últimas semanas, sabem que a associação dos jovens
promotores de iniciativas no Facebook e na rua é uma mais-valia. “Há uma aposta
muito grande na população em
geral. Não se controla o Facebook. O que verificámos em
relação às redes sociais é que houve uma difusão massiva que não acontecia
antes em relação às nossas manifestações. A consulta ao site da CGTP passou
para 300 a 400 mil visitas numa semana”, explica Armando Farias, membro da
Comissão Executiva da CGTP.
Também João Labrincha, membro do M12M, considera que “vai estar muita gente”.
“Tenho recebido mensagens de pessoas fora de Lisboa que estão a ponderar
apanhar os autocarros da CGTP. Pessoas que normalmente não viriam, que não
vieram ao 15 de Setembro e que vêm agora”, diz.
Já João Camargo, um dos promotores da manifestação “Que se Lixe a Troika,
queremos as nossas vidas de volta”, partilha as reivindicações da central
sindical, mas assume que os protestos continuam a estar direccionados para a troika.
O movimento considera que “o povo já deu unanimemente uma moção de censura ao
Governo”.
Ana Rajado, porta-voz do Movimento Sem Emprego (MSE), explica que a plataforma
assegura propaganda própria e distribuirá cerca de dez mil panfletos com as
exigências do movimento. “Lutamos pela redução do horário de trabalho sem
redução salarial e queremos o retorno de todos os direitos, dos subsídios
cortados injustamente”, afirma.
Apesar de estar alheio às reivindicações da CGTP, o movimento “Acordai” aposta
em pôr o máximo número de pessoas a entoar a música de Fernando Lopes-Graça e
José Gomes Ferreira. Para isso, serão distribuídos panfletos com o poema, que
será entoado às 15 horas, no Terreiro do Paço, e às 19h45, nas arcadas do
Teatro D. Maria II.
Durante esta semana, Arménio Carlos assumiu esperar que a manifestação deste 29
de Setembro fosse “uma das maiores de sempre”, “uma imensa multidão” contra o
Governo e contra a troika . Mas nos bastidores da central sindical
não se fazem prognósticos. Esperam que seja maior do que a de 15 de Setembro?
“Não sabemos”. Mas gostavam? “Com certeza, mas não se deve fazer esse tipo de
comparações. A Taxa Social Única (TSU) foi um clique, mas há um processo de
consciencialização anterior. Para nós, o importante é a participação das
pessoas e ganhar consciências”, explica Farias.
O apelo a uma participação massiva, feito por parte de vários movimentos
cívicos, nomeadamente os promotores do protesto de 15 de Setembro, é uma
vantagem para extrapolar a massa dos manifestantes da CGTP. Mas também aumenta
a possibilidade de imprevistos. Se a CGTP tem estudado ao pormenor o mapa da
praça e as organizações de todo o país sabem onde se deverão posicionar no
recinto, não haverá, no entanto, lugar destacado previamente pela central
sindical para estes manifestantes, assim como para quem espontaneamente se
associar.Referindo uma boa colaboração entre a organização da manifestação e a
polícia, a CGTP avança que desconhece os planos definidos pelas forças de
segurança para o Terreiro do Paço. Mas a própria central sindical tem dezenas
de activistas destacados para fazer a segurança dos participantes, instruídos
para prevenirem “situações estranhas que possam desestabilizar”.
“Aumenta o nível de descontentamento, de indignação e de revolta das pessoas.
Há um ano o Governo assumiu que a resolução dos problemas do país passava pela
aplicação do memorando da troika. Os trabalhadores do sector público e
privado perderam mais de dez por cento do poder de compra. A austeridade em
cima de austeridade gera o empobrecimento do país. Este é o momento certo para
responder contra a TSU e contra muitas outras medidas. Vamos ter uma grande
manifestação”, diz ao PÚBLICO Arménio Carlos.
Está previsto que o secretário-geral discurse pelas 16h, estando agendados
concertos de Janita Salomé e de os “Homens da Luta”. A CGTP prepara-se para
desmobilizar a partir das 17h.