domingo, 9 de junho de 2013

PORTUGAL – COISAS DO “ARCO DA VELHA”!

 

 
Martinho Júnior, Luanda
 
1 – Encerra no dia em que escrevo (9 de Junho de 2013) mais uma reunião anual do grupo Bilderberg, agora mais publicitada e comentada que nunca.
 
Efectivamente, à medida que a “democracia representativa” é imposta como modelo acabado de como deve institucionalmente funcionar o poder de estado, mais publicidade se tem dado ao “acontecimento” Bilderberg, o que não deixa de ser um sinal evidente do que começa a ser do domínio público: a “democracia representativa” é a formatação política que mais convém aos interesses da aristocracia financeira mundial, das elites, como das oligarquias, no quadro da lógica capitalista e das “economias de mercado” e aqueles estados que ousarem, como Cuba, aprofundar a democracia no sentido da participação, arriscam-se a ser tratados como “estados terroristas”!...
 
Pelos vistos a saúde e a educação para todos parece ser inimiga da lógica capitalista tal como ela é sentida e digerida pela aristocracia financeira mundial e pelas elites: é precisamente com mais saúde e mais educação garantida que Cuba, em função da sua Revolução, avançou com ousadia na democracia participativa, no quadro aliás da lógica com sentido de vida!
 
O aprofundamento da democracia só poderá realizar-se com cada vez maior consciência e inteligência em relação à situação global e local e só se conseguirá alcançar um patamar estável, precisamente quando mais saúde e ensino para todos for propiciado e efectivamente garantido.
 
Enquanto a Revolução Cubana recorre à história e ao materialismo dialéctico, a José Marti, a Fidel de Castro, a Che Guevara, a Karl Marx e a Lénin para melhor fundamentar e aprofundar as conquistas da democracia participativa cujo único “lobby” é a Revolução, o campo capitalista esmera-se com um ramalhete de doutrinas, entre elas a de Karl Popper, de que não só alimenta a lógica capitalista contemporânea, mas sobretudo o neo liberalismo do modelo de globalização que interessa e convém precisamente à aristocracia financeira mundial, às oligarquias e às elites… ao império!...
 
2 – …E o império tem também no Bilderberg a sua expressão anual, por aquilo que implicam as análises, os pontos de vista e as opções daqueles que o servem, por dentro dos mecanismos de poder, por dentro dos bancos, por dentro das corporações multi-nacionais e por dentro dos “média de referência”, análises, pontos de vista e opções que com a “globalização que interessa” a bem ou a mal se tornam “determinantes”.
 
Até que ponto é que com lógica capitalista, globalização neo liberal, “democracias representativas”, formatação de novas elites, “mercados abertos”, “petróleo barato” e outros méritos como tais, estão afectivamente a ser “defendidos” os interesses da aristocracia financeira mundial, assim como das oligarquias e elites “representativas”, sua agenciadas?
 
Até que ponto está a ser bem sucedido o exercício do poder dos 1%, com as suas “receitas”, “ementas” e “correias de transmissão”, quanto tudo isso implica no carácter dos relacionamento para com os outros 99%, o resto da humanidade?
 
Para responder a tudo isso existem os “think tanks” elitistas e, entre eles, o “prestigiado” Bilderberg!...
 
3 – O representante assumido do Bilderberg em Portugal é uma figura notável no meio sócio-político: Francisco Pinto Balsemão.
 
Francisco Pinto Balsemão pertenceu, é preciso sempre recordá-lo, à “ala liberal” no tempo de Marcelo Caetano e, sendo um dos fundadores do Partido Social Democrata, continua a ser um dos “experts” e um potentado da comunicação portuguesa.
 
Essa é precisamente um tipo de trajectória e de personalidade que é modelar para estabelecer os vínculos do Bilderberg naquela parcela Ibérica e na sua expressão no mundo.
 
De facto, enquanto membro da “ala liberal”, ele pôde-se aperceber muito antes da eclosão do 25 de Abril, das transformações que a sociedade portuguesa foi tendo a nível dos processos de consciência e de inteligência sobre a evolução da situação, sem nunca deixar de se assumir ao serviço dum poder “forte” que tendia a adequar-se ao poder do capital: a época de transição foi uma experiência única e é desse tipo de capacidades de que tem de se nutrir o Bilderberg… “para responder aos desafios”…
 
4 – Francisco Pinto Balsemão na “democracia representativa” portuguesa passou a ser um cientista social do poder post 25 de Abril, um “guardião do templo” que interessa no quadro da lógica capitalista e da economia de mercado, um “estratega” para as opções sócio-políticas e mediáticas… um artífice do “arco de governação” de que o estado português se passou a nutrir.
 
Agora que a crise se tornou exponencial e avassaladora, é um dos homens mais habilitados, em nome da aristocracia financeira mundial e das oligarquias portuguesas, a fazer as escolhas, a modelar o poder e a orientar no caminho que, de acordo com as “receitas e as ementas” de conveniência, se tem de percorrer a curto, médio prazos… com os olhos tanto quanto o possível no longo e muito longo prazos.
 
Ele sabe que mesmo que cumpra com o mandato o actual governo não conseguirá sustentar-se em eleições próximas, pelo que há que preparar o futuro, com recurso ao “arco da governação”, não vá o diabo tecê-las… ou seja, precisamente no momento em que um governo patriótico e de esquerda é tido como possível opção alternativa.
 
Para ele um governo patriótico e de esquerda, abrangendo o PS, o PCP, o BE e os Verdes, mesmo numa “democracia representativa”, mesmo com os “Bilderbergers” do PS lá embutidos, pode quanto muito assumir uma transição mais caótica (a esquerda que fique com o ónus do caos, para que mais rapidamente as oligarquias voltem ao poder e o mantenham durante mais umas quantas décadas).
 
Se tiver que recorrer a essa trilha, Francisco Pinto Balsemão poderá de qualquer modo garantir para as correntes dominantes da globalização, tanto o PS quanto o CDS (o PSD está reservado ao plantão mais esbatido nos próximos tempos), nas pessoas de seus actuais dirigentes mais exponenciais ou em outros já antes co-optados e, no quadro dessa manipulação sem limites, garantir a continuidade do “arco da governação”.
 
É claro que a presença de Seguro e de Portas na Reunião de Londres do “Bilderberg” é uma pista das preocupações do “Clube” e do que Portugal pode esperar nos próximos tempos… coisas do “arco da velha”!...
 
Foto: Seguro e Portas presentes na reunião de Londres do “Clube Bilderberg”… coisas do “arco da velha”!
 

CORAGEM

 

 
Pedro Marques Lopes – Diário de Notícias, opinião
 
1. Há vozes importantes e sérias na maioria que vociferam agora contra a troika e o memorando. Não vale a pena falar dos que defendem o memorando como o atacariam se fossem essas as ordens dadas pelo chefe. Nem os que sem um pingo de vergonha o negociaram, escreveram o programa de governo e agora fingem não ter nada a ver com o assunto. Nem os que diriam o que quer que fosse por motivos meramente venais. Nem os que ontem se lembraram de frentes comuns contra a troika e que morreriam pela social-democracia em véspera de eleições autárquicas. E nem pensar em lembrar as palavras de Gaspar sobre o memorando e a sua recente afirmação sobre a sua deficiente negociação. Nenhum desses merece qualquer tipo de análise, uns por manifesta irrelevância, outros para não prejudicar o nosso sistema nervoso.
 
Interessa pensar em gente que contará para o futuro do PSD e do CDS, que tem apoiado o Governo e que tem vindo a deixar cada vez mais claro o seu desagrado com o actual estado de coisas. Miguel Frasquilho e João Almeida são dois bons exemplos.
 
O que estes e outros dirigentes do PSD e do CDS parecem esquecer é que Governo, troika, memorando e suas revisões são indissociáveis. Criticar a troika ou pedir uma mudança de atitude dos credores, como fez Miguel Frasquilho, é criticar violentamente o Governo e exigir uma mudança, que nunca acontecerá, na atitude do Governo.
 
Quantas vezes será preciso lembrar as palavras de Passos Coelho dizendo que o programa do Governo e do PSD era o memorando da troika? Quantas vezes será preciso recordar que era preciso ir além da troika? Mas não é preciso ir muito atrás no tempo. No momento em que a própria troika já percebeu que o plano não está a resultar e que, sem um pingo de respeito pelas vidas que destruiu, pelas empresas que faliu e pelo desespero que semeou, exibe publicamente o triste espectáculo do passa-culpas entre os seus membros, Gaspar diz no Parlamento que "não é verdade que o programa esteja a falhar" e que alguns dos problemas na actual execução orçamental se devem às más condições atmosféricas do primeiro trimestre do ano.
 
Que parte das pessoas responsáveis do PSD e do CDS ainda não perceberam quando lhes dizem que este Governo não mudará de rumo porque de facto acreditam nesta loucura? Será que nem as medidas como o corte dos 4 000 milhões de euros disfarçada de reforma do Estado sem critério ou plano e à margem do memorando não as fazem perceber o embuste? Como é que aceitam participar na conversa sobre ser preciso um orçamento rectificativo por causa do Tribunal Constitucional, sabendo que isso não passa duma vergonhosa mentira? Não sabem que a seguir a este rectificativo se seguirá outro porque, pura e simplesmente, a receita não está a resultar? Não saberão que este Governo acredita mais no programa da troika do que a própria troika? Ignoram que a grande maioria das medidas de austeridade postas em prática são da iniciativa do Governo e vão muito para além do acordado?
 
O problema é que sabem de tudo isto, como sabem do empobrecimento generalizado, do desemprego que fará emigrar os melhores duma geração e mandará para a miséria os que não poderem sair do país. Conhecem melhor que ninguém o que este Governo está a fazer à nossa comunidade e ao nosso futuro comum. Já perceberam a moral enviesada que pretende castigar o suposto comportamento mandrião do passado e que pretende criar o homem novo.
 
As críticas violentas à troika ouvidas esta semana no Parlamento por deputados da maioria apenas aparentemente foram feitas ao BCE, à Comissão e ao FMI, foram, sim, direitinhas ao Governo. Foi o maior acto de contestação interna desde o episódio da TSU.
 
É tempo de as pessoas do PSD e do CDS que sabem para onde o Governo nos está a levar assumirem as suas responsabilidades e mostrarem que há gente patriota e com sentido de Estado nos dois partidos da coligação. Chega de medo. Os partidos e sobretudo Portugal precisam como nunca de gente corajosa.
 
2. Não é propriamente novidade para ninguém que os candidatos às câmaras municipais pelo PSD irão tentar falar o menos possível da governação. Mais, ninguém ficará surpreendido se desatarem a criticar violentamente o Governo. Agora ver candidatos às principais câmaras do país, e até um ex-presidente do partido, a não colocar o símbolo do partido nos cartazes de campanha é, no mínimo, faltar ao respeito à história do PSD e aos seus militantes. Apesar destes fatídicos últimos anos o PSD tem uma história de que se pode orgulhar tanto no governo do país como na gestão autárquica.
 

“OS PORTUGUESES ESTÃO MUITO UNIDOS CONTRA O GOVERNO” – João Semedo

 


IEL (RRL/HYT) VC - Lusa
 
O coordenador do Bloco de Esquerda, João Semedo considerou hoje sem sentido de atualidade o discurso do Presidente da República sobre a união dos portugueses, alegando que os portugueses "estão muito unidos contra o Governo".
 
Em declarações aos jornalistas, na Feira do Livro de Lisboa, João Semedo apontou as palavras de Cavaco Silva, hoje, em Elvas, como "um apelo à resignação", mas "um apelo contra a vontade do povo português".
 
"O Presidente da República fala da unidade de todos os portugueses. Bom, mas hoje os portugueses estão muito unidos: muito unidos contra o Governo que ele mantém, muito unidos contra o memorando que ele defende, muito unidos contra a 'troika' que ele continua a desejar que esteja no país", alegou.
 
Segundo o dirigente do Bloco de Esquerda, o discurso do chefe de Estado não tem, por isso, "qualquer consequência" nem "sentido de atualidade".
 
"O Presidente da República é hoje o único português que sustenta e apoia politicamente este Governo. Portanto, são palavras e, como se costuma dizer, palavras leva-as o vento", acrescentou.
 
De acordo com João Semedo, "tem havido muitíssimas formas de o povo português exprimir o seu amplo consenso contra esta política e contra este Governo" e, se o Presidente da República tivesse consequência nas suas palavras, já teria demitido este Governo".
 
Hoje, em Elvas, no âmbito das comemorações oficiais do Dia de Portugal, de Camões e das Comunidades Portuguesas, 10 de junho, Cavaco Silva defendeu que esta não é altura de "vacilar" e que "ninguém está dispensado" de ajudar Portugal no atual momento, referindo que, "nas horas decisivas, os portugueses souberam unir-se para defender os grandes desígnios nacionais".
 

Portugal: OS ERROS DE GASPAR

 

Diário de Notícias, editorial
 
E de repente a surpreendente confissão. "Apresentar uma lista de erros seria demasiado demorado." O tom monocórdico e a voz arrastada criava suspense. E a frase seguinte adensou ainda mais a espetativa: "Tenho amplo material para aprender com os meus próprios erros." A arrebatadora revelação ficaria, no entanto, reduzida a um erro. Apenas um. O "importante", desabafou o ministro. A confidência, que surgiu como um sobressalto, indiciava alguma mágoa. "Pensei que se poderia dar prioridade à consolidação orçamental e à estabilização financeira sem uma transformação estrutural profunda das administrações públicas." Não podia, e Gaspar reconhece-o só agora.
 
Será esta confissão uma consciente assunção das culpas e dos erros cometidos ou, senão, foi apenas o contínuo da estratégia que empurra para outros - quase sempre os governos de Sócrates - a responsabilidade pelos seus próprios enganos? O ministro não perdeu tempo. Consequências pelos erros cometidos? Nem uma.Vítor Gaspar continua convicto de que está no bom caminho. Sublinhou, até, que o programa da troika - o tal que há uns meses tinha sido mal desenhado - não está a falhar. Mesmo com os erros.
 
E para que dúvidas não houvesse explicou onde estão os principais riscos para o futuro. Défice? Dívida excessiva? Desemprego descontrolado a bater recordes? Não. O que nos destrói é a "falta de determinação, a inconstância de propósito, a tentação prematura do poder, a desorientação sectária, a instabilidade política e a incapacidade de reflexão e deliberação política". E, claro, a chuva no inverno. Talvez, por isso, Vítor Gaspar cite, e se declare publicamente apreciador de Bismarck, que um dia escreveu: "Os tolos dizem que aprendem com os seus próprios erros; eu prefiro aprender com os erros dos outros."
 
O Governo e a greve dos professores
 
Pedro Passos Coelho decidiu assumir, face à greve dos professores aos exames nacionais marcados para dia 17 deste mês, uma postura absolutamente original. Criticando a inflexibilidade dos sindicatos, o primeiro-ministro utilizou o argumento dos alunos que são potencialmente prejudicados, para sugerir aos docentes que mudem a data da paralisação, juntando-a à greve geral convocada para dia 27. Como se, nessa data, os professores estivessem dispensados de se preocupar com os estudantes.
 
O chefe do Governo deu assim, de borla, um pretexto aos sindicatos e também ao País para o atacarem. Primeiro porque no dia 27 também há exames marcados. E o que disse Passos Coelho foi que, não sendo os de dia 27 para alunos do 12.º ano, não fazia mal. Ora, na escola não pode haver alunos de primeira e de segunda. E depois porque, nunca tal se tinha visto, um primeiro-ministro a recomendar quando é que é oportuno fazer ou não greve.
 
É certo que as paralisações são tanto mais eficazes quanto contarem com o apoio da sociedade. E está por demonstrar que, no caso concreto dos professores, haja tolerância e compreensão por parte da generalidade dos portugueses. Mas o direito à greve é constitucionalmente inalienável. E compete ao Governo, em vez de fazer um discurso que pode, no limite, considerar-se intimidatório, deitar mão das formas legais à sua disposição para contornar as dificuldades causadas por uma greve, qualquer que ela seja.
 

Portugal – DIZ ELE: CHUVISCOU TORRENCIALMENTE

 

Ferreira Fernandes – Diário de Notícias, opinião
 
Na crónica de ontem, tratei, com a ironia que o assunto/sujeito me parecia pedir, da bizarra explicação de Vítor Gaspar sobre os fracos números do investimento português no primeiro trimestre. "Adversas condições meteorológicas", disse ele, sem rir, o que é de gargalhada. Daí eu ter recheado a crónica de termos irrisórios: previsões tão falhadas na meteorologia quanto nas finanças, cortes cegos nas altas pressões dos Açores... Para declarações oficiais loucas, crónicas tolas. Admito, porém, que o ângulo esteve errado. Não que Gaspar não merecesse o escárnio. O habitual discursador seco tentar desculpar-se com o excesso de precipitação (foi outra das piadas) estava a pedi-las. O meu erro foi ter deixado que a anedota da árvore me tapasse a floresta de análises sérias que o episódio exigia. A questão grave é: Vítor Gaspar, o homem mais determinante numa das situações mais graves da História portuguesa, não é um político. E isso é uma tragédia. Na sexta-feira passada - quando meia-Europa estava mergulhada nas águas, Budapeste e Praga salvas com sacos de areia, mortos, dezenas de milhares de desalojados - Gaspar justificou os nossos falhanços assim: em Portugal chuviscou torrencialmente. Da Alemanha (milhares de desalojados, 25 mil socorristas e 16 mil militares nas estradas) é um tal Wolfgang Schäuble, com quem Gaspar tem de se explicar. Receio que o nosso ministro lhe apareça de capa encerada e botas de borracha e cano alto.
 
Relacionado em PG
 

Portugal: AUTARCA DE ELVAS LAMENTA QUE MILHÕES VIVAM NO “LIMIAR DA FOME”

 

Jornal i - Lusa
 
“Milhões de portugueses vivem um presente muito complicado, no limiar da fome e da pobreza, ou abaixo desse nível, que nos deve envergonhar”, disse o histórico autarca socialista
 
O presidente da Câmara Municipal de Elvas, Rondão de Almeida, lamentou hoje que “milhões de portugueses" estejam a viver no “limiar da fome e da pobreza”, considerando que essa situação deve envergonhar os portugueses.
 
“Milhões de portugueses vivem um presente muito complicado, no limiar da fome e da pobreza, ou abaixo desse nível, que nos deve envergonhar”, disse o histórico autarca socialista.
 
Rondão Almeida falava na sessão solene de boas-vindas da Câmara de Elvas ao Presidente da República, Cavaco Silva, que este ano elegeu a cidade alentejana para as comemorações oficiais do 10 de Junho, Dia de Portugal, de Camões e das Comunidades Portuguesas.
 
No seu discurso, no cineteatro municipal de Elvas e antes da intervenção do chefe de Estado, Rondão de Almeida destacou o papel da população local ao longo da história e recordou todos os momentos que marcaram a cidade do ponto de vista militar, sublinhando a “determinação” do povo na altura de superar as dificuldades.
 
“A história desta cidade ensina-nos que, em muitos momentos vitoriosos para Portugal, os elvenses estiveram bem presentes e deram um contributo decisivo. É esse contributo que continuamos a dar no momento atual, em que Portugal, infelizmente, vive anos de dificuldades”, disse.
 
A história de Elvas, segundo Rondão de Almeida, “dá-nos uma grande lição”, uma lição de “bravura, valentia e de coragem”, um exemplo de “nacionalismo, de força, de virtude” que se traduz numa “lição de valores” que os portugueses devem “enfrentar” nos tempos atuais.
 
Para exemplificar que Elvas não baixa os braços perante essa realidade, o autarca salientou que o município desenvolve vários investimentos de “grande volume” e que mantém uma “invejável saúde financeira”, fruto de uma gestão “rigorosa”.
 
“Temos quase duas dezenas e meia de programas sociais, desde quando o bebé ainda está em gestação, atravessando as diversas fases do crescimento de crianças e jovens, indo à idade adulta e ativa, chegando até aos mais idosos”, acrescentou.
 
Durante o discurso, Rondão de Almeida, enalteceu também a classificação como Património da Humanidade da “Cidade-Quartel fronteiriça de Elvas e suas Fortificações”, pela Organização das Nações Unidas para a Educação, Ciência e Cultura (UNESCO), a 30 de junho de 2012.
 
O primeiro ponto do programa das comemorações do 10 de Junho ocorreu na Praça da República de Elvas, com a cerimónia militar do içar da bandeira e guarda de honra militar.
 
Após a sessão solene de boas-vindas e ainda antes do almoço, Cavaco Silva irá descerrar no Castelo de Elvas a placa que assinala a inscrição da cidade na lista do património mundial da UNESCO.
 
O almoço irá decorrer na Casa da Cultura de Elvas e reunirá personalidades que se distinguiram em Portugal e no estrangeiro no âmbito das suas atividades profissionais.
 
À tarde, o programa das comemorações do 10 de Junho é retomado às 15:00, com a inauguração da exposição "Fortificação do Território - A Defesa e Segurança de Portugal nos séculos XVII a XIX", no Paiol de Nossa Senhora da Conceição.
 
Já ao final da tarde, o chefe de Estado irá visitar o local onde se realizam as atividades militares complementares, no Parque do Viaduto, descerrando, de seguida, a placa toponímica da nova "Avenida do Dia de Portugal".
 
O primeiro dia das comemorações oficiais do 10 de Junho termina com a habitual sessão de apresentação de cumprimentos do corpo diplomático, no Museu de Arte Contemporânea, e com um jantar oferecido pelo Presidente da República por ocasião das Comemorações do Dia de Portugal, de Camões e das Comunidades Portuguesas, num hotel de Elvas.
 

Guiné-Bissau: AGORA TEMOS TAMBÉM O… BOCA-DOCE

 

António Aly Silva – Ditadura do Consenso
 
Fernando Delfim da Silva, o novo ministro dos Negócios Estrangeiros do governo da Guiné-Bissau, pensa que a comunidade internacional vai cair no engodo, na conversa pejada de frases feitas. Todos os que, no exterior, se pronunciaram sobre esta 'remodelação/engordamento', foram claros: só com a realização das eleições (programa mínimo, presumo) é que se estudará a "normalização" que bem prega frei Delfim, o Boca-Doce do governo. Ah, e lá vamos ter de voltar a engolir o porta-disparate.

Mas a comunidade internacional (UA, UE, CPLP, Nações Unidas) deve manter a intransigência: não deve haver misericórdia para com os perturbadores da democracia, cujo mal maior é sentida pela esmagadoria do Povo. Querem ajudas de todos, mas depois desviam-se do essencial, sobressaltando as famílias com tiroteios e banditismo nas cidades, raptando, torturando e assassinando pessoas sem que a Procuradoria-Geral da República mexa uma palha. Que vergonha!!!

Senhores da comunidade internacional,

Não há que reconhecer governo nenhum! Há que fixar claramente um calendário coerente para tudo que tenha que se fazer até às eleições seja feito. E com o dinheiro proveniente da receita interna. Depois das eleições - em que todos tenham o direito de participar - então falaremos. Não há cá pão para malucos. Este governo não tem base legal nenhum. E pouco me importa se a ANP não tenha a mesma opinião. Temos que acabar com os desmandos na Guiné-Bissau.

Mas há outro nome no tabuleiro: Koumba Yalá. Estratega, esquivo, ainda que a perder visibilidade - e votos - continua a mexer todos os cordelinhos, com destaque na classe castrense. Do 'Nando' Vaz já se disse quase tudo. Agora, e à falta da pasta da Comunicação Social, foi elevado a ministro de Estado. Num Estado banalizado, levado aos limites da chacota, 'Nando' Vaz mantém-se no governo apenas por imposição do acossado general António Indjai. Os dois lá saberão...
 

Guiné-Bissau: PERGUNTAR NÃO OFENDE

 

 
"Grande parte dos ministros agora nomeados já estiveram no governo em outras oportunidades e nada fizeram que fosse digno de referência. A prova disso é que o País continua como está! E cada vez pior! Por que razão essa mesma gente é sempre chamada para governar o país, mesmo sem nunca terem dado provas de competência e saber fazer? Será mesmo que a Guiné-Bissau não tem mesmo alternativas em termos de recursos humanos? Será que o interesse dessa gente é servir a Guiné-Bissau ou se servirem-se da Guiné-Bissau? Delfim, Ocante, Soares Sambu, Daniel, e outros, o que vocês têm de útil e de novo para oferecer ao País?

Malam D. M."
 
O “NOVO” ELENCO MINISTERIAL*
 
São nomeados para os cargos que adiante se indicam:
 
Fernando Vaz, Ministro da Presidência do Conselho de Ministros e dos Assuntos Parlamentares – Ministro de Estado; Aristides Ocante da Silva, Ministro da Função Pública, da Reforma do Estado, Trabalho e Segurança Social - Ministro de Estado; Orlando Mendes Viegas, Ministro dos Transportes e das Telecomunicações – Ministro de Estado; Fernando Delfim da Silva, Ministro dos Negócios Estrangeiros, da Cooperação Internacional e das Comunidades; Celestino de Carvalho, Ministro da Defesa e dos Combatentes da Liberdade da Pátria; Antonio Suka N´tchama, Ministro do Interior; Gino Mendes, Ministro das Finanças; Soares Sambu, Ministro da Economia e Integração Regional; Batista Té, Ministro da Administração do Território e Poder Local; Mário Lopes da Rosa, Ministro das Pescas e dos Recursos Haliêuticos; Alfredo Gomes, Ministro da Educação Nacional, Juventude, Cultura e Desportos; Agostinho Cá, Ministro da Saúde Pública; Saido Baldé, Ministro da Justiça; Daniel Gomes, Ministro da Energia e Indústria; Certorio Biote, Ministro dos Recursos Naturais; Rui Araújo Gomes, Ministro das Infraestruturas; Abubacar Baldé, Ministro do Comércio, da Valorização de Produtos Locais e Artesanato; Nicolau Santos, Ministro da Agricultura; Gabriela Fernandes, Ministra da Mulher, Família e Solidariedade Social.
 
*Adenda PG
 

MARGINAIS DE COLARINHO BRANCO

 


Álvaro Domingos – Jornal de Angola, opinião - 9 de Junho, 2013
 
Alguns portugueses ressabiados são incapazes de olhar para si. São de tal forma infelizes que tocam no ouro e ele transforma-se imediatamente em lata. Estão convencidos de que são gigantes mas para lhes vermos a inteligência e a dimensão, precisamos de um telescópio potente, daqueles que descobrem estrelas e planetas a milhões de anos-luz.
 
Vivem de expedientes mas quando as coisas dão para o torto avançam para a chantagem e a extorsão. Em alguns órgãos de comunicação social estas actividades criminosas são bem visíveis.

Um desses marginais tem banca no império em ruínas de Pinto Balsemão. O grande capitão merecia melhor sorte. Ele, que foi um príncipe do jornalismo português, hoje tem de sustentar madraços que tratam a Língua Portuguesa como os inquisidores tratavam os hereges. Usam a carteira de jornalista como se fosse uma licença para matar. Pobres diabos sem ofício nem oficina, foram guindados a líderes de opinião. É por isso que os portugueses estão mergulhados na mais humilhante pobreza. Por obra e graça de palhaços, bobos, violadores da gramática e chantagistas, Portugal definha e já perdeu a sua soberania.

Um desses pelintras mentais dá pelo nome de Daniel Oliveira. Filho de ninguém, foi subindo a corda a impulsos de vigarices e sacanices. Hoje diz que é jornalista e a sua opinião conta. Aqueles que o ouvem ficam pobres, os que acreditam nele, indigentes. Um país que tem esta alimária no topo do comentário político, caminha rapidamente para o fim. Para fazer pela vida, decidiu dizer mal de Angola, dos seus dirigentes políticos eleitos democraticamernte, dos seus empresários e até dos jornalistas que, através da escrita, provam à puridade que o rei da “SIC” e do “Expresso” vai em pelota. Nu como o diabo o lançou ao mundo. A ele e outros analfabetos encartados que ganham a vidinha atacando o Presidente José Eduardo dos Santos, os seus familiares e colaboradores. O solípede lazarento enche os bolsos sempre que chama corruptos aos empresários honrados que com a sua iniciativa e inteligência puxam Angola para a frente. E também Portugal. E esse foi o seu pecado. Os racistas portugueses que têm espaço na comunicação social não conseguem engolir o sucesso dos nossos empresários. Morrem de inveja porque os angolanos fazem compras em Portugal. Rebentam de maldade quando eles escolhem o país irmão para fazer os seus investimentos.

Daniel Oliveira ultrapassa todas as linhas vermelhas (o Portas vai despedi-lo!) e arroga-se o direito de espreitar capciosamente para dentro da esfera pessoal de familiares de pessoas que têm o inalienável direito à reserva da intimidade da vida privada. Claro que para o esquerdista fingido, isso não conta. O racismo faz-lhe saltar o verniz de democrata. A inveja mostra o seu verdadeiro ser: um filho de ninguém, sem honra nem princípios. Foram estes nazis de fachada democrática que assassinaram a Revolução dos Cravos e lançaram os portugueses na pobreza, enquanto os seus amigos e mentores banqueiros, esfregam as mãos de contentes. Daniel Oliveira está entre os grandes piratas da política. Montou tenda no Bloco de Esquerda mas acabou por revelar a sua verdadeira face. Agora anda à procura de quem lhe dê cobertura partidária para continuar a facturar à custa da política.

Os 30 dinheiros que recebe desse lado são reforçados com uns restos dos diamantes de sangue e o magano faz uma vida faustosa, enquanto aqueles que engana estão cada vez mais pobres.

Relacionado do jornalista Daniel Oliveira também publicado em PG, em que é o mais lido da semana (barra lateral)
 

Angola – Malária: AS CRIANÇAS SÃO AS PRINCIPAIS VÍTIMAS DA DOENÇA

 

Lourenço Manuel – Jornal de Angola, reportagem
 
A malária continua a ser a principal causa de morte na província do Kuando Kubango. O Executivo faz das tripas o coração para combater a doença, mas a verdade é que o número de óbitos aumenta cada ano que passa, sendo as crianças as principais vítimas.
 
Para fazer face à situação, o Governo Provincial vai construir nos próximos quatro anos mais um Hospital Geral com 450 camas, um centro materno infantil com 300 camas e ao mesmo tempo intensificar as campanhas de combate à malária.

O Hospital Pediátrico de Menongue, inaugurado em Setembro de 2012, já está a rebentar pelas costuras, devido à falta de camas para acomodar os doentes. Realizou desde a inauguração 19.470 consultas externas a crianças e adolescentes, das quais 3.520 foram internadas e 381 morreram, em consequência do paludismo e de diarreias agudas.

A directora do Hospital Pediátrico, Elsa Kanengo Kalenga, disse à reportagem do Jornal de Angola que o edifício foi concebido apenas para internar 30 doentes, seis em cada enfermaria. Mas a pressão é muito grande e quatro gabinetes foram transformados em enfermarias para receber crianças em estado grave. Quando a afluência é grande, disse, os corredores têm sido a tábua de salvação.

Neste momento estão internadas 63 crianças com problemas graves de malária, diarreias agudas, mal nutrição, gripes, pneumonias, desidratação, bronco-pneumonias e anemias. Estas doenças, explicou, têm vindo a provocar estragos no seio das crianças, muitas das quais morrem em menos de 48 horas, porque chegam demasiado tarde ao Hospital Pediátrico.

Elsa Kanengo Kalenga fez um vigoroso apelo aos pais para que, logo ao primeiro sinal de indisposição ou de febre na criança, a levem com urgência ao posto de saúde mais próximo, para que seja vista por um especialista.

No Kuando-Kubango há o hábito de levar as crianças doentes aos curandeiros e só depois aos centros de saúde e hospitais. Em muitos casos, já nada há a fazer e as crianças morrem mais devido à negligência dos pais do que por causa da doença.

Elsa Kalenga disse que à semelhança dos anos anteriores, as baixas temperaturas que se fazem sentir a na região matam os mosquitos e por isso há menos casos de paludismo. No período das chuvas, o Hospital Pediátrico realiza diariamente entre 130 a 150 consultas e interna 20 doentes.

A unidade sanitária que dirige tem serviços de cirurgia, estomatologia, Raios X. O serviço de hemoterapia não tem sangue e quando há necessidade de fazer transfusões “recorremos aos familiares dos pacientes”, frisou. A escassez de energia eléctrica é acentuada. O único gerador de 60 KVA instalado no hospital não suporta trabalhar 24 horas e houve períodos em que os profissionais de saúde tiveram que trabalhar à luz de velas ou lanternas devido a avarias no gerador. A Empresa Nacional de electricidade está a fazer esforços para resolver o problema. O Hospital conta com cinco médicos e 60 enfermeiros que garantem a assistência permanente às crianças. Uma farmácia interna e outra externa fornecem os medicamentos aos pacientes, mas ainda há casos em que os familiares têm de fazer recurso ao mercado paralelo porque falta um ou outro medicamento.

Por dentro do hospital

Na sala de observação daquela unidade hospitalar o movimento é intenso. Os médicos e enfermeiros atendem dez crianças com sintomas graves de malária. As mães estão presentes enquanto o soro, misturado com quinino e vitamina B, escorre para as veias das crianças.

Mangama Oling, director clínico, é o cicerone da nossa reportagem e levou-nos a conhecer as áreas de cuidados intensivos, onde encontramos Artinas Domingas, de apenas dez meses, e Paulina Noé, de quatro anos, que brincavam descontraídas. “Estas meninas chegaram num estado crítico, mas agora e graças a Deus conseguimos dar a volta por cima e estão prontas para ter alta”, disse o médico.

Augusta Tchinimbo, de dois anos, apresenta um aspecto cadavérico e está na sala reservada aos casos de malnutrição. Está numa enfermaria com outras quatro crianças. Ali recebem tratamento especial e uma alimentação rica em proteínas à base de leite, bolachas e um suplemento alimentar rico em vitaminas, método que já salvou muitas vidas.

A visita guiada terminou numa enfermaria onde estão internadas cinco crianças com problemas graves do aparelho respiratório, devido às baixas temperaturas que se fazem sentir na região.

Apesar da gravidade das doenças nenhum paciente corre risco de vida e se tivessem chegado ao hospital logo que a doença se manifestou, já estavam curadas.

Higiene e alimentação

A higiene no Hospital Pediátrico é motivo de satisfação dos pais que acompanham os filhos internados. Os pacientes têm direito a três refeições por dia.

Esperança Fernando, moradora no bairro Tunga Ngó, está ao lado da filha, Raquel Vihemba, internada com paludismo. Contactada pela nossa reportagem, elogiou a qualidade dos serviços prestados naquele hospital: higiene, alimentação e atendimento médico.

A directora do Hospital Pediátrico deseja que estes serviços cheguem também a outras unidades sanitárias porque os profissionais, incluindo as equipas médicas de serviço, não abandonam os seus locais de trabalho já que a alimentação servida é de muito boa qualidade.

Luta contra a malária

O director provincial da saúde, Fernando Cassanga, questionado sobre o elevado número de mortes por malária, disse que existem infra-estruturas hospitalares e medicamentos suficientes para responder às necessidades: “o problema é que a maior parte da população ignora as acções de informação e educação para a saúde, promovidas pelo programa provincial de combate à doença.

Na província existe um mecanismo de informação, educação e comunicação que tem como função educar as comunidades sobre as boas práticas a terem com o saneamento básico e como usar o mosquiteiro tratado com insecticida, mas “as pessoas ignoram os nossos apelos e ao redor das casas, além do capim, fazem plantações de milho e amontoam lixo. Estes são locais apropriados para os mosquitos se multiplicarem”, disse Fernando Cassanga.

Este ano, realçou, o Ministério da Saúde vai desenvolver no Kuando-Kubango um projecto que vai permitir que mais de metade da população de cada aldeia, comuna ou município tenha acesso aos mosqueteiros tratados com insecticida, no quadro do programa da luta contra a malária.

Estruturas adequadas

Fernando Cassanga informou que a malária provocou muitas mortes entre os adultos no município do Rivungo. No espaço de dois meses matou 40 pessoas em menos de 48 horas. Apresentavam febres muito altas, dores de cabeça e rigidez dos membros. As populações pensavam que era uma doença estranha, mas uma equipa médica enviado ao município confirmou que era paludismo em fase avançada.

Durante o ano passado e no primeiro semestre deste ano, o Hospital Geral realizou 43.684 consultas, 30.738 dos quais relacionadas com a malária, que provocou a morte de 331adultos.

Foto: Lourenço Manuel
 

A SIC LAVA (MUITO) MAIS BRANCO

 

Orlando Castro (*)
 
A entrevista que a SIC fez ao presidente José Eduardo dos Santos bateu aos pontos, quase por KO, aquela que a RTP protagonizou no início do ano passado quando, em Luanda, transmitiu uma igual operação de lavagem do regime a que chamou, com toda a propriedade, “Reencontro”.
 
No caso da RTP, recorde-se, a jornalista encarregue de dirigir a lavandaria, Fátima Campos Ferreira, tinha junto a si o então ministro que a tutelava, Miguel Relvas, bem como o próprio presidente da empresa. Compreende-se, embora não se aceite, a forma subserviente e nada profissional como, do ponto de vista jornalístico, aquelas entrevistas foram feitas. Já do ponto de vista da propaganda tratou-se, é claro, de uma obra-prima da bajulação lusa.
 
Quando se julgava que o descrédito de alguns jornalistas reabilitados  pela barriga tinha atingido todos os limites, eis que a SIC formata Henrique Cymerman para mostrar que o comércio de jornalismo pode muito bem, e de forma rentável, transformar-se numa lavandaria ao serviço dos superiores interesses dos donos dos operários, jornalistas no caso, e dos donos dos donos.
 
Assim, Eduardo dos Santos disse o que quis (assim estava pré-estabelecido), sem contraditório porque, na verdade, o lavandeiro estava ali apenas como figura decorativa. Sendo pouco mais do que um monólogo presidencial, mostrou que no mundo da comunicação, seja em Portugal ou em Angola, há valores (em dólares ou em euros) que falam muito mais alto do que a razão e a verdade.
 
Eduardo dos Santos, que para não falhar no programa de lavagem até levou “coisas” escritas, falou na existência de 35% a 36% de pobres no país. Henrique Cymerman acenou a sua concordância, os assessores do presidente sorriram e Pinto Balsemão terá feito outros cálculos.
 
Se em vez de Henrique Cymerman lá tivesse estado um jornalista, hipótese obviamente académica e delirante, teria perguntado qual era a percentagem de angolanos que vivem (isto é como quem diz) abaixo do limiar da pobreza. Todos somados andam perto dos 60%. Mas não. Uma pergunta desse tipo seria um crime de lesa regime e de terríveis consequências financeiras para o grupo a que pertence a SIC.
 
Na tentativa, com rabo de fora, de dar um ar de jornalismo à encomenda, Henrique Cymerman deu ao presidente a possibilidade explicar algo que em Angola é residual - a corrupção. Eduardo dos Santos disse que o país não é incólume a algo que é transversal no mundo, para além de ser – claro – uma pesada herança do regime colonial.
 
Em abono da sua tese, perante o subserviente e sonolento comportamento do entrevistador, Eduardo dos Santos até explicou que o país tem um Tribunal de Contas que audita o que se passa no Estado. Esqueceu-se de dizer, e Henrique Cymerman não estava lá para isso, que é o presidente quem escolhe e nomeia o Vice-Presidente, todos os juízes do Tribunal Constitucional, todos os juízes do Supremo Tribunal, todos os juízes do Tribunal de Contas, o Procurador-Geral da Republica, o Chefe de Estado Maior das Forças Armadas e os Chefes do Estado Maior dos seus diversos ramos destas.
 
Melhor do que isto não se conhece. Nem mesmo Jean-Bédel Bokassa, Idi Amin Dada ou Mobutu Sese Seko fizerem algo de semelhante.
 
Com uma subtileza digna de quem merece o Prémio Nobel da Paz, Eduardo dos Santos mostrou a sua benemérita e atávica capacidade para ser um reconciliador nato quando, com todo o propósito, se referiu a Jonas Savimbi, por sinal fundador do principal partido da oposição.
 
Melhor ainda foi, reconheça-se, a escolha do seu político de referência. E, como todos sabem, sendo Nelson Mandela um político menor, a escolha foi para Lula da Silva, por sinal um impoluto político, diapasão do escândalo do Mensalão, um processo de compra de votos de deputados.
 
Interessante foi a análise superior, nem outra coisa seria de esperar, que Eduardo dos Santos fez de algo que mais uma vez é inventado pelas forças da reacção, a instabilidade social. E isto é, disse o presidente, algo que não existe já que quando se juntam, em Luanda, 300 jovens frustrados numa manifestação isso não é instabilidade. E tanto não é que as forças policiais entram logo em acção com tudo o que têm para os pôr a andar, muitas vezes prendendo, ferindo e até matando.
 
Foi pena que Henrique Cymerman não tenha pedido a Eduardo dos Santos, que quer ser – segundo disse – recordado como um bom patriota, que contasse uma das suas típicas e patenteadas anedotas. Teria ficado bem ouvir o presidente dizer que "o Estado vai continuar a criar condições para que a imprensa seja cada vez mais forte, plural e isenta, responsável e independente".
 
Por último, parabéns à SIC e ao grupo a que pertence por, no meio de tantas adversidades económicas, financeiras e sociais, ter apostado numa, embora subtil, mudança de rumo empresarial. De facto, reconheça-se, as lavandarias estão a ser um sucesso.
 
De resto, lamenta-se que tenham metido na máquina de lavar, provavelmente num programa de reciclagem, todos aqueles que sabem que se o jornalista não procura saber o que se passa é um imbecil, e que se sabe e se cala é um criminoso.
 
(*) Artigo publicado na edição de ontem (8 junho) do Jornal “Folha 8”
 

Angola - Sobre o conceito de “Manifestações não autorizadas”: ignorância ou arrogância?

 

Marcolino Moco* – À Mesa do Café
 
É raro o dia em que me ponho na estrada e não vejo condutores de veículos automóveis a ralhar desalmadamente com peões que, no seu direito, atravessam as ruas pelas respectivas passadeiras. E a pergunta que sempre me vem a cabeça é: esta gente é ignorante, porque não sabe que esse é um direito que cabe aos peões ou é pura arrogância de quem se acha privilegiado por se encontrar dentro de uma viatura capaz de destruir a vida de um peão “num minuto”?
 
É o que se passa com a persistente tentativa de introduzir o conceito de “manifestações não autorizadas” no léxico da nossa ordem jurídico-constitucional formal, em que não se encontra. Sem delongas, vale a pena transcrever aqui na íntegra (e sublinhar o aspecto pertinente) o que diz a Constituição vigente sobre a liberdade de manifestação:
 
Artigo 47º
 
1.É garantida a todos os cidadãos a liberdade de reunião e manifestação pacífica e sem armas, sem necessidade de autorização e nos termos da lei.
 
2.As reuniões e manifestações em lugares públicos carecem de prévia comunicação à autoridade competente, nos termos e para efeitos estabelecidos por lei.
 
Tão claro como isso e todos sabemos – pelo menos os juristas o sabem – que nenhuma lei ou atitude deveria contrariar este dispositivo.
 
Por isso, ignorância ou arrogância?
 
Provavelmente nesta altura já não é nem uma coisa nem outra. Trata-se pura e simplesmente já de algum desespero que sempre leva algum matiz de arrogância.
 
Que se saiba, os jovens ditos “revus”, sempre cumpriram com os ditames da Constituição e da lei. Mas, são duramente reprimidos como aconteceu, mais uma vez, neste 27 de Maio, pela causa mais do que justa de pedirem explicações por dois jovens desaparecidos, desde o 27 de Maio do ano passado. E os nossos meios de comunicação são orientados a falar em mais uma “manifestação não autorizada”. Um conceito inexistente.
 
Pois, como o desespero quase sempre se associa a alguma arrogância, lá vimos que na mesma altura é organizada uma outra manifestação – esta sim, desautorizada pela ética e moral positivada no âmbito das associações desportivas – a favor de Sª Exª o Senhor Presidente da República, por ter “autorizado” a realização do Campeonato do Mundo de Hóquei-em Patins, em Angola. Ainda merecemos isso!?
 
É este mesmo aparente desespero que se vê quando se observa o nervosismo com que se encara a não passagem de Obama por Angola, em mais um périplo por África. Vê-se que o homem decididamente não está disposto a patrocinar regimes que não se renovam, no continente da sua paterna origem, diferentemente da senhora Alta Comissária das Nações Unidas para os Direitos Humanos, que veio prestar aqui uma vénia a um regime que arrogantemente expulsou o seu próprio Desk-Office.
 
É, também aparentemente, este mesmo desespero que, para desviar as atenções, leva o Chefe do Executivo a repreender publicamente o por si próprio nomeado Governador do Bengo, e com o aplauso de meios de comunicação certamente orientados para o efeito. Uma prática inaudita em países sãos, em que desencadearia uma autodestruição do próprio governo. Até porque as verbas para a realização de projectos só agora vão ser libertadas e entregues a uma entidade ad hoc, que não o próprio governo local, do Dr. João Miranda. Bem se vê que os que esperam pelo estabelecimento de um poder autárquico sério em Angola, rebus sic stantibus, terão muito que esperar.
 
Perante certa situação de tensão que se vive hoje no país, para a qual não faltaram chamadas de atenção atempada, melhor seria evitar-se todo este “esforço de Sísifo”, com o sacrifício de inocentes, e olhar-se para as propostas sensatas que continuam a ser feitas, na base das lições da História, embora já com alguma incompreensão por parte de franjas que se vão radicalizando.
 
O 27 de Maio não se apagará com novos 27 de Maio, iludidos com anódinos comunicados do Bureau Político de um partido no poder impedido de pensar de acordo com a realidade. A não ser que se esteja a laborar deliberadamente sob o lema insensato: desestabilizar para melhor reinar.
 
Luanda, 31 de Maio de 2013 (www.marcolinomoco.com)
 
*Marcolino Moco foi primeiro-ministro de Angola de Dezembro de 1992 a Junho de 1996
 

Moçambique: A VERDADE DO EDITOR - UM DIA NA ESQUADRA

 

Rui Lamarques – Verdade (mz), editorial
 
Há qualquer coisa que não bate certo com o processo eleitoral. Não sei se a responsabilidade é do STAE ou da CNE. Mas é praticamente impossível, para o pessoal da imprensa, trabalhar nos municípios fora da capital do país, sobretudo naqueles onde a informação nunca colocou os pés.
 
Em Chókwè - o que não é o caso de ausência de informação - não me deixaram trabalhar porque devia apresentar uma credencial do STAE para interpelar cidadãos e os brigadistas. O Tobias, o responsável em Chókwè pelo recenseamento disse-me, na cara, que ninguém me daria informação alguma sem um documento do STAE ou da CNE. "Alguém já te veio fotografar na tua casa sem te pedir autorização", disse-me o Tobias sentado no conforto da sua certeza inabalável.
 
A minha explicação sobre o espaço público e privado não fez o meu interlocutor abrir um milímetro no escudo das suas convicções. "Eu fui formado e a lei diz que o senhor tem de ter uma autorização para trabalhar nas brigadas".
 
Falei-lhe da lei de imprensa, mas o homem mandou-me dar uma curva. Insatisfeito dirigi-me ao STAE local onde pedi para falar com o responsável. Para o meu espanto levaram-me a uma sala onde fui recebido pelo Tobias. Nessa altura já tinha pedido ao Victor Bulande, chefe de redacção, para enviar-me a lei eleitoral. Falei também com o Adérito Caldeira que me disse que não precisava de nenhum documento para o efeito. A única coisa que podia apresentar aos homens era a credencial que atestava o órgão que eu sirvo. Mas isso foi pouco em Chókwè.
 
Voltando, portanto, ao encontro com o Tobias as coisas ficaram mais nítidas para mim. Há um problema de comunicação entre o STAE central e as bases. O que dizem que ao Tobias, na qualidade de líder de um processo de recenseamento em Chókwè, é exactamente o que ele faz. O Tobias não se desvia nem um milímetro do que os que dão ordens dizem que deve ser feito. Eu confirmei isso quando o homem ligou para um superior e este disse-lhe que eu não podia trabalhar sem credencial passada pelo STAE ou CNE. No entanto, os meus colegas em Maputo informaram-me que não e que o STAE ou CNE ou ambos dizem que não preciso de nada.
 
Em Chibuto não foi possível trabalhar pelo mesmo motivo, sem contar que os homens da PRM exibem armas e músculos. Ou apresenta a credencial ou será detido. Não é difícil deixar-se convencer pela retórica de um indivíduo que usa uma arma como último argumento. Ainda assim e porque a tecnologia permite ludibriar consegui fazer imagens e alguns vídeos.
 
No entanto, com a relutância encontrada em Chókwè e Chibuto deu para começar a ter uma ideia do quão nefasta a desinformação pode ser para um processo que se pretende justo, livre e transparente.
 
Em Manjakaze, um município sem nenhuma estrada asfaltada a situação não poderia ser pior. Aliás, foi neste município onde cimentei, se me permitem, a certeza de que ou a formação foi incompetentemente conduzida ou o STAE e a CNE pretendem obstruir o trabalho da imprensa. Depois de fotografar um posto de recenseamento em Manjakaze fui passar umas seis horas de tempo no comando local.
 
Dois agentes vieram ter comigo e pediram-me os documentos que me autorizavam a trabalhar no processo. Mostrei o meu crachá de serviço. "Vamos ao comando". No comando deixaram-me uma hora numa espécie de sala espera. Os meus telefones estavam na posse dos agentes e o IPAD na pensão. Portanto, estava sem meios para reportar o sucedido, mas também não tinha interesse de tornar a situação pública e alarmar os que me querem bem.
 
Uma hora depois devolveram-me os bens e iniciaram o interrogatório. "Ouvimos que o senhor fotografou o processo de recenseamento sem autorização." Disse-lhes que mostrei o meu cartão de serviço aos brigadistas e expliquei que pretendia falar com as pessoas que se iam recensear e registar imagens do processo. Portanto, o que diziam não constituía de forma alguma a verdade. "Mas o senhor tem alguma autorização do STAE ou da CNE?" Não me vou alongar, mas informei-lhes que não era necessária. Saíram provavelmente para concertar e deixaram-me mais meia hora sozinho.
 
Sozinho não, deixaram-me com os meus telefones e aproveitei para ver as actualizações do facebook e do Twitter. Em nenhum momento manifestei medo ou preocupação pelo que estava a acontecer. Enquanto esperava pelo regresso dos agentes senti pena do cidadão que há no polícia.
 
O homem que veste a farda é vítima de uma situação causada por outros. Ele carrega a culpa que devia ser imputada ao STAE e a CNE e, em última análise, ao país que somos (cidadãos e instituições). Essas duas instituições não podem dizer uma coisa aos polícias e outra totalmente diferente à opinião pública.
 
A imagem que fica é de uma polícia que estorva o trabalho da imprensa, mas uma leitura mais profunda a natureza desse impedimento mostra que a polícia, tal como Tobias em Chókwè, é mal informada e formada. Ela, a polícia, é vítima desse processo de estupidificação e formatação do homem que há na farda. Apesar de tudo foi interessante perder um dia de trabalho no cemitério de homens que é uma esquadra de polícia.
 

Moçambique: GUEBUZA APELA AOS MEDICOS PARA RECONSIDERAREM AS SUAS POSIÇÕES

 


MAPUTO, 08 JUN (AIM) – O Presidente da República, Armando Guebuza, renovou o seu apelo aos médicos moçambicanos que estao em greve ha 20 dias a reconsiderarem a sua posiçao e regressarem ao trabalho, pois a vida humana não tem preço.

O estadista moçambicano reiterou o apelo no final da visita que efectuou na manhã de hoje ao Hospital Central de Maputo (HCM), a maior unidade sanitária do país, onde foi transmitir a sua solidariedade e admiração pelo "heroísmo" dos que deixaram tudo de lado e continuaram a atender aos doentes.

Guebuza, que durante cerca de uma hora visitou os serviços de pediatria, ortopedia bem como as diversas unidades dos serviços de urgências, conferenciou com os doentes e transmitiu um gesto de encorajamento ao pessoal de serviço (jovens e mais velhos) que estava a cuidar dos enfermos internados.

“Estamos a visitar o hospital, porque sabemos que nos últimos dias tem havido aquilo que tomou o nome de greve de alguns trabalhadores”, disse o presidente.

Porém, visitando o hospital e tendo em conta as informações anteriores e algumas veiculadas pela própria imprensa, ele disse ter constatado que existem muitos trabalhadores desde os próprios médicos, enfermeiros, serventes, administrativos e outros técnicos que, de facto, se preocupam com os doentes.

Esses quadros do sector, segundo Guebuza, têm em conta que os doentes são seus familiares, são seus compatriotas, são seres humanos e, por conseguinte, mesmo cansados devem tudo fazer no sentido de garantir que eles possam assegurar a saúde.

Alguns dos quadros, segundo o presidente, aparentemente com uma formação abaixo da responsabilidade que estão a ter agora, mas têm tanta dedicação que supera, sobretudo tendo em conta que há outros que não o fazem.

Desta feita, o Chefe de Estado disse que aos que não estão a dar tanta importância a vida humana, mesmo a vida dos seus compatriotas deviam reconsiderar e voltar ao trabalho, porque ela "não tem preço e não é o dinheiro que conta, porque a vida é sagrada, daí que deviam voltar ao trabalho".

“Fala-se de diálogo, mas o diálogo não é receber ordens muito menos dar ordens aos chefes. O diálogo é apresentar as questões que tem de maneira ordeira e procurar consensos, mas sem prejudicar o povo, que deve merecer toda a atenção necessária e não ser prejudicado por interesses individuais”, disse Guebuza.

O presidente disse, por outro lado, haver muita gente que reclama dinheiro, mas quando se quer mais dinheiro há que ter em conta que ele é produzido e essa produção é feita através do trabalho.

“Não é uma pessoa ou uma profissão apenas que produz esse dinheiro, mas o conjunto de todas as profissões incluindo aquelas que estão a investir, neste caso, as escolas que estão a formar pessoas para amanhã poderem também servir”, disse Guebuza.

O dinheiro que deve ser distribuído é, segundo o presidente, aquele que há, mas isso não deve prejudicar o investimento no futuro, escolas, saúde, a limpeza, pois são mais de 22 milhões de moçambicanos que estão a espera da mesma atenção e ao agir há que ter isso em conta.

Ainda na ocasião, Guebuza disse que os trabalhadores de saúde que aguentaram, resistiram e venceram as dificuldades são uma referência para o país e devem continuar a ser.

A greve convocada pela Associação Médica de Moçambique (AMM) e envolve outros profissionais de saúde completa 20 dias e na ronda negocial havida sexta-feira houve um novo impasse, não se vislumbrando o seu desfecho.

LE/FF
 

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