quinta-feira, 29 de maio de 2014

Angola: Regime (ainda) teme prestar contas sobre o “27 de Maio”



Orlando Castro, jornalista

Os acontecimentos de 27 de Maio de 1977 em Angola, que provocaram milhares de mortos, foram o resultado de um "contra-golpe" que foi pacientemente planeado, tendo como responsável máximo Agostinho Neto, que temia perder o poder. Esta é uma das muitas teses possíveis. Lara Pawson, jornalistas britânica, acaba de lançar o livro: “Em Nome do Povo - O massacre que Angola silenciou”.

Nessa altura, Nito Alves, então ministro da Administração Interna sob a presidência de Agostinho Neto, liderou uma manifestação para protestar contra o rumo que o MPLA estava a tomar. E isso era inaceitável pelos ortodoxos que, por interesses pessoais, blindavam o presidente. Com o fantasma do Congresso, previsto para o final desse ano, urgia calar os nitistas pois, se o não fizessem, poderiam ver os congressistas renderem-se a Nito Alves. Tudo leva a crer que Neto temia mesmo perder o poder e, por isso, engendrou a tramoia.

Perante a blindagem que ainda hoje o regime faz ao que se passou, situação que impede consulta de documentos e que atemoriza muitos dos intervenientes cujo testemunho é imprescindível para um conhecimento que chegue perto da verdade, a história do massacre vai continuar com muitos capítulos especulativos.

Na versão oficial, através de uma declaração do Bureau Político do MPLA, divulgada a 12 de Julho de 1977, o 27 de Maio foi uma "tentativa de golpe de Estado" por parte de "fraccionistas" do movimento, cujos principais "cérebros" foram Nito Alves e José Van-Dunem, versão que seria alterada mais tarde para "acontecimentos do 27 de Maio".

Nito Alves e José Van-Dúnem tinham sido formalmente acusados de fraccionismo em Outubro de 1976. Os visados propuseram a criação de uma comissão de inquérito, que foi liderada pelo actual Presidente, José Eduardo dos Santos, para averiguar se havia ou não fraccionismo no seio do partido. As conclusões nunca chegaram a ser divulgadas publicamente mas, segundo alguns sobreviventes, revelariam que não existia fraccionismo no seio do MPLA.

Consta que o próprio José Eduardo dos Santos, tal como o então primeiro-ministro, Lopo do Nascimento, seriam alvos a abater pela cúpula do MPLA. Ao actual Presidente terá valido a intervenção do comissário provincial do Lubango, Belarmino Van-Dúnem.

Os apoiantes de Nito Alves consideravam que o golpe já estava a ser feito por uma ala maoísta do partido, liderada pelo secretário administrativo do movimento, Lúcio Lara, que terá instrumentalizado os principais centros de decisão do partido e os média, em especial o Jornal de Angola, pelo que consideraram que a manifestação convocada por Nito Alves foi "um contra-golpe".

Em relação ao número de mortos, os números vaiam segundo as fontes. Terão sido mais de 15 mil e menos de 100 mil. É claro que, como continua a ser prática, nessa altura os ditos fraccionistas sofreram horrores terríveis, desde prisões arbitrárias, a tortura, condenações sem julgamento ou execuções sumárias.

O apontado líder do alegado golpe de Estado terá sido fuzilado, mas o seu corpo nunca foi encontrado, tal como o dos seus mais directos apoiantes como José Van-Dúnem e Sita Valles, que foi dirigente da UEC, ligada ao Partido Comunista Português, do qual se desvinculou mais tarde, e foi expulsa do MPLA.

Em Abril de 1992, o governo angolano reconheceu que foram "julgados, condenados e executados" os principais "mentores e autores da intentona fraccionista", que classificou como "uma acção militar de grande envergadura" que tinha por objectivo "a tomada do poder pela força e a destituição do presidente Agostinho Neto".

Moralmente, pelo menos, o principal responsável foi Agostinho Neto que, assessorado por alguns dos mais radicais membros do MPLA, não se preocupou com o apura a verdade, dispensou os tribunais, admitiu que fizessem justiça por suas próprias mãos.

Relatos dispersos dizem que o Presidente Agostinho Neto foi, antes de tudo, chefe duma facção e não o árbitro, o unificador, estando completamente dominado pela arrogância, inflexibilidade e cegueira.

Certo é, contudo, que Angola perdeu muitos dos seus melhores quadros: combatentes experimentados em mil batalhas, mulheres combativas, jovens militantes, intelectuais e estudantes universitários. Dessa forma o MPLA decapitou os que sonhavam com um futuro melhor, mais igualitário e mais fraterno para os angolanos.

O mais recente livro da jornalista britânica Lara Pawson sobre este assunto, "levanta mais perguntas do que respostas" sobre as verdadeiras intenções, envolvidos e número de mortos.

"O meu livro não é uma história definitiva do 27 de Maio, é a minha investigação e mais trabalho precisa de ser feito", afirmou a propósito de "Em Nome do Povo - O massacre que Angola silenciou", livro lançado em Londres e que esta semana chegou livrarias portuguesas, editado pela Tinta-da-China.

O livro, que demorou sete anos a escrever, representa uma investigação de sete anos da antiga correspondente da BBC em Angola (1998-2000), demora que a autora atribui à própria "lentidão" e à incerteza criada pelos testemunhos que recolheu entre Londres, Lisboa e Luanda.

"Todas as pessoas com quem eu falava pareciam ter visões muito facciosas e eu achava difícil confiar em alguém. Esse é um dos interesses do livro, porque levanta a questão do rigor da informação sobre Angola e qual é a informação em que podemos confiar", explica Lara Pawson.

O 27 de Maio de 1977 é descrito como uma tentativa de golpe de Estado por "fraccionistas" do próprio MPLA, então já no poder do país recém-independente, contra o Presidente Agostinho Neto e "bureau político" do partido.

Segundo vários relatos, milhares terão morrido na reacção das FAPLA, nomeadamente os dirigentes Nito Alves, então ministro da Administração Interna, e José Van-Dúnem, mas foi difícil para Lara Pawson alcançar uma "versão definitiva" sobre os interesses e objectivos daquele movimento, que alegou tratar-se de um `contragolpe`.

"Uma das discussões foi saber se foi manifestação ou golpe de Estado e o que aprendi após falar com angolanos, em particular o povo, é que muito deles acreditavam estar a participar numa manifestação pacífica. Mas, por outro lado, o facto de a 9ª Brigada se ter envolvido, de a rádio ter sido ocupada durante várias horas por homens com armas e as prisões invadidas parece difícil negar que não houve tentativa de golpe", salienta a autora.

Outra questão controversa que tentou esclarecer foi o número de mortos resultantes da resposta do regime, e que variam, segundo as versões, entre 20 mil a 30 mil mortos, número dado à autora pelo irmão de José Van-Dúnem, João, a 100 mil mortos reivindicados pela Fundação 27 de Maio.

"O mais próximo que consegui de uma versão oficial foi de Fernando Costa Andrade, antigo director do Jornal de Angola. Ele disse que o ministro de Defesa da altura tinha estimado pelo menos 2.000 mortos. Se um ministro diz isto, é porque no mínimo foram 2.000 mortos, mas podem ter sido mais", referiu Lara Pawson.

O envolvimento de Moscovo, a existência de fracturas entre os próprios fraxcionistas são outras questões que continuam em aberto, bem como o papel do actual Presidente angolano, José Eduardo dos Santos, que sucedeu a Agostinho Neto no poder.

"Esta é uma das questões que eu espero que o livro provoque: as pessoas do actual regime precisam de prestar contas e descobrir quem esteve envolvido e quem não esteve. Estas pessoas precisam de ser confrontadas por um tribunal e serem interrogados antes de morrerem", sugeriu.

A "complexidade e contradições" que rodeiam o assunto contribuíram para a "obsessão" de Lara Pawson em querer escrever este livro num tom romanceado, mas, passados 34 anos, descobriu que o assunto continua a ser um "tabu" e que muitos dos envolvidos têm medo de falar, pelo que a identidade teve de ser preservada no livro. 

O próprio receio do MPLA em "abrir a ferida" abriu espaço para que Nito Alves seja actualmente idolatrado por jovens angolanos opositores ao regime, disse a jornalista britânica, concluindo: "Esconder a verdade está a criar cada vez mais o peso do próprio mito".

Sonangol em Timor-Leste para analisar consórcio petrolífero da CPLP




Díli, 28 mai (Lusa) - A Sonangol Hidrocarbonetos Internacional, subsidiária da empresa petrolífera estatal angolana, iniciou hoje uma missão a Díli para analisar a possibilidade de criação de um consórcio da Comunidade dos Países de Língua Portuguesa para exploração "onshore" em Timor-Leste.

"O objetivo desta visita prende-se, sobretudo, com a intenção do governo de Timor de criar um consórcio que vai envolver todos os países da CPLP e nós viemos aqui apenas para ver se, de facto, as áreas que neste momento estão a ser postas à disposição têm potencial petrolífero", afirmou à agência Lusa Manuel Teixeira, presidente executivo da Sonangol Hidrocarbonetos Internacional.

Segundo Manuel Teixeira, a missão pretende avaliar questões técnicas.

"Depois, em função disso, nós decidiremos se, de facto, podemos abarcar este consórcio ou não", esclareceu.

Durante a sua estada em Díli, a delegação da Sonangol Hidrocarbonetos Internacional vai deslocar-se ao Suai, na costa sul de Timor-Leste, onde o governo timorense está a desenvolver um projeto de indústria petrolífera.

Questionado pela Lusa sobre se a resposta de Angola poderá ser dada durante a cimeira da CPLP, Manuel Teixeira disse que ser "provável que sim".

"A missão é exatamente para responder a questões que eventualmente serão postas na cimeira, nomeadamente o que já foi produzido em relação ao consórcio, e nós viemos tentar ver se as bacias de Timor têm potencialidade de investimento no futuro", acrescentou.

Em março, o presidente da Timor Gap, empresa petrolífera do Estado timorense, anunciou à Lusa a intenção de as autoridades timorenses criarem um consórcio com os parceiros da CPLP para exploração "onshore" em Timor-Leste.

"A ideia é a criação de um consórcio das empresas nacionais dos Estados-membros da CPLP e à Timor Gap foi delegado a coordenação deste processo e conseguimos já fazer alguns contactos", disse Francisco Monteiro.

A criação de um consórcio de exploração petrolífera com as empresas estatais de hidrocarbonetos da CPLP tinha já sido defendida pelo primeiro-ministro timorense, Xanana Gusmão, e apoiada pelo Presidente do país, Taur Matan Ruak.

Segundo Francisco Monteiro, o objetivo é "mobilizar esforços conjuntos dos Estados-membros para exploração petrolífera na zona terrestre de Timor-Leste", principalmente na costa sul.

São Tomé e Príncipe, Cabo Verde, Guiné-Bissau, Moçambique e Portugal já manifestaram interesse na iniciativa, com exceção do Brasil, devido às necessidades internas relacionadas com os seus próprios recursos.

O objetivo de Timor-Leste é que o consórcio seja concretizado durante a presidência timorense da CPLP.

Timor-Leste assume pela primeira vez a presidência da CPLP durante a cimeira de chefes de Estado e de Governo, que se vai realizar em Díli a 23 de julho, segundo o governo timorense.

A Timor Gap está a trabalhar no projeto em conjunto com a Autoridade Nacional do Petróleo timorense.

Criada em 2011, a Timor GAP atua em nome do Estado timorense na condução de negócios no setor petrolífero e do gás, incluindo a realização de atividades em terra e no mar, no âmbito nacional e internacional.

A empresa petrolífera timorense assinou o seu primeiro contrato de partilha em abril de 2013 com a ENI e a INPEX para explorar a Área de Desenvolvimento Petrolífero Conjunto, localizada a 240 quilómetros a sul de Díli e a 500 quilómetros a noroeste de Darwin.

Na parceria, a Timor Gap detém 24 por cento.

MSE // JPS - Lusa

"CPLP e a Globalização" vai ser o tema da cimeira em Timor-Leste




Díli, 27 mai (Lusa) - O presidente da Comissão de Preparação da cimeira da Comunidade dos Países de Língua Portuguesa, Francisco Guterres Lu Olo, disse hoje que o tema da reunião vai ser a "CPLP e a Globalização", com destaque para a cooperação económica.

O antigo presidente do parlamento timorense falava à margem da conferência "As relações África/Timor-Leste - passado, presente e futuro", que decorreu hoje no Ministério dos Negócios Estrangeiros em Díli, no âmbito das comemorações do Dia de África, que se assinalou no domingo.

"Timor-Leste, como vai liderar a CPLP, elege como subtema mais importante neste tema central a cooperação económica. Nós vamos continuar a defender isso e já estamos a produzir o documento final de Timor-Leste em que vamos destacar essa importância", salientou o também presidente da Frente Revolucionária do Timor-Leste Independente (Fretilin).

Timor-Leste vai assumir pela primeira vez a presidência da CPLP, durante a cimeira de chefes de Estado e de Governo a realizar em Díli a 23 de julho, que também poderá ficar marcada pela entrada da Guiné Equatorial na organização.

No âmbito da organização da cimeira, o Governo timorense criou uma comissão, chefiada por Francisco Guterres Lu Olo, e convidou os Estados-membros da comunidade a enviarem diplomatas para fazerem parte daquela missão.

Integram a CPLP Angola, Brasil, Cabo Verde, Guiné-Bissau, Moçambique, Portugal, São Tomé e Príncipe e Timor-Leste.

MSE // VM - Lusa

Docente defende "política mais agressiva" da CPLP para tornar português língua técnico-científica




Lisboa, 26 mai (Lusa) - A diretora da Faculdade de Línguas Estrangeiras Aplicadas da Universidade Sorbonne, Isabelle Oliveira, defendeu hoje a adoção de "uma política mais agressiva" da CPLP para tornar o português numa língua técnico-científica, evitando "anglicização" da estrutura mental dos lusófonos.

A ideia "não é um combate em relação à língua inglesa, mas se aceitarmos a hegemonia do inglês que nos venha a expor de um certo modo a sermos 'anglicizados' na nossa estrutura mentais. Estamos a caminhar para um pensamento único" através de "uma parca lista de 1.500 palavras" que compõe o léxico inglês, disse em entrevista à Lusa a docente daquela universidade francesa.

Há dias, a linguista publicou um artigo na página do Instituto Internacional de Língua Portuguesa em que lança um repto aos cidadãos e governos da Comunidade dos Países de Língua Portuguesa (CPLP) para se tornarem "insurrectos linguísticos, cientes de que, a par de outras línguas, a língua portuguesa se pode afirmar como uma língua científica, técnica, económica, financeira, jurídica, e que tem vocação para ser uma língua de transmissão de conhecimentos e de produção de material de referência, uma língua profissionalizante, uma língua da sociedade da informação, uma língua de criação artística e cultural".

"Será coerente denunciar as tendências da economia e das finanças na era da mundialização e aceitar, resignadamente, o uso de uma única língua da economia e das finanças? Será coerente denunciar a falta de democracia nas organizações internacionais e nas relações internacionais e, resignadamente, investigar, trabalhar e negociar em uma única Língua, que uns dominarão sempre mais do que outros?", questionou no artigo.

Falando hoje à Lusa, a docente lembrou que "uma ciência democrática não pode ser monolinguística", por isso, se os países da CPLP quiserem "construir uma cidadania lusófona também tem que ser graças ao desenvolvimento da compreensão linguística e cultural".

No texto de opinião, Isabelle Oliveira lembra que também "em ciência é necessário proteger e fomentar as diversidades de pensamento, de concepções, de imaginário cultural e, nesse aspecto, nada as favorece tanto quanto a diversidade linguística".

Nas declarações à Lusa, sustentou aquela opinião, afirmando: "como temos uma língua em comum podemos, perfeitamente, criar uma rede mundial de investigação, criando também material de referência, porque há uma grande lacuna na vertente técnico-científica".

"Falamos muito em termos de números: o português é a quinta língua mais falada no mundo, a terceira na Europa e a quarta utilizada no mundo virtual. E, na prática, ela não é vista como ativo que acrescenta valor apesar de ser uma língua global. E é possível ela funcionar como importante meio estratégico de afirmação lusófona em termos científicos", afirmou.

Para Isabelle Oliveira, "o palco da lusofonia pode ter exatamente este mesmo olhar, se houver uma real vontade política para reconquistar a língua portuguesa na sua plenitude", pois "é possível proteger e fomentar a diversidade cultural e linguística".

"Eu acho que não é possível expressar toda a nossa riqueza e diversidade do nosso pensamento, as nossas concepções do mundo, mesmo dentro da ciência, se, simplesmente, não dominarmos a língua".

Isabelle Oliveira considera que"em Portugal nunca houve realmente uma vontade de construção de uma política da língua", até porque "não houve até hoje um trabalho nesse sentido".

"Aliás, não se entende como é que ainda hoje não exista um Ministério ou uma Secretaria de Estado dedicada à lusofonia como existe na França. Não é suficiente ter apenas instituições como o Instituto Camões", afirmou.

Mas, assinalou, "a lusofonia também é um espaço em plena expansão económica e demográfica. Se calhar é necessário fazer ou um esforço, simplesmente, a nível do sistema educativo, tanto na CPLP, quanto na aprendizagem do português como língua estrangeira".

MMT // EL - Lusa

Portugal: O PROGRAMA DE ANTÓNIO COSTA



Pedro d´Anunciação  - Sol, opinião

António Costa e Mário Soares, 2 pessoas por quem tenho grande apreço, vieram neste momento, em que o PSD teve a sua maior derrota eleitoral de sempre (maior ainda do que a de Durão Barroso), e o PS teve uma vitória considerável (como frisou Francisco Assis, subiu de uma diferença favorável de 1%, nas autárquicas, para praticamente 4%, nestas europeias) – vieram pois transformar a vitória do PS numa derrota.

Só porque acham que o PS devia ter arrasado, talvez com 40% dos votos. Nem repararam no que aconteceu no resto da Europa, com todos os partidos do sistema, incluindo socialistas e sociais-democratas (os quais, a nível europeu, até ficaram atrás dos conservadores). Nem recordam que as sondagens já previam ser o PS o partido mais prejudicado pela abstenção elevada.

Muito bem: têm algum programa alternativo para apresentarem? Se o fizerem, e for eleitoralmente mais apelativo do que o de Seguro, até compreendo o seu avanço. Caso contrário, transformar esta vitória em derrota, por motivos puramente pessoais, é apenas um tiro nos pés. Que está a permitir à Aliança Governamental transformar a sua derrota em quase vitória.

De facto, na Europa, não vale a pena votar – se nos lembrarmos que Barroso, depois da clamorosa derrota sofrida nas anteriores europeias, foi alcandorado a presidente da CE, com o prejuízo geral europeu unanimemente reconhecido. Talvez agora queiram outro derrotado, e possam avançar Passos, ou Portas, ou algum dos deles.

Por mim, continuo a ver Seguro avançar seguramente para o Governo. E quanto mais oiço os representantes da maioria governamental atacá-lo, melhor o acho. Por muito que simpatize com Soares e Portas, se não têm nada para apresentar (nem que seja o fim das mordomias politicas, quase todas aprovadas pelo PSD, mas bem aproveitadas pelos do PS), só me custa vê-los assim a fazerem da vitória indiscutível por 4 pontos de diferença uma derrota. E temo que o PS, nesse caminho, acabe por chegar ao poder com um Passos Coelho qualquer (que os há por todos os partidos: ignorantes, incompetentes, sem formação académica, só com currículo de jota), como já uma vez chegou com Sócrates, quando o PSD podia bem ter chegado com o muitíssimo melhor, e na altura tão criticado internamente, Marques Mendes.

Portugal - Nuno Sá: Há um guião de baixo nível para afrontar Seguro




O dirigente socialista Nuno Sá acusou hoje um grupo de deputados do PS que contesta o voto a favor na moção de censura do PCP de seguir um guião "de baixo nível" contra António José Seguro.

Nuno Sá, deputado eleito pelo círculo de Braga e considerado próximo da direção do partido, falava à agência Lusa em reação à posição do deputado e ex-ministro socialista Jorge Lacão, que contesta a possibilidade de o PS, na sexta-feira, votar a favor da moção de censura apresentada pelo PCP ao Governo.

"Os socialistas e os portugueses percebem o que está em causa. O que se passou hoje [na reunião do Grupo Parlamentar] foi mais um folhetim do guião de baixo nível para atacar o secretário-geral do PS [António José Seguro]. Esse foi o único objetivo do folhetim que hoje foi concretizado", acusou o coordenador da bancada socialista para as questões laborais.

De acordo com o deputado do PS, a contestação que hoje surgiu na reunião da manhã da bancada socialista traduziu-se, na prática, em "jogadas baixas de pura afronta ao líder do partido".

Nuno Sá apontou também contradições políticas na atuação do grupo socialista que hoje defendeu a abstenção perante a moção de censura do PCP ao Governo.

"Como é que alguns daqueles que em várias reuniões se queixaram de falta de censura ao Governo são hoje os primeiros a não querer censurar o Governo? Como se percebe esta falta de verticalidade nas posições políticas?", questionou o deputado socialista eleito por Braga.

Ainda de acordo com Nuno Sá, o setor do PS que tem "reclamado uma oposição firme e de linha dura do contra parecem ser agora os que defendem uma abstenção violenta".

"No momento em que se vai fazer uma censura política ao Governo, após os portugueses terem expressado uma censura forte nas urnas, alguns parece que ficam agora titubeantes. Como é que isto se percebe? Era bom que isso fosse explicado", acrescentou o dirigente socialista.

Lusa, em Notícias ao Minuto

Plano B: Se Constitucional chumbar normas, IVA sobe para os 25%




A poucos dias de o Tribunal Constitucional dar a conhecer o seu veredicto quanto à fiscalização de quatro normas do Orçamento do Estado para este ano, a SIC dá conta daquele que será o plano B do Governo caso o Palácio Ratton chumbe as referidas normas. Segundo aquela estação televisiva, o Executivo tem ‘na manga’ um aumento de dois pontos percentuais na taxa máxima do IVA.

A decisão do Tribunal Constitucional sobre as quatro normas do Orçamento do Estado que foram enviadas para fiscalização poderá ser conhecida nos próximos dias, uma vez que, como escreveu ontem o Jornal de Negócios, o presidente do Palácio Ratton vai viajar na próxima semana para Angola e os juízes querem deixar a situação resolvida antes disso.
Assim, avança a SIC, o Governo está preparado para um eventual chumbo do Constitucional nas medidas que preveem uma redução da despesa, em especial no que diz respeito aos salários dos funcionários Públicos.

A estação de Carnaxide cita fonte governamental e assegura que o Executivo pondera subir a taxa máxima do IVA para 25%, isto quando ainda este mês a mesma subiu para os atuais 23,25% - uma decisão inserida no Documento de Estratégia Orçamental.

Outra fonte do Governo disse também à SIC que caso se confirme o chumbo por parte dos juízes que espera que, pelo menos, este não seja retroativo. Isto é, que não obrigue o Executivo a devolver o valor que já foi cortado desde janeiro.

Notícias ao Minuto

COPA DO MUNDO – FESTA DOS OUTROS?




Obras de mobilidade inacabadas, denúncias de corrupção, soluções de segurança de última hora e decepção com os legados não são exclusividades brasileiras.

Paulo Vasconcellos – Carta Maior

A festa do vizinho sempre parece melhor até quando se trata de Copa do Mundo ou Jogos Olímpicos. A África do Sul, em 2010, e a Olimpíada de Londres, em 2012, não foram nenhum primor de organização, mas poucos lembram disso para amenizar os equívocos do mundial do Brasil. Obras de mobilidade inacabadas, denúncias de corrupção, soluções de segurança de última hora, frustração com o número de turistas e decepção com os legados não são exclusividades brasileiras.
 
A boa nova é que o Reino Unido registrou um crescimento de 10% no fluxo turístico um ano depois dos jogos e espera chegar à marca de 40 milhões de visitantes estrangeiros por ano até 2020. Os sul-africanos de algumas cidades comemoram um sistema de transporte mais rápido e taxa de crescimento da economia este ano de 5,3%, de acordo com previsão do Fundo Monetário Nacional (FMI), em parte por conta do Plano Nacional de Infraestrutura lançado no rastro da Copa do Mundo com 18 projetos estratégicos e investimentos de US$ 83 bilhões direcionados aos 23 distritos mais pobres do país e que vão beneficiar 19 milhões de pessoas.
 
Nada disso aconteceu sem percalços. A África do Sul, que gastou US$ 8 bilhões, se frustrou com o retorno da competição para o turismo e a geração de emprego. A organização do mundial enfrentou denúncias de corrupção. As obras do trem que liga os 35 quilômetros do centro de Joanesburgo ao Aeroporto Internacional OR Tambo em apenas 15 minutos só ficaram prontas depois que o mundial acabou.
 
Durante a competição, turistas e sul-africanos tiveram que suportar muita poeira nos olhos. O sistema chegou ainda à Pretoria, Porto Elizabeth e Cidade do Cabo, que ganhou também 300 novos ônibus. Durban ganhou novas estações de trem. Mas a taxa de desemprego se manteve alta e o país voltou a enfrentar conflitos sangrentos entre policiais e trabalhadores das minas de platina. O crescimento médio do PIB também patinou logo depois do mundial e chegou a ficar em 2,6% ao ano – ainda assim maior do que quase todas as outras economias do mundo, noves fora a China.
 
O legado mais próximo do fracasso parece ser o dos estádios. O Cape Town Stadium, construído na Cidade do Cabo por US$ 600 milhões em dinheiro público e capacidade para 55 mil pessoas, virou um rombo nos cofres da administração municipal mesmo com shows de Lady Gaga, U2 e Justin Bieber. O prejuízo chegava a US$ 5 milhões por ano. O Green Point Stadium, com capacidade para 66.005 pessoas, custou cerca de US$ 600 milhões e, apesar de a cidade ter dois times de futebol e uma das equipes de rugby mais famosas do país, quase nunca recebe jogos. Só o custo de manutenção é de R$ 10,5 milhões por ano. Em Porto Elizabeth é pior. No Nelson Mandela Bay Stadium nem as traves sobreviveram ao abandono.
 
Para o Reino Unido restou mais do que os feitos de Usain Bolt nas pistas e de Michael Phelps nas piscinas. Antes parecia uma festa de arromba. A vinte dias dos jogos, o governo britânico botou 20 mil homens das forças armadas nas ruas às pressas para fazer a segurança porque a empresa contratada em licitação se declarou incompetente para o trabalho depois de denúncias de corrupção. As autoridades ainda tiveram que apelar ao espírito cívico dos ingleses para que usassem menos a internet e não provocassem um congestionamento nas comunicações.
 
Quatro jornalistas da CBN, emissora do Sistema Globo de Rádio que desanca a organização do mundial do Brasil, testaram os trasportes para chegar ao Estádio Olímpico na abertura. O que foi de metrô levou 56 minutos, o que usou bicicleta gastou quase uma hora e meia, aquele que pretendia ir de táxi nem saiu do lugar e o escalado para chegar de ônibus ainda esperava no ponto uma hora depois. Quem precisou voltar para casa ou para o hotel depois da cerimônia encontrou estações de metrô fechadas por causa do pico de passageiros. Manifestantes foram às ruas contra os gastos da competição e a remoção de um bairro inteiro na zona leste da cidade para a construção da infraestrutura esportiva. As arquibancadas apareciam vazias nos primeiros dias da competição. Os jornais chegaram a estampar manchetes dizendo que Londres se tornara uma cidade fantasma porque os turistas não tinham aparecido e os londrinos tinha saído da capital inglesa para evitar a confusão. 
 
Nada como um ano depois do outro. Em 2013, o país recebeu 33 milhões de turistas. Foram 30.798 milhões, em 2011, e 31.084 milhões, no ano da olimpíada. Os visitantes deixaram 21 bilhões de libras esterlinas – o equivalente a R$ 78,5 bilhões – para a economia britânica. Por trás de todos os esforços para garantir o sucesso dos Jogos Olímpicos de Londres prevaleceu uma estratégia política de turismo prioritária: mudar a imagem excessivamente reservada dos britânicos. Foram sete anos de planejamento e marketing para que os ingleses aprendessem a se tornar mais receptivos. 

"Os Jogos Olímpicos foram uma grande plataforma de comunicação", afirma Samuel Lloyd, diretor do VisitBritain para a América Latina, a agência nacional britânica que participou da coordenação do evento. A plataforma de comunicação para a Copa do Mundo do Brasil prevê três bilhões de espectadores em todo o planeta bombardeados durante mais de um mês com 73 mil horas de transmissão do país pelo rádio e pela televisão – sem contar as redes sociais. E nem precisa mudar o jeitinho brasileiro.

Créditos da foto: Getty Images

DONALD RUMSFELD E A DEMOLIÇÃO DO WTC 7



Kevin Ryan [*]

Quando perguntaram ao antigo secretário da Defesa Donald Rumsfeld acerca do World Center Building 7 (WTC 7), ele afirmou que nunca ouvira falar dele . Isto aconteceu apesar da destruição sem precedente daquele edifício de 47 andares e do seu relacionamento com os eventos do 11/Set que marcaram a carreira de Rumsfeld. Embora não atingido por um avião, o WTC 7 experimentou uma queda livre dentro do seu próprio terreno na tarde do 11/Set – pelo caminho que deveria ter sido o de maior resistência. A agência do governo encarregada de investigar a destruição do edifício acabou por admitir que ele estivera em queda livre durante uma parte da sua descida. O facto torna a demolição explosiva a única explicação lógica. Considerar como o WTC 7 pode ter sido demolido conduz a alguns factos interessantes acerca de Rumsfeld e seus associados.

O único grande inquilino do WTC 7 era a Salomon Smith Barney (SSB), a companhia que ocupava 37 dos 47 pisosno WTC 7. Um facto pouco discutido é que Rumsfeld era o presidente do comité consultivo da SSB e Dick Cheney também era membro do mesmo. Rumsfeld actuou como presidente do comité consultivo do SSB desde o seu início em 1999. Segundo as revelações financeiras que ele fez no seu processo de nomeação, durante o mesmo período Rumsfeld também actuou como um consultor pago para o Director da Central Intelligence Agency, George Tenet. Rumsfeld e Cheney tiveram de renunciar às suas posições na CIA e na SSB em 2001 quando foram confirmados como membros do gabinete de George W. Bush.

Vários dos colegas de Rumsfeld e Cheney tinham acesso, ou conhecimento pessoal, ao WTC 7. O agente do Serviço Secreto Carl Truscott, que estava encarregado da Divisão de Protecção Presidencial no 11/Set, conhecia bem o edifício porque havia trabalhado no escritório de Nova York do Serviço Secreto ali localizado. Além disso, a CIA de Tenet operava secretamente uma "frente falsa de outra organização federal" no interior do WTC 7. Aquela frente falsa pode ter sido relacionada com o Serviço Secreto, o Internal Revenue Service, o Departamento da Defesa de Rumsfeld, ou a Securities and Exchange Commission (SEC), todas elas listadas como inquilinos do WTC 7. O SEC perdeu muitos documentos importantes quando o edifício foi destruído, incluindo muito do que necessário para processar eficazmente a Enron e a WorldCom.

Em qualquer caso, é claro que operacionais encobertos tinham acesso ao WTC 7. Através do Serviço Secreto, do DOD e de um escritório secreto da CIA, o edifício proporcionava acesso a muitas destas pessoas. Além disso, a segurança electrónica do complexo WTC estava contratada à Stratesec, uma companhia de segurança operada pelo especialista em logística de armas militares e suspeito do Iran-Contra Barry McDaniel . Wirt Walker, o filho de um empregado da CIA que foi assinalado pelo SEC por suspeita de utilizar informações privilegiadas em proveito próprio no 11/Set (insider trading), era o patrão de McDaniel na Stratesec.

Espantosamente, explosivos e terrorismo eram tópicos de discussão planeados no WTC 7 no dia dos ataques. Havia uma reunião programada no WTC 7 para a manhã do 11/Set que incluía unidades de remoção de explosivos dos militares estado-unidenses. A Equipe de Remoção e Demolição de Munições do Exército (Demolition Ordnance Disposal Team from the Army), de Fort Monmouth, aconteceu justamente naquela manhã ser convidada para reunir-se com o proprietário do edifício, Larry Silverstein. Eles estavam "confirmadamente a planear manter uma reunião no World Trade Center 7 para discutir esforços de prevenção de terrorismo ". A reunião foi combinada para as oito horas da manhã em 11/Set mas foi cancelada com a desculpa de que um dos executivos de Silverstein não podia comparecer.

Richard Spanard, capitão do Exército e comandante da unidade de remoção de explosivos de Fort Monmouth estava no WTC 7 à espera da reunião. Ele esta "a desfrutar um pequeno-almoço num estabelecimento a 50 pés [15 m] das torres gémeas do World Trade Center quando o primeiro avião o atingiu. A histeria geral inundou o estabelecimento. Spanard decidiu que ele e os três soldados consigo deveria ir para o World Trade Center número 7, onde haviam programado uma reunião ". O edifício 7 estava "cheio de pessoas em meio à evacuação. Uma segunda explosão foi ouvida e pessoas começaram a aglomerar-se nas três escadas rolantes num estado de pânico. Spanard e os agora cinco soldados com ele começaram a gritar para todos permanecerem calmos".

Em ainda outra "estranha reviravolta do destino" , pessoal de Fort Monmouth estava a preparar-se para um exercício chamado Timely Alert II no dia do 11/Set. Isto era um exercício de desastre centrado na resposta a um ataque terrorista e incluía agências de aplicação da lei e pessoal de emergência. O exercício simplesmente mudou para uma resposta real quando os ataques começaram.

Fort Monmouth, localizado em Nova Jersey a apenas 49 milhas [79 km] do complexo WTC, era a sede de várias unidades do Army Materiel Command (AMC). Por coincidência, Barry McDaniel do Stratesec havia dirigido o AMC uma década antes. McDaniel tinha um passado interessante e, após o 11/Set, tornou-se parceiro de negócios de um dos mais próximos colegas de Dick Cheney .

A reacção de Fort Monmouth no 11/Set incluía a unidade de explosivos e o Army's Communications-Electronics Command (CECOM). Como o exercício foi convertido numa reacção real, equipes de peritos do CECOM foram posicionadas para localizar transmissões de telemóveis no amontoamento no Pizo Zero (Ground Zero). Os restantes da companhia de munições explosivas estavam lá na tarde do 11/Set e ali permaneceram durante três dias a fim de, entre outras coisas, ajudar as "autoridades" a procurarem por quaisquer possíveis explosivos no entulho .

A reunião da remoção de explosivos/terrorismo não era apenas a pedido de Larry Silverstein, no entanto, mas foi realmente organizada pelo escritório de campo do Serviço Secreto. A Unidade Móvel 6 de remoção de munições explosivas da US Navy também fora convidada para o WTC 7 naquela manhã, mais uma vez a pedido do Serviço Secreto . Quando eles chegaram, os aviões começaram a chocar com as torres.

Considerando tudo isto, a afirmação de Rumsfeld de que nunca ouvira falar do WTC 7 não é crível. Ela não se reconcilia com os factos acerca das posições que ele teve e aquelas dos seus colegas e subordinados. Ela certamente não se reconcilia com o facto de que Rudy Giuliani proporcionou a Rumsfeld uma visita pessoal ao Ground Zero apenas dois meses após os ataques. Certamente Rumsfeld notou o enorme amontoado de entulho ainda fumegante que outrora foi o edifício onde bunker de emergência no 23º andar estava abrigado. Eles foram fotografados de pé exactamente na rua dele.

Rumsfeld era o presidente do comité consultivo de uma companhia que ocupava quase todo o WTC 7. No 11/Set ele dirigia o DOD – um outro inquilino do edifício. Unidades de remoção de explosivos tanto do Exército como da Marinha (entidades do DOD) foram programadas para se reunirem no WTC 7 na manhã do 11/Set, ostensivamente para discutir terrorismo. Um exercício de terrorismo foi programado para aquela manhã na mesma área. Além disso, um antigo de associado de negócios de Rumsfeld, Peter Janson, dirigia a AMEC Construction, uma companhia contratada para limpar o entulho no complexo do WTC (tendo depois renovado a área exacta onde se dizia que o Voo 77 havia atingido o Pentágono).

Como afirmado acima, Rumsfeld foi um consultor pago da CIA sob a direcção de George Tenet nos três anos antes do 11/Set. Imediatamente após a destruição do WTC 7, a CIA ordenou que a área imediata em torno do edifício fosse cercada por agentes do FBI. Segundo o New YorkTimes, a CIA então "despachou uma equipe especial para uma busca rápida ao entulho" . Supostamente esta era para recuperar documentos secretos. Mas estava a CIA, em conjunto com (ou actuando como) o Serviço Secreto, a coordenar também as unidades de remoção de munições dos militares na sua busca por explosivos no entulho?

Os comentários de Rumsfeld deveriam ser considerados à luz do facto de que ele estava entre os líderes de um plano concertado para mentir acerca das AMDs do Iraque. Analogamente, tem havido um padrão de mentiras acerca do WTC 7 por parte de responsáveis governamentais. O relatório oficial da destruição do edifício é patentemente e provavelmente falso e a seguir a uma longa cadeia de falsas explicações. Quando cientistas do governo finalmente admitiram que o WTC 7 estava em queda livre, indicando que eles anteriormente haviam mentido acerca do facto, mesmo a sua linguagem corporal revelava o engano .

Quando recordamos os 11/Set, deveríamos recordar que aqueles crimes iniciaram e continuam a conduzir a devastadora "Guerra ao Terror". Deveríamos também recordar que a guerra é baseada no engano e que o relato oficial do 11/Set é um exemplo primário. Vemos as mentiras acerca do 11/Set diariamente pois ainda são contadas, como se pode ver de imediato na forma de um edifício de 47 andares a experimentar queda livre e quase todas declarações feitas acerca disso por responsáveis do governo desde aquele tempo. 

22/Maio/2014


PORTUGAL DIANTE DA OPÇÃO JANGADA DE PEDRA




Humilhado pelo centro de poder europeu, resta ao país escolher a aventura democrática que José Saramago previu. Haverá, para tanto, forças e vontade?

 Boaventura de Sousa Santos – Outras Palavras - Imagem: Nuno Madeira, Mar Português

No período pós-25 de Abril de 1974, a mistificação política nunca atingiu os níveis que hoje atinge. Mistificação consiste em fazer alguém acreditar numa mentira. A mentira é que o processo da troika terminou com êxito, que Portugal tem hoje melhores condições para se desenvolver como país europeu e que a reforma do Estado proposta garante a criação de uma sociedade mais equitativa.

Que o sucesso da troika seja o outro lado da hecatombe social que se abate sobre os portugueses empobrecidos; que as novas condições de desenvolvimento sejam as típicas de um país subdesenvolvido (emigração, trabalho e velhice sem direitos) que tínhamos deixado de ser; que a reforma do Estado proposta seja aquela que os países latino-americanos rejeitaram nos últimos 15 anos precisamente para construir sociedades mais equitativas — nada disso é relevante para a mídia ou entra no discurso político. No momento em que o país vive um momento político idêntico ao do Verão quente de 1975, só que de sentido político oposto, o Partido Socialista (PS), sem a coragem de então, pede que seja tornado público o conteúdo da carta de intenções com que se concluem os trabalhos da troika. Não se trata de enfrentar a mentira com a verdade, mas antes de certificar que a mentira é verdadeira. Com razão, o primeiro ministro Passos Coelho responde que a carta não contém nada de novo nem de extraordinário. Basta consultar a letter of intent da Irlanda de 29 de Novembro de 2013. A carta é a expressão do compromisso do país a aceitar como verdades as mentiras que acima referi e de agir em conformidade nas próximas décadas.

Para entender a força da mistificação em curso é preciso situar o atual momento no contexto histórico mais amplo. Talvez por durante séculos ser uma entidade frágil face ao Império Otomano, a Europa sempre foi muito ciosa dos seus centros, que idolatrou, e desdenhosa das periferias, que demonizou. No início do seculo XIX, o chanceler da Áustria, Metternich, proferiu uma frase famosa — “Asien beginnt an der Landstrasse” — a Ásia começa na Landstrasse, que era então uma rua dos subúrbios de Viena. Aí viviam os emigrantes dos Balcãs que, obviamente para os austríacos, não eram europeus.

Para entender isto é necessário recuar alguns séculos mais e observar a relativa rigidez histórica das relações entre centros e periferias dentro da Europa. Um centro mediterrânico que não durou muito mais do que século e meio (século XVI e metade do século XVII) foi suplantado por um outro que acabou durando muito mais e tendo um muito maior impacto estrutural. Este último foi um centro com raízes na Liga Hanseática dos séculos XII e XIII, um centro virado para o Atlântico Norte, para o mar do Norte e o Báltico, e englobando as cidades do Norte da Itália, França, Países Baixos e, no século XIX, Alemanha. Um centro sempre rodeado de periferias: no Norte, os países nórdicos; no Sul, a Península Ibérica; no Sudeste, os Balcãs; no Oriente, territórios considerados feudais (o Império Otomano e a Rússia semieuropeizada desde Pedro, o Grande). Ao fim de cinco séculos, só as periferias do Norte tiveram acesso ao Centro, o mesmo Centro que é hoje o coração da União Europeia.

Este dualismo está mais arraigado na cultura europeia do que se poderia pensar e pode bem explicar algumas das dificuldades no modo como está a ser abordada a atual crise. O que parece ser só um problema financeiro e econômico é também um problema cultural e sócio-psicológico. Um exemplo poderá ajudar. Entre o século XV e o século XIX são muitos os relatos de viajantes e comerciantes do Norte da Europa sobre os portugueses e espanhóis e as condições de vida prevalecentes no Sul da Europa. O mais surpreendente nesses relatos é que atribuem aos portugueses e espanhóis as mesmas características que, na mesma época, os colonizadores portugueses e espanhóis atribuíam aos povos “primitivos” e “selvagens” das suas colônias. Eis algumas citações do século XVIII: “O português é mandrião, nada industrioso, não aproveita as riquezas da sua terra, nem sabe fazer vender as das suas colônias”; “os portugueses são altos, bem-parecidos e robustos, na sua maior parte muito morenos, o que resulta do clima e ainda mais do cruzamento com negros”. Ou seja, a miscigenação, que os portugueses consideravam o sinal benevolente da sua colonização, virava-se contra eles por via do preconceito colonial e racista. Quando hoje lemos na imprensa alemã notícias e comentários sobre os países do Sul da Europa, é fácil verificar que o preconceito colonial e racista ainda está bem presente.

No caso específico de Portugal, o seu estatuto de país periférico na Europa teve até agora três fases. O momento europeu de rejeição (1890-1930) foi concomitante com a partilha de África no final do século XIX (Conferência de Berlim, 1884-85, o Ultimato Inglês, em 1890), tendo pretendido tornar claro que Portugal era um país sem qualquer poder para influenciar o momento imperialista da Europa, mesmo sendo detentor do maior e mais antigo império colonial. Portugal era o centro de um império integrado noutro muito maior, de que o Império Português era apenas uma periferia. O segundo momento pareceu ter um sinal contrário. Ocorreu no final do século XX, tendo como precedente a Revolução do 25 de Abril de 1974 e, como início, a adesão à então Comunidade Econômica Europeia em 1986, hoje União Europeia (1974/1986-2011). Foi um momento exaltante para as elites portuguesas e para os portugueses que nelas confiaram.

Portugal tinha sido finalmente aceito pela Europa depois de séculos de rejeição e agora, em pleno fim da história, era só esperar pela convergência total com o Centro desenvolvido da Europa. E o movimento de convergência pareceu ser real até 2000. Digo “pareceu”, porque dados fiáveis do Deutsche Bank (Discussion Paper N.º 28/2013) mostram que nos últimos 40 anos não houve nenhuma significativa convergência de rendimentos no interior da UE, ainda que sejam identificáveis algumas variações. Depois de 2000, a ignorância militante dos nossos governantes e a insidiosa penetração do neoliberalismo no coração das instituições europeias fizeram com que as correntes subterrâneas da história voltassem à superfície.

O terceiro momento europeu, iniciado com a vinda da troika e concluído com a sua saída (2011-Maio de 2013), pareceu ser de início um novo momento europeu de rejeição disfarçada de aceitação, mas acabou por ser o momento de rendição com prisão preventiva e saídas precárias. Do Deutsche Bank ao FMI, os relatórios são unânimes em mostrar que Portugal, longe de convergir, vai continuar a divergir da Europa desenvolvida. Ou seja, o objetivo da integração na UE fracassou, um fracasso que, com doses brutais de mistificação, se apresenta como êxito. Depois da Guerra do Vietnã, nunca uma derrota se disfarçou tão bem de vitória. Dado o seu novo estatuto, Portugal, para não estorvar, tem de ser mantido dentro, mas do lado de fora, e vigiado.

Portugal sai da Europa seguro pela trela curta do euro e do tratado orçamentário. Não pode ir muito longe. Arranjará um lugarzito na soleira da porta da Europa, um país sem-abrigo por onde passarão regularmente as carrinhos da sopa humanitária. É digno de nós, como portugueses e como europeus, que não haja alternativas a este estado das coisas? Claro que não. Estará o atual sistema político-partidário em condições de explorar essas alternativas? Claro que não. Como em democracia há sempre alternativas, o regime atual é democrático? Claro que não. Haverá então alternativas democráticas, quer a nível nacional, quer a nível europeu, a este regime autoritário? Claro que sim. Para isso, é necessário que a jangada de pedra, tão premonitória, se afaste o suficiente para romper com a trela ou para forçar que ela seja refeita de modo a dar mais margem de liberdade ao movimento da jangada. Não esqueçamos que os cães são os melhores amigos dos homens. O cão de Saramago, Constante, no momento crucial de ter de decidir, optou pela Península Ibérica.

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