quarta-feira, 20 de março de 2013

O ÓDIO





Depois de cortar cerca de 30% ao rendimento dos funcionários públicos, de lhes impor uma carreira sem futuro, incentivos ou promoções, de reduzir todos os direitos que eram superiores aos do sector privado ao mesmo tempo que se ignoraram as situações inversas, o governo aposta agora no despedimento com base num estudo que ninguém leu ou confrontou, encomendado a uma consultora sem que se conheçam os contornos do negócio ou os critérios e exigências técnicas.

Acena-se com o tal estudo e afirma-se que no Estado se ganha mais, quando estava em causa o corte dos vencimentos e se dispensava destes cortes os que ganhavam menos de 1000 euros omitiu-se que os que ganhavam mais no Estado eram os pior remunerados. Agora opta-se por adiar o despedimento dos melhor remunerados e acena-se com o mesmo estudo dizendo-se que são os que ganham menos que são melhor remunerados do que no sector públicos, isto é, diz-se ao país para que não se preocupem porque os que abusavam ganhando mais vão ser despedidos.

Daqui a uns tempos vai acenar-se com o despedimento de muitos milhares dos mais pobres e menos qualificados para se fazer o equivalente a justiça popular despedindo-se os que ganham mais, isto é, se os mais pobres foram despedidos, os mais ricos também terão de o ser. Com o mesmo estudo o governo corta nos que ganham mais  e nos que ganham menos do que no sector privado, despede os que ganham menos e os que ganham mais do que no sector privado.

A estratégia é manhosa e inteligente, digna de gente como Passos Coelho, Miguel Relvas ou Gaspar, atiram portugueses contra portugueses. Depois de os cortes na Função público ter gerado mais recessão do que resultados aumentaram brutalmente os impostos sobre todos, como esta estratégia conduziu a um défice colossal dizem agora aos do sector privado que fiquem descansados, os sacrificados serão os malandros dos funcionários públicos. O ridículo é que ignoram o impacto sobre o desemprego e sobre o consumo e até têm lata para dizer que acabou a austeridade. O Frasquilho até vem dize que a austeridade se limitará ao Estado, mistura-se o preço do papel higiénico para limpar os cus nos gabinetes ministeriais e as PPP com os salários dos trabalhadores.

O país já está na bancarrota, está quase à beira do colapso económico e aos poucos vai sendo conduzido a uma guerra civil. Este governo de gente que se opôs ao PEC IV para promoverem a reformatação de Portugal contra a vontade dos portugueses, recorrendo à ajuda de gente duvidosa dos gabinetes do BCE, é incapaz de olhar os portugueses olhos nos olhos, explicar a verdadeira situação e discutir as soluções.

Em vez disso optam pela solução manhosa de atirar portugueses contra portugueses, ajudam a banca dizendo que todos os portugueses eram uns malandros e consumiram demais, cortam na Função Pública com o argumento falso de que ganham mais do que os outros, tentam tirar aos do sector privado para dar aos patrões através da TSU argumentando que os salários era excessivos, aumentam os impostos sobre o privado dando a culpa aos juízes do Tribunal Constitucional, despedem os pior remunerados porque (mesmo depois de um corte de 30%) ganharem mais do que no sector privado, quando isso é mentira.

Cada medida promove o ódio de um grupo de portugueses em relação a outro grupo, os ricos odeiam os pobres, os pobres odeiam os ricos, os trabalhadores odeiam os juízes do TC, os funcionários públicos menos qualificados odeiam os mais qualificados, os do sector privado odeiam os funcionários e estes odeiam os do sector privado. Todas as medidas deste governo em vez de serem explicadas de formas económica são justificadas promovendo o ódio entre grupos profissionais, sociais e até mesmo dentro de grupos. Atiram-se trabalhadores contra patrões, sector público contra privado, novas gerações contra os mais idosos, os trabalhadores no activo contra os pensionistas. A política deste governo não resolveu um único problema, mas conduz o país a ritmo acelerado para um colapso social e, muito provavelmente, para uma guerra civil.

A LIÇÃO PORTUGUESA EM CHIPRE




Ricardo Costa – Expresso, opinião

É natural que qualquer pessoa que tenha dinheiro no banco fique muito preocupada com o que se está a passar em Chipre. A simples ideia de taxar por igual (embora progressivamente) todos os que têm depósitos é absurda. Apesar dos recuos das últimas horas - com os depósitos até 100 mil euros a poder ficar de fora ou ter uma taxa baixa -, a ideia continua a ser absurda e perigosa, pela absoluta quebra de confiança e pelo evidente perigo de contágio.

Mas, apesar de toda esta aparente loucura, há uma "razão" para que tudo isto se tenha abatido sobre Chipre. O pequeno Estado - que entrou na União Europeia por chantagem da Grécia - tem uma economia assente numa praça financeira que esconde uma lavandaria de dinheiro sujo, serve de domicílio fiscal a milhares de empresas que beneficiam de um IRC muito baixo e de uma total ausência de fiscalização.

A conjugação destes fatores e o facto de pertencer à UE fizeram com que, de repente, os depósitos bancários em Chipre fossem oito vezes maiores que a sua economia. Ter dinheiro em Chipre era ter dinheiro na União Europeia, com baixos impostos e nenhuma fiscalização. Os russos perceberam isso e passaram a usar Chipre como plataforma para tudo, até para fazer chegar armas ilegalmente à Síria.

E o que é que isto tem a ver com Portugal? Pelo lado dos depósitos, nada. Pelo lado da punição, quase tudo. A Alemanha - a seis meses de eleições - mostra que não está disposta a facilitar a vida aos que "prevaricaram". E desta vez Merkel tem o SPD do seu lado. Sim, o candidato social-democrata apoia a punição a Chipre.

E é isso que deve preocupar os portugueses de forma clara e distinta. Não são os nossos depósitos que estão em causa. São as ideias de que vamos ter um caminho mais fácil para o ajustamento. Até às eleições alemãs não haverá sinais disso, como a sétima avaliação da troika mostrou. Depois logo se vê. A hora é ainda de punição. Não vale a pena ir a correr ao banco. Mas vale a pena perceber que quem tomou a decisão sobre Chipre são os mesmos que nos avaliam.

MERKEL FURIOSA COM VIAGEM DO MINISTRO DAS FINANÇAS CIPRIOTA A MOSCOVO




 António Ribeiro Ferreira – Jornal i

Chanceler alemã telefonou segunda-feira à noite ao presidente cipriota, Anastasiades, e avisou-o: “Só podem negociar com a troika”

Chipre está no meio de uma guerra acesa entre a União Europeia e a Rússia. O resgate negociado com Bruxelas para salvar a banca cipriota e a taxa sobre os depósitos imposta pelo Eurogrupo, que atinge em força investimentos russos, foi a gota de água que fez estalar a guerra pelo controlo da estratégica ilha do Mediterrâneo. Um novo incidente aconteceu segunda-feira à noite quando a chanceler alemã, Angela Merkel, insistiu com o presidente cipriota, Nikos Anastasiades, que o plano de resgate deve ser negociado apenas com a troika. “Houve uma conversa telefónica entre Angela Merkel e o presidente cipriota na segunda-feira à noite”, disse a porta-voz da chanceler. “Nessa conversa, Merkel insistiu que as negociações devem ser feitas apenas com a troika”, constituída pela Comissão Europeia, pelo Banco Central Europeu e pelo Fundo Monetário Internacional, acrescentou.

A porta-voz não deu mais pormenores sobre a conversa.

No entanto, este telefonema exaltado da chanceler aconteceu porque o ministro das Finanças cipriota tinha anunciado na segunda-feira que ia deslocar--se terça-feira a Moscovo para negociar um novo empréstimo russo à ilha, no valor de 5 mil milhões de euros, depois de já ter acordado um primeiro no valor de 2,5 mil milhões.

O diário russo “Vedomosti” noticiou ontem que o banco russo Gazprombank propôs uma ajuda financeira a Nicósia em troca de licenças de produção e exploração de gás natural ao largo da ilha mediterrânica. O Gazprombank – actualmente um dos primeiros estabelecimentos financeiros da Rússia – foi criado no início da década de 1990 pelo gigante público russo Gazprom, para fornecer serviços financeiros à indústria energética do gás. Na segunda--feira a Rússia denunciou como “injusta e perigosa” a ideia de um imposto sobre os depósitos bancários, aceite por Chipre em troca de um plano de resgate internacional. De acordo com os analistas, os russos poderão perder entre 2 e 3 mil milhões de euros com o plano proposto.

Com agências

UM DESASTRE




Luís Menezes Leitão – Jornal i, opinião

O resultado da sétima avaliação da troika demonstra o total falhanço político deste governo.

Obcecado em se exibir como bom aluno, o governo não apenas pretendeu seguir o Memorando à risca, como também ir além dele, exigindo sacrifícios cada vez mais brutais às pessoas. Para isso, não hesitou em adoptar medidas claramente inconstitucionais, como o corte de salários e pensões ou o recurso a tributações confiscatórias. Tudo isto, porém, para nada serviu, uma vez que a recessão vai parar aos 2,3%, o desemprego irá atingir os 19% e o défice ficou em 6,6%. Por isso, a troika vai agora exigir despedimentos na função pública, retendo a próxima prestação do empréstimo até que os mesmos sejam realizados. E, como se viu pelo exemplo de Chipre, logo a seguir pode determinar o confisco dos depósitos bancários.

Quando um governo não tem soluções, tem de ser substituído. Os partidos da maioria têm, neste momento, uma opção: ou terminam imediatamente com esta palhaçada ou nas próximas eleições serão varridos por qualquer palhaço que se apresente a sufrágio. É altura de o governo perceber que esgotou o seu prazo de validade sem conseguir fazer as reformas necessárias. O interesse nacional exige que este governo se vá embora. Neste momento, ainda pode ser substituído por um melhor. Mais tarde teremos necessariamente algo muito pior.

Professor da Faculdade de Direito de Lisboa - Escreve à terça-feira

UM VERDADEIRO COMEDIANTE





Afinal o Vítor Gaspar não é um mau Ministro das Finanças porque o homem não é um Ministro das Finanças mas sim um actor de Stand-up Comedy. Foi um erro de casting deste governo e ninguém notou. Nem mesmo quando ele falava com aquela voz arrastada e dizia barbaridades todos se deixaram enganar. Se hoje na Assembleia da Republica ninguém morreu com um ataque de riso com aquilo que ele disse é porque aquilo é tudo gente muito sisuda e séria.

15h15 "Tivemos sete avaliações positivas", disse o ministro das Finanças. 15h21 Vítor Gaspar fala sobre a consolidação orçamental. "Julgo que vale a pena destacar que 4,9% do PIB é o défice como apurado de acordo com a metodologia acordada com a troika"

15h31 - Vítor Gaspar diz que Portugal pode beneficiar do apoio dos parceiros europeus. 

15h34 - Só será possível obter empregos em Portugal com bons salários se houver recapitalização da economia

15h44 - O envelope de financiamento para Chipre reflecte o consenso económico entre o Eurogrupo e o governo do país.

15h46 - "Na ausência desta medida, os cipriotas estariam a enfrentar consequências ainda piores." 

15h49 - "O pacote de medidas é naturalmente da iniciativa e da responsabilidade de cada país", disse Gaspar.

15h50 - Vítor Gaspar diz que não houve radicalismo na execução do programa. 

15h52 - A recuperação de crescimento será o motor da recuperação económica. 

15H54 - "O grupo tem sabido usar o papel de bom aluno para bater o pé à troika", disse o deputado do PSD 

16h07 - O ministro das Finanças sublinha que o desemprego não é uma preocupação macroeconómica, mas humana e social, constituindo o problema mais dramático. Segundo o governante, a melhor forma para combater o desemprego é procurar primeiro as bases para recuperação económica com vista ao crescimento sustentado e criador de emprego. 

16h19 - "Portugal está empenhado no aprofundamento da união bancária a nível europeu e na harmonização da garantia dos depósitos a nível da União Europeia, que conjuntamente com outros elementos da união bancária são vitais para a confiança no sistema bancário europeu", declara o governante. 

16h25 - O regresso aos mercados, explica Vítor Gaspar, serve para poder distribuir a consolidação orçamental num período mais alargado, sendo que o programa não terá mais tempo. 

16h40 - O ministro das Finanças afirma que, de acordo com os cálculos, a dívida pública portuguesa é sustentável, estando abaixo dos níveis que se verificam na Itália, por exemplo, e muito perto dos níveis da Irlanda. 

16h55 - "A tomada de uma medida deste tipo [a taxa sobre depósitos] está completamente fora de causa", reitera o ministro das Finanças. 

16h57 - Vítor Gaspar explica que os números que foram apresentados hoje aos deputados e os números que decorrem do sétimo exame regular ao programa de ajustamento são consensualizados entre o Ministério das Finanças, o BCE, CE e FMI. Relativamente à questão do Orçamento Rectificativo, o ministro das Finanças explica que o mesmo só se justifica quando é necessário rever ou aumentar limites orçamentais, frisando que neste momento o tesouro português tem uma posição muito confortável, pelo que não há qualquer calendário para um Orçamento Rectificativo. 

17h34 - Vítor Gaspar garante que a decisão em relação aos depósitos no Chipre não foi apoiada inicialmente pelo Eurogrupo, nem consequentemente apoiada pelo primeiro-ministro e pelo próprio ministro das Finanças. A iniciativa partiu do governo cipriota, sendo posteriormente apoiada pelo Eurogrupo. 

"Considerações de estabilidade sistémica e de confiança aconselhavam que não fosse tocado qualquer depósito abaixo do limiar garantido", afirmou. 

17h38 - "A procura interna já está alinhada com a oferta interna e consequentemente a urgência do financiamento não se coloca da mesma maneira, sendo que a procura interna deverá primeiro contrair a um nível mais lento e depois recuperar gradualmente ao longo do tempo", afirma o ministro das Finanças, sublinhando ainda que o sector exportador está a recuperar e as taxas de juro estão também a ajustar. 

Vítor Gaspar diz também que há perspectivas de recuperação do investimento privado nacional e do investimento direto estrangeiro.

A COSMOVISÃO DE BOLIVAR (5)



Rui Peralta, Luanda

Equador

I - Quando, em Novembro de 2006, Correia venceu pela primeira vez, o Equador estava mergulhado numa crise de profunda instabilidade, criada por décadas de crise económica e institucional. Os três anteriores presidentes foram derrotados por insurreições populares. O sistema financeiro sofria um clash massivo, a corrupção dominava a banca e o Estado, instalando-se em todos os sectores da vida social. A divida equatoriana era colossal e ondas sucessivas de greves gerais, insurreições indígenas e revoltas urbanas, tornavam o país ingovernável.

Em 2006, Correa apresentou um programa inovador e pouco convencional. Economista, formado na Bélgica e nos USA, conhecedor das realidades indígenas e das realidades urbanas do Equador (conhecimento adquirido durante os longos períodos que dedicava ao trabalho social junto das comunidades indígenas e nos bairros pobres do Quito e de outras cidades equatorianas), influenciado pelo discurso de justiça da Teologia da Libertação, frequentador assíduo do Fórum Social Mundial e adversário assumido das políticas de ajustamentos estruturais do FMI.

II - A Aliança PAIS (Pátria Altiva e Soberana) foi o movimento que suportou e mobilizou a campanha de Correia, que esteve na origem da nova Constituição e da luta pela Revolução Cidadã, o projecto de Correa para o Equador, o projecto de transformação radical do sistema politico e económico e social equatoriano.

Correa cumpriu. Por ter cumprido e pelas transformações serem sentidas pela população, em 30 de Setembro de 2010 sofreu uma tentativa de golpe de estado. Mas os golpistas forma derrotados pela forte movimentação popular em torno de Correa. E a Revolução Cidadã lá continuou, marchando imparável, até hoje.

Venceu as últimas eleições, realizadas em 17 de Fevereiro, com uma margem confortável, obtendo 57% das intenções de voto. Correia converteu-se num dos líderes indiscutíveis da nova América Latina. Em seis anos de Revolução Cidadã o Equador ganhou uma nova constituição, iniciou a era do Bem Viver (filosofia de raízes indígenas, fundando-se numa relação harmoniosa entre o homem e a natureza), renegociou a divida externa, reforçou as instituições públicas e efectuou profundas transformações económicas, sociais e politicas.

III  - Há um traço fundamental em todo este processo equatoriano: a exigência ética. Correa deu um magnífico exemplo quando (sem que nenhuma lei o obrigasse) nas últimas eleições, para que se dedicasse em pleno á campanha eleitora, decidiu afastar-se da função executiva da Presidência, solicitando á Assembleia Nacional uma licença de 30 dias, sendo essas funções exercidas pelo vice-presidente. Desta forma ficaram afastadas quaisquer hipóteses de uso de bens públicos em prol da campanha. Este foi um acto de honradez política, insólito e exemplar, mesmo á escala internacional. Mas é um acto inerente aos objectivos éticos da Revolução Cidadã, á sua própria exigência ética (e revelador da personalidade do presidente).

Esta exigência ética é manifesta no seu discurso de abertura da última campanha eleitoral: “Aquí ya no manda el FMI, ni la oligarquía; aquí ahora manda el pueblo. Y si éste nos apoya es que hemos hecho lo que prometimos: escuelas, hospitales, carreteras, puentes, aeropuertos... A pesar de las campañas mediáticas de deslegitimización contra nosotros y de los ataques de una prensa sin escrúpulos, vamos a ganar estas elecciones -las más democráticas y transparentes de la historia del Ecuador- de manera arrolladora. Pero no las vamos a ganar para recrearnos en el éxito; las vamos a ganar para gobernar mejor y para ahondar los cambios que venimos impulsando.”

Esta exigência é também visível nas transformações sofridas pelo Equador, durante este período de revolução Cidadã. Quatro indicadores económicos (que Ignacio Ramonet destaca no Le Monde Diplomatique de Março de 2013) resumem a forma como os compromissos são assumidos: a taxa de inflacção mais baixa de sempre na História do Equador; o crescimento mais elevado de sempre; o desemprego nunca foi tao reduzido e o salário real tão elevado. Foram quatro promessas cumpridas em seis anos.

Hoje o Equador vive uma situação de bem-estar económico, de estabilidade social e politica. É uma realidade assente na equidade social e na dignidade da pessoa humana, oposta ao velho Equador da oligarquia e das políticas neoliberais, que mergulharam o país no caos da instabilidade e no vórtice da corrupção, da pobreza e do subdesenvolvimento.

IV - A transformação em curso é expressa por Correa neste extracto de um discurso de campanha (Le Monde Diplomatique, Março de 2013): “Aquí todo se había convertido en mercancia. Mandaban los bancos y los inversionistas extranjeros. Se había privatizado la sanidad, la enseñanza, los transportes,... ¡todo! Eso se terminó. Volvió el Estado y ahora garantiza los servicios públicos. Estamos invirtiendo el triple en presupuestos sociales, salud, escuela, hospitales gratuitos.... Hemos acabado con el neoliberalismo. Una izquierda moderna no puede odiar el mercado, pero el mercado no puede ser totalitario. Por eso hemos cambiado radicalmente la economía, ahora es la sociedad la que dirige el mercado y no lo inverso. El ser humano es lo primero, antes que el capital. Cambiamos la ley de hipotecas, que era igual que la española, y pusimos fin a los desahucios. Dijimos: ¡No pagamos la deuda! y conseguimos rescatarla por el 30% de lo que nos pedían. Hoy Ecuador es la economía que más reduce la desigualdad. Queremos vencer la pobreza. Hemos consolidado los derechos laborales de los asalariados y acabado con la tercerización, esa forma de esclavismo contemporáneo. Estamos haciendo una ‘revolución ética, combatiendo la corrupción con mayor ahinco que nunca y con una consigna fundamental a todos los niveles: ¡Manos limpias! Ya no se permite la evasión fiscal. Nuestra revolución es también integracionista y latinoamericana porque estamos decididos a construir la Patria Grande soñada por Bolívar. Es asimismo una revolución ambiental. Nuestra Constitución es una de las pocas en el mundo -quizás la única- que reconoce los derechos de la naturaleza. Como lo digo a menudo: no estamos viviendo una época de cambio, sino un cambio de época. No se trata de superar el neoliberalismo, se trata, sencillamente, de cambiar de sistema. Y ese cambio exige la modificación de la relación de poder. Ir hacia un poder popular.

(…) Porque esto es un proyecto de unidad nacional. Estamos construyendo patria. Hemos hecho mucho -y nos hemos equivocado también, y mucho- pero lo principal se ha logrado. Aquí ya no manda la bancocracia, ya no manda la partidocracia, ya no manda el poder mediático, ya no manda ningún poder fáctico en función de intereses grupales, ya no manda el Fondo Monetario, ni las burocracias internacionales; aquí ya no mandan países hegemónicos. Hemos ganado con una presencia física en las calles, no sólo mía sino de todo el Movimiento Alianza País, recorriendo barrios y pueblos, valles y montañas, sierras y junglas. Hemos manejado la campaña con claridad. Lo he repetido y suplicado: ¡No me dejen solo! porque un presidente sin una mayoría neta en la Asamblea, es un presidente disminuido.”

Lançado o repto, desenhado o esboço, iniciados os alicerces, segue-se a batalha da continuação do projecto, da implementação solida e segura, do seu reforço.

V - Observemos os resultados das eleições presidenciais equatorianas de 17 de Fevereiro de 2013, apresentados pelos Le Monde Diplomatique de Março:

· Rafael Correa (Alianza PAIS, Pátria Altiva i Soberana) 57%;
· Guillermo Lasso (CREO, Creando Oportunidades) 23%;
· Lucio Gutiérrez (PSP, Partido Sociedad Patriótica) 6%;
· Mauricio Rodas (Movimiento SUMA, Sociedad Unida Más Acción) 4% ;
· Alvaro Noboa (PRIAN, Partido Renovador Institucional Acción Nacional) 3,7%;
· Alberto Acosta (Unidad Plurinacional de las Izquierdas) 3,2%;
· Norman Wray (Movimiento Ruptura) 1,3%;
· Nelson Zavala (PRE, Partido Roldosista Ecuatoriano) 1,2%.

A vantagem de Correa sobre o segundo candidato mais votado, Guillermo Lasso, é de 34 pontos percentuais, demonstrativo de que o projecto político de Correa conta com uma forte base de apoio popular. No entanto o mais importante destas eleições terá sido o controlo que Correa adquiriu sobre a Camara, dispondo agora do suporte de mais de dois terços dos deputados, o que permitirá aprovar projectos fundamentais, como a reforma agrária, o papel dos trabalhadores na gestão das empresas publicas, uma nova lei-quadro para o investimento privado nacional e estrangeiro, nacionalizações de sectores fundamentais do aparelho produtivo, a lei da água e outras.

Estão, assim, criadas as condições para aprofundar as transformações em curso. E do seu aprofundar depende o futuro do Equador. Se não for uma Pátria Altiva e Soberana será, então, uma Colonia Humilhada e Submissa. Não tem meio-termo.


PORQUE A DIREITA ODEIA A AMÉRICA LATINA




Emir Sader – Carta Maior, em Blog do Emir

A direita odeia a América Latina. Antes de tudo porque sua mentalidade colonial e seus interesses a vinculam aos países do centro do capitalismo, aos Estados Unidos em particular, que tem uma relação histórica de conflitos com o nosso continente. A direita nunca esconde sua posição subserviente em relação aos EUA, adorava quando os países latino-americanos eram quintal traseiro do império, quando, por exemplo, na década de 90 do século passado, não expressavam nenhum interesse diferente dos de Washington e buscavam reproduzir suas políticas.

A direita não entende a América Latina, nem pode entender, porque sua cabeça é a da anulação diante do que as potencias imperiais enviam para nossos países, de aceitação resignada e feliz aos interesses dessas potencias.

Para começar, compreender a América Latina como continente e’ entender o que a unifica como continente: o fenômeno histórico de ter sido colonizada pelas potencias europeias e ter sido transformada posteriormente em região de dominação privilegiada dos EUA. 

Daí a incapacidade da direita de entender o significado do nacionalismo e dos líderes nacionais, porque para a direita não há dominação e exploração imperialista, menos ainda o conceito de nação. Esses líderes seriam então demagogos populistas, que se valeriam de visões fictícias para fabricar sua liderança carismática, fundada no apoio popular.

A própria existência da América Latina como continente é questionada pela direita. Ressalta as diferenças entre o México e o Uruguai, o Brasil e o Haiti, a Argentina e a Guatemala, para tentar passar a ideia de que se trata de um agregado de países sem características comuns.

Não mencionam as diferenças entre a Inglaterra e a Grécia, Portugal e a Alemanha, Suécia e Espanha, que no entanto compõem um continente comum. Por quê? Porque tiveram e tem um lugar comum no sistema capitalista mundial: foram colonizadores, hoje são imperialistas. Enquanto que os países latino-americanos, tendo diferenças culturais muito menores do que os países europeus entre si, fomos colonizados e hoje sofremos a dominação imperialista.

Esses elementos de caracterização são desconhecidos pela direita, para a qual o mundo é compostos por países modernos e países atrasados, sem articulação como sistema, entre centro e periferia, entre dominadores e dominados.

Assim a direita nunca entendeu e se opôs sempre tenazmente aos maiores líderes populares do continente, como Getúlio, Perón, Lazaro Cárdenas, e hoje se opõe frontalmente ao Hugo Chávez, ao Lula, aos Kirchner, ao Mujica, ao Evo, ao Rafael Correa, à Dilma, ao Maduro, além, é claro, ao Fidel e ao Che. Não compreendem por que foram e são os dirigentes políticos mais importantes do continente, porque têm o apoio popular que os políticos da direita nunca tiveram.

Ainda mais agora, quando a América Latina consegue resistir à crise, não entrar em recessão, continuar diminuindo a desigualdade, e projetar líderes como Chávez, Lula, Evo, Rafael Correa, Mujica, Dilma, a incapacidade de dar conta do continente aumenta por parte da velha mídia. Sua ignorância, seus clichês, seus preconceitos a impedem de entender essa dinâmica própria do continente.

Só resta à direita odiar a América Latina, porque odeia os movimentos populares, os líderes de esquerda, a luta antiimperialista, a crítica ao capitalismo. Odeiam o que não podem entender, mas, principalmente, odeiam porque a América Latina protagoniza um movimento que se choca frontalmente com tudo o que a direita representa.

Brasil: Após enterrar familiares, moradores trabalham para encontrar desaparecidos



Alessandro Lo-Bianco – O Dia

Rio -  Enquanto a busca pelos desaparecidos em Petrópolis era retormada na manhã desta terça-feira pelo Corpo de Bombeiros e pela Defesa Civil, a população amargava a dor de enterrar os familiares, vítimas da chuva que castigou a cidade no último domingo.

Pelo menos 27 pessoas morreram no município. Onze eram crianças. O número de vítimas fatais pode passar de 50, calculam agentes da Defesa Civil, já que 20 pessoas ainda estão soterradas e há muitos registros de pessoas desaparecidas na noite do temporal.

No total, há 1.466 desalojados (que tiveram a moradia danificada) ou desabrigados (que perderam totalmente a casa). Há 120 bombeiros procurando desaparecidos em vários. Nesta terça-feira, Luciano Barros enterrou o segundo filho em menos de 24 horas.

“Enterrei a minha princesa de 12 anos e agora é a vez de me despedir do meu menino, de 16. Tirei os dois de casa com vida, mas eles morreram duas horas depois nos meus braços, esperando os bombeiros, que demoraram quatro horas para chegar. Ao vê-los (bombeiros), corri para tentar resgatar meu terceiro filho, contra a vontade deles e consegui salvá-lo”, contou.

Forte comoção também marcou o velório de agente da Defesa Civil Paulo Roberto Figueras, 38 anos, que morreu soterrado após salvar uma criança.

Segundo a amiga Juliana Araújo, salvar vidas sempre foi o maior motivo da vida de Figueras, que também era presidente do grupo de voluntários Anjos da Serra. 

“Ele dizia que nada lhe dava mais prazer do que salvar pessoas que ele nem conhecia. Ele salvou dezenas na tragédia de 2011, e queria repetir o trabalho agora. Fica a lembrança do sorriso dele tirando a primeira criança dos escombros”, disse Juliana.

Na capela ao lado, familiares choravam a morte de Nilton Pereira Fonseca, 47 anos. O jardineiro foi surpreendido por um desabamento ao tentar ajudar a Defesa Civil nos resgates.

“Ele escutou gritos de socorro, pegou uma lanterna e disse que estavam precisando dele. Ele salvou três meninas e disse que tinha mais uma. Dissemos que era perigoso, e para que ele esperasse. Mas não adiantou. Ele virou as costas e disse que as crianças não podiam esperar. Meu irmão é um anjo que, infelizmente, deixou cinco filhos para salvar a vida dos filhos de outras pessoas e voltar para o céu”, disse o irmão Nelson Pereira, 57 anos.

Jovem vira herói após salvar vidas e encontrar vítimas

Morador do bairro Quitandinha desde que nasceu, Igor Nascimento tem apenas 20 anos, mas já ganhou o respeito dos moradores mais velhos do bairro.

O jovem desceu de sua casa para ajudar as vítimas do desabamento, mas foi impedido pela Defesa Civil de chegar nos escombros, quando a forte chuva e a falta de luz interromperam momentaneamente o resgate no domingo.

“Eles me impediram de descer, mas como conheço esse mato todo, dei a volta e consegui entrar com uma lanterna por outro terreno sem a Defesa Civil e o Corpo de Bombeiros me verem. Escutei o gemido de um idoso, que estava na beira do rio agarrado por uma árvore. Gritei pedindo socorro, mas gritavam pedindo para eu voltar, que ele não tinha como chegar aonde eu estava. Consegui tirar o senhor da árvore e realmente não tinha como voltar. Desci com ele no colo pela ribanceira e consegui chegar na estrada, onde parei um carro que o levou com vida para o hospital”.

Igor ainda salvou uma jovem de 15 anos e ajudou a localizar dois corpos nesta terça-feira. “Acordei e resolvi sair sozinho pelo mato em busca dos desaparecidos. Foi quando encontrei dois corpos. Liguei, orientei os bombeiros e eles conseguiram nos achar.”

“Não podemos esperar”

Um grupo de 20 moradores está praticamente sem dormir há dois dias. Comovidos pelo desespero de quem ainda não achou seus familiares, eles desbravaram a mata e acabaram achando uma menina em um córrego.

“Estamos aqui porque conhecemos o local e sabemos entrar onde o resgate não consegue. A correnteza arrastou pessoas para dentro da mata. Já achamos uma e, se o Corpo de Bombeiros ceder o equipamento que estamos pedindo, acharemos mais”, disse o pedreiro Luis Henrique Vieira.

Em meio a dor, ladrões roubam casas

Uma série de furtos está deixando os moradores do bairro Quitandinha ainda mais apreensivos.

“Minha casa está destruída e meus dois filhos estão mortos. Mesmo assim, ao retornar ao local para recuperar as lembranças, tive a surpresa de que a minha casa foi toda saqueada. Roubaram objetos de valor, roupas, comidas, tudo. É muita maldade”, contou Luciano Santos de Barros.

Uma moradora que prefere não se identificar acusa moradores do próprio bairro. “Como em todo lugar, a região também abriga traficantes. Mesmo com essa situação de desgraça, eles estão se aproveitando e roubando casas e objetos dos escombros”, diz.

A CRISE, A DEMOCRACIA E OS PARTIDOS




Mário Soares – Diário de Notícias, opinião

É certo que este mês de março vai ser muito difícil para os portugueses, com algumas exceções conhecidas. Direi mesmo terrível. Aqueles que ainda não emigraram - e os que não se suicidaram, o que começa a suceder com frequência - estão, na sua esmagadora maioria, desesperados, contra o atual Governo e proclamam-no todos os dias, por todo o lado e de todas as formas. A razão é simples: resulta do empobrecimento geral, do aumento do flagelo do desemprego e do desespero que cresce e começa a ser perigoso. Com o desemprego, o roubo das pensões, que inesperada e ilegalmente lhes destruíram a esperança no presente e no futuro próximo.

A verdade é que o Governo nunca lhes explicou nada e nunca se interessou pelos portugueses, mesmo aqueles que lhes deram o voto, seguramente por engano. É a consciência que têm hoje os cidadãos deste país - e por isso gritam todos os dias - vaiando os ministros que aparecem na rua, raramente, diga-se, mesmo com os capangas que os protegem e empurram e batem nos portugueses, com crescente força.

Aos olhos de todos, o Governo só tem cometido erros sobre erros, desde que está no poder, sem explicar a ninguém a sua versão ou visão do que faz e para que o faz, criando uma situação cada vez mais trágica.

Para o Governo - repito -, o povo não existe nem lhe interessa. Nunca, como se diz em linguagem popular, passou cartão ao povo. E, ao mesmo tempo, está a destruir a classe média e a desagradar, cada vez mais, aos abastados que, embora indiretamente, também sentem que Portugal está sem rei nem roque, e mesmo as grandes empresas também sofrem, como é evidente. E não é pouco.

Tudo resulta da maldita austeridade que está a destruir, por toda a parte, os países que a sofrem. Portugal está a ser liquidado, como se sabe, o Governo não é patriota, e só obedece e paga à troika e aos mercados usurários que a comandam. A Europa, de resto, pela força das coisas, começa a mudar lentamente de política. É inevitável.

Vítor Gaspar, na passada sexta-feira, reconheceu, na Assembleia da República, que se enganou em todas as previsões que fez, e não foram poucas. Sempre o disse, mas é bom que o ministro o tenha reconhecido agora. Contudo, insistiu que no mês em curso vai prosseguir - com cada vez maiores dificuldades para os portugueses - com a austeridade, que nos arrasou e está a destruir Portugal. Depois admira-se que os portugueses, em grande maioria, gritem que o Governo acabou e deve demitir-se quanto antes, a bem ou a mal. São os portugueses e Portugal que estão em jogo, com a exceção daqueles que só pensam em servir a troika e os mercados usurários, e ganhar algum pelo meio...

Não são apenas as finanças e a economia que estão em péssimas condições, mas também a política, a ética e o Estado social, sem esquecer o ambiente, de que já ninguém fala. Para quê?

Este Governo, que não tem vergonha - senão já tinha percebido que devia ir-se embora -, além de estar a alimentar a troika e a destruir a economia e as finanças, está também a pôr, conscientemente, em causa a nossa jovem democracia e a moral dos portugueses, herdadas do 25 de Abril. Porque quando o povo não conta nem tem voz, a democracia entra, obviamente, em colapso. A começar pelos partidos políticos e pelo Estado social, que tanto trabalho nos custou a criar, pelos sindicatos e o ambiente, não esquecendo o nosso mar, de que tanto se fala, mas nada de concreto se faz. E o tempo urge. Muitos estrangeiros olham para nossa situação com cobiça.

Sem partidos não há democracia. É verdade. Ora os partidos da oposição não são ouvidos e o que é mais grave, o próprio CDS-PP está, como não podia deixar de ser, em quebra, segundo a última sondagem da Universidade Católica.

O Partido Comunista vai apresentar na Assembleia da República um pedido de demissão do Governo. É oportuno. Eu, socialista, se fosse deputado, não hesitaria em votar a favor. Porque, como é da regra, na política partidária, ou se está de um lado ou do outro. Estar a meio caminho, só serve para os partidos se enfraquecerem.

De resto, não é por acaso que os partidos estão em quebra. Todos. Grande parte da opinião pública faz críticas aos partidos, sem exceção. É, no plano democrático, grave. Uma grande parte do PSD (talvez a maioria) está contra o Governo. O CDS procura estar e não estar, o que é uma posição que não augura nada de bom. O PS está agora claramente contra o Governo, mas não pediu ainda a sua demissão, o que torna, a meu ver, o vasto eleitorado do PS desconfiado. O PCP e o Bloco de Esquerda têm proclamado a demissão do Governo, o que agrada sobremaneira aos portugueses desesperados, sejam ou não ideologicamente de direita ou de esquerda, apesar de os portugueses em geral não gostarem dos partidos radicais. Mas ainda gostam menos do Governo, como é óbvio, e querem que ele saia urgentemente do poder.

Aliás, os partidos políticos têm que se reformular e atualizar, porque o mundo está a mudar, e de que maneira. Radicalmente. É uma situação que obriga todos os partidos, de direita ou de esquerda, a reformularem-se, porque as sociedades estão a mudar e os partidos - todos - têm de compreender que o mundo não aguenta o capitalismo selvagem e a globalização sem ética. Os partidos têm que se adaptar ao novo mundo que está a chegar e à própria Europa, nova, que vem aí, necessariamente.

Portugal: VITOR GASPAR VÊ MAIS 100 MIL DESEMPREGADOS ATÉ FINAL DO ANO



Luís Reis Ribeiro – Jornal de Notícias

Ministro não abriu o jogo na reforma do Estado. Mas corte atingiu mais 3300 pessoas que o previsto

Portugal deverá acumular mais 100 mil desempregados até final deste ano e a redução de funcionários públicos foi maior que o previsto em 2012, indicou a equipa do Ministério das Finanças, no Parlamento.

Vítor Gaspar e três secretários de Estado apresentaram as conclusões da sétima avaliação da troika. O ministro repetiu que "o indicador mais gravoso" é o desemprego e que o perfil intranual da taxa aponta para uma evolução que a elevará até "quase 19% da população ativa no final deste ano e início do próximo". Só depois desce.

Tendo em conta que essa população continua a baixar, e que se fixará perto dos 5,4 milhões de pessoas, significa que uma taxa próxima dos 19% atira o número total de desempregados para 1 028 000 no final de 2013, cerca de cem mil acima dos 923 mil contabilizados no quarto trimestre pelo INE. O Governo prevê um desemprego dos 18,2% neste ano.

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NUNO SANTOS DESPEDIDO. MIGUEL RELVAS, DA PONTE E BAJULADORES CONTINUAM À SOLTA



Leandro Vasconcelos

É título dos jornais de hoje que “Nuno Santos foi despedido pela admnistração da RTP”. Despedimento por justa causa, alegam os “justiceiros” Da Ponte continua encostado ao poderoso doutor vígaro Miguel Relvas, o tal que traz o PM Passos preso pelo beicinho... ou senão...

Não restam muitas dúvidas que Nuno Santos fez o que não devia ao facilitar ou permitir que facilitassem o visionamento e (provável) posse de cópia a polícias que entraram na RTP ao estilo dos melhores pides da era salazarista, mas não deixa de ser estranho que só role a cabeça de Nuno Santos. É essa evidência que faz admitir o “aqui há gato” ou “esta história anda a ser muito mal contada”.

Executor das ordens do Doutor Vígaro, o presidente da admnistração da RTP, Da Ponte, está à solta para fazer o que muito bem entende – desde que entenda continuar a ser Sim Senhor Ministro sem coluna vertebral. Tão à solta quanto Miguel Relvas e o seu capanga ocupante ilegítimo da cadeira de primeiro-ministro.

Pode ler-se na notícia do despedimento de Nuno Santos que ele vai lutar com todas as suas forças contra aquilo que considera uma injustiça. Duvidemos. É que parece que também ele perdeu a coluna vertebral e isso quase torna impossível deixar de rastejar. É que se não foi Nuno Santos que permitiu que os polícias pides do MAI entrassem na RTP para violar tudo e todos os jornalistas o que havia a fazer era despedir com justa causa quem permitiu, e isso não aconteceu.

Este facto, a juntar a presenças da RTP de colegas bajuladores que até rodeavam Nuno Santos mas que trepam na empresa a tramar quem se lhes atravesse, indicia que mesmo que Nuno Santos não seja o único responsável (e não deve ser) vai pagar a fatura toda porque é isso mesmo que convém ao Da Ponte, porque é o que Miguel Relvas quer. Estava enganado Nuno Santos ao julgar que depois de rastejar se iria conseguir erguer.

O que é de lamentar é estar tudo tão nebuloso, como convém a Relvas e ao Da Ponte, assim como aos que ladeavam Nuno Santos e lhe passaram a rasteira. Acontece a quem se mete com Pides, com bufos, e perde a noção de andar e comportar-se na vertical. Acontece e é motivo de lamento.

EUROPA NÃO RIMA COM DEMOCRACIA



Sérgio Lavos - Arrastão

O que se tem passado nos últimos dias na Europa apenas vem confirmar o que há muito se sabia: os líderes europeus não sabem o que é democracia, desconhecem os seus fundamentos e desrespeitam a sua natureza. O voto contra as condições do resgate ao Chipre - ninguém votou a favor e os 19 deputados da coligação que ganhou recentemente as eleições abstiveram-se - mostra como é possível ser-se eleito para servir o povo - conceito estranhíssimo, não é? Este acontecimento traz à memória o mais recente voto do Orçamento de Estado português. Declarações de deputados do CDS e do PSD-Açores repetiram-se. As ameaças de votos contra ou de abstenção também. Quando o OE foi ao parlamento, unanimidade total em volta de um Orçamento criminoso. Consciência? Coerência? Defesa dos interesses das pessoas que os elegeram? Nada disso, até porque os lugares elegíveis não são assim tantos e nas próximas legislativas o PSD e o CDS correm o risco de se transformar no PASOK português e no mini-partido do táxi, respectivamente.

E na Europa, como se olha para esta coisa da democracia? A reacção do líder do Eurogrupo à decisão de Chipre é esclarecedora: Jeroen Dijsselbloem "lamentou profundamente a decisão". Fantástico. Uma quase unanimidade democrática teria de ser sempre, na cabeça destes burocratas dos interesses ordoliberais, uma decisão lamentável. 

A verdade é que Angela Merkel governa apenas para ser reeleita em Setembro próximo, já sabemos. O problema é que apenas os alemães podem votar nas legislativas alemãs. Os países que estão a sofrer com as consequências de uma política de terra queimada, de austeridade, resultado de uma doutrina do choque que visa o empobrecimento para liberalizar a economia, embaratecendo a mão-de-obra (os papagaios como Belmiro de Azevedo e Alexandre Soares dos Santos dizem o que Gaspar e Coelho não podem dizer), reduzindo os direitos dos trabalhadores ao mínimo e aumentando o lucro ao máximo, têm pouco a dizer sobre o seu destino. Alguém imagina Merkel a ser reeleita se aplicasse um programa de austeridade na Alemanha semelhante ao nosso? Se em dois anos os alemães fossem espoliados de 30% do seu rendimento, votariam em Merkel? 

A questão é simples: a actual União Europeia não é uma democracia. Elegemos deputados para o Parlamento Europeu que pouco ou nada influenciam as políticas europeias; temos uma Comissão Europeia liderada por um fantoche nas mãos de Merkel, Durão Barroso (ainda me lembro de se ter dito como seria vantajoso haver um português num cargo de prestígio "lá fora"); e o BCE limita-se a aplicar, com um ou outro estertor rebelde, o programa do banco central alemão. As políticas da Europa são de facto as políticas da Alemanha. Mas os gregos, os irlandeses, os espanhóis, os italianos, os cipriotas e os portugueses não votam nas eleições alemãs.

A União Europeia, tal como está, não tem futuro. Começam-se a fazer ouvir as vozes que defendem a saída do Euro. O economista João Ferreira do Amaral há dois anos que anda a dizer que a única maneira de escaparmos ao aperto em que estamos é sair do Euro. Há dois anos, os economistas mainstream que se passeavam pelas TV's a defender a "austeridade além da troika", diziam que economistas como Ferreira do Amaral erma loucos. Agora, os economistas da troika desapareceram do mapa. João Duque, Cantiga Esteves, Vítor Bento, por onde andam eles? O que antes era "loucura" começa a tornar-se inevitável. Não é um caminho fácil, a saída do Euro. Mas quanto mais cedo acontecer, melhor. Uma saída ordenada do Euro permitiria que Portugal voltasse a ter todos os intrumentos para sair da crise em que mergulhou - a desvalorização cambial, o proteccionismo económico e fiscal, a possibilidade de transformar o tecido económico português, estimulando as exportações e substituindo as importações por produção nacional, contrariando as directivas comunitárias. Neste momento, Portugal vive num sufoco sem fim à vista. Precisamos de respirar. Não há alternativa? Em democracia, há sempre. Livrarmo-nos da Europa anti-democrática pode ser o caminho mais rápido para nos reconquistarmos, enquanto povo, enquanto pátria. Antes que seja demasiado tarde.

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