segunda-feira, 13 de fevereiro de 2012

Mais de 80% dos luxuosos condomínios privados de Luanda estão sem clientes




Orlando Castro*, jornalista – Alto Hama*

Há quatro anos o dono de Angola disse que o Governo ia aplicar mais de cinco mil milhões de dólares num programa de habitação que inclui a construção de um milhão de casas.

Diz o jornal Sol que mais de 80% dos condomínios privados construídos em Luanda, nos últimos anos, estão sem clientes, devido aos altos preços praticados na capital angolana e à falta de credibilidade bancária dos interessados no momento de concessão de crédito à compra de habitação.

É estanho. Então onde andam os abastados generais e similares do MPLA? É verdade. Esses não compram apenas porque são os donos. Assim se explica.

Seja como for, é altura de saber porque razão ainda há gente, sobretudo – mas não só – em Portugal que não deixa o MPLA, o regime, o presidente (é tudo a mesma coisa) em paz. Será que o MPLA tem de ter 110% dos votos para que o deixem de chatear? Se é isso bem basta esperar mais um pouco.

Eu sei que o Presidente angolano, não eleito e há 32 anos no poder, José Eduardo dos Santos, disse no dia 6 de Outubro de... 2008, que o Governo ia aplicar mais de cinco mil milhões de dólares num programa de habitação que inclui a construção de um milhão de casas.

O chefe de Estado angolano, chefe do governo, presidente do MPLA e dono de Angola discursava em Luanda na cerimónia que assinalou o Dia Mundial do Habitat, que a capital angolana acolheu, sob o lema "Construindo Cidades Harmoniosas", numa iniciativa da Organização das Nações Unidas (ONU).

A construção de um milhão de casas para as classes menos favorecidas de Angola e jovens foi, aliás, uma das promessas da então campanha eleitoral mais enfatizadas pelo Presidente da República de Angola e do MPLA, partido que só governa o país desde 1975.

José Eduardo dos Santos admitia, modesto como sempre foi, que "não seria um exercício fácil", tendo em conta que o preço médio destas casas, então calculado em cerca de 50 mil dólares. Apesar de tudo, com a legitimidade eleitoral de quem só não passou os 100% de votos porque não quis, assegurou que "já se estava a trabalhar" nesse sentido.

No seu discurso de então, Eduardo dos Santos observou que a escolha de Luanda para acolher o acto central do Dia Mundial do Habitat tinha a ver com o reconhecimento pela mais alta instância internacional (ONU) da filosofia e estratégias definidas pelo Governo angolano no seu programa habitacional para o período 2000/2012 e que já estava, disse, a ser aplicado.

"O objectivo dessa estratégia é proporcionar melhor habitação para todos, progressivamente, num ambiente cada vez mais saudável", disse Eduardo dos Santos. Não sei se ainda alguém se recorda disso... Mas se não se recorda, este ano irá ouvir a mesma história.

Nesta perspectiva considerou que o executivo de Luanda estava em "sintonia" com as preocupações e a "visão" da organização das Nações Unidas, quando coloca como questão central, como necessidade básica do ser humano, fundamental para a construção de cidades e sociedades justas e democráticas, a questão da habitação.

Ora nem mais. A habitação como barómetro de uma sociedade justa e democrática.

Segundo Eduardo dos Santos, "em Angola, como em quase todo o mundo, o fenómeno da urbanização veio acompanhado de grandes problemas ambientais, tais como a produção de resíduos domésticos e industriais, a poluição, o aumento do consumo da energia e água e o surgimento de águas residuais".

"Para evitar ou minimizar-se esses problemas impõe-se a adopção de uma política ambiental rigorosa e abrangente", apontou o presidente, garantindo que o combate ao caos urbanístico que se instalou nas cidades e no território em consequência da prolongada guerra civil, está a ser feito através de modelos integradores, geográficos, económicos e ambientais.

A atenção estava, ainda segundo o dono do país, centrada na "construção ilegal e não autorizada" e também numa política que procura "evitar assimetrias regionais e o abandono do interior".

Eduardo dos Santos frisou ainda que as "linhas de força" traçadas pelo Governo estão orientadas para uma "cooperação activa" entre a administração central e local do Estado, entre o sector público e o privado, com vista à execução de uma nova política que contribua para "a geração de empregos, para o desenvolvimento harmonioso dos centros urbanos, para a eliminação da pobreza e da insegurança, e para a eliminação também das zonas degradadas e suburbanas".

Em termos de discurso é caso para dizer que nem Ben Ali, Hosni Mubarak, Robert Mugabe, Hugo Chávez, Muammar Kadhafi ou José Sócrates diriam melhor.

O presidente anunciou igualmente na altura (2008) que seria "cada vez mais acentuada" a preocupação com a urbanização das cidades angolanas e que serão "incentivadas políticas que diminuam a circulação automóvel nos centros dos grandes aglomerados urbanos.

Foi bonito, não foi? É quase poesia. Tão bem escrita e declamada quanto o facto de numa Assembleia Nacional constituída por 220 deputados, o MPLA ter 191. Ou melhor, a UNITA ter 16 deputados, o PRS oito, a FNLA três e a ND dois.

E tudo isto graças ao beneplácito e respectivo altruísmo do regime que não achou necessário ter mais de 100% dos votos, apesar de em várias assembleias de voto terem aparecido mais votos do que votantes.

* Orlando Castro, jornalista angolano-português - O poder das ideias acima das ideias de poder, porque não se é Jornalista (digo eu) seis ou sete horas por dia a uns tantos euros por mês, mas sim 24 horas por dia, mesmo estando (des)empregado.

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Timor-Leste: José Ramos-Horta contra Código de Conduta para Jornalistas



«Limita a liberdade de imprensa»

Díli - O Presidente da República, José Ramos-Horta, afirmou ser contra o Código de Conduta para Jornalistas, criado pela Comissão Nacional de Eleições (CNE) e pelo Secretariado Técnico de Administração para as Eleições (STAE).

Na opinião do Chefe de Estado, o Código de Conduta para Jornalistas vem limitar a liberdade de imprensa na cobertura das Eleições.

Para José Ramos-Horta, seria melhor se este código fosse criado pelos próprios órgãos de comunicação social, incluindo as associações de jornalistas, em vez de ter sido elaborado pela CNE, STAE ou qualquer outra instituição do Estado.

«O código de conduta deve basear-se na Constituição. Seria melhor se os próprios jornalistas criassem a sua própria deontologia», referiu o Presidente timorense este Domingo, 12 de Fevereiro.

Como candidato à Presidência nas próximas Eleições, o Chefe de Estado disse que não irá falar contra os media durante o período de campanha eleitoral.

O secretário-geral do Timor-Leste Press Club (TLPC), Mouzinho Lopes de Araújo, disse que os jornalistas já têm o seu próprio código de ética, que é sempre aplicado ao trabalho dos profissionais.

«Os jornalistas sabem como criar relatórios equilibrados, neutros e responsáveis», declarou Mouzinho Lopes de Araújo.

O responsável disse ainda acreditar que os media, incluindo novos órgãos, vão produzir uma boa cobertura eleitoral.

O vice-Presidente da «Associação de Jornalistas de Timor-Leste», Virgílio Guterres, disse que a sua organização irá criar o seu próprio código de conduta para os membros acompanharem durante as Eleições.

Por outro lado, a comissária da CNE, Manuela Leong, disse que o código de conduta produzido pelo STAE e aprovado pela CNE deu aos jornalistas a liberdade de fazerem o seu trabalho durante o período de campanha eleitoral.

(c) PNN Portuguese News Network

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MANOLIS GLEZOS CONTINUA A LUTAR CONTRA A OCUPAÇÃO ALEMÃ




O senhor que está a ser agarrado pelo colarinho tem 89 anos. O polícia que o está a agarrar terá idade para ser seu filho ou seu neto.

O senhor chama-se Manolis Glezos e, em 1941, durante a ocupação alemã, retirou a bandeira nazi da Acrópole, tendo, posteriormente, passado por um calvário de prisões e torturas, entre alemães, italianos e colaboracionistas gregos (que, também naquele tempo, já existiam). Setenta anos depois, ei-lo, ainda, a lutar contra um país manhoso, disfarçado de Europa. A Europa tem de ser outra coisa. Se é para ser a mesma, mais vale hastear outra vez a suástica.

JORNALISMO PARCIAL E MANIPULADOR




Mário Augusto Jakobskind – Direto da Redação

Enquanto na Bahia e no Rio de Janeiro, policiais militares e bombeiros lutam por salários minimamente dignos para as necessidades de suas famílias, provocando uma cobertura da mídia de mercado tendenciosa e objetivando visivelmente a queimação do movimento, pelo mundo afora soam os tambores da guerra.

Caberiam vários questionamentos sobre os acontecimentos, como, por exemplo, o papel da Justiça autorizando as gravações telefônicas que são divulgadas pelos telejornais. É algo compatível com a democracia? Os advogados das lideranças grampeadas entraram com um pedido de resposta e requisitaram as gravações porque garantem terem sido as mesmas editadas. Alguém foi informado a respeito?

E é justo mandar preso para Bangu 1 (presídio de segurança máxima) líderes do movimento grevista? E o Governador Sergio Cabral mandou prender 123 salva-vidas que aderiram ao movimento. É assim que os políticos gênero Cabral tratam movimentos que se mobilizam por salários decentes tendo a mídia de mercado ao seu lado. Tempos atrás reprimiu com violência professores e considerou médicos do Estado “vagabundos”.

Em São José dos Campos a mesma mídia também se comporta de forma tendenciosa e silencia sobre os desdobramentos posteriores à expulsão de famílias pobres que viviam há anos nas terras reivindicadas pelo especulador Naji Nahas, que teve o respaldo da Justiça e do governo do Estado de São Paulo.

Além de não sair uma linha sobre o protesto do jornalista Pedro Rios, que ficou em greve de fome na porta da TV Globo, paira total silêncio sobre o que está acontecendo com as famílias reprimidas e desalojadas pela Polícia Militar de São Paulo, cujo comandante em chefe é o governador Geraldo Alckmin, do PSDB, que já quis ser até Presidente da República, mas foi repudiado pelo povo.

A greve da PM, Polícia Civil e dos bombeiros, já encerrada, foi justa e o que se espera é que de agora em diante os efetivos das respectivas corporações mudem de postura, ou seja, não obedeçam a ordens ao serem convocados por Governadores ou Secretários de Segurança para reprimir os movimentos populares. Os grevistas de hoje não devem esquecer que os protestos são tão justos quanto as suas próprias reivindicações. Então, qual o motivo para reprimir o povo a não ser ordens superiores absurdas?

No mundo, os tambores da guerra já se fazem sentir. Israel agora espera o sinal verde dos Estados Unidos para bombardear o Irã, se é que já não foi dado. Os principais canais de televisão estadunidenses já se preparam para a cobertura da guerra, segundo informações procedentes do Oriente Médio, reforçando por lá seus modernos aparelhos tecnológicos de transmissão.

No momento há uma espécie de medição de forças. Resta saber quem está blefando neste rufar dos tambores. Os Estados Unidos (via Israel) vão querer pagar para ver o que acontecerá pós- confronto? O Irã tem mesmo poder de fogo para retaliar quem o agredir? Terá força para fechar o Estreito de Ormuz, impedindo assim o fluxo de petróleo para o Ocidente?

Será que quem vai bombardear um alvo estrangeiro anuncia pelos quatro cantos que vai fazer isso? Ou será apenas mais uma estratégia visando dobrar o Irã?

Outro país que se encontra sob fogo cruzado do Ocidente é a Síria. China e Rússia decidiram vetar no Conselho de Segurança das Nações Unidas resolução pelo afastamento de Hafez Assad. Os dois países parece que aprenderam a lição líbia. Na ocasião, China e Rússia preferiram abster-se o que permitiu o sinal verde para a zona de exclusão aérea e os bombardeios da Organização do Tratado do Atlântico Norte (OTAN).

Mas os jornalões não pensam assim, como deram a entender em seus editoriais contra o governo sírio. A secretária de Estado Hillary Clinton também ficou furiosa e repetiu a terminologia da época da Guerra Fria para criticar a Rússia e a China. O mais curioso da história é que Clinton repete os argumentos segundo os quais a Síria precisa de democracia.

A cobertura dos acontecimentos no país árabe vem sendo questionada. A União de Jornalistas Sírios (UPS), por exemplo, denunciou as falsificações e manipulações de fatos que os veículos Al-Jazeera e al-Arabiya estão fazendo na cobertura dos acontecimentos no país, demonstrando seu envolvimento na campanha política contra a Síria. A UPS exortou ainda os meios de imprensa árabes e internacionais a verificarem as informações antes de transmiti-las e advertiu que a Al-Jazeera e a al-Arabiya "abandonaram toda moral e princípios jornalísticos".

O governo sírio anunciou a prisão de um oficial militar da Arábia Saudita em um dos protestos da oposição contra Assad. Se as agências internacionais de notícias divulgaram essa informação, os jornalões e telejornalões ignoraram.

A Arábia Saudita também parece estar preocupada com o estabelecimento da democracia na Síria. Mas só que a monarquia saudita não quer o mesmo para as terras que considera de sua propriedade, ou seja, a própria Arábia Saudita, onde mulher é proibida de dirigir carros.

O Oriente Médio, portanto, continua um barril de pólvora e uma guerra contra o Irã provavelmente terá reflexos imediatos em todo mundo, sobretudo na região. No Líbano, segundo o professor Luis Alberto Moniz Bandeira, o Hezbollah tem apontado para Israel cerca de 10 mil foguetes escondidos em residências e podem ser acionados a qualquer momento. O premier Benyamin Netanyahu vai querer pagar para ver?

Greve da PM, rufar dos tambores de guerra no Oriente Médio e os lamentáveis acontecimentos na Síria podem em princípio ser temas distantes um do outro, mas o que os une é o tipo de cobertura que vem sendo feito pela mídia de mercado, totalmente parcial e manipulador.

Possivelmente quem tem opinião formada pelos referidos veículos impressos ou eletrônicos, considerará estas reflexões fora de propósito. É natural que pense assim porque não teve acesso a outro tipo de informação se não o manipulado.

Em tempo: do Afeganistão vem a informação segundo a qual bombardeio da Organização do Atlântico Norte na província oriental de Kapisa provocou a morte de seis crianças. Será que as TVs Globo, Band, Record etc noticiaram o fato?

* É correspondente no Brasil do semanário uruguaio Brecha. Foi colaborador do Pasquim, repórter da Folha de São Paulo e editor internacional da Tribuna da Imprensa. Integra o Conselho Editorial do seminário Brasil de Fato. É autor, entre outros livros, de América que não está na mídia, Dossiê Tim Lopes - Fantástico/IBOPE

Brasil: Após fadiga, Lula passa por nova sessão de radioterapia



Terra, com foto

O ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva passou, na manhã desta segunda-feira, por mais uma sessão de radioterapia, que faz parte do tratamento para combater um câncer de laringe, diagnosticado em outubro do ano passado. Lula havia sido internado no hospital Sírio-Libanês, em São Paulo, no sábado, após um quadro de perda de apetite e fadiga.

O ex-presidente continuou internado após a avaliação médica que constatou a "presença de inflamação de mucosa da laringe e esôfago, decorrentes da radioterapia". Apesar de o sintoma ser considerado normal, a equipe optou pela internação para intensificar as medidas de suporte nutricional, fisioterápico e fonoaudiológicas.

Bons resultados

Uma tomografia realizada no sábado não mostrou o tumor que o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva enfrenta na laringe, informaram os médicos do Hospital Sírio-Libanês neste domingo. Apesar do exame não ser conclusivo, a equipe afirmou que Lula tem respondido de maneira "excelente" ao tratamento para combater o câncer.

A tomografia de tórax foi realizada apenas com o intuito de verificar se havia uma inflamação no pulmão, o que não foi detectado. O exame próprio para identificar a redução do tumor na laringe será realizado dentro de quatro a seis semanas após o fim da radioterapia, cuja última sessão está prevista para a próxima sexta-feira.

De acordo com a assessoria do Sírio-Libanês, o procedimento foi realizado com sucesso e ainda não há previsão para alta médica.

O câncer de Lula

Após queixa de dores de garganta, Lula realizou uma série de exames na noite de 28 de outubro. Na manhã do dia seguinte, foi divulgado boletim médico do Hospital Sírio-Libanês, de São Paulo, informando que foi diagnosticado um tumor maligno na laringe, que seria inicialmente tratado por quimioterapia.

O câncer na região da laringe é mais comum entre homens e o de maior incidência na região da cabeça e pescoço. Os principais fatores que potencializam a doença são o tabagismo e o consumo de álcool. Já os sintomas são: dor de garganta, rouquidão, dificuldade de engolir, sensação de "caroço" na garganta e falta de ar.

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Carta do Canadá: LÁ FORA E CÁ DENTRO



Aventar - Fernanda Leitão

Ensina-me a experiência que é prudente não acreditar em pessoas que, para enriquecerem o curriculum, proclamam repetidamente que são “africanistas”. Na prática são colonialistas de mentalidade e actos. Ficou-lhes agarrada à pele, na sua passagem pelas colónias, uma atracção encantada pelo capataz de roça. Em geral, de tudo fazem (ou julgam fazer) uma roça.

O famoso vídeo que deu a volta ao mundo, aquele minuto de conversa sussurrada entre o Ministro das Finanças de Portugal e o seu homólogo da Alemanha, cuja linguagem corporal só por si dizia tudo de servilismo e diplomacia de cócoras, vem confirmar as suspeitas que se agigantam seis meses depois da entronização do actual governo que, dizia ele, vinha para salvar os portugueses das garras da maldade da exploração e da mentira. Escusa o cómico de serviço ao regime, seja o governo qual for, bolsar que é o contrário disto, nos programas que os contribuintes andam a pagar, porque ninguém lhe dá crédito, também a ele. De resto, a confirmação da bajulice vem do chefe do governo, e seus acólitos, quando trombeteia que “nós vamos além da troika”. É o que se chama querer mostrar serviço, “custe o que custar”, e está custar fome, miséria, privação e desespero a largos milhares de portugueses, que vêem a Pátria a sucumbir às mãos de agiotas. Já pela Europa fora peritos sensatos sublinham que a receita autoritária da chanceleira Merkel não cura países aflitos, antes os mata, mas o primeiro ministro fabricado na jota mantém-se irredutível na sua fidelidade canina. Nem a opinião contrária do FMI o demove na sua obediência babada àquela Adolfa.Tudo visto e revisto, fácil é concluir que este governo trata Portugal como se fosse a roça dos alemães. Cá dentro, é capataz. Lá fora, é mainato. E sofremos nós uma descolonização apressada, mal feita, até criminosa, para o país ter a subida honra de fazer parte da União Europeia. Quero crer que muitos europeistas eram idealistas e estavam de boa fé, mas foram ingénuos e descuidados no escrutinar regras e tratados linha por linha, palavra por palavra. Nem eles conheciam bem o terreno que pisavam, nem o deram a conhecer ao povo, já que não houve esclarecimento em profundidade e referendo logo de seguida. Um povo inteiro atrás de um punhado de enganados. Foi-se despejando dinheiro por cima do país, o crédito era fácil, os portugueses, como sempre, caíram na vigarice do vigésimo premiado. Porque, afinal, se chegou a este completo desconchavo: na União Europeia quem põe e dispõe é a Alemanha. O resto é cantiga para boi dormir.

Esta situação, já praticamente irreversível por estarmos a tratar com pessoas que devem tudo à ignorância arrogante, vai acabar mal. O que está a acontecer à Grécia, traída por uma clique medíocre de políticos, acaba por acontecer a todos os países que estão na fila para o cadafalso financeiro. Acreditar que não será assim, é como acreditar que o cancro só mata os outros. Não faz sentido gritar “nós não somos a Grécia”. Até ao momento, a única grande diferença é que os gregos batem o pé e os portugueses engolem em seco. O que faz sentido é aprender a lição sofrida pela Grécia e dizer à União Europeia que basta! É juntar-se aos países que já o dizem. A união dos descontentes pode bem salvar a Europa.

Arménio Carlos: “O TEMPO DIRÁ” SE PORTUGAL IMITA A VIOLÊNCIA GREGA




Arménio Carlos considerou hoje que se as medidas de austeridade em Portugal se agravarem, os cidadãos devem sair à rua e protestar, tal como os gregos o têm feito.

"Creio que a maior violência que está a ser imposta são as medidas de austeridade. Essa é a maior violência, as medidas que estão a impor aos trabalhadores e ao país."

O líder da CGTP considerou que "o tempo dirá" se o nível de contestação em Portugal irá atingir os níveis de Atenas e defende que a inter-sindical irá continuar a apelar ao protesto.

"Vamos continuar a pautar o nosso caminho pelo protesto, reforçando o apelo à greve e o combate à grande resignação, pela dignidade dos trabalhadores."

E sublinha que é importante "que não se faça dos agressores as vítimas".

Para Arménio Carlos "já se provou que as medidas de austeridade não funcionam e que só estão a agravar a situação, tanto na Grécia como em Portugal".

O líder da CGTP lembra que "existe um princípio constitucional que assegura que os cidadãos continuam a resistir." E deixa o aviso "quem semeia ventos colhe tempestades".

NÃO HÁ PACHORRA PARA TANTA HIPOCRISIA




Orlando Castro*, jornalista – Alto Hama*

O presidente da República de Portugal sublinha, em entrevista a um diário austríaco “Die Presse”, o esforço do Governo em cumprir o programa da troika e a responsabilidade dos portugueses, mas reconhece que o que causa maior “apreensão” são os efeitos da austeridade.

Portugal não tem economia, mas tem ministro da Economia. Já não falta tudo. Não tem presente, não sabe se terá futuro mas (o que já não é mau) teve passado. Foi dos primeiros a acabar com a escravatura mas agora, na sua qualidade de protectorado, volta a instituir pela mão da dupla Cavaco e Coelho o regime esclavagista.

Mas, como se vê, tem a vantagem de ter um presidente discreto e preocupado. E por ser tão discreto é que os portugueses não sabem o que tem andado Cavaco Silva a fazer, pelo menos desde Março de 2002, para além de – com um rótulo de “apreensão” – gozar com a miséria dos outros.

E, como se não bastasse aos portugueses estarem a aprender a viver sem comer, ainda têm de gramar com as teorias do actual presidente da República, Cavaco Silva, que quando deixa de ser discreto apenas consegue dizer que em Portugal existe “insuficiência alimentar”.

Dizer a quem passa fome que apenas padece de "insuficiência alimentar" é, digamos, uma poética forma de juntar à barriga vazia dos portugueses um atestado, em papel timbrado da Presidência da República, de menoridade ou estupidez.

Consta, aliás, que Cavaco Silva (que em termos vitalícios só tem direito a 4.152 euros do Banco de Portugal, a 2.328 euros da Universidade Nova de Lisboa e a 2.876 euros de primeiro-ministro) terá até decidido que, por solidariedade com os que sofrem de “insuficiência alimentar” e de forma a poupar para as suas despesas, vai passar a fazer greve de fome… entre as refeições.

Que fique igualmente claro que Cavaco Silva nada tem a ver com o estado a que Portugal chegou. E não tem, registe-se, porque só foi primeiro-ministro de 6 de Novembro de 1985 a 28 de Outubro de 1995, só venceu as eleições presidenciais de 22 de Janeiro de 2006 e só foi reeleito a 23 de Janeiro de 2011.

Sempre que fala, directa ou indirectamente, de forma mais ou menos discreta, mesmo que seja para – como defende o seu consultor Fernando Lima – responder a jornalistas domesticados, Cavaco Silva sacode a água do capote e continua impávido e sereno a gozar com os matumbos do reino.

"Eu disse que se devia ter em conta o limite que se pode exigir ao cidadão comum", e é relativamente a esses "que nós temos que pensar como, neste tempo de dificuldades, assegurar uma vida digna", diz o presidente.

O presidente da República defende, também, um "debate aprofundado" e "com muito bom senso" na Assembleia da República (AR) em matéria fiscal e de justiça fiscal, para evitar "erros" prejudiciais ao país.

"A competência exclusiva em matéria fiscal cabe à AR e o que eu aconselharia é que, nesse domínio, se faça um debate aprofundado, com muito bom senso, tendo presente todas as consequências para o desenvolvimento futuro do nosso país", disse.

O chefe de Estado lembrou que, "às vezes" se cometem "erros", como "já aconteceu noutros países no domínio fiscal", os quais "têm consequências muito negativas para o futuro do país, prejudicando as possibilidades de aproximação aos níveis de desenvolvimento da União Europeia".

Será que os portugueses se recordam que o mesmo Cavaco Silva afirmou que o mal da economia portuguesa estava nas finanças públicas, mas que o "medo" dos políticos dificultava a sua correcção, malgrado defender um quase poder de veto para o ministro das Finanças?

Recordam-se que o também ex-líder do PSD e ex-primeiro-ministro considerava, em Março… de 2002, que Portugal tinha no máximo um ano e meio para inverter a tendência de degradação da situação económica?

Para o também economista, professor universitário e presidente da República, seria, contudo, "muito complicado" para o Governo resolver "o problema mais grave" que afecta a economia portuguesa: a crise nas finanças públicas. Recordam-se?

Será que também se recordam de ele ter dito que “os políticos, como pessoas normais que são, têm medo, e será precisa muita coragem política para adoptar políticas necessárias, mas cuja viabilidade política é duvidosa"?

Ou que Cavaco Silva dizia que a solução passava, necessariamente, por "reforçar os poderes do ministro das Finanças", que devia contar com o apoio incondicional do primeiro-ministro e dispor "de um poder quase de veto sobre os restantes ministérios"?

Recordam-se que também foi ele quem afirmou que o objectivo era assegurar a concretização de medidas que se antevêem impopulares, como as reformas da saúde - apostando na gestão privada dos hospitais públicos - e educação, a extinção de alguns serviços públicos, a contenção nas transferências para as autarquias, o equilíbrio das contas externas e o assegurar de "disciplina" nas empresas públicas?

Ou que era necessário acompanhar "quase à semana o endividamento de determinadas empresas públicas, nomeadamente no sector dos transportes e do audiovisual”?

Recordam-se ainda que Cavaco Silva defendia, quanto à evasão e fraude fiscais, como única solução viável "um claro levantamento do sigilo bancário" sustentando que, mesmo face ao risco de fuga de capitais, "em situação de crise" esta medida se impõe?

E então, se Cavaco Silva afirmava tudo isto há quase dez anos, é caso para perguntar, para voltar a perguntar, para nunca deixar de perguntar, o que tem andado Cavaco Silva a fazer pelo menos desde Março de 2002, para além de gozar com a miséria dos outros?

* Orlando Castro, jornalista angolano-português - O poder das ideias acima das ideias de poder, porque não se é Jornalista (digo eu) seis ou sete horas por dia a uns tantos euros por mês, mas sim 24 horas por dia, mesmo estando (des)empregado.

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Ex-director-adjunto da RDP disse a cronista de Este Tempo que se iria demitir



Maria Lopes – Público

Quando comunicou ao cronista Gonçalo Cadilhe que o programa Este Tempo ia acabar, o então director-adjunto de Informação, Ricardo Alexandre, disse-lhe que se iria demitir.

Gonçalo Cadilhe, um dos cinco cronistas da rubrica de opinião Este Tempo, foi esta tarde ouvido na ERC - Entidade Reguladora para a Comunicação Social. À saída disse aos jornalistas que foi avisado no dia 23 de Janeiro por Ricardo Alexandre que o programa iria acabar nessa mesma semana.

"O Ricardo Alexandre estava muito incomodado. Disse-me 'o programa vai acabar'. Percebia-se que não foi um telefonema de quem prepara uma comunicação. Foi um telefonema a quente", descreveu Gonçalo Cadilhe, acrescentando que o então director-adjunto "falou de forma lacónica".

Na mesma conversa, Ricardo Alexandre "disse que se ia demitir", contou o colunista. "Pelo tom de voz não me parece que fosse uma birra. Afinal, ele era o autor, coordenador, mentor do programa. Pareceu-me que estava incomodado a nível de questões da sua própria ética."

Questionado pelos jornalistas, Gonçalo Cadilhe disse não se lembrar se Ricardo Alexandre lhe justificou a razão para o final do programa - "Se o referiu, não tenho memória." Escusando-se a comentar o facto de Pedro Rosa Mendes alegar que o programa terá acabado para o silenciar, o colunista de viagens afirmou que "não estava a par do que se estava a passar [polémica sobre as críticas de Rosa Mendes à RTP e a Angola]". Realçando que o seu tema - falar sobre viagens - era completamente "inócuo", Cadilhe garantiu que nunca teve "qualquer tipo ou perspectiva de orientação" do seu trabalho.

Sobre o seu contrato, o colunista contou que "nunca houve qualquer formalidade em relação à renovação". "Aparecia lá em casa por correio, umas vezes antes, outras depois da data da renovação", afirmou Gonçalo Cadilhe, especificando que a denúncia do contrato tinha que ser feito "por escrito até 15 dias antes do final do prazo". Porém, quando questionado sobre se tenciona tomar alguma medida sobre o assunto, Gonçalo Cadilhe respondeu que essa é uma questão do "foro pessoal".

Rita Matos ligou fim do programa à reestruturação

Quando o ex-director-adjunto telefonou a Rita Matos para lhe dizer que a sua crónica dessa semana seria a última porque o programa ia acabar, a cronista relacionou o facto com a anunciada reestruturação da grelha de programas. "Sabia-se de antemão que com a reestruturação alguns programas iriam acabar", afirmou esta tarde Rita Matos à saída da sua audição na ERC. A colunista não sabia, porém, que o programa Este Tempo estava a ser avaliado. A única explicação que Ricardo Alexandre lhe deu foi que era "uma decisão da direcção", e Rita Matos nem se lembrou de questionar qual a direcção a que se referia.

Tal como os outros colunistas, também o contrato de Rita Matos especificava que a sua denúncia tinha que ser feita até 15 dias antes do fim. Mas em todas as ocasiões anteriores "os aditamentos foram feitos em cima da hora".

A colunista afirmou também que nunca teve "qualquer interferência em termos de conteúdos".

Além de Cadilhe e de Rita Matos, também António Granado, cuja crónica tinha como tema a tecnologia, foi ouvido na ERC, mas não quis prestar declarações.

Cavaco apreensivo com os efeitos da austeridade em Portugal



Público – Lusa

Presidente dá entrevista a diário austríaco

O Presidente da República sublinha, em entrevista a um diário austríaco, o esforço do Governo em cumprir o programa da troika e a responsabilidade dos portugueses, mas reconhece que o que causa maior “apreensão” são os efeitos da austeridade.

Numa entrevista publicada na edição desta segunda-feira do Die Presse, Cavaco Silva volta a insistir nas diferenças que separam Portugal da Grécia, lembrando que os portugueses estão a implementar o programa de estabilidade acordado com a troika “a 100 por cento”.

“O Governo esforça-se por satisfazer todas as exigências. Só nos anos de 2011 e 2012, o défice estrutural do Orçamento diminuirá 9 pontos percentuais”, salienta o chefe de Estado.

Questionado se as medidas de austeridades serão suficientes para devolver o país à via do crescimento, Cavaco nota que também se está a tentar melhorar a competitividade através de reformas estruturais, apontando o exemplo da reforma no mercado de trabalho. “Esta reforma contribuirá para melhorar o ambiente económico e social, enquanto os esforços de consolidação orçamental são implementados”, diz.

À pergunta se perante “dolorosas reformas”, a população ainda apoia o Governo, o Presidente da República não responde directamente, mas lembra que cerca de 85% dos deputados apoiam o programa assinado com a troika e que o actual Governo de maioria PSD/CDS-PP se comprometeu a honrar as medidas de reforma do anterior Governo socialista.

Além disso, acrescenta, “a população também demonstra grande sentido de responsabilidade, apesar dos sacrifícios” que lhe são exigidos. “Até agora apenas se registou uma greve geral, e foi limitada”, sublinha.

Sobre a forma como está a ser feita a gestão europeia da crise, o Presidente da República reconhece que o que “causa maior apreensão são os efeitos do programa de austeridade”, já que o Governo calcula que o desempenho económico diminuirá 3% neste ano e que só em 2013 a economia deverá voltar a crescer.

Vincando que recessão significa também aumento do desemprego, que em Portugal já estará em cerca de 14%, Cavaco Silva recorda que, por esse motivo, nas negociações com os parceiros europeus, Portugal insiste na necessidade de incluir “uma estratégia de crescimento e emprego” na solução da crise da dívida europeia.

“A determinação de poupar é importante, mas não é tudo. Neste contexto, nós fizemos o nosso trabalho de casa. Agora esperamos que os nossos amigos europeus façam os seus trabalhos de casa”, refere.

Mais 200 mil milhões de euros pela estabilidade

Na entrevista, Cavaco defende ainda o reforço do mecanismo europeu de estabilidade em mais 200.000 milhões de euros, recordando que a União Europeia já adiou muitas decisões e agora é preciso actuar.

“O mecanismo europeu de estabilidade encontra-se dotado com 500.000 milhões de euros. Eu considero que seria bom dotá-lo com mais 200.000 milhões de euros”, diz.

Notando que essa decisão deverá ser tomada no próximo Conselho Europeu, em Março, Cavaco Silva renova as críticas ao adiamento de decisões por parte da União Europeia, mas sublinha que se aprendeu com a experiência.

Por isso, acrescenta, agora é tempo de “actuar”, insistindo que é preciso que se façam “todos os esforços em defesa do Euro”.

“Nenhum especulador deverá ter a sensação de que esta vontade poderá sequer vacilar. E importante é, também, a ferramenta para o combate à crise: um mecanismo europeu de estabilidade, que seja capaz de servir de ´firewall’ à volta da Grécia, e um Banco Central Europeu activo”, diz.

Pois, continua, “os mercados devem convencer-se de que a Grécia é, e será, caso único”, porque enquanto isso assim não acontecer, “as palavras Europa e crise mantêm-se ligadas”.

Instado a classificar o papel da Alemanha na luta contra a crise, o chefe de Estado lembra o diálogo regular que existe entre as autoridades portugueses e o Governo alemão, que deu o seu apoio a Portugal, recusando a ideia de “rigidez” alemã.

“A chanceler Merkel sublinhou que Portugal é um exemplo positivo”, lembra Cavaco Silva, notando que embora exista um “perigo de contágio” da Grécia, é “óbvio que Portugal e a Grécia não são comparáveis”. Porém, acrescenta o Presidente da República, Portugal é solidário com os gregos e quer que se aquele país se mantenha na Zona do Euro.


George Soros acusa Merkel de conduzir a Europa na direcção errada



Público - AFP - ontem

O multimilionário norte-americano George Soros considera que a chanceler alemã Angela Merkel “tem conduzido a Europa na direcção errada” e acredita na repetição dos erros da crise de 1929, numa entrevista ao Der Spiegel.

“Admiro a chanceler Merkel pela sua capacidade de liderança. Mas, infelizmente, ela está a conduzir a Europa na direcção errada”, disse Soros ao semanário alemão.

O multimilionário defende “a reanimação da conjuntura nos Estados europeus em crise através da injecção de dinheiro, mais do que forçar os Governos à poupança”. Caso contrário, avisa, “vamos repetir os erros que mergulharam a América de 1929 na Grande Depressão. É isso que Angela Merkel não compreende”, afirmou.

Face à crise de 1929 nos Estados Unidos, o então Presidente Franklin Roosevelt lançou em 1933 o “New Deal”, uma política inspirada pelo economista britânico John Keynes, marcada por uma reforma do sistema bancário e pelo lançamento de grandes obras para relançar a economia americana.

De acordo com o Der Spiegel, Soros já não advoga a ideia de implicar o Fundo Monetário Internacional (FMI) na gestão da crise. “A Europa deve ser capaz de resolver os seus problemas sozinha”, considerou.

Merkel defende regulação financeira para evitar "novas crises mundiais"



PSP - Lusa

Berlim, 13 fev (Lusa) - A chanceler alemã, Angela Merkel, defendeu hoje o processo multilateral de reformas do sistema financeiro internacional no sentido da regulação para evitar novas crises mundiais como a de 2008.

Merkel reconheceu, numa conferência de imprensa após um encontro em Berlim com especialistas sobre a "nova arquitetura dos mercados financeiros", que a comunidade internacional "ainda não superou as consequências da crise financeira e económica".

"Deve continuar-se a trabalhar intensamente" para regular "cada produto" financeiro, disse Merkel após a reunião em que também participou o ministro das Finanças alemão, Wolfgang Schauble.

De acordo com a chanceler alemã, apesar dos avanços conseguidos a nível europeu e do G20, o mundo ainda não está preparado para "aguentar" uma crise financeira como a de 2008.

O grupo de especialistas apresentou a Angela Merkel um pacote de propostas que pretende impôr reformas nos mercados financeiros no sentido da "regulação indireta" do "sistema bancário na sombra" (Shadow banking). Ou seja, junto da rede de empresas que, apesar de não serem legalmente instituições financeiras, funcionam como se fossem organizações bancárias.

Segundo as propostas, depois de se exigir uma maior transparência a essas entidades pode dar-se então o passo em direção à "regulação direta" junto dos "atores" e dos "produtos financeiros".

A proposta considerada realista pelos participantes não prevê a criação de um novo organismo que identifique ou analise informações sobre as "entidades na sombra", porque instituições como o Banco Central Europeu, no caso da Zona Euro, podem ajudar a fazer o trabalho.

Alemanha: Aliança contra manifestações neonazistas em Dresden




A cidade de Dresden lembra o dia de sua destruição, pouco antes do fim da Segunda Guerra. Há anos, extremistas de direita usam a data com propósitos escusos, que, no decorrer dos últimos anos, contudo, enfraqueceram.

Pouco depois das 10 horas da noite de 13 de fevereiro de 1945, aviões de bombardeio, em sua maioria britânicos, sobrevoaram Dresden. Em 15 minutos, transformaram 75% do centro da cidade em ruínas. Poucas horas mais tarde, acontecia um segundo ataque, que desencadeou um incêndio de enormes proporções, causando a morte de mais de 20 mil pessoas.

Historiadores divergem até hoje a respeito do sentido militar da destruição de Dresden, que em função de sua arquitetura barroca era chamada de Florença do Elba. Certo é que a destruição da cidade representou, de fato, um baque para os nazistas alemães. Três meses depois, o chamado Terceiro Reich capitulava sem quaisquer exigências.

Os sinos soam

Desde 1946, os sinos das igrejas da cidade soam sempre no dia 13 de fevereiro, em lembrança do ocorrido. Desde 1998, contudo, extremistas de direita fazem uso da data, encenando eventos nos quais a culpa alemã pelo Holocausto é negada. Tais manifestações começaram com menos de cem participantes e se transformaram em um evento de massa: nos últimos anos, cerca de 6500 neonazistas foram às ruas da cidade no que chamam de "marcha do luto".

Em sinal de oposição ao fantasma do extremismo de direita, que ameaça frequentemente retornar, os habitantes de Dresden e pessoas de outras cidades mostraram resistência. Em 2011, 15 mil pessoas participaram de uma corrente humana neste dia.

A aliança Dresden sem nazistas iniciou um bloqueio através de uma corrente humana contra a marcha nazista. Na época, houve confrontos violentos entre a polícia, que enfrentou em peso os manifestantes antineonazistas. Do ponto de vista do governo da Saxônia, estado do qual Dresden é a capital, são ilegais as correntes humanas e bloqueios para impedir manifestações permitidas oficialmente pelas autoridades.

Conselho Central dos Judeus defende bloqueio

Como só viria a se saber posteriormente, as autoridades responsáveis pela segurança local espionaram mais de um milhão de dados de ligações de celulares dos manifestantes. Entre as vítimas da espionagem estavam principalmente manifestantes pacíficos e moradores, que nem tinham ligações com o fato. Políticos e autoridades da Saxônia vêm sendo desde então acusados de terem criminalizado os manifestantes antineonazistas.

O secretário-geral do Conselho Central dos Judeus na Alemanha, Stephan Kramer, aponta uma "virada da situação jurídica" e uma "estigmatização" dos manifestantes. Kramer defende abertamente as correntes humanas. Aiman Mazyek, presidente do Conselho Central dos Muçulmanos no país, tem a mesma opinião em relação aos protestos, segundo informações da aliança "Dresden sem nazistas".

Três deputados federais de origem turca conclamaram a população a participar dos protestos. Sevim Dağdelen (A Esquerda), Aydan Özoğuz (Partido Social Democrata) e Memet Kılıç (Partido Verde) esperam uma forte participação sobretudo de migrantes que vivem na Alemanha. De ônibus e trens, espera-se o maior número possível de manifestantes, vindos de Berlim e de outras regiões do país, nesta segunda-feira.

Os migrantes participam comparativamente pouco de manifestações. Kılıç credita isso legislação relativa aos estrangeiros no país, que por muito tempo era restritiva neste sentido, dificultando ou até mesmo impedindo o engajamento político. Muitos migrantes e estrangeiros sentem-se mais como objetos da política e menos como seus sujeitos, diz Kılıç. O parlamentar verde assinala a necessidade de tornar claro que "nos solidarizamos com nossa sociedade e com nossa Constituição".

Convocatória das Igrejas cristãs

Os bispos católicos e pastores protestantes conclamaram também os fiéis para um protesto contra o extremismo de direita, em uma declaração oficial comum. Tendo em vista a série de assassinatos da célula terrorista Clandestinidade Nazista, que veio à tona em novembro último, as Igrejas acham "especialmente importante que muitas pessoas, para além das fronteiras de Dresden, sinalizem claramente sua aversão ao terrorismo de direita", como consta da convocatória para as manifestações. No entanto, nem todos os representantes das grandes Igrejas cristãs defendem os bloqueios através de correntes humanas.

Uma aliança de políticos, sindicatos e Igrejas convocou para o próximo sábado (18/02) outra manifestação pública de oposição aos neonazistas. Protestos anteriormente marcados pela extrema direita para este dia foram oficialmente cancelados.

Resignação dos neonazistas?

Especialistas em segurança avaliam o cancelamento como sinal de resignação e divergências entre os próprios neonazistas, forçados a uma posição defensiva depois da recente divulgação da série de assassinatos cometidos por membros da cena. O recuo pode ser percebido também no que diz respeito ao partido de extrema direita NPD. No país, discute-se intensamente sobre a proibição do partido, representado em duas assembleias legislativas de estados alemães.

Autor: Marcel Fürstenau (sv) - Revisão: Roselaine Wandscheer

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"Não tenhamos dúvidas: Entrámos numa nova era de conflito aberto entre os EUA e a Europa"




Diogo Cavaleiro – Jornal de Negócios, com foto

O mundo caminha para uma globalização "sem precedentes desde a era do Neolítico". A Europa pode desempenhar um papel de domínio, os EUA estão ameaçados. De qualquer forma, "o novo paradigma vai levar a uma volatilidade estrutural nos mercados nos próximos anos", indica a casa de investimento francesa CM-CIC Securities.

Mais do que uma crise, o mundo está a viver uma “viragem radical”. A rivalidade entre a Europa e os EUA, com o início de uma “guerra cambial”, dita o início do século XXI. Considerações da casa de investimento francesa CM-CIC Securities, numa nota de “research” para o BNP Paribas.

Não foi a guerra entre o Islão e o Ocidente que marcou o arranque do século XXI. Foi sim a guerra iniciada no Verão de 2011, quando a Reserva Federal norte-americana cortou o acesso a financiamento aos bancos franceses, na sequência da redução do “rating” “AAA” dos EUA pela Standard & Poor’s. Foi o início da guerra cambial, escreve o analista Pierre Chedeville, da casa de investimento que pertence à rede ESN, de que faz parte a portuguesa CaixaBI.

“Não tenhamos dúvidas: Entrámos numa nova era de conflito aberto entre os EUA e a Europa”, considera a CM-CIC, indicando que os actuais confrontos “geoeconómicos” vão substituir os confrontos geopolíticos do século XX. Para a casa de investimento francesa, a oposição global continuará a ser entre a Europa e os Estados Unidos. A China vai desempenhar um papel importante no futuro, mas permanecer como figura secundária, por estar ocupada a recuperar o tempo perdido.

E quem vai ganhar a guerra cambial? Os EUA estão a substituir um império protestante anglo-saxónico por uma república protestante hispânica, escreve a CM-CIC, o que não irá facilitar a manutenção do papel central da maior economia do mundo.

“Pensamos que o actual caminho para a globalização, sem precedentes desde a era do Neolítico, dá mais garantias de progresso do que ameaça uma recessão. A Europa, cujo ADN está repleto de genes universais, humanísticos e científicos, tem tudo o que é preciso para voltar para o primeiro plano”, salienta Pierre Chedeville. Se é para evitar o colapso europeu, a Alemanha terá de partilhar os benefícios advindos da união monetária.

Aversão ao risco ameaça mundo agora que prudência é “princípio sacrossanto”

Os bancos “vão ter de desempenhar um papel” na recuperação económica da Europa. Contudo, há um outro risco ainda a pairar sobre os mercados, além da situação entre os dois continentes: a “excessiva aversão ao risco”.

Escreve a casa de investimento que a qualidade de apetite pelo risco, evidenciada por exemplo na Revolução Industrial, está a ser “ameaçada pela transformação da noção de precaução num princípio sacrossanto que governa todas as esferas da vida ocidental”.

Esta “obsessão” por um “risco zero”, apoiada pelas actuais exigências dos reguladores, vai ser mortal para os bancos que o aceitarem e também para a economia, já que vai impedir a geração de liquidez e bloquear a inovação empresarial. Com essa regra, os bancos vão morrer, mas morrem de boa saúde, critica o analista. O BNP será um dos que conseguirá escapar a essa queda.

É por isso que, na nota de “research” para o BNP Paribas, a CM-CIC Securities escreve sobre a “enorme viragem” que está a acontecer no mundo. Uma alteração radical que não é só financeira mas também moral. E que vai levar a uma “volatilidade estrutural nos mercados nos próximos anos”. Porque a sobrevivência dos bancos está dependente da sua capacidade de se adaptarem.

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