terça-feira, 21 de novembro de 2023

A Banalidade da Propaganda – Patrick Lawrence

Os anais desta terrível arte – a de Hitler, a de Mussolini, a do Japão e a da América durante a Segunda Guerra Mundial – mostram que ela não tem de ser sofisticada. A exibição do Mein Kampf   pelo presidente israelense apenas provou isso mais uma vez.

Patrick Lawrence* | Especial para Consortium News | # Traduzido em português do Brasil

Assisti a um videoclipe domingo de Isaac Herzog que leva todos os bolos no caminho da bobagem que também consegue ser perniciosa. Nele o presidente israelense segura um exemplar do Mein Kampf , traduzido para o árabe.

O vídeo foi feito um dia depois de uma imensa manifestação em Londres em favor de um cessar-fogo em Gaza e da libertação dos palestinos da longa e violenta repressão de Israel. Aqui está parte do que Herzog tinha a dizer:

“Quero mostrar a vocês algo exclusivo. Este é o livro de Adolf Hitler, Mein Kampf . É o livro que levou ao Holocausto e o livro que levou à Segunda Guerra Mundial. Este é o livro que levou… à pior atrocidade da humanidade, contra a qual os britânicos lutaram. 

Este livro foi encontrado há poucos dias no norte de Gaza, numa sala de estar infantil que foi transformada numa base de operações militares do Hamas, sobre o corpo de um dos terroristas e assassinos do Hamas, e ele até faz anotações, marcou , e aprendi repetidamente sobre a ideologia de Hitler de matar os judeus, de queimar os judeus, de massacrar os judeus. 

Esta é a verdadeira guerra em que estamos. Portanto, todos aqueles que se manifestaram ontem – não estou dizendo que todos apoiam Hitler. Mas tudo o que estou a dizer é que ao omitir a compreensão do que é a ideologia do Hamas, eles estão basicamente a apoiar esta ideologia. ”

Você pode ver uma versão de um minuto e 22 segundos deste videoclipe aqui , ou uma versão mais longa da BBC aqui . Em ambos, vemos o chefe de Estado israelita jogar a carta do Holocausto, a carta de Hitler, a carta da vítima judia e a carta do Hamas-como-assassino-queima-massacra, tudo ao mesmo tempo.

Angola | As Vidas do Falsário e a Impunidade – Artur Queiroz

Artur Queiroz*, Luanda

As vidas de Abel Chivukuvuku! Eis as mentiras despudoradas, as falsificações da História Contemporânea der Angola. Ontem, no espaço Camões (perdoa-lhes, poeta, eles não sabem o que te fazem) foi lançada a biografia do ex futuro dirigente da UNITA. Aldraberto, o mentiroso compulsivo e Zeca Mulato, o salvador, são apenas manobras de diversão. 

Na sessão de lançamento das vidas, Marcolino Moco declarou solenemente que foi um acto de grande coragem publicar o livro. Nunca disseste uma verdade tão cristalina! É preciso ser mesmo muito corajoso para mentir tanto e tão irresponsavelmente. Eles massacram Angola impiedosamente mesmo agora, quando João Lourenço se ajoelhou ante o estado terrorista mais perigoso do mundo. Querem mais!

Marcolino Moco podia ter revelado uma vida menos conveniente da vida de Chikuvuku. Era ele o indigitado primeiro-ministro por ser cabeça de lista do MPLA, partido que ganhou as eleições, quando o então dirigente da UNITA Abel Chivukuvuku ameaçou reduzir Angola a pó e balcanizar o país, se fossem publicados os resultados eleitorais.

Eu estive no Sambizanga poucos minutos depois de Abel Chivukuvuku ser levado para o Hospital Militar, gravemente ferido. Ainda encontrei os cadáveres de Jeremias Chitunda, Salupeto Pena, guardas e motoristas. Vou contar duas versões que então recolhi. Primeira. Vários carros de alta cilindrada com dirigentes da UNITA saíram do Miramar e de São Paulo em direcção à estrada de Cacuaco. A população estava armada e vigilante. Sabia-se que os golpistas do Galo Negro iam tentar atingir os locais de acantonamento das suas forças, naquela direcção. 

A coluna entrou na zona do Sambizanga com os guardas disparando pelas janelas das viaturas para os dois lados da estrada. A população emboscada também disparava. Nenhum conseguiu passar. Chivukuvuku ficou gravemente ferido e vários jovens tentaram linchá-lo. Foi salvo pelo oficial das FAPLA Faísca que o recolheu num blindado e levou para a Hospital Militar. Foi imediatamente submetido a intervenções cirúrgicas. Os médicos conseguiram salvá-lo. Ele estava mesmo em mau estado.

Angola | Publicidade Comparativa e Falsificações -- Artur Queiroz

Artur Queiroz*, Luanda

A publicidade entra em campo quando a concorrência vai à vida. Começou com os reclames e o “matabicho” (meu pai oferecia um pano e um lenço para a senhora por cada dez sacos de mabuba). Hoje apresenta formas que têm tanto de sofisticadas como de ilegítimas. Nos EUA, o caos publicitário foi resolvido com a auto-regulação. Bem resolvido. Os métodos usados foram importados e copiados em todo o mundo onde prosperava o negócio.

As instituições da auto-regulação começaram por actuar sobre a publicidade enganosa. Ganharam com grande facilidade. Os publicitários reconheceram facilmente que enganar os consumidores tinha o seu quê de baixeza. Mas sobrou um problema que levou anos a resolver: A publicidade comparativa. Os legisladores aprovaram uma lei que proibia absolutamente todos os anúncios na base “o meu produto é o melhor de todos” ou “o meu é melhor do que teu”. Nada de comparações.

Apesar da auto-regulação eficaz e da Lei, os publicitários continuavam a arrasar a concorrência com publicidade comparativa. Até que foi arranjada uma solução eficaz. Quem recorria à publicidade comparativa tinha que provar ante o regulador. Ou no Tribunal. Em qualquer das instâncias as multas eram pesadíssimas. Acabou. Primeiro nos EUA e depois em todo o mundo onde a publicidade avançava quando já não existiam condições para a concorrência leal.

Em 1978, o partido português CDS ajudava a instalar em Portugal a UNITA, numa sede localizada no Campo Grande, Lisboa. Ao mesmo tempo os Media portugueses começaram a falsificar os acontecimentos que levaram à Independência Nacional. Alarmado com a situação, o Comandante Onambwe desafiou-me a repor verdade dos factos. Passei umas quantas noites sem dormir (de dia trabalhava) e escrevi o livro Angola a Via Agreste da Liberdade. Subtítulo: (Do 25 de Abril ao 11 de Novembro de 1975). Na época existiam jornalistas ainda que alguns fossem vendidos. Mas não queriam que se soubesse. E o livro teve o condão de acabar com as aldrabices.

Hoje estamos muito pior do que em 1978. Os Media, os portais, as redes sociais divulgam aldrabices sem o menor pudor. Porque ninguém protege a História Contemporânea de Angola. E muito menos os seus principais actores. Não falo de marginais ou farsantes. Mas de pessoas com altas responsabilidades na vida social, económica e política de Angola que mentem, falsificam e manipulam. Vou dar o exemplo mais chocante e que me chegou às mãos hoje mesmo. 

Angola | O Palco do Terror Espectacular – Artur Queiroz

Artur Queiroz*, Luanda

O realizador Billy Wilder lançou em 1974, ano da Liberdade, o filme A Primeira Página (The Front Page) que questiona de uma forma magistral o Jornalismo sem princípios nem valores. O cinema também se debruçou sobre um magnata da imprensa no filme de Orson Welles, Citizen Kane (O Mundo a seus Pés), estreado em 1941 e que ganhou uma segunda vida em 1956. Também nesta obra são tratados valores que marcam o ponto de conflito entre a Liberdade de Imprensa e o Direito à Inviolabilidade Pessoal. Os jovens profissionais deviam ver muitas vezes estas obras cinematográficas.

Nos anos 50 a Rádio já era o meio mais potente em Angola. Mas não existia televisão. Sem visual, o nosso áudio avançou prioritariamente para a vertente do espectáciulo. Os chefes dos serviços de produção sabiam que a voz humana era essencial para conquistar espectadores. Pela fé de quem sou vos digo que Angola tinha os melhores locutores e radialistas do mundo que fala português. Vozes femininas espectaculares. Vozes masculinas que colavam o ponteiro no máximo e de lá não saíam. Potência máxima e permanente.

A voz humana é o mais belo espectáculo do mundo. A Rádio Angolana tinha as melhores vozes, desde que começaram as emissões regulares nos anos 40. Vozes femininas espectaculares, únicas e inesquecíveis: Natália Bispo, Maria Cleofé, Sara Chaves, Minah Jardim,  Cremilde Figueiredo, Ruth Soares, Alice Cruz, Maria Manuela, Maria Dinah, Gioconda Ferreira e Maria Lucília (Rádio Clube do Uíge). A última é a primeira: Concha de Mascarenhas.

Vozes masculinas dos supremos espectáculos radiofónicos angolanos: Humberto Mergulhão, Santos e Sousa, Sansão Coelho, Alexandre Caratão, Artur Peres, Francisco Simons, Brazão Gil, Rui de Carvalho, Mesquita Lemos, Sebastião Coelho, Carlos Brandão Lucas e Manuel Berenguel. O último é o primeiro: Norberto de Castro. Alice Cruz, Ruth Soares, Artur Peres e Luís Montês foram vozes e rostos de excelentes espectáculos publicitários na Rádio.

Antes que a minha memória se apague, deixo aqui os nomes dos pioneiros em Línguas Nacionais, antes da Independência. Tomem nota: Maria da Glória (kikongo), Lurdes Van-Dúnem      e Jacinto Timóteo (kimbundu), Berta Maria e José da Silva (umbundu), Alexandrina Maria e    Januário Vicente (ibinda),Emília Andriaça (nyaneka e cuanhama), Reis Esteves e Maria Cardoso (cokwe, luvale, luchaze e lunda-dembo).    

O audiovisual revolucionou o mundo mediático. Quem? Vejam e oiçam. O quê? Oiçam e vejam. Onde? O olho das câmaras. Quando? Em tempo real. Os minutos e segundos tornaram-se obsoletos. Como aconteceu e porque aconteceu eles escondem ou manipulam.

Eu Vi Gaza em Angola -- Artur Queiroz

Artur Queiroz*, Luanda

As milícias de colonos israelitas foram armadas pelo ministro da Segurança Interna e matam palestinos na Cisjordânia. Destroem ou incendeiam as suas casas. Expulsam-nos das suas terras. Angola 1961. O mesmo quadro horripilante. O governador Hélio Felgas armou os colonos e começaram a matança dos negros numa punição colectiva às acções dos guerreiros da UPA, nas fazendas e pequenas vilas do interior. Eu vi Gaza no Uíge! Rever esses massacres causa-me profundos vómitos. O mesmo racismo, o mesmo ódio em espuma.

A aviação israelita já destruiu meia cidade de Gaza. Reduziu o norte do território a escombros porque Israel tem o direito de se defender. Nos últimos dias, o número de mortos civis saltou paras 15.000 (cadáveres contados) dos quais 5.000 crianças e 8.000 mulheres. Estes números não incluem os corpos soterrados nos escombros. Angola 1961. A aviação portuguesa destruiu as aldeias do Norte, à bomba. Civis que fugiam dos massacres dos colonos eram bombardeados e seus corpos destroçados. Eu vi Gaza no Uíge. Tenho vómitos constantes.

As autoridades coloniais diziam que foram apanhadas de surpresa com o 15 de Março de 1961. Mas tiveram em 1958 a revolta do Bungo, liderada por activistas da UPA. Tiveram a revolta de Catete. A revolta da Baixa de Cassanje. A Revolução do 4 de Fevereiro. Eles sabiam de tudo. Por isso no ano de 1958 começaram a construir a base aérea do Negage. Criaram no Toto um aeródromo com aviões de reconhecimento (Dornier) e aviões de guerra T-6. 

Em 1960 o Toto recebeu uma companhia de “caçadores especiais”. Os soldados vestiam camuflados. Aquela unidade protegia as grandes fazendas do Vale do Loge. Ainda decorriam as primeiras operações na Grande Insurreição de 15 de Março de 1961, sob o comando do meu amigo Margoso, já estava instalado em Luanda (Belas) o Regimento de Caçadores Paraquedistas. Eles sabiam de tudo. O governo nazi de Telavive sabia do 7 de Outubro!

Os aviões bombardeiros PV2 levantavam voo da base do Negage, inaugurada poucos meses antes, e despejavam bombas sobre as aldeias e as multidões que fugiam da guerra em direcção ao Congo (Kinshasa), independente um ano antes. Os bombardeamentos só paravam quando acabavam as bombas. Mas rapidamente os EUA forneciam mais aos colonialistas e fascistas de Lisboa, hoje de novo no poder. O Afilhado Célito vinga seus ancestrais! Fazem-me vomitar. O governo nazi de Telavive faz a mesma coisa. Os mesmos argumentos. As mesmas aldrabices para justificar o genocídio na Palestina. Tenho vómitos permanentes.

Passados os primeiros 40 dias de massacres no Norte de Angola a força aérea portuguesa começou a bombardear com aviões de guerra a jacto. Mais rápidos, mais eficazes, mais mortíferos. Os helicópteros entraram em acção com os seus canhões e metralhadoras. Transportavam pequenas unidades de paraquedistas, tropa da OTAN (ou NATO) .

"Quem deu a Israel o direito de negar todos os direitos?"

Eduardo Galeano [*]

Para se justificar, o terrorismo de Estado fabrica terroristas: semeia ódio e colhe álibis. Tudo indica que essa carnificina de Gaza, que, segundo seus autores, pretende acabar com os terroristas, logrará multiplicá-los. Desde 1948, os palestinos vivem condenados à humilhação perpétua. Não podem nem respirar sem permissão. Perderam sua pátria, suas terras, sua água, sua liberdade, seu tudo. Nem sequer têm direito de eleger seus governantes. Quando votam em quem não se deve votar, são castigados. Gaza está sendo castigada. Converteu-se em uma ratoeira sem saída desde que o Hamas ganhou limpamente as eleições de 2006. Algo parecido ocorreu em 1932, quando o Partido Comunista triunfou nas eleições em El Salvador. Banhados em sangue, os salvadorenhos expiaram sua má conduta e, desde então, viveram submetidos a ditaduras militares. A democracia é um luxo que nem todos merecem.

São filhos da impotência os foguetes caseiros que os militantes do Hamas, encurralados em Gaza, disparam com nenhuma pontaria sobre as terras que haviam sido palestinas e que a ocupação israelense usurpou. E, ao desespero, ao ponto mesmo da loucura suicida, é a mãe de todas as bravatas a que nega o direito à existência de Israel, gritos sem nenhuma eficácia, enquanto as muito eficazes guerras de extermínio estão negando, há anos, o direito de existência da Palestina. Já resta pouca Palestina. Israel a está apagando do mapa.

Os colonos invadem e, atrás deles, os soldados vão corrigindo a fronteira. As balas sacralizam o despojo, em legítima defesa. Não há guerra agressiva que não diga ser uma guerra defensiva. Hitler invadiu a Polônia para evitar que a Polônia invadisse a Alemanha. Bush invadiu o Iraque para evitar que o Iraque invadisse o mundo. Em cada uma de suas guerras defensivas, Israel traga outro pedaço da Palestina e os almoços seguem. O devoramento justifica-se pelos títulos de propriedade que a Bíblia outorgou, pelos dois mil anos de perseguição que o povo judeu sofreu e pelo pânico que geram os palestinos que observam.

Israel é um país que jamais cumpre as recomendações e as resoluções das Nações Unidas, que nunca acata as sentenças dos tribunais internacionais, que zomba das leis internacionais. É também o único país que legalizou a tortura de prisioneiros. Quem lhes deu o direito de negar todos os direitos? De onde vem a impunidade com a qual Israel está executando a matança de Gaza? O governo espanhol não pode bombardear impunemente o País Basco para acabar com o ETA nem o governo britânico pode arrasar a Irlanda para liquidar com o IRA. Por acaso a tragédia do holocausto implica uma licença de eterna impunidade? Ou essa luz verde provém da potência imperialista que mais manda e que tem em Israel o mais incondicional de seus vassalos?

A OUTRA VERDADE

Giacomo Cardelli, Itália | Cartoon Movement

A elite privilegiada utiliza os meios de comunicação para proteger os seus interesses à custa das massas, que são levadas a acreditar que aqueles que estão no poder estão a fazer o que é melhor para o interesse do povo. Clique aqui para ver todos os nossos cartoons sobre liberdade de imprensa .

Que vergonha para a embaixadora dos EUA na ONU: ela esqueceu-se das suas raízes

A embaixadora dos EUA nas Nações Unidas recusou-se a pedir um cessar-fogo em Gaza para salvar vidas, depois de mais de 12 mil civis terem morrido, dos quais metade são crianças.

Steven Sahiounie* | Strategic Culture Foundation | opinião

Linda Thomas-Greenfield , a Embaixadora dos EUA nas Nações Unidas, recusou-se a pedir um cessar-fogo em Gaza para salvar vidas, depois de mais de 12.000 civis terem morrido, sendo metade deles crianças. As declarações políticas de Thomas-Greenfield sugerem que os israelitas merecem os direitos humanos, enquanto os palestinianos não.

Em 2015, Thomas-Greenfield recebeu o Prémio de Serviço Humanitário Distinto do Bispo John T. Walker , e ainda assim a sua presença actual na ONU não demonstrou qualquer urgência humanitária para Gaza, que os seus próprios colegas na ONU estão a chamar de desastre humanitário, e genocídio. .

Ela esquece que a sua própria ascendência reflecte a dos palestinianos, não a dos israelitas. Ela representa os interesses dos senhores, ao mesmo tempo que nega os direitos dos povos oprimidos.

Thomas-Greenfield é bisneta de Mary Françoise, que nasceu em 1865 na Louisiana. Maria nasceu depois do fim da guerra civil, mas não nasceu em liberdade; a sua mãe tinha sido escrava e, embora a guerra terminasse, passariam décadas até que qualquer afro-americano recebesse os seus direitos.

Mary Françoise poderia muito bem ter nascido na Cisjordânia ocupada ou em Gaza. A sua vida e a vida dos palestinianos de hoje têm muito em comum. Ela morava em uma terra onde funcionava o governo colonial em Washington, DC. tinha dois códigos distintos de justiça e direitos humanos. Os colonos europeus brancos chegaram à Virgínia em 1607 e em breve trouxeram milhares de africanos escravizados. Os nativos americanos foram privados de todos os direitos humanos e muitos foram mantidos como escravos.

Portugal | DEMOCRACIA SUFOCADA

Cândida Almeida* | Jornal de Notícias | opinião (12.11.2023)

A justiça portuguesa é, afinal, a mais célere do Planeta! Com estrondosa e censurável violação do segredo de justiça, esquecida que foi a discrição até então, o país foi acordado na passada terça-feira com notícias sobre a realização de várias diligências, de detenção, buscas e apreensões domiciliárias e não domiciliárias, no âmbito do processo relativo à exploração do lítio e hidrogénio verde. De imediato, os média rodearam-se de alguns espertos nestas matérias, e não só, que rapidamente se organizaram, nomeadamente sobre a égide dos vários canais de televisão, em mesas redondas, quadradas e de outras formas possíveis. Passaram, desde logo, à análise e crítica dos poucos factos efectivamente conhecidos, e, com mais ou menos arranjos e floreados, parte deles, com conivência de alguns dos entrevistadores, determinaram a condenação dos suspeitos, arguidos e nem uma coisa nem outra. As vozes sensatas presentes nesses debates foram desconsideradas e abafadas. Era preciso condenar, sem recurso, pelos crimes de que aqueles eram indiciados, corrupção activa e passiva, prevaricação e tráfico de influências. Registe-se que os detidos nem sequer tinham sido interrogados pelo juiz de instrução. A justiça da praça pública serve interesses ocultos e entusiasma os pretensiosos e ignorantes. O processo encontra-se em segredo de justiça (!), porém os justiceiros já decidiram a causa, no conforto de uma cadeira estrategicamente colocada num espaço de TV. Onde e como fica o segredo de justiça? Como se preserva e garante o princípio da presunção de inocência? Expostos os rostos, as respectivas funções, a localização das residências dos envolvidos, a imputação de factos que não estão confirmados, ainda que indiciados, rasga as regras de defesa e até do MP sobre a transparência e isenção na condução das investigações. O processo penal está sujeito a formalismos e a regras consagradas processual e constitucionalmente que se não compaginam com julgamentos nos média. Com maior gravidade ainda foi a revelação de que corria no STJ inquérito contra o primeiro-ministro António Costa por actos relativos à investigação sobre o lítio. Rompendo com todas as normas deontológicas, alguém informou a imprensa da existência do inquérito, não obstante sem suspeitos ou arguidos constituídos. Por curiosidade, na passada quarta-feira, o Expresso online referia que são praticamente inexistentes indícios do cometimento de crime por António Costa, que até pode não ser constituído arguido. Entretanto, são constantes as referências a escutas contidas na investigação. Esta transformou-se, parece, num livro aberto. Pela primeira vez na história da nossa liberdade assiste-se de forma grave e perigosa a uma negativa conexão entre a Justiça e a Política. Receio que a nossa democracia não esteja de boa saúde. E falta esclarecer o porquê e para quê a Senhora PGR foi a Belém!...

* Ex-diretora do DCIAP

* A autora escreve segundo a antiga ortografia

Portugal | Tudo rareia e se esvai. Até a Justiça, a Democracia, a Constituição Objetiva

PORTUGAL

Na opinião de uma quantidade significativa de portugueses a crise política em curso que levou à queda do governo da maioria do Partido Socialista vem de uma cabala, de um golpe de estado que se mantém à tona e em que até já visitou e visita outras demissões além da do primeiro-ministro António Costa. Isso não foi conseguido, e bem. Foi tentada a demissão do governador do Banco de Portugal e também do Presidente da Assembleia da República. Desconhecemos se a direita e a extrema-direita se ficarão por aqui. Logo veremos.

Sobre a PGR/Ministério Público sacrossantos nem merece pronunciarmo-nos (Ler no PG “Buscas sem utilidade”, “abuso de poder” e “meios de recolha de prova humilhantes”). Os portugueses lá sabem o que dizem sobre a Justiça e bastas vezes não a compreendem. Como não compreendem Marcelo Rebelo de Sousa - PR que de “o senhor dos afetos” passou a significar para muitos o “sapatadas viscerais”. Coisas dos do passado que atacam os do passado e mais uns quantos.

O que importa sempre é defender a democracia de facto e a Justiça – não esta em que mal e porcamente sobrevivemos. Vamos a eleições. Veremos a 10 de Março os resultados. Esse dia ditará o futuro dos portugueses, para melhor ou para pior. Também se irá perceber da veracidade do já muito popularmente propalado e suspeito golpe de estado, ou não – afinal poderá somente não passar de mais uma teoria da conspiração.

Era muito bom e desejável que os portugueses não tivessem de tanto lutar pela sobrevivência num país injusto, pseudodemocrático e de políticas, governos e Justiça superiormente intransparentes e pouco limpas. País assim foi o sonho que vislumbrámos há quase 50 anos após o 25 de Abril de 1974. Sonho que na realidade tem sido irrealizável. O fascismo, as máfias políticas e económico-financeiras, entre outras, tem sido sobreposto até a estes dias. É a dura realidade deste país, desta sociedade lusa que após ter conseguido quase tudo está quase a perder tudo. A miséria apegou-se a quase três milhões de portugueses, a pobreza cresce, os que eram “remediados” já não o são e de dia para dia ainda mais crescem uns quantos mafiosos e podres de ricaços que sustentam as tramas que até nos privam da dignidade imprescindível à humanidade e a todos os portugueses.

Tudo rareia e se esvai. Até a Justiça, a Democracia, o Respeito Pelos Direitos Humanos e pela Constituição Objetiva de 1976 (sem tantos alçapões). Herança longínqua e derrotada constantemente após Abril de 1974. Resultado dos lobies das máfias políticas, económicas e financeiras, entre outras.

Bom dia. Vem aí a seguir o Expresso Curto.

MM | Redação PG

“Buscas sem utilidade”, “abuso de poder” e “meios de recolha de prova humilhantes”

Justiça - Procuradora-Geral Adjunta critica Operação Influencer

Portugal

“Acontece haver quem entenda a investigação criminal como uma extensão de poder sobre outros poderes, de natureza política. Daí que sejamos surpreendidos, de vez em quando, com buscas cuja utilidade e necessidade é nenhuma”, escreveu no Público

As críticas à forma como o Ministério Público conduziu o processo que levou à queda do Governo vêm de uma figura de topo da instituição. A Procuradora-Geral Maria José Fernandes fala em buscas sem utilidade e em abuso de poder de quem levou a cabo a investigação criminal.

“Ministério Público: como chegámos aqui?”. A pergunta serve de título e de ponta de partida para uma crítica à atuação dos procuradores na Operação Influencer. Num longo artigo de opinião no Público, a Procuradora-Geral Adjunta defende a tese de que este é um caso que mostra como a autonomia dos procuradores deixou os magistrados sem controlo na estrutura hierárquica, levando a abusos.

“Acontece haver quem entenda a investigação criminal como uma extensão de poder sobre outros poderes, de natureza política. Daí que sejamos surpreendidos, de vez em quando, com buscas cuja utilidade e necessidade é nenhuma”, escreveu.

Não são referidos nomes, mas também não são necessários para se perceber a quem Maria José Fernandes, que também é inspetora, sendo responsável por avaliar procuradores, se refere.

Denuncia um clima de favoritismo, até aqui, do juiz Carlos Alexandre.

“A sorte é que até há pouco tempo o DCIAP dispunha de um tribunal de instrução privativo, com um juiz de instrução igualmente privativo por ser o único durante largos anos. O perfil decisório desse juiz de instrução criminal era conhecido, não há constância de contrariedade ao Ministério Público. Maus hábitos.”, declarou.

Mas estes magistrados, para Maria José Fernandes, conseguiram também apoios na comunicação social.

"Granjearam e até quase camaradagem (em congressos) de certo jornalismo que segue as peripécias da corrupção atribuída a políticos e que tem a militância de deixar Portugal bem colocado nos rankings internacionais da perceção desse flagelo.", referiu.

É esta a mistura que leva os procuradores que não “hesitem em meios de recolha de prova intrusivos, humilhantes, necessários ou não” a serem o “top da competência”. “Outros magistrados de elevado escalão que seguem esta linha argumentativa e a verbalizando no discurso público também têm o elogio garantido. (...) quem se opõe à estridência processual é rotulado de protetor dos corruptos.”, disse.

E acrescentou: "Poucos têm pulso para impor o que deve ser a sensatez, a escorreita interpretação jurídica dos factos, o respeito pelos direitos fundamentais dos cidadãos suspeitos, a investigação célere."

Maria José Fernandes vai buscar casos julgados para concluir que é necessária autocrítica por parte do Ministério Público. E, do pouco que sobrou do despacho de indiciação, o crime de recebimento indevido de vantagem, nos almoços pagos a João Galamba, Duarte Cordeiro e Nuno Lacasta, a Procuradora pergunta: "A oferta de um almoço num restaurante caro será uma vantagem? em que se traduz essa vantagem? no prazer da degustação? E se o agente não apreciou a refeição?"

Expresso

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A “leviandade” da PGR a quem só resta “ir-se embora”, os procuradores em “roda-livre” e um Presidente que se precipitou

Portugal | SARA (Tavares)

Henrique Monteiro | HenriCartoon

FALECEU E ATINGIU A ETERNIDADE. Sara Alexandra Lima Tavares foi uma cantora e compositora portuguesa (lisboeta) de ascendência cabo-verdiana. A maior parte da sua música é definida como world music. 

UMA BOA MENINA QUE NO SEU PERCURSO PELA VIDA desembocou numa excepcional e exemplar pessoa adulta amiga e sempre solidária.

Muito obrigado Sara. Saudades, sempre!

VER/OUVIR

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