Deutsche Welle
Avanço da Frente
Nacional não é caso isolado dentro da UE, que vê ideologia extremista ser cada
vez mais socialmente aceitável. Descontentamento e desinformação do eleitor
podem reforçar a direita no Parlamento Europeu.
Marine Le Pen está
exultante: seu partido, a Frente Nacional (FN), vem conquistando uma vitória
após a outra. Na eleição do domingo (13/10), no cantão de Brignoles, no sul da
França, o candidato da extrema direita deixou bem para trás seus adversários socialista
e conservador.
Numa pesquisa de
intenção de voto para o próximo pleito europeu, em 2014, a FN chegou a ocupar o
primeiro lugar em nível nacional. E Marine Le Pen alcançou níveis recordes de
simpatia popular: numa sondagem recente, 42% dos franceses revelaram ter uma
boa opinião sobre a política de 45 anos. O atual presidente, o socialista
François Hollande, ficou nos 35%. Em outras estatísticas seu desempenho é ainda
mais sofrível.
Assimilação da
retórica extremista
O cenário leva à
questão de como é possível que, num país-chave da União Europeia, uma facção
extrema ameace superar os partidos populares clássicos. E, note-se, Marine Le
Pen rejeita a definição como "extrema direita" – e ao que tudo
indica, com sucesso.
Quando seu pai,
Jean-Marie Le Pen, era o líder do partido, muitos torciam o nariz para a
populista Frente Nacional. O veterano da Guerra da Argélia definia o
Holocausto, por exemplo, como mero "detalhe" da história. Sua filha,
em contrapartida, retirou a FN do nicho da má fama aos olhos da opinião pública.
Na Europa muitos
observam o fenômeno com apreensão. A eurodeputada social-democrata alemã
Evelyne Gebhardt, que passou boa parte da vida na França, explica à DW que
Marine Le Pen simplesmente "modificou fortemente a linguagem de seu
partido, de modo que não se registra mais essa violência verbal – embora as
ideias tenham permanecido as mesmas".
Sylvie Goulard,
parlamentar europeia liberal de Marselha, diz que, na região, a força da FN é
tradicionalmente grande. E fala em termos explícitos: "Marine Le Pen joga
com os medos das pessoas, e nesse ponto talvez ela seja ainda mais perigosa do
que o pai."
Inédito é o fato de
políticos de outros partidos não demonizarem mais a Frente Nacional, mas sim
assimilarem a retórica dos direitistas. O ministro do Interior francês, o
socialista Manuel Valls, acusou recentemente os nômades roma da Bulgária e da
Romênia de falta de vontade de se integrar e de "uma forma de vida
extremamente diferente".
Hollande não
rebateu, sabedor de que 77% dos franceses haviam se manifestado de acordo com a
declaração de Valls. Mas também o antecessor de Hollande, o conservador Nicolas
Sarkozy, incitava contra os imigrantes. Nesse ponto, os dois grandes partidos
populares pouco diferem.
Porém não é só a
rejeição aos estrangeiros a impulsionar a FN: a crise econômica europeia
favorece o jogo da direita. Segundo Evelyne Gebhardt, numerosos cidadãos
"não só na França, como em toda a União Europeia, têm a impressão de que a
política não está dando conta dos problemas". E Goulard acrescenta:
"Muitos franceses vão mal. Esse fato é subestimado em muitas nações
vizinha, inclusive na Alemanha".
Precisamente as
altas taxas de desemprego põem o povo à mercê de gente com soluções simplistas.
Goulard não tem nada contra uma política europeia de austeridade – que o
presidente Hollande nunca pôs realmente em prática. Ainda assim, os alemães –
parcimoniosos e economicamente fortes – precisariam saber que "a
estabilidade monetária é importante, porém a estabilidade dos países em torno
da Alemanha também é importante".
Legislativo europeu
subestimado
Em toda a Europa,
os partidos estabelecidos temem que a população atribua a crise à União
Europeia, elegendo os populistas de direita. Seja em Grécia, Itália, Hungria ou
Holanda, em países de economia potente ou fraca, por quase todo o continente
partidos com essa orientação ganham força. A grande exceção: a Alemanha.
Evelyne Gebhardt
atribui o isso ao fato de que "o tabu contra a ideologia de extrema
direita ainda funciona na Alemanha", enquanto na França os governantes
tornaram essa tendência socialmente aceitável. Ela adverte do perigo: "Se
uma coisa assim acontecer na Alemanha, subitamente teríamos o mesmo
problema".
O próximo teste
para o clima político em toda a UE será a eleição para o Parlamento Europeu, em
maio de 2014. Então ficará constatado se a raiva e a frustração se traduzirão,
de fato, em votos para a direita.
Um fator que
beneficia os extremistas é muitos eleitores acreditarem que as eleições
parlamentares europeias são menos importantes do que as nacionais, e que, portanto,
eles podem se permitir dar aí seu voto a um partido de protesto.
A liberal francesa
Sylvie Goulard critica os eleitores por não se darem conta de quanto é decidido
no nível europeu. Só lhe resta a esperança de que, até as eleições, "as
empresas, sindicatos e outras forças da sociedade civil digam em alto e bom som
que a votação para o Parlamento Europeu é um pleito sério".
Autoria Christoph
Hasselbach (av) – Edição Rafael Plaisant
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