Além dos
adolescentes da periferia, também jovens politizados de forma mais tradicional
programam ações. Mas há diferenças nítidas entre elas
Gabriela Leite –
Outras Palavras, em Blog da Redação
Como aconteceu com
os protestos de junho de 2013, a repressão aos encontros de adolescentes em
shoppings de São Paulo pode sair pela culatra. Dias depois da decisão
judicial que proibiu um rolezinho no aristocrático Itaim, e da violência
contra os garotos em Itaquera, novas
convocatórias multiplicam-se nas redes sociais. A principal novidade é o
surgimento de um rolê político, que assume explicitamente o protesto contra a
discriminação social. Até o momento, há dois convocados, ambos para o próximo
sábado (19/1): em São Paulo e Rio. Mas as
ações inspiradas pelo funk de ostentação continuam crescendo. São mais de
quinze, espalhadas por diversos shoppings de São Paulo, além do Parque
Ibirapuera e SESC Itaquera. Uma rápida análise, a partir das atividades
agendadas no Facebook, pode revelar muito sobre a diferença entre estas as modalidades
— e entre a juventude que as organiza.
Uma primeira
distinção, muito clara, está em como cada grupo de jovens vê a violência. Nos
rolês politizados, a crítica dirige-se, evidentemente, contra a polícia e o apartheid
social. O jargão é sociológico. “Criminalizado como um dia foram a capoeira, o
futebol, o samba, a MPB e o RAP, o funk moderno é tão contraditório em seu
conteúdo quanto o é resistência em sua forma e estética”, diz a convocatória do
Rolé
contra o Racismo JK Iguatemi — marcado para o mesmo shopping que proibiu a
entrada de pobres. Já os garotos discriminados parecem mais preocupados em não
serem vistos como violentos ou praticantes de furtos. Num evento que convocava
para ir no próximo sábado ao Shopping Tatuapé [e que foi deletado nesta
terça-feira], um dos organizadores escreve, com as gírias comum a todos, que se
alguém for para arrumar confusão, é melhor que não vá (ou “se for pra arasta
nessa porra nem cola”). Muitos comentam apoiando, e reclamam dos chamados
“ratos de tênis” — jovens que assaltam para tomar tênis de marca para si. A maioria
afirma que só vai para “curtir” e “beijar na boca”.
Sem comentários:
Enviar um comentário