Internet e novas
tecnologias começam a abalar formas tradicionais de empréstimo e poupança.
Haverá espaço para sistema financeiro alternativo?
Kavin Maney – Outras Palavras - Tradução: Antonio Martins
A atividade
bancária, na forma em que a conhecemos, está começando a parecer mais
ultrapassada que uma impressora matricial.
Na China, os
consumidores estão depositando suas poupanças em empresas de Internet, ao invés
de bancos. Nas Filipinas, uma classe média emergente paga suas despesas
utilizando-se de uma nova cepa de financiadores, baseados em redes sociais. Nos
Estados Unidos, um terço dos integrantes da geração nascida a partir de 1980
dizem que esperam usar serviços financeiros baseados em tecnologia, ao invés de
bancos. Ao mesmo tempo, 71% afirmam que “prefeririam ir ao dentista, ao que os
bancos dizem”.
Greg McBride,
analista sênior no Bankrate.com, teria
dito, recentemente: “Podem me chamar de ultrapassado, mas para construir
riquezas, poupar e investir, você precisará ser parte do sistema financeiro
tradicional”. À luz dos fatos mais recentes, esta sentença soa como a de um pai
dizendo aos filhos para evitar sexo antes do casamento.
Os bancos são, em
essência, dados – montanhas de dados financeiros. Eles trabalharam
intensamente, nas últimas décadas, para esvaziar suas próprias agências, por
meio da tecnologia. Por isso, para muitos de seus clientes, eles não são mais
uma entidade física. O dinheiro converteu-se em códigos trafegando em redes. A
principal vantagem comparativa dos bancos são, hoje, as regulações que mantêm eventuais
concorrentes afastados.
Mas mesmo estas
regras não poderão proteger os banqueiros por muito tempo. O velho conceito de
atividade bancária está sendo atacado por todos os lados, por instituições de
novo tipo, que são mais hábeis no manejo de dados e os utilizam de forma mais
imaginativa. Há anos, os bancos têm sido vistos, em teoria, como organizações
prestes a ser superadas. Mas agora, parece claro como isso pode acontecer.
A superação pode
ser disparada pela evolução tecnológica. Fenômenos assim ocorrem, às vezes, na
forma de um colapso catastrófico provocado pela internet – como se deu com os
CDs, após o advento da música digital. Mas os bancos podem viver uma
experiência diferente – semelhante à lenta corrosão de uma casa infestada por
cupins, que em certo ponto atingem, simultaneamente, diversas vigas de
sustentação.
Um
destes cupins pode ser o Lenddo. É uma empresa norte-americana que opera na Ásia,
utilizando dados, para a atividade bancária, de uma forma que os bancos nunca
considerariam. O insight da Lenddo é: os dados sobre quem você conhece, nas
redes sociais, e sobre o que estas pessoas dizem de você, são mais precisos que
a pontuação estabelecida pelos bancos para calcular se você pagará um
empréstimo ou não.
“Por séculos, os
empréstimos foram baseados em reputação”, diz Jeff Steward, o executivo-chefe
da Lenddo. “As redes sociais permitem retornar a este princípio, agora em escala
global”. Por enquanto, a Lenddo opera apenas nas Filipinas, México e Colômbia. Nestes países, surgiu uma classe média emergente que, no entanto, não tem
acesso a empréstimos bancários. A Lenddo está oferecendo tais financiamentos
com base em reputação social, desviando dos bancos uma geração de clientes.
A Lenddo não
empresta nos EUA devido às regulações que favorecem o sistema bancário.
“Atuamos nas Filipinas e fazemos empréstimos gastando menos do que custaria
obter uma cotação de crédito no estado de Nova York”, diz Steward. Mas num
mundo hiperconectado, as finanças são globais. Se a Lenddo e inciativas
similares forem bem-sucedidas no mundo em desenvolvimento, isso não repercutirá
nos próprios EUA e Europa, por exemplo?
Na China, empresas
tecnológicas estão estabelecendo outro precedente. Há menos de um ano, a Alibaba, [maior empresa de comércio eletrônico do mundo],
que tem centenas de milhões de usuários, começou a captar suas poupanças,
oferecendo taxas de juros mais altas que as dos bancos chineses. Até fevereiro,
81 milhões de pessoas haviam aderido. Há pouco, o Baidu [um similar do Google,
chinês], solicitou
do governo licença para praticar atividades bancárias.
Por que uma empresa
de internet entraria na atividade bancária? A resposta são dados! Nos
bastidores, os executivos do Google e Facebook certamente estão observando
Alibaba e Baidu, e sonhando em seguir seus exemplos. Nos EUA, apesar das
regulações em favor dos bancos, estes estão sendo obrigados a enfrentar novas
iniciativas, que os fustigam nas margens. Seis anos após a crise das hipotecas subprime,
os grandes bancos ainda temem emprestar para pequenas empresas, o que cria um
enorme contingente de sem-crédito. Isso abriu
brecha para um novo tipo de emprestador, como o Dealstruck. Ele usa a internet para conectar
gente com poupança disponível a donos de pequenos negócios que precisam de
dinheiro. Estes emprestadores alternativos, baseados em tecnologia, estão
crescendo muito rapidamente.
Há também as moedas
virtuais. Ou o Bitcoin, ou outro sistema de transações digitais, irá explodir,
em poucos anos. Exercerá, sobre as bandeiras de cartão de crédito, a mesma
pressão que o Skype exerceu entre as empresas de telefonia de longa distância.
Ao criar um modo mais simples e mais barato de pagamento, as transações digitais
atrairão usuários dos cartões bancários e corroerão rendas vitais para o
sistema.
À medida em que
novas iniciativas oferecerem maneiras inovadoras de lidar com dinheiro, os
bancos não poderão ser resgatados por suas relações com o público. A maior parte
das pessoas não conhece melhor os caixas ou gerentes de banco do que conhece os
operadores de pedágio. Ao operarem online, os bancos oferecem produtos
não-diferenciados, cobram juros, impõem tarifas e fazem o favor de não deixar
que nosso dinheiro seja roubado ou perdido.
A nova geração não
despejará uma lágrima pelos bancos. Uma pesquisa de três anos, da Scratch – a mesma que comparou ir ao dentista com ouvir as
instituições financeiras – concluiu que os nascidos entre 1981 e 2000
provocarão mudanças “sísmicas” na atividade bancária.
Mesmo a consultoria
Accenture afirma que o futuro não parece luminoso para os bancos: “35% do
mercado bancário nos EUA poderia ser abocanhado por outras iniciativas até
2020”, diz um relatório da empresa. Segundo ele, 15% do faturamento dos
bancos tradicionais poderia migrar para empreendimentos baseados em tecnologia.
Os grandes bancos, com todos os seus custos operacionais, pode não suportar os
efeitos. Grandes estruturas precisam perder apenas uma ou duas vigas, antes de
tremer e entrar em colapso.
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