terça-feira, 1 de abril de 2014

Portugal: MAIS PONTAS SOLTAS DO CASO BPN



Eduardo Oliveira Silva – jornal i, opinião

Duarte Marques tem razão ao exigir que o Banco de Portugal esclareça se Constâncio se mexeu depois de interpelado por Barroso a respeito do BPN

A iniciativa que o deputado Duarte Marques protagonizou em nome do PSD para que o Banco de Portugal esclareça dados novos sobre o caso BPN faz todo o sentido e é politicamente corajosa.

A diligência surge depois de Durão Barroso ter revelado ao "Expresso" por sua iniciativa pessoal (o que não é portanto um acaso) que quando era primeiro- -ministro chamou três vezes Vítor Constâncio, então à frente do Banco de Portugal, para saber se era verdade aquilo que se dizia sobre o BPN.

É fundamental recordar que esta revelação do actual presidente da Comissão Europeia foi feita quando há gente a ser julgada no processo BPN, quando há prazos que podem prescrever e depois de ter havido uma comissão de inquérito parlamentar a um caso que já custou aos portugueses qualquer coisa como 6 mil milhões de euros, mais o que há-de vir.

Que se saiba, Vítor Constâncio, entretanto promovido também ele a um lugar privilegiadíssimo nos areópagos internacionais, não se deu sequer ao trabalho de relatar os encontros e a preocupação de Barroso à comissão de inquérito da Assembleia da República, o que é no mínimo um sinal de desleixo e no máximo uma negligência grave, como parece ser tudo o que envolve o processo BPN.

A questão suscitada agora pelo PSD é essencial e não está fora de tempo porque é imperativo conhecer os procedimentos do Banco de Portugal enquanto regulador à luz desta surpreendente revelação de Barroso. Trata-se de um escrutínio que compete obviamente à equipa de Carlos Costa, que sucedeu à de Vítor Constâncio.

Actualmente toda a gente já percebeu que o julgamento do BPN apenas vai revelar e condenar os crimes e os ilícitos de um pequeno grupo de responsáveis pela sua gestão e de um ou outro cliente ou accionista que terá eventualmente sido objecto de algum favorecimento ilegítimo.

É evidente que é importante que isso aconteça (se o caso não prescrever, repete-se), mas é certo que o património dos "apanhados" constitui uma ninharia, incapaz de colmatar pouco mais do que simbolicamente tudo o que desapareceu e vai ser pago pelos contribuintes portugueses.

Ora perante esta evidência o mínimo que se exige é que se apurem com rigor as responsabilidades dos reguladores e de todos os sistemas de controlo que fiscalizavam a actividade do BPN, incluindo os seus órgãos internos não directamente ligados à gestão, onde pontificavam personalidades ilustres.

A palavra e o esclarecimento deste episódio está agora nas mãos do Banco de Portugal e do seu actual governador, Carlos Costa, mas está ainda mais nas do próprio Vítor Constâncio, que por razões éticas não deveria deixar de comentar e esclarecer o que se passou nos encontros com Barroso e o que fez ou deixou de fazer a seguir aos mesmos. Deveria, mas é altamente improvável que o faça...

Leia mais em jornal i

1 comentário:

menvp disse...

Ficar à espera de auto-regulação privada é coisa de otários... a Regulação Estatal é algo que é necessário.
.
As «««falhas»»» do Regulador Vítor Constâncio (quando era Governador do banco de Portugal) vêem reforçar aquilo que é dito no primeiro post do blog 'Concorrência a Sério':
- os privados não querem que exista concorrência de empresas públicas... porque... é muito mais fácil "dar a volta" a um qualquer Regulador... do que... "dar a volta" a uma empresa pública a fazer concorrência no mercado.
.
.
.
.
Nota: No blog 'Concorrência a Sério', não está em causa o facto da iniciativa privada ser muito importante... leia-se, apenas se faz referência ao facto de também ser muito importante um certo tipo de intervenção estatal na economia.

Mais lidas da semana