Luís
Rosa – jornal i, editorial
O
caso BES não é o novo BPN. É bastante pior. Pela dimensão do buraco, pela
gravidade e multiplicação das situações e pelos Espírito Santo
Tudo
começa aqui: saber se as contas das sociedades luxemburguesas da família
Espírito Santo que controlavam o BES foram falsificadas. Este é o centro de
todo o caso BESgate, o que concentra as atenções do Ministério Público, do
Banco de Portugal e da Comissão do Mercado de Valores Mobiliários. Este será o
pecado original de Ricardo Salgado e da sua família.
Os
dados que hoje revelamos, através de uma investigação da jornalista Sílvia
Caneco, lançam uma nova luz sobre a situação. Em Dezembro de 2103, Ricardo
Salgado viu-se obrigado a assumir perante a família que o grupo tinha um
problema grave. Esta é a versão de “Houston, we have a problem” dos Espírito
Santo: as contas da Espírito Santo International, a holding da família que
controlava indirectamente a participação no BES, tinha um buraco de 1,3 mil
milhões de euros. Em menos de nove meses, o endividamento da ESI duplicou:
passou de uns já astronómicos 3,3 mil milhões de euros para uns inacreditáveis
6,3 mil milhões de euros. Repete-se: em menos de nove meses.
O
que aconteceu em concreto e de forma pormenorizada está a ser apurado pelas
autoridades, mas uma coisa é certa: o passivo daESI foi escondido de forma
primária durante muitos anos. Segundo o controller financeiro do GES, José
Castella, pelo menos desde 2009. Isto é, as contas da ESI terão sido
falsificadas durante quatro anos e até 2013. Só uma análise especial do Banco
de Portugal à área não financeira do GES detectaria esse endividamento que
acabava por se reflectir nas contas do BES – a principal fonte de financiamento
do grupo.
Não
é de mais repetir a origem deste pecado: desde 2008 que o GES estava com
dificuldades financeiras e pagava a sua dívida com a emissão de mais dívida.
Com o resgate da República, os Espírito Santo deixaram de poder recorrer ao
mercado e fizeram do BES o único financiador do grupo. Emprestando dinheiro sem
garantias ou com garantias pouco credíveis, ou vendendo e garantindo o
reembolso de papel comercial que começou por ser vendido aos clientes
institucionais mas na fase de desespero envolveu os pequenos clientes, entre
muitas outras situações ainda por apurar.
De
quem é a responsabilidade? Ricardo Salgado, presidente executivo do BES e líder
da família desde os anos 90, começou por sacudir a água do capote e disse à
família em Dezembro de 2013 o que viria a repetir em público este ano: foi
surpreendido e a culpa era do contabilista Machado da Cruz. Custa acreditar que
um homem de inteligência superior, que geriu o banco e a família com mão de
ferro e chegou a ser catalogado “Dono Disto Tudo”, tenha sido enganado por um
simples contabilista. O futuro dirá se a sua versão é credível, mas uma coisa é
certa: Ricardo Salgado foi um líder muito incompetente. No mínimo dos mínimos.
Ser incompetente e levar toda uma família à desgraça não é um bom
cartão-de-visita para ninguém. Ontem foi declarada a insolvência da Espírito
Financial Group e da Espírito Santo Financière. Outras se seguirão.
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