sábado, 3 de fevereiro de 2018

PORTUGAL | Onde se arquiva a vergonha?

Paulo Baldaia | Diário de Notícias | opinião

O Ministério Público (MP) descobriu que o ministro das Finanças pediu dois convites ao Benfica para ver um jogo de futebol. Por coincidência, descobriu igualmente que o filho do presidente do Benfica tinha pedido ajuda ao pai para acelerar a concretização de uma isenção de um imposto municipal, a que por lei tinha direito. O processo avançou e o filho agradeceu ao pai. Como se tratava de um imposto e os impostos têm que ver com as Finanças, alguém no MP chegou à rápida conclusão de que aqui havia marosca. A conclusão foi demasiado rápida e o mal estava feito.

Na velha lógica de que onde há fumo há fogo foi aberto um inquérito criminal e ordenada uma busca às instalações do Ministério das Finanças. Rápida correu a sentença a condenar Mário Centeno, porque se o crime parecia pequeno, a vergonha apresentava-se grande. Nas redes sociais, mas também na pena de muitos comentadores e jornalistas, Centeno estava metido num grave sarilho. Se fosse constituído arguido tinha de se demitir. Logo em Bruxelas descobriram que em Portugal se discutia a conduta pouco ética, quem sabe criminosa, do presidente do Eurogrupo. A conclusão voltava a ser demasiado rápida e o mal continuava a ser feito.

Como todo este caso era demasiado estúpido, era inevitável que tivesse o destino que acabou por ter: o "arquivamento por inexistência de crime". E como é que o MP chegou a esta conclusão? Recolhendo "a prova documental e pessoal necessária ao apuramento dos factos". O MP explicou-nos ainda que a instauração de um processo-crime foi determinada por notícias na comunicação social. São muito ciosos da sua autonomia em relação ao poder eleito, mas andam a toque de caixa no circo mediático, à boleia de suposições de alguém que escreve na comunicação social. Colocaram o Parlamento Europeu a admitir uma discussão sobre o assunto apenas porque, segundo o MP, o jogo da bola e a isenção do imposto ocorreram, "segundo tais notícias, no mesmo período temporal". Só falta saber onde se arquiva a vergonha que nos fizeram passar!

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