quarta-feira, 15 de agosto de 2018

Angola | Restos mortais de Jonas Savimbi devolvidos à UNITA ainda este ano


Presidente angolano prometeu empenhar-se pessoalmente no processo de exumação do corpo do antigo líder da UNITA Jonas Savimbi, abatido durante a guerra civil em 2002. Restos mortais estão em Lucusse, à guarda do Estado.

A garantia foi dada por João Lourenço ao presidente da União Nacional da Independência Total de Angola (UNITA), Isaías Samakuva, durante um encontro realizado esta terça-feira (14.08), no Palácio Presidencial, o segundo desde que o chefe de Estado angolano chegou ao poder, em setembro de 2017.

Isaías Samakuva não entrou em detalhes sobre a real data que será concluído o processo, mas diz ter recebido garantias do Presidente da República João Lourenço de que será ainda este ano.

“O senhor Presidente comunicou-nos alguns passos novos, que constam até de uma decisão tomada esta terça-feira (14.08) que ele fez constar no despacho interno e deu, de facto, um limite temporal dentro do qual gostaria de ver este assunto resolvido. Não vou mencionar aqui datas concretas, mas, pelo que nos disse, este ano este assunto ficaria resolvido", explicou Samakuva.

A 6 deste mês, Samakuva lamentou que o Estado angolano continue a reter os restos mortais de Jonas Savimbi, morto em 2002, facto que o líder da UNITA disse constituir "um testemunho gritante da política de exclusão entre irmãos", acrescentando que a atitude de Luanda "simboliza a necessidade imperativa da genuína reconciliação nacional" e está a impedir a realização de um "funeral condigno".

líder histórico da UNITA nasceu a 3 de agosto de 1934, no Munhango, a comuna fronteiriça entre as províncias do Bié e Moxico e viria a ser morto em combate após uma perseguição das Forças Armadas Angolanas (FAA) a 22 de fevereiro de 2002, próximo de Lucusse, na província do Moxico, onde os seus restos mortais permanecem sepultados, à guarda do Estado angolano.

Os familiares de Jonas Savimbi, morto em combate, a 22 de Fevereiro de 2002, aguardam há mais de 15 a conclusão deste processo. Rafael Massanga Savimbi, um dos filhos do malogrado, contactado pela DW, limitou-se em afirmar que o “momento não é ainda de balanço, mas de ação”.

Exumação dos restos mortais

Na segunda-feira (13.08), o Ministério do Interior angolano respondeu ao repto feito por Samakuva a 6 deste mês, lembrando que o processo foi iniciado pelo líder da UNITA a 11 de dezembro de 2014, precisamente numa carta endereçada ao então Presidente angolano, José Eduardo dos Santos. Na carta, Samakuva informava que iria iniciar um processo de exumação e inumação dos restos mortais de Savimbi, solicitando também a indicação de um interlocutor do Governo para abordar o assunto.

O então chefe de Estado, lê-se no documento, indicou o Ministério do Interior para representar o Governo e, por sua vez, a direção da UNITA avançou com o nome do na altura vice-presidente do partido, Ernesto Mulato, na qualidade de coordenador da comissão das exéquias do líder fundador.

Em maio de 2015, segundo o comunicado, o ministro do Interior reuniu-se com Ernesto Mulato, acompanhado por vários membros da comissão, entre eles um dos filhos do antigo líder, Rafael Savimbi.

"No encontro, a delegação da UNITA apresentou um caderno de encargos sobre as exéquias do Dr. Jonas Savimbi, que previa atividades até ao primeiro trimestre de 2016. [Já houve) outros encontros, quer com o presidente Samakuva, com o [atual] vice-presidente Raul Danda, com o presidente da bancada parlamentar, Adalberto Costa Júnior, entre outros, para a abordagem de questões pontuais", refere-se no comunicado.

No documento, o Ministério do Interior manifesta disponibilidade para continuar a tratar do assunto, nos termos da orientação política do executivo e dos resultados do encontro mantido com a direção da UNITA e para tal enviou segunda-feira uma carta a Samakuva.

O Ministério do Interior adiantou que a direção da maior partido da oposição angolana ainda não enviou os documentos referentes ao processo, que não aborda o assunto no mecanismo da comissão criada e que, "provavelmente, o então vice-presidente da UNITA, Ernesto Mulato, não passou o processo ao atual vice-presidente, Raul Danda".

O porta-voz e deputado da UNITA, Alcides Sakala, sem, para já, avançar mais comentários, confirmou que a comissão do partido continua a ser coordenada por Ernesto Mulato e que doravante o partido irá avançar com novas iniciativas.

Reconciliação Nacional

Para além do tema da exumação, o encontro entre o Presidente da República e Isaías Samakuva também abordou outro assuntos como a reconciliação nacional.

“Achamos que deveríamos aproveitar a oportunidade para tratar de várias questões relacionadas com o processo de reconciliação nacional”, disse Samakuva à DW África.

Uma das questões por se resolver é a integração dos ex -militares das FALA, então braço armado da UNITA. Em recente entrevista à imprensa local, Marcial Dachala membro da Comissão Política do Partido, referiu que cerca de 78 mil antigos combatentes desmobilizados ainda não foram reintegrados até ao momento.

O jornalista Ilídio Manuel diz que a posição tomada pelo Presidente João Lourenço abre um caminho para o processo de reconciliação nacional em curso no país e que João Lourenço fez aquilo que José Eduardo dos Santos vinha a adiar.

"Desde há muito que a UNITA foi reivindicando o corpo do seu líder não sei quais são os receios que tiveram em entregar o corpo tendo em conta que na tradição africana o corpo só acaba com o enterro da pessoa", afirmou o jornalista.

 Agência Lusa | em Deutsche Welle

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