Rui Sá* | Jornal de Notícias |
opinião
Decidiram o JN, a TSF e a TVI
apresentar diariamente os resultados de sondagens baseadas no conceito de
"tracking poll".
Esta expressão não tem uma
tradução direta para português mas, no fundo, estamos a falar de uma sondagem
que é feita diariamente, com amostras muito pequenas (150 pessoas!), cujos
resultados se vão juntando aos anteriores, ao mesmo tempo que são retirados da
amostra os resultados mais antigos (o que significa que a amostra total nunca é
superior a 600 entrevistas).
Estas sondagens, feitas ao longo
do período eleitoral, visam, essencialmente, aferir a evolução de tendências e,
principalmente, medir o efeito que factos relevantes ocorridos durante a
campanha eleitoral podem ter na tendência de voto dos eleitores (como, por
exemplo, a decisão do Ministério Público sobre os roubos de Tancos).
Apesar destes objetivos, que até
podem parecer positivos, e da "cientificidade" com que esta
metodologia é apresentada, confesso que olho para os seus resultados com muito
ceticismo. Mantendo a posição de que, mais do que estudar comportamentos do
eleitorado, as sondagens, e principalmente a forma como os respetivos
resultados são "interpretados" e divulgados, visam influenciar os
eleitores.
Sendo que esta metodologia dá
títulos diários que mais parecem de quem acompanha as provas de ciclismo...
Vejamos os títulos de 1ª página aqui no JN: "Rio encurta distância para
Costa" (22/9); "PS perde dois pontos de um dia para o outro"
(23); "PS, Bloco e CDU sobem, PS continua a descer" (24); "Rui
Rio recupera sete pontos em quatro dias" (25); "PSD quebra e a
distância para o PS volta a aumentar" (26); "Depois da queda do PSD,
o novo fôlego dos socialistas" (27); "Pequenos partidos recuperam
terreno" (28); "PS fragilizado com PSD à espreita" (29).
Ou seja, e como se constata, há
evoluções brutais de dia para dia (o que não deixa de ser curioso para quem
afirma que as campanhas eleitorais pouco decidem...). Mas, apesar da
diversidade dos títulos, parece evidente uma forte aposta numa tentativa de
forçar a bipolarização (Helena Garrido, na Antena 1, disse que estas eleições "estão
muito renhidas")!.. Apesar de, hoje, todos sabermos que ela não existe (o
PSD não tem quaisquer hipóteses de ganhar as eleições e até Rio já fala em
"resultado honroso")...
O objetivo desta aposta na
bipolarização é claro e o que se passou nas eleições da Madeira demonstra-o:
defender o bloco central de interesses e esvaziar os partidos ditos pequenos.
Empobrecendo, artificialmente, a democracia. Espero que os portugueses tenham
maturidade suficiente para não irem na cantiga da inexistente bipolarização. E
que tenham consciência, como escreve Rafael Barbosa aqui no JN, "que todos
os votos contam"!
*Engenheiro
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