Vítor
Santos* | Jornal de Notícias | opinião
As
consequências da covid-19, no país e no Mundo, esmagam a atualidade, estando,
legitimamente, no topo das preocupações de todos, porque ninguém escapa às
consequências de um abalo desta magnitude. Mas não nos podemos deixar
hipnotizar, esquecendo o resto, porque existe o risco de situações graves
passarem por entre os pingos da pandemia.
A
notícia de uma série de irregularidades no processo de aquisição de golas
antifumo e sobre a ineficácia deste material, que foi distribuído pela Proteção
Civil junto das populações de 1600 aldeias, tem um ano. O Ministério Público
está perto de concluir a investigação do caso, sendo que, para já, é possível
contabilizar 18 arguidos - entre eles, o presidente da Autoridade Nacional de
Proteção Civil, Mourato Nunes -, além de umas quantas cabeças, como o
ex-secretário de Estado Artur Neves e um dos seus adjuntos, Francisco Ferreira,
que se demitiram depois de a situação ter sido tornada pública pelo JN.
Importa,
passado este tempo, lembrar a maneira como o caso foi comentado pelo ministro
da Administração Interna, Eduardo Cabrita, classificando como
"irresponsável e alarmista" a primeira notícia sobre o assunto. A
única coisa que deixa qualquer um alarmado é mesmo a forma negligente como o
governante reagiu. Mais ainda quando verificamos que não se trata propriamente
de uma situação virgem no Executivo de António Costa, cuja ministra da Cultura,
Graça Freitas, conseguiu, recentemente, transformar o anúncio de uma iniciativa
positiva num momento de embaraço, precisamente por negligenciar as questões
incómodas que lhe foram colocadas a seguir.
Quanto
ao caso das golas, resta esperar que a Justiça termine o seu trabalho,
acreditando que nem os investigadores adormecerão à sombra da pandemia, nem os
políticos se atreverão a voltar a atirar-nos fumo para os olhos.
*Editor-executivo
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