quarta-feira, 14 de julho de 2021

Costa antecipa mil milhões de dívida do tempo de Passos Coelho

Governo paga mais cedo dívida à troika e alivia encargos de 2024

O Estado português foi ontem aos mercados e pagou mais cedo (recomprou, três anos antes da data de vencimento) uma parte significativa de uma Obrigação do Tesouro (OT) a dez anos (cerca de 25% do total em dívida, quase mil milhões de euros), denominada em dólares, emitida pelo anterior governo PSD-CDS, de Pedro Passos Coelho, e cuja taxa de juro associada é muito elevada para os padrões atuais.

As taxas de Portugal nesta era do governo PS de António Costa continuam perto de mínimos históricos, mas sobretudo graças à ação sem precedentes do Banco Central Europeu (BCE). Aliás, todos os países do euro estão a beneficiar há anos desses enormes programas de compras que fazem baixar o custo da dívida pública.

A OT emitida em setembro de 2014, que na altura representou um endividamento de quase 3,8 mil milhões de euros (ao câmbio atual) tem uma taxa de juro de 5,125%, mas atualmente Portugal consegue ir aos mercados e pagar apenas 0,3% por títulos equivalentes. As poupanças com juros decorrentes desta operação conduzida pela agência da dívida pública portuguesa (IGCP) são óbvias.

Num comentário enviado aos jornais, Filipe Silva, do Banco Carregosa, diz que "Portugal veio ao mercado comprar 1124 milhões de dólares (USD) da obrigação com cupão de 5,125%, com maturidade em 2024, e que fica agora com um montante disponível de 3376 milhões de USD". Ou seja, o IGCP antecipou o pagamento de 25% dessa dívida cara.

Segundo o mesmo analista, "esta obrigação, na altura da sua emissão, tinha por objetivo diversificar os investidores na dívida pública nacional".

No entanto, "o prémio de risco de Portugal em euros e para prazos mais longos é bastante inferior. A título de exemplo, a dez anos Portugal paga 0,29%". É quase 18 vezes menos face ao referido cupão de 5,125%.

Hoje, "o IGCP irá fazer um leilão de dívida de longo prazo para as maturidades de nove e 16 anos e em ambos temos taxas mais baixas que a emissão em USD e sem o respetivo risco cambial associado".

Para Filipe Silva, esta troca "irá permitir reduzir os custos que temos com a dívida e depois de realizado o leilão de amanhã [hoje], estender a maturidade da mesma".

Luís Reis Ribeiro | em Diário de Notícias

Luís Reis Ribeiro é jornalista do Dinheiro Vivo

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