domingo, 8 de agosto de 2021

A falácia do olimpismo português

João Tomaz* | Dinheiro Vivo | opinião

Poucas coisas serão mais fotogénicas do que uma medalha, se olímpica e dourada nem é preciso flash. O sucesso, embora pessoal, é transmissível. As múltiplas homenagens aos vencedores servem tanto aos homenageados como aos homenageadores. Serão poucos os vencedores que discutirão em praça pública a inexistência do mérito de quem se apressa a ladeá-los. Talvez devessem fazê-lo.

A política para o desporto em Portugal é quase inexistente, contribuindo escassa ou nulamente para os sucessos ocasionais. Pura e simplesmente não há políticas integradas com impacto positivo no setor. O desporto escolar é cada vez menos relevante e caracteriza-se sobretudo pelos lamentos de professores crescentemente desmotivados.

O apoio estatal aos clubes, afinal os dinamizadores do desporto em Portugal, limita-se à esfera local, é casuístico e subjugado, muitas das vezes, a uma lógica eleitoralista. O investimento em infraestruturas desportivas é condicionado às preferências das populações ou resulta de desempenhos extraordinários de um filho da terra.

E as condições oferecidas aos atletas de alta competição inviabilizam a dedicação exclusiva ao desporto. Os subsídios são parcos (um campeão olímpico recebe 1300€ mensais durante dois anos e uma bolsa de 28 mil euros para a preparação, gerida pelas federações...) e condicionados a critérios redutores. Por exemplo, um classificado abaixo da 16ª posição perde a bolsa olímpica, praticamente inviabilizando, não fossem os clubes, a sua evolução.

Benfica, Sporting e outros em menor escala são quem sustenta o olimpismo português. Promovem a captação e a formação, pagam os ordenados de atletas e treinadores, garantem os meios indispensáveis, como o acompanhamento médico, entre outros, e dão visibilidade aos atletas, indispensável para a captação de patrocínios. Clubes esses cuja referência durante os Jogos Olímpicos é, segundo se vai dizendo, desaconselhada aos atletas. De outro modo, a fotografia ajustar-se-ia à realidade, mas seria inútil para muitos.

*Gestor e autor

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