terça-feira, 7 de março de 2023

Angola | JUSTIÇA PREMEDITADA E O EMBAIXADOR AVARIADO – Artur Queiroz

Artur Queiroz*, Luanda

George Junius Stinney Júnior era um menino de 14 anos, negro, magrinho devido à fome. Vivia nos subúrbios de uma pequena cidade da Carolina do Sul. Duas meninas brancas andavam a passear de bicicleta e pararam em frente ao tugúrio onde vivia o adolescente com a família. Queriam saber se existiam na zona “flores da paixão”. E ele foi mostrar um campo à beira do rio com muitas. Depois voltou para casa.

As duas meninas desapareceram e no dia seguinte a polícia foi procurar as desaparecidas. Encontraram-nas num charco de lama com a cabeça desfeita e a seu lado uma barra de ferro que pesava dez quilos. George Junius foi preso, agredido, torturado, isolado numa cela e quase morto confessou que tinha assassinado as duas meninas. Como era negro e pobre foi condenado à morte. O seu advogado disse aos membros do júri, todos brancos: Um adolescente de 14 anos, magrinho, não pode pegar numa barra de ferro, com dez quilos, e golpear a cabeça das vítimas. Em 16 de Junho de 1944 foi executado. 

Em 2014, a sentença foi anulada. Um Tribunal concluiu que a condenação do menino com 14 anos foi motivada por racismo. O desfecho do caso impressionou-me e decidi procurar notícias da época na Imprensa Local. Um festim. Assassino, negro desumano, monstro, diabólico foram adjectivos usados pelos jornalistas para condenarem na praça pública aquele que em 2014 foi considerado inocente. Provavelmente, os autores destes crimes por abuso da liberdade de imprensa já tinha morrido quando foi feita Justiça a George Junius. Mas a mancha ficou. Também devia ficar o exemplo mas não acredito.

O papel dos jornalistas não é passivo e muito menos neutro. Cada jornalista é uma mulher ou um homem com ideologia, com escolhas, com partidos, com causas e com sentimentos. A imparcialidade e o rigor não são valores que matem a personalidade dos profissionais do jornalismo. Pelo contrário, são tanto mais fortes quanto mais os jornalistas estejam conscientes dos valores e princípios que defendem. 

Os jornalistas (antes do assassinato do Jornalismo em directo na Ucrânia) perante os acontecimentos recolhem os fragmentos essenciais para construir uma mensagem informativa rigorosa, objectiva e imparcial. Não fabricam acontecimentos nem manipulam os factos, como estão a fazer com a ex-Presidente do Tribunal de Contas e fizeram antes com outros e outras, destruindo as suas vidas como foi destruída a vida de George Junius.

Não há no jornalismo seres assexuados, que não são carne nem peixe. Os jornalistas são mulheres e homens que prezam a sua condição humana e a sua forma de estar na vida. Falo de jornalistas, não de criados às ordens, vendedores de notícias, profissionais da chantagem e extorsão, falsificadores, manipuladores, seres abjectos que vendem a honra e a dignidade por pouco ou nada.

Desse lixo humano, os mais afortunados são criados de George Soros, da CIA, do Pentágono, da União Europeia, dos serviços secretos de países que comandam o “ocidente alargado”, de governos que odeiam a liberdade e a democracia embora fingindo o contrário. Os desafortunados, entre nós, contentam-se com pouco e têm um orgulho desmedido por receberem ordens inferiores do Miala. 

No festim das intrusões ilegítimas no Poder Judicial participa agora, abertamente, a UNITA. Gravíssimo porque é o partido que tem o papel de liderar a oposição. Aproveito para explicar a esse aborto da política, chamado Adalberto da Costa Júnior, que os partidos não se medem pelos votos apurados nas eleições, nem pelo número de militantes. A justa medida para avaliar uma organização política é outra. 

Os políticos valem pelas suas ideias, pela sua coerência, pelas suas propostas para melhorar a sociedade. Pela sua vontade e capacidade para resolver os problemas do povo, em primeiríssimo lugar. As ideias é que distinguem os pequenos dos grandes políticos. A eficácia como essas ideias são levadas ao maior número de cidadãos é que distingue os pequenos dos grandes partidos. A UNITA é cada vez mais uma associação de malfeitores afastando-se, por decisão da sua direcção, dos valores da democracia e do jogo democrático. 

Raúl Araújo disse na TV Zimbo que existe legislação engavetada há alguns anos e isso está na base do caos que se instalou no Poder Judicial. Quem quer a confusão, o vazio, o salve-se quem puder nos Tribunais? As vítimas de sentenças ditadas por ordens superiores, não querem, de certeza. Rui Ferreira e Manuel Aragão também não querem a violação selvagem da separação de poderes que tanto os prejudicou. Exalgina Gamboa também não deve estar muito interessada.

O “inquérito” da Procuradoria-Geral da República levou a que Exalgina Gamboa fosse constituída arguida. E se a ex-presidente do Tribunal de Contas apresentar factos que atiram por terra as ”denúncias públicas”, o que vai acontecer? Os criados da Irmandade Africâner e do Miala partem para a execução de novas encomendas e recebem o respectivo pagamento. 

João Lourenço, o campeão da paz e condecorador do esbirro Rafael Marques, o que vai fazer? Pede desculpa? Demite-se? Entrega-se à polícia? Perguntas escusadas. Fica com o título de campeão do derrube de altas figuras do Poder Judicial: Rui Ferreira, Manuel Aragão, Exalgina Gamboa. E ainda falta ver quem deitou abaixo na Procuradoria-Geral da República. Saberemos em breve. 

O problema é que está tudo feito para que a arguida Exalgina Gamboa seja acusada, julgada e condenada na Justiça, como já foi nos tribunais do Miala às ordens superiores de quem bate e esconde a mão. Um dia se saberá quem ordena que se instalem nos Tribunais a desordem e o caos, que levam à desconfiança e às mais revoltantes injustiças.

Esta é novidade. O Mapa Judicial prevê a criação de 60 Tribunais de Comarca. Até agora só conseguiram instalar 30. Os outros ficaram no papel por falta de instalações. Dos 30 instalados, 20 estão nas antigas agências da AAA Seguros que foi liquidada quando perdeu o exclusivo do Resseguro do petróleo. Agora percebe-se melhor por que razão o empresário Carlos São Vicente foi preso. Ajudou a criar novos Tribunais. Cadeia com ele!

Lukas Johannes Gasser é embaixador da Suíça em Angola. Foi passear a Cabinda e anunciou que o seu país vai devolver a Angola capitais angolanos exportados ilegalmente “porque nós somos contra a corrupção”. O animal insanável, como estava perto do Maiombe, convenceu-se que somos todos chipanzés ou gorilas. No dia em que acabar a corrupção no “ocidente alargado” a Suíça fica reduzida a um curral de vaquinhas leiteiras. Aquele sítio mal frequentado é o centro mundial da agiotagem, a casa forte dos ladrões. O bicharoco está distraído. Se existem naquele país capitais der angolanos exportados ilegalmente, é porque as autoridades suíças foram coniventes com o crime. Não quiseram saber se o dinheiro era limpo ou sujo.

*Jornalista

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