A discussão de um
voto de censura do PS ao Governo não pode ser feita nos mesmos termos dos
anteriores votos apresentados pelo PCP e pelo BE. Para estes partidos, o
alargamento da oferta pública de bens e serviços aos cidadãos, bem como uma
forte função redistributiva do rendimento com o fim de combater a pobreza e
reduzir desigualdades, são eixos essenciais das suas linhas políticas. Qualquer
redução neste âmbito, seja lá em nome do que for, contará sempre com a sua
persistente oposição. Desse ponto de vista, o PS, por um lado, e o PSD e o CDS,
por outro, não passam de simples variantes, com modulações diversas, de uma
mesma direção política, a seu ver, contrária aos interesses da imensa maioria
do povo. Nunca foram postos à prova, nunca foram chamados a encontrar soluções
de política prática para os constrangimentos no exercício da governação.
Já com o PS o caso
é outro. Ao apresentar um voto de censura, constitui-se na obrigação dupla de
medir as consequências da sua iniciativa política, mesmo sabendo que a atual
maioria no Parlamento vai chumbá-lo. A vontade expressa de derrubar o Governo
tem repercussão internacional, e obriga a fundamentar de forma sólida a
alternativa que está em condições de oferecer aos eleitores portugueses, para
cumprir os compromissos externos e, em simultâneo, encontrar uma saída virtuosa
para a grave crise da economia e do emprego. Demagogia, afirma Passos Coelho;
precipitação, acusa o CDS; agudização da luta interna, aponta o PSD - eis o que
a maioria tem a dizer de uma censura, cuja fundamentação detalhada ainda
desconhece.
Indesmentível é que
o resultado da sétima avaliação aprofundou o descrédito do rumo seguido, por
mais que Coelho e Gaspar afirmem, uma e mil vezes, o contrário. As metas vão
sendo cumpridas, mas os portugueses veem os objetivos a ser sucessivamente
ajustados, com perspetivas sempre mais negras do que as anteriores. O desvio,
que o cidadão comum sente na carne, é o de 300 mil desempregados a mais - até
agora - e o anúncio de novo agravamento, este ano, em 100 mil. A pressão social
contra esta política é abrumadora. E António José Seguro, por mais que se ache
imune, não lhe pode resistir.
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