sábado, 23 de março de 2013

Portugal: PS AVISA EUROPA QUE QUER RENEGOCIAR ACORDO COM A TROIKA




Rita Tavares – Jornal i

Numa carta enviada aos parceiros europeus e não só, o PS justifica razões da moção e da ruptura com o governo

Na manhã seguinte a ter anunciado a intenção de avançar com uma moção de censura ao governo - a terceira da história socialista e a quarta que este governo enfrenta -, o PS apressou-se a fazer a contenção de danos e contactou parceiros europeus, e não só, para garantir que “continuará a respeitar os compromissos internacionais”, apesar da ruptura. Mas, a esta mensagem, os socialistas somaram um aviso: é tempo de “redireccionar” o Memorando assinado com a troika em 2011.

A missão ficou a cargo do porta-voz do partido, João Ribeiro, que ontem de manhã estabeleceu contactos telefónicos com os embaixadores da Alemanha, Finlândia, Dinamarca, Áustria, Espanha, Itália e Holanda, bem como com o representante da União Europeia em Portugal. Ao mesmo tempo enviou uma carta, a que o i teve acesso, aos outros parceiros europeus e também à Turquia, Croácia, Ucrânia e Estados Unidos. A missiva serviu para justificar a moção de censura: “O governo falhou todas as previsões.”

Apesar de assumir que “o caminho escolhido, muito além do Memorando, falhou”, o PS assegura que “respeitará os compromissos internacionais assumidos por Portugal”. Quanto à censura ao governo, os socialistas explicam que resolveram avançar depois de conhecer o “cenário negro e inesperado” apresentado pelo ministro das Finanças, no parlamento, nesta última semana. Só que o PS não fica por aqui e avisa já que “chegou o momento de redireccionar o Memorando, para garantir uma trajectória credível do ajustamento fiscal”. A ruptura com o executivo é assumida e comunicada com clareza: “Este governo não tem credibilidade ou autoridade política.”

A discussão da moção ainda não tem data marcada - o debate tem de ocorrer no terceiro dia após a entrega do texto no parlamento -, com Carlos Zorrinho a dizer ao i que “há muitos factores a ter em conta” para definir o calendário. Um dos elencados pelo líder parlamentar é o facto de a semana seguinte ser a da Páscoa; outro é a visita do primeiro-ministro da Suécia a Portugal, na quarta e quinta-feira. Ontem, no debate quinzenal, Passos Coelho apelou a “uma decisão tão breve quanto possível quanto ao calendário da moção de censura” para saber se comunica ao governo sueco o cancelamento da visita. Outro factor - e este com maior peso - é a decisão do Tribunal Constitucional sobre algumas das normas do Orçamento do Estado para 2013, que sairá a qualquer momento. Mas o PS não assume a importância deste ponto. “Não tem nada a ver uma coisa com a outra”, assegura o porta-voz do PS, João Ribeiro, bem como Zorrinho, que apenas diz que o PS vai “ponderar”, na próxima segunda-feira, o melhor timing para apresentar a moção.

NÃO VACILA 

Ainda sem o texto definido, uma coisa é já certa: os partidos à esquerda do PS já garantiram que vão aprovar a censura ao governo, e a maioria vai rejeitá-la. Na bancada do PSD, o ataque à iniciativa socialista ficou a cargo do líder parlamentar. Luís Montenegro até relacionou o avanço do PS com outro acontecimento político desta semana: “José Sócrates voltou, Seguro censurou.” E na bancada do executivo, Passos Coelho garantiu que “este governo não vai vacilar” e que a moção “responsabiliza” o PS “por colocar Portugal aos olhos externos como um país que tem um governo que quer cumprir e uma oposição que deixa no ar somente uma ameaça”.

As investidas socialistas foram todas no sentido da ruptura. António José Seguro disse a Passos que “o seu tempo chegou ao fim”: “O senhor está separado e divorciado dos portugueses.”

No Bloco de Esquerda, Catarina Martins assegurou que o BE votará “pelo fim deste governo e lutará por um governo de esquerda contra a troika”. No PCP, Jerónimo de Sousa assumiu o mesmo compromisso: “A moção de censura do PS terá o apoio do PCP.”

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