Rita Tavares –
Jornal i
Numa carta enviada
aos parceiros europeus e não só, o PS justifica razões da moção e da ruptura
com o governo
Na manhã seguinte a
ter anunciado a intenção de avançar com uma moção de censura ao governo - a
terceira da história socialista e a quarta que este governo enfrenta -, o PS
apressou-se a fazer a contenção de danos e contactou parceiros europeus, e não
só, para garantir que “continuará a respeitar os compromissos internacionais”,
apesar da ruptura. Mas, a esta mensagem, os socialistas somaram um aviso: é
tempo de “redireccionar” o Memorando assinado com a troika em 2011.
A missão ficou a
cargo do porta-voz do partido, João Ribeiro, que ontem de manhã estabeleceu
contactos telefónicos com os embaixadores da Alemanha, Finlândia, Dinamarca,
Áustria, Espanha, Itália e Holanda, bem como com o representante da União
Europeia em Portugal. Ao mesmo tempo enviou uma carta, a que o i teve
acesso, aos outros parceiros europeus e também à Turquia, Croácia, Ucrânia e
Estados Unidos. A missiva serviu para justificar a moção de censura: “O governo
falhou todas as previsões.”
Apesar de assumir
que “o caminho escolhido, muito além do Memorando, falhou”, o PS assegura que
“respeitará os compromissos internacionais assumidos por Portugal”. Quanto à
censura ao governo, os socialistas explicam que resolveram avançar depois de
conhecer o “cenário negro e inesperado” apresentado pelo ministro das Finanças,
no parlamento, nesta última semana. Só que o PS não fica por aqui e avisa já
que “chegou o momento de redireccionar o Memorando, para garantir uma trajectória
credível do ajustamento fiscal”. A ruptura com o executivo é assumida e
comunicada com clareza: “Este governo não tem credibilidade ou autoridade
política.”
A discussão da
moção ainda não tem data marcada - o debate tem de ocorrer no terceiro dia após
a entrega do texto no parlamento -, com Carlos Zorrinho a dizer ao i que
“há muitos factores a ter em conta” para definir o calendário. Um dos elencados
pelo líder parlamentar é o facto de a semana seguinte ser a da Páscoa; outro é
a visita do primeiro-ministro da Suécia a Portugal, na quarta e quinta-feira.
Ontem, no debate quinzenal, Passos Coelho apelou a “uma decisão tão breve
quanto possível quanto ao calendário da moção de censura” para saber se
comunica ao governo sueco o cancelamento da visita. Outro factor - e este com
maior peso - é a decisão do Tribunal Constitucional sobre algumas das normas do
Orçamento do Estado para 2013, que sairá a qualquer momento. Mas o PS não
assume a importância deste ponto. “Não tem nada a ver uma coisa com a outra”, assegura
o porta-voz do PS, João Ribeiro, bem como Zorrinho, que apenas diz que o PS vai
“ponderar”, na próxima segunda-feira, o melhor timing para apresentar a moção.
NÃO VACILA
Ainda
sem o texto definido, uma coisa é já certa: os partidos à esquerda do PS já
garantiram que vão aprovar a censura ao governo, e a maioria vai rejeitá-la. Na
bancada do PSD, o ataque à iniciativa socialista ficou a cargo do líder
parlamentar. Luís Montenegro até relacionou o avanço do PS com outro
acontecimento político desta semana: “José Sócrates voltou, Seguro censurou.” E
na bancada do executivo, Passos Coelho garantiu que “este governo não vai
vacilar” e que a moção “responsabiliza” o PS “por colocar Portugal aos olhos
externos como um país que tem um governo que quer cumprir e uma oposição que
deixa no ar somente uma ameaça”.
As investidas
socialistas foram todas no sentido da ruptura. António José Seguro disse a
Passos que “o seu tempo chegou ao fim”: “O senhor está separado e divorciado
dos portugueses.”
No Bloco de
Esquerda, Catarina Martins assegurou que o BE votará “pelo fim deste governo e
lutará por um governo de esquerda contra a troika”. No PCP, Jerónimo de Sousa
assumiu o mesmo compromisso: “A moção de censura do PS terá o apoio do PCP.”
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