Tiago Mota Saraiva –
Jornal i, opinião
Não creio que a
maioria social que exige a demissão deste governo acredite que o PS possa ter
soluções muito diferentes das levadas a cabo por PSD/CDS. E se é certo que a
vontade que a população tem demonstrado de ser um actor político cada vez mais
interventivo não se deve esgotar em eleições, também é verdade que essa
mobilização terá de encontrar um espaço de ruptura no plano eleitoral que se
constitua a partir de uma possibilidade de ser poder.
As mais recentes
investidas de cidadãos autoproclamados de independentes, ainda que orbitem em
diferentes esferas do poder, afunilando o problema em pormenores do sistema
eleitoral, na Constituição ou na manutenção do depauperado Estado social, são,
na prática, tentativas de enviesamento do problema central: o sistema como um
todo.
No plano eleitoral,
que – repito – não pode esgotar o potencial de participação que se tem visto
nas ruas, urge o surgimento de uma força política que dê perspectivas de ser
poder e que enfrente sem dogmas os problemas do país. Uma força política que
não coloque de lado a saída do euro, que assuma como central a nacionalização
da banca, o aumento dos salários ou a renegociação da dívida, dará uma
expressão eleitoral a muito do que é reivindicado nas ruas. A manutenção de um
discurso de esquerda manso – defendendo o euro ou floreando sobre alianças –
não corresponderá à radicalização que o povo exige nas ruas e com urgência.
A não constituição
desta força social e política abrirá espaço a que a insatisfação se traduza
eleitoralmente em movimentos de carácter populista que não têm qualquer
aspiração a provocar uma ruptura no sistema ou a enfrentar a casta que nos
governa há mais de 30 anos.
Escreve ao sábado
Sem comentários:
Enviar um comentário