sábado, 23 de março de 2013

Portugal: QUE O PODER CAIA NA RUA




Tiago Mota Saraiva – Jornal i, opinião

Não creio que a maioria social que exige a demissão deste governo acredite que o PS possa ter soluções muito diferentes das levadas a cabo por PSD/CDS. E se é certo que a vontade que a população tem demonstrado de ser um actor político cada vez mais interventivo não se deve esgotar em eleições, também é verdade que essa mobilização terá de encontrar um espaço de ruptura no plano eleitoral que se constitua a partir de uma possibilidade de ser poder.

As mais recentes investidas de cidadãos autoproclamados de independentes, ainda que orbitem em diferentes esferas do poder, afunilando o problema em pormenores do sistema eleitoral, na Constituição ou na manutenção do depauperado Estado social, são, na prática, tentativas de enviesamento do problema central: o sistema como um todo.

No plano eleitoral, que – repito – não pode esgotar o potencial de participação que se tem visto nas ruas, urge o surgimento de uma força política que dê perspectivas de ser poder e que enfrente sem dogmas os problemas do país. Uma força política que não coloque de lado a saída do euro, que assuma como central a nacionalização da banca, o aumento dos salários ou a renegociação da dívida, dará uma expressão eleitoral a muito do que é reivindicado nas ruas. A manutenção de um discurso de esquerda manso – defendendo o euro ou floreando sobre alianças – não corresponderá à radicalização que o povo exige nas ruas e com urgência.

A não constituição desta força social e política abrirá espaço a que a insatisfação se traduza eleitoralmente em movimentos de carácter populista que não têm qualquer aspiração a provocar uma ruptura no sistema ou a enfrentar a casta que nos governa há mais de 30 anos.

Escreve ao sábado

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