domingo, 4 de agosto de 2013

Portugal: Ou o secretário de Estado do Tesouro é um arrependido ou tem de sair

 
 
 
Eduardo Oliveira Silva – Jornal i, opinião
 
Quanto ao caso Rui Machete, evolui como previsto, mas não deve afectá-lo mais
 
Depois de Maria Luís Albuquerque, foi a vez do secretário de Estado Joaquim Pais Jorge de cair nas malhas dos swaps. Como este jornal tinha referido desde logo, Pais Jorge tinha vendido aqueles produtos, mas, soube-se agora pela “Visão”, a sua intervenção tinha o alegado intuito de maquilhar o défice do Estado, através de operações que não foram, porém, concretizadas. Apesar disso o assunto é melindroso. E das duas uma: ou o secretário de Estado está no governo ao jeito dos arrependidos das séries americanas e colabora com a identificação e a denúncia de todas as operações feitas com esses produtos, ou então tem mesmo de sair do governo de que foram exonerados dois secretários de Estado, Juvenal Peneda e Braga Lino, por terem comprado esses produtos quando eram gestores públicos.
 
Ora é óbvio que em termos éticos tanto é condenável quem compra como quem vende algo que pode ter efeitos negativos para o Estado. Além disso, as falhas de memória que Pais Jorge manifestou quando disse não se lembrar de ter estado no gabinete do primeiro-ministro José Sócrates são estranhas. Por muitas reuniões em que tenha participado, não se recordar dessa em concreto é insólito. Assim como também é alegar que apenas tinha um papel de relação com clientes e não a função de concepção das operações. Aceita-se esse argumento de alguém que está atrás de um balcão a vender mercadorias, mas não é possível no caso dos swaps.
 
Como se esperava, o caso Rui Machete vai entretanto conhecendo os seus desenvolvimentos, pondo-se agora a questão da compra a um euro e da venda a dois euros e meio de acções do BPN. O assunto não é novo e lembra exactamente o de Cavaco Silva e da sua filha trazido à estampa há uns anos. Mas pode haver uma diferença relevante, uma vez que o Presidente da República tinha entregado a gestão dos seus dinheiros a um corretor que actuava autonomamente, enquanto no caso do actual MNE não está esclarecido se as circunstâncias eram as mesmas.
 
Por outro lado, a verdade é que as acções do banco não estavam cotadas em bolsa e portanto não é lícito insinuar que tenha havido algum tipo de benefício em qualquer dos casos, pois não há valor de referência na altura. E assim sendo o assunto nesse aspecto concreto não deve ter seguimento.
 
Uma oportunidade perdida
 
A RTP tem a responsabilidade de defender, divulgar e promover a língua portuguesa. Porventura, depois de informar e entreter educando, essa é a sua principal tarefa.
 
É portanto no mínimo triste que o homem que durante anos se bateu pela formação em língua portuguesa na televisão e na rádio públicas, um dos criadores do indispensável Ciberdúvidas, o pai do livro de estilo do “Público”, do premiado programa “Cuidado com a Língua” e do prontuário sonoro da RTP, o voluntarioso José Mário Costa, tenha cortado com a empresa, onde nunca passou de mero recibo verde em mais de dez anos. Mas há quem esteja atento. O jornalista vai dar formação linguística e organizar os serviços de agenda, planeamento e produção da Rádio Nacional de Angola. Dificilmente arranjavam melhor.
 

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