O resultado do
primeiro turno das eleições municipais, realizado neste domingo, foi uma
catástrofe para os socialistas franceses, atualmente no poder.
Eduardo Febbro –
Carta Maior
Paris -
Marcada por uma taxa de abstenção sem precedentes, o primeiro turno das
eleições municipais francesas puniu o Partido Socialista, atualmente no poder,
levou a extrema-direita da Frente Nacional a resultados históricos ao mesmo
tempo em que, apesar dos escândalos que mancharam sua imagem nas últimas
semanas, a direita agrupada na UMP do ex-presidente Nicolas Sarkozy ficou muito
perto de alcançar seus objetivos: conquistar o maior número possível de cidades
de mais de 10 mil habitantes.
O abstencionismo e a extrema-direita foram os principais vencedores desta
eleição teste para o conjunto da classe política. Com 38,5% de abstenção, esta
consulta municipal de 2014 superou a abstenção verificada em 2008, que foi de
33,5%, e a de 2001, 32,6%. O grande perdedor foi o Partido Socialista. O
movimento da rosa buscou por todos os meios evitar a nacionalização da campanha
e circunscrevê-la a seu âmbito mais local para evitar assim pagar o tributo da
baixíssima popularidade do presidente François Hollande. A estratégia fracassou
rotundamente: o PS se encontra em uma posição muito ruim em várias cidades
importantes.
“As condições de uma grande vitória estão reunidas para o segundo turno”,
declarou o presidente da UMP, Jean-François Copé. De fato, em muitas
circunscrições os eleitores deram a vitória na bandeja para a direita. A líder
do ultradireitista Frente Nacional, Marine Le Pen, disse que os resultados
conhecidos neste domingo representavam “o fim da bipolarização da vida política
francesa”. A Frente Nacional chegou em primeiro lugar em cidades importantes
como Fréjus, Avignon, Beziers e Perpignan. Além disso, pela primeira vez em sua
história, a extrema-direita ganhou uma cidade já no primeiro turno,
Hénin-Beaumon. Em muitos outros lugares seus candidatos estão bem posicionados
ou se encontram em condições de provocar duelos triangulares
direita-esquerda-extrema direita no segundo turno que ocorrerá dia 6 de abril.
Os socialistas não conseguiram superar a decepção dos seus eleitores. A alta
porcentagem de abstenção traduz uma escassa mobilização dos hoje desencantados
eleitores da esquerda que, em 2012, contribuíram para a vitória do socialista
François Hollande à presidência da República. “Há uma forma de decepção que
ficou expressa no primeiro turno”, admitiu a ministra ecologista da Habitação,
Cécile Duflot. Uma cidade após outra, o PS viu uma série de derrotas que
confirmam nas urnas o profundo mal estar que suscita o governo socialista.
Até Niort, uma localidade que o partido hoje na presidência administrava desde
1957, passou para as mãos da direita. Em Marselha, onde o socialismo esperava
tirar os conservadores deste importante porto do Mediterrâneo, a configuração é
semelhante. O candidato do PS aparece em terceiro lugar, atrás do representante
da UMP e do candidato da ultradireita.
O único argumento que restou aos socialistas foi chamar a união para o segundo
turno e agitar o espantalho da extrema-direita. Seu primeiro secretário, Harlem
Désir, disse: “faremos tudo o que for necessário para que ao final destas
eleições municipais nenhuma cidade seja dirigida pela Frente Nacional”. O
objetivo chegou atrasado. O partido de Marine Le Pen já ganhou cidades no
primeiro turno e está muito bem colocado em várias outras para administrá-las
no futuro. Seria preciso ser muito ingênuo para acreditar que os socialistas
sairiam ilesos da má imagem que arrasta seu presidente e o Executivo.
Após 22 meses no poder, François Hollande se converteu no presidente mais
impopular da V República. É paradoxal constatar que os franceses depositaram em
parte sua confiança em um partido de ideologia rançosa, a Frente Nacional, e
também em uma direita carcomida pelos escândalos, debilitada pela luta de clãs
e sua alucinógena capacidade para representar unicamente apetites pessoais e
derivas ideológicas graves.
Marine Le Pen confirmou nas urnas a sua estratégia: “desdiabolizou” um pouco
mais a extrema-direita e demonstrou que, quando a inércia, o engano e a
indecência dos partidos de governo chegam a um grau crítico, a extrema-direita
está com sua rede para colecionar recordes. O avanço da Frente Nacional é mais
que histórico: Marine Le Pen ganhou a primeira aposta que consistiu em
apresentar o maior número possível de listas (597) e está por ganhar a segunda:
manter-se em posição de força em um amplo número de cidades no segundo turno.
A eleição foi uma catástrofe para os socialistas. Agora, o PS aponta seus
refletores para a primeira semana de abril para tentar superar o desalento dos
eleitores de centro-esquerda que se abstiveram de votar, para limitar os
prejuízos do voto de protesto. A meta consiste em conservar o bastião de Paris,
o que é perfeitamente possível, e manter sob sua administração outras cidades
chave como Nantes, Lille, Estrasburgo e Toulouse. Nada está garantido. Tolouse
e Estrasburgo podem passar para a direita nas próximas semanas. A
extrema-direita é hoje o centro do jogo político. A perspectiva mais que
favorável de seus candidatos obriga os socialdemocratas e os conservadores e
mover suas peças em relação a ela.
Nas últimas eleições, seja presidencial, municipal, legislativa ou europeia, a
extrema-direita consolida seus avanços enquanto os socialistas gritam “é o
lobo!” e a direita trata de imitá-la o máximo possível para atrair seus votos.
A ascensão é inelutável e simetricamente proporcional ao ocaso das ideias dos
partidos e, sobretudo, da fidelidade às mesmas.
Tradução: Marco Aurélio Weissheimer
Créditos da foto:
Front National/Divulgação
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