Tiago Mota Saraiva –
jornal i, opinião
Não haverá maior
hipocrisia que a de um partido favorável a todas as políticas estruturantes
desta UE apresentar-se às eleições europeias sob a palavra de ordem da mudança.
A mentira eleitoral é a regra de ouro que permite essas políticas. Não perturba
os mercados.
Na maioria dos
países da UE, dois partidos alternam-se no poder investindo milhões em
propaganda para parecerem diferentes. Valorizam-se as zaragatas. As suas
certezas não são questionadas. Tudo o que paira fora do seu discurso é
ridicularizado de modo que quem não tenha intenção de depositar o seu voto
neste agregado sinta que a única forma de protesto é a abstenção.
Mas existe quem
defenda políticas diferentes.
A extrema-direita
ganha terreno por toda a Europa com a ideia simples de que quem está ao nosso
lado está a ocupar o lugar que merecemos, que o nosso vizinho nos está a
retirar rendimento, que o imposto que pagamos e nos deixa na miséria está a ser
entregue a quem o não merece e que "eles" são corruptos e bandidos. O
primarismo permite que a ideia se enraíze e propague fora dos canais
convencionais.
À esquerda temos
duas ideias distintas. Há os que, ainda que críticos, aceitem jogar o jogo sem
lhe alterar as regras, procurando demonstrar a sua eficácia táctica a partir da
não hostilização de parte do poder vigente. Trabalha-se religiosamente na
crença de um momento redentor. Por fim, à esquerda, temos quem faça um discurso
político contrário às regras instaladas. Propõe-se um outro caminho. No plano
mediático, tudo o que se descreve desse outro caminho é meticulosamente
ridicularizado ou silenciado. Transformam-se mentiras em verdades, opiniões
contrárias em certezas.
Este outro caminho
é certamente árduo de trilhar e difícil de prever. Decidir que nos mantemos
neste rumo é bastante mais previsível mas ninguém acreditará que nos leve a um
final feliz.
Escreve ao sábado
Sem comentários:
Enviar um comentário