terça-feira, 24 de março de 2015

EXPRESSO CURTO COM HERBERTO E UM BANCO “NOVO” DE VÍCIOS ANTIGOS




Boa tarde. Por esta hora também vai saber bem um expresso curto. Assim como o Expresso Curto que habitualmente trazemos aqui de manhã e que nos é servido pelo jornal Expresso. Considerando que estivemos dois dias e meio privados de publicar no Página Global, devido a uma grande avaria na Rede que nos serve, optamos por trazer à mesa um Expresso Curto que pela nossa parte é da tarde mas que para o Pedro Santos Guerreiro, diretor executivo do Expresso, é o Expresso Curto da manhã.

Herberto

O grande abalo na cultura portuguesa foi só hoje conhecido. Herberto Hélder morreu ontem. Poeta e escritor reservado. Culto. Sapiente. Sensível. Mestre dos Mestres na cultura que o recheava e dele transbordava. Muito educado e silencioso. Humilde. Um não alimentador das feiras de vaidades que outros e outros na cultura ou em obras maiores e menores de vários afins das artes alimentam e se põem em bicos dos pés. Nunca com a estatura de ser humano e de Mestre da Cultura de Herberto. Recusou uma distinção Fernando Pessoa. Quando lhe anunciaram que o Prémio Fernando Pessoa era para ele pediu que não dissessem nada a ninguém (que o haviam escolhido) e que entregassem o prémio a outro. Não revela completamente a estatura de Herberto mas deixa um cheirinho de quem ele era. Era e é. Herberto é imortal.

Novo Banco, vícios antigos

A sociedade portuguesa está dependente do querer e saber de uma elite que enveredou pela bandalheira a partir de um consulado de um cavalheiro de triste figura: Cavaco Silva. São inúmeros os atores políticos, do empresariado e da banca, que vieram surgindo durante o consulado e primado de Cavaco, enquanto primeiro-ministro. Inúmeros envolvidos em escândalos de que não havia memória anteriormente. Talvez o mais mediático seja o caso BPN, mas outros há. Pela mão de Cavaco veio Isaltino Morais, o bepenista e esselenista Oliveira Costa e outros. A lista é fastidiosa. Mas se assim aconteceu com Cavaco Silva no PSD também o PS não se pode vangloriar de não ter casos escabrosos no seu rol histórico de escândalos. Nem o CDS. Cada um dos partidos citados formou a sua própria escória elitista.

Elite que ainda anda à solta e de mãos livres. Comodamente sentada nos poderes. Que decide sobre um banco bom e um banco mau (caso BES/GES e “associados”). Com plenos poderes para o rapa-põe-deixa-tira. São esses mesmo que têm os poderes de tudo fazer para defraudarem pequenos investidores. Muitos deles, mas muitos, que investiram confiando nas palavras do presidente da República, Cavaco Silva, em Seul. Que deixava sem sobra de dúvida a confiança no BES e no Banco de Portugal. Afinal não. Afinal as pessoas, esses pequenos investidores, foram completamente ludibriados.

Este é um dos temas quentes do dia. Carlos Costa, governador do Banco de Portugal, anda nos cornos do toiro (merecidamente). O chamado banco bom, o Novo Banco, quer fugir às suas responsabilidades. Eles querem “morder” os pequenos investidores. Eles mostram de caras as suas desonestidades. Eles são (alguns) as elites que vêm muito de trás ou foram recrutados e formados pela tal elite vã de decência, que enriqueceu enquanto o diabo esfregava um olho. Para eles as pessoas são números. Que se lixem os casos dramáticos que foram causados a esses pequenos investidores. Que se lixem os portugueses a quem têm roubado ao longo de décadas o que pertence a todo o país, a todos os portugueses…

Para expresso, este café já vai com muito grão. Cuidado com as palpitações. Bom dia. Boa tarde. Até amanhã… se houver serviço de Internet. Ironia. Amanhã aqui estaremos já com o balanço habitual. Até lá.

Redação PG
  
Bom dia, este é o seu Expresso Curto

Falam como se fossem bêbados

Pedro Santos Guerreiro – diretor executivo

“Portugal é o faroeste no acesso a dados pessoais sensíveis”, disse esta noite na Rádio Renascença Nuno Morais Sarmento, para quem no caso da Lista VIP da Administração fiscal “há crime”, o de violação da privacidade de contribuintes. “Não há crime”, pensará o advogado João Araújo, que hoje no i pensa também outras coisas sobre o seu cliente. Coisas como esta: “Jornalistas e comentadores falam sobre o caso Sócrates como se fossem bêbados”. Ainda é cedinho mas isto hoje promete.

Hoje promete desde as 9 da manhã, quando o presidente da CMVM,Carlos Tavares, iniciar a sua audição na Comissão Parlamentar de Inquérito ao caso Espírito Santo. À tarde será a vez do governador do Banco de Portugal, Carlos Costa. Os dois reguladores estão em oposição sobre o papel comercial, o que há de garantir polémica. O Banco de Portugal preparou uma proposta em que os detentores do papel comercial têm uma perda de quase 60%: segundo o Económico, a CMVM está contra; segundo o Negócios, as associações de clientes também.

Carlos Costa há de ter também respostas a dar a Ricardo Salgado, que na semana passada o tratou como “inimigo número 1” e voltou a culpá-lo pelo colapso do BES. Os holofotes destas últimas audições são desenvolvidos no Expresso Diário, enquanto o Correio da Manhã garante que o governador sabia dos problemas do BES um ano antes da queda, citando uma carta de Costa a Salgado de julho de 2013. Entretanto, são também já conhecidas as perguntas a José Guilherme, o empresário que deu 14 milhões a Ricardo Salgado.

Inimigos números 1 não se tratam assim: Angela Merkel e Alexis Tsipras fazem quase o pleno enquanto fotografia de primeira página hoje, depois do encontro em Berlim que acabou com uma mensagem conciliadora, como escreve o Financial Times. As negociações prosseguem mas os governantes grego e alemã frisaram o empenho em superar a crise.

“É melhor falarmos um com o outro do que um sobre o outro”, declarou Tsipras, que garantiu que não foi pedir a Merkel dinheiro para salários e pensões, como titula o DN. “Queremos dar-nos bem”, assentiu Merkel, que completou: “Queremos que a Grécia seja economicamente forte, queremos que a Grécia cresça e acima de tudo queremos que a Grécia ultrapasse o seu desemprego elevado”. Mas a Alemanha não abdica das reformas na Grécia, o que leva o Negócios a esclarecer que o contra-relógio não parou. A verdade é que o BCE já não descarta a saída da Grécia do euro,afirma o El Pais. Quando Marisa Matias falou sobre chantagemà Grécia, Draghi… elogiou Portugal.

OUTRAS NOTÍCIAS

Eleições há muitas #1. Em Inglaterra, David Cameron anunciou que, se for reeleito, governará nos próximos cinco anos mas não se recandidatará a um terceiro mandato. A entrevista à BBC, feita em mangas de camisa em sua casa, levantou polémica. O primeiro-ministro é acusado de arrogância pelos Trabalhistas e lançou a corrida no seu partido, como escreve o The Guardian, e até aponta os seus potenciais sucessores para 2020: Theresa May, Boris Johnson and George Osborne.

Eleições há muitas #2. Em França, Sarkozy, o regressado, já tem os olhos postos no Eliseu, escreve o DN. Em Espanha, Rajoy admite o óbvio: que os votos do PP na Andaluzia foram para o Ciudadanos ou para a abstenção. No Expresso Diário, o Henrique Monteiro escreve sobre as vitórias e as derrotas em França e Espanha: “Le Pen, Ciudadanos, Podemos e outros fenómenos”.

“Portugal é o faroeste no acesso a dados pessoais sensíveis”, disse esta noite na Rádio Renascença Nuno Morais Sarmento, para quem no caso da Lista VIP da Administração fiscal “há crime”, o de violação da privacidade de contribuintes. “Não há crime”, pensará o advogado João Araújo, que hoje no i pensa também outras coisas sobre o seu cliente. Coisas como esta: “Jornalistas e comentadores falam sobre o caso Sócrates como se fossem bêbados”. Ainda é cedinho mas isto hoje promete.

Hoje promete desde as 9 da manhã, quando o presidente da CMVM,Carlos Tavares, iniciar a sua audição na Comissão Parlamentar de Inquérito ao caso Espírito Santo. À tarde será a vez do governador do Banco de Portugal, Carlos Costa. Os dois reguladores estão em oposição sobre o papel comercial, o que há de garantir polémica. O Banco de Portugal preparou uma proposta em que os detentores do papel comercial têm uma perda de quase 60%: segundo o Económico, a CMVM está contra; segundo o Negócios, as associações de clientes também.

Carlos Costa há de ter também respostas a dar a Ricardo Salgado, que na semana passada o tratou como “inimigo número 1” e voltou a culpá-lo pelo colapso do BES. Os holofotes destas últimas audições são desenvolvidos no Expresso Diário, enquanto o Correio da Manhã garante que o governador sabia dos problemas do BES um ano antes da queda, citando uma carta de Costa a Salgado de julho de 2013. Entretanto, são também já conhecidas as perguntas a José Guilherme, o empresário que deu 14 milhões a Ricardo Salgado.

Inimigos números 1 não se tratam assim: Angela Merkel e Alexis Tsipras fazem quase o pleno enquanto fotografia de primeira página hoje, depois do encontro em Berlim que acabou com uma mensagem conciliadora, como escreve o Financial Times. As negociações prosseguem mas os governantes grego e alemã frisaram o empenho em superar a crise.

“É melhor falarmos um com o outro do que um sobre o outro”, declarou Tsipras, que garantiu que não foi pedir a Merkel dinheiro para salários e pensões, como titula o DN.
 “Queremos dar-nos bem”, assentiu Merkel, que completou: “Queremos que a Grécia seja economicamente forte, queremos que a Grécia cresça e acima de tudo queremos que a Grécia ultrapasse o seu desemprego elevado”. Mas a Alemanha não abdica das reformas na Grécia, o que leva o Negócios a esclarecer que o contra-relógio não parou. A verdade é que o BCE já não descarta a saída da Grécia do euro,afirma o El Pais. Quando Marisa Matias falou sobre chantagemà Grécia, Draghi… elogiou Portugal.

FRASES

“Sócrates e Salgado são duas faces da mesma moeda”, Duarte Marques no Expresso.

"Maior erro do Governo foi ter morto a educação de adultos em Portugal", António Costa, esta noite

"Nem os gregos são preguiçosos, nem os alemães são responsáveis por todos os nossos males", Alexis Tsipras, ontem em Berlim.

“[Na Europa] o centro político esvai-se, com a erupção de forças políticas vindas do nada e que garantem a bandeira do descontentamento, do fim da paciência e da ausência de destino”,Fernando Sobral, no Negócios.

O QUE EU ANDO A LER

O livro é editado pela Lua de Papel e amanhã vou apresentá-lo em Lisboa, na Ler Devagar: “Os Jiadistas  Portugueses”, dos repórteres do Expresso Hugo Franco e Raquel Moleiro, que há um ano lideram a investigação a este assunto, que tem tanto de assustador quanto de misterioso. Mais do que uma lista de perfis dos portugueses e lusodescendentes que viajaram para a Síria, o livro relaciona e ajuda a compreender a ameaça do terrorismo jiadista, que põe em causa a integridade do modo de vida das nossas sociedades, talvez mais do que muitos estão dispostos a assumir, exceto quando ataques na Europa como o massacre do Charlie Hebdo nos despertam. Para abrir o apetite, leia aqui as cinco pistas da investigação.

(Antecipando dúvidas transmito já que no Expresso jiadista escreve-se sem h, pois é um aportuguesamento e em português não existem palavras com ‘h’ no meio de vogais. Já Jihad é uma palavra inglesa adaptada de uma palavra árabe. Pano para mais mangas aqui.)

E pronto, repare como aqui chegámos sem piadas com bêbados, num Expresso Curto servido sem cheirinho, no dia em que passam cem anos sobre “Orpheu”, a revista que “necessita de vida e palpitação” (Luis de Montalvôr) e onde o futuro se anunciava a galope. Já é primavera e o tempo vai melhorar até ao fim de semana: embebede-se antes do sol que “vae esmolando os campos com bodos de oiro” (Almada Negreiros), de “teus beijos, queria-os de tule,/Transparecendo carmim” (Mário de Sá Carneiro) e esbugalhe-se de vez na “fúria de estar indo ao mesmo tempo dentro de todos os comboios” (Fernando Pessoa), nessa Ode Triunfal “hup lá!”.

“Ah não ser eu toda a gente e toda a parte!”

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