quarta-feira, 23 de setembro de 2015

O ORÁCULO DA BUROCRACIA: ESTADO EMPREGADOR E CLASSE MÉDIA



Rui Peralta, Luanda
           
Existe um “monstro devorador” real, criação sui generis do pesadelo organizacional. É uma daquelas aberrações que tornaram-se norma (ou seja atingiu o estatuto de normalidade) e que nos dias de hoje permanecem sobre os nossos direitos e liberdades como uma espada de Démocles: a burocracia.

O impulso de autoconservação obriga o Estado (seja ele qual for, desde o Estado Total do fascismo e derivantes ultranacionalistas, até ao Estado Socialista com as suas múltiplas variantes reais e irreais – estilo socialismo seculo XXI - de capitalismo de Estado, ou o angélico Estado de Direito) a reunir á sua volta e a entrelaçar o maior número possível de “interessados”. Dai ser uma referência comum a afirmação: “A organização do Estado necessita de uma burocracia numerosa e amplamente estruturada”. Comum e medíocre.

A burocracia representa um importante coeficiente no cálculo dos esforços dos grupos dominantes para se manterem no Poder. Esta necessidade cresce de forma directamente proporcional á insatisfação, ou seja, está directamente relacionada com a convicção, por parte dos indivíduos, que não existe finalidade na ordem social vigente. A resposta – devido á necessidade de assegurar o Poder – surge através da criação de uma vasta casta de funcionários, directamente dependentes do Estado. Este amplo número de funcionários assalariados tornam-se os maiores defensores do Estado.

As tendências das economias do seculo XX resultaram num poderoso reforço do Estado. Por parte deste existiu uma enorme oferta de emprego. Do lado dos cidadãos existiu (e existe) uma procura superior á oferta. Por sua vez estes, os cidadãos, vêm no funcionalismo público uma reforma garantida e uma velhice mais segura.

A enorme procura de empregos na função pública assenta na posição de insegurança em que se encontram as classes médias, ameaçadas pelas características das transformações económicas, esforçando-se para dar aos seus filhos um futuro seguro. Esta insegurança da classe média é história antiga, pois os componentes desta classe são sempre inseguros.

Esta figura da classe média (dos muitos pontos que estão no topo da curva de Gauss) não é um exclusivo do capitalismo. Existiam, em menor numero nos sistemas tributários pré-capitalistas e foram sempre amedrontados. Com o advento do capitalismo jogaram dentro das novas regras e continuaram a ser médias. Foram alimentadas por mais uns tantos sectores, uns em movimento ascendente e outros em movimento descendente. No século XIX, com a revolução industrial, foram ameaçados pelo Capital e pelo movimento operário. Liberalismo e socialismo foram seus inimigos – embora disputassem o seu voto e a sua influência – e o fascismo (ou qualquer coisa que assente em Deus, Pátria e Autoridade, com umas lagrimazitas em torno da Família) o seu paraíso.

Para estes sectores o estado é o grande protector. Para o Estado estes sectores constituem o seu maior fornecedor de leais guardiões. Fica assim estabelecida a Santa Aliança em torno da Burocracia.

Leituras aconselhadas
Michels, R. Para uma sociologia dos Partidos políticos na democracia moderna Ed. Antigona, Lisboa, 2001
Weber, M. The theory of social and economic organisatio Oxford University Press, 2007
Weber, M. Economy and Society University of California Press, 1978

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