Rui Peralta, Luanda
Existe
um cabo solto da colonização que afecta 14 nações africanas, uma pilhagem
perpétua, um roubo legalizado em pleno século XXI, decénios após as
independências. Esse cabo solto é uma situação que ocorre na Africa Central e
resume-se ao facto de os países desta região, que foram colonizados pela
França, não têm bancos centrais nacionais, tendo em seu lugar dois bancos
regionais: o Banco Central dos Estados da África Ocidental (BCEAO) e o Banco
dos Estados da África Central (BEAC), mas ambos nada fazem a não ser
supervisionar o “pacto colonial”, ou seja, a aplicação da política da “moeda
comum”.
A
França mantém as reservas nacionais do Benim, Burkina Faso, Costa do Marfim,
Mali, Níger, Senegal, Togo, Camarões, Republica Centro-Africana, Chade,
Republica do Congo (Brazzaville), Gabão, Guiné Equatorial e Guiné-Bissau (os
dois últimos não foram colónias francesas, mas uniram-se á politica monetária
dos seus vizinhos). São 14 nações africanas, ricas em recursos naturais,
obrigadas á condição de submissão através de uma estrutura criada pela França.
Como
é óbvio a França não presta contas às duas estruturas bancárias centrais
regionais que criou para estas nações africanas, mas calcula-se que no Banco
Central Francês as reservas destes países ascendam aos 500 Biliões (não são 500
mil milhões, mas sim 500 milhões de milhões, ou sejam, Biliões) de euros. Desta
forma a França mantém a política mercantilista da colonização, cujo objectivo é
a manutenção da riqueza da potência colonial. Esta política alicerça-se na
proibição de produtos não franceses circularem nos mercados nacionais da
região; na obrigação dos mercados nacionais exportarem a sua produção através
da França; de limitar o papel produtor destes mercados às matérias-primas; de
limitar os mercados nacionais a serem receptores dos produtos franceses; e a
obrigatoriedade de aceitarem a “cooperação” politica, militar, económica e
cultural francesa.
É
assim que a França apresenta-se militarmente na Costa do Marfim, no Níger ou no
Mali, dando-se ao luxo de efectuar golpes de estado, que a AREVA, uma companhia
francesa da área de energia nuclear explora todo o uranio do Níger a preço
ridículo e absurdo e com um custo humano e natural intolerável e aberrante,
sendo o Níger obrigado a pedir autorização á França quando quer vender uranio a
outros países e a vender o uranio á França a um preço inferior ao do mercado
internacional.
Quando
Mahamadou Tandja, presidente do Níger em 2010, chegou a Paris e disse que os
chineses pagavam 10 vezes mais pelo uranio, manifestando o desejo do Níger em
terminar com o pacto colonial, assinou o término do seu mandato e foi deposto,
sendo substituído por Mahamadou Issoufu, um alto executivo da AREVA. O uranio
actualmente está a 210 euros o Kg, mas a França paga apenas ao Níger 61 euros.
O pacto colonial submete a África Ocidental ao subdesenvolvimento, impede-a de
progredir e prolonga o sofrimento e a miséria dos seus povos.
“Je
suis Paris” tem, na África Ocidental, um significado muito mais lato do que o
atribuído pelas campanhas lançadas após os atentados em Paris. Aqui, nesta
região ultraperiférica do neocolonialismo, representa a realidade opressiva e
concentracionária de um grupo de nações submetidas á condição de subúrbio de
Paris.
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