Trazido pelo empresário Francisco de Paola e seu sócio Dawison, no dia 4 de novembro de 1896, o Cinematografo teve sua primeira apresentação, na capital gaúcha, na Rua da Praia - atual Rua dos Andradas- nº 349. A exibição das imagens, em movimento, deixou o público presente perplexo diante da novidade, que se transformaria na sétima arte. A exibição se deu quatro meses após a sua estreia no Rio de Janeiro.
As
primeiras imagens eram vistas panorâmicas, que retratavam as belezas naturais e
registros de eventos públicos, como procissões, acontecimentos políticos de
outros locais fora do nosso Estado. Em 26 de fevereiro de 1901, o Correio
do Povo anunciou a apresentação doCynematographo, com exibições
diárias, no Teatro São Pedro. Embora as críticas da elite conservadora, as
exibições continuaram até o ano de 1909
Em
20 de maio de 1908, foi aberta ao público a nossa primeira sala de cinema, o
Recreio Ideal, na Rua dos Andradas, em frente à Praça da Alfândega. O
local era propriedade de José Tours, que representava uma fabrica espanhola de
aparelhos cinematográficos. A notícia da inauguração foi publicada no
Correio do Povo. Segue a transcrição :
"Recreio
Ideal – “Como noticiamos, realisou-se hontem, a funcção que o senhor
Tous, proprietário do Recreio Ideal, dedicára á imprensa. O salão está muito
bem preparado e tem grande número de cadeiras. O apparelho cinematographico é,
sem dúvida, o melhor que, até agora, veiu a esta capital, não se notando nas
projecções a minima trepidação. Todas as fitas exhibidas agradaram,
immensamente, sobretudo as que reproduziam a chegada de Elihu Root, ao Rio de
Janeiro, diversos lindos trechos dessa capital e os funerais del-rei d.Carlos e
do principe real d.Luiz Felippe.
Hoje, o público poderá gosar das diversões do Recreio Ideal, que funcciona á rua dos Andradas n. 321." ( Correio do Povo , 21 /05/1908).
No
dia 27 de março de 1909, data oficial do cinema gaúcho, foi exibido o primeiro
filme de ficção no Rio Grande do Sul, cujo título é ‘Ranchinho do Sertão’. O
pioneirismo do cinema gaúcho nos remete aos nomes de Eduardo Hirtz, Francisco
Santos, Carlos Comelli, Laffayete Cunha, Emílio Guimarães, entre outros.
Em
29 de novembro de 1913, foi inaugurado o primeiro cineteatro de Porto Alegre,
o Guarany, que se localizava na Rua dos
Andradas, em frente à Praça da Alfândega, em um
prédio projetado pelo arquiteto alemão Theo Wiederspan (1878
-1952). Atualmente, esse prédio está sendo restaurado e constitui-se em
patrimônio histórico.
Até o ano de 1927, as películas eram mudas. O primeiro filme
sonoro no mundo, O cantor de jazz, foi exibido em 06 de outubro de
1927. Seu criador foi americano Alan Crosland, que se baseou numa peça de
Samson Raphaelson.
No
Brasil, o primeiro filme sonoro foi a comédia "Acabaram-se os otários"
(1929), de Luiz de Barros. O musical "Coisas nossas", de
1931, de Wallace Downey, era cantado em português, com artistas
brasileiros. Infelizmente, restou-nos apenas o registro sonoro em oitos
discos, que perfazem sete partes, faltando uma da sequencia original. Este
material foi identificado pelo pesquisador Jesus Pfeil no Museu da Comunicação
Hipólito José da Costa e, felizmente, foi recuperado pelo técnico Flávio
Richiniti.
No
ano de 1940, estreou Cachorricídio, o primeiro filme sonoro do Rio
Grande do Sul, produzido pela Leopoldis Som. O músico e radialista Antônio
Francisco Amábile (1906-1956) atuou como ator principal, além de ter escrito o
script e ser o responsável pela parte musical.
O
nosso cronista Achyles Porto Alegre (1948-1926) se inquietava em relação às
novas formas de divertimento do início do século 20. Em sua opinião, os
espaços fechados, destinados a sociabilidades públicas, eram locais
frequentados pela “arraia miúda”, como o cinema que considerou um instigador de
maus costumes. Embora as críticas do nosso cronista e da Igreja, a partir do
final da década de 1910, o cinema se expandiu e atraiu o público para as salas de
exibição, tornando-se a expressão genuína da modernidade, pois influenciou no
comportamento social, por meio da propaganda de produtos voltados à beleza, à
moda e ao consumo de bebidas e cigarros. Enfim, criou-se uma cultura
cinematográfica.
*Pesquisador
e Coordenador do Setor de Imprensa do Musecom* / Porto Alegre / RS/ Brasil
Bibliografia:
CONSTANTINO,
Núncia Santoro de. A Conquista do Tempo Noturno: Porto Alegre
"Moderna". Estudos Ibero-Americanos, Porto Alegre, v. XX, n.2,
p. 65-84, 1994.
MATTOS,
Carlinda M. Fischer. Cinema e Memória no Rio Grande do Sul. In:
“Museu de Comunicação Social Hipólito José da Costa – 30 anos”. Porto Alegre:
CORAG, 2004.
PFEIL,
Antônio Jesus. Cinematógrafo e o Cinema dos Pioneiros (1995).
TRUSZ,
Alice Dubina. Entre Lanternas Mágicas e Cinematógrafos. São
Paulo: Terceiro Nome, 2010.
Imagens
:
1
- Cinematographo Lumiére /
2- Vista
da rua dos Andradas, em frente à praça da Alfândega. Nesse local (nos prédios à
esq.) foram apresentados os primeiros filmes em Porto Alegre.
3- Local
do Cine Recreio Ideal, ao lado do prédio do Cine-teatro Guarany
4
- Francisco de Paola o empresário que introduziu o Cinema em Porto Alegre
- Reeditado em 18.01.2016 às 12:35
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