Zuma abandonará a presidência da
África do Sul se o Parlamento votar, quinta-feira, a favor da moção de censura
apresentada pelo ANC, no poder, admitiu em entrevista ao canal público SABC.
"Não fiz nada de mal", afirmou.
Jacob Zuma quebrou finalmente o
silêncio, em mais um dia de tensão na África do Sul. Em entrevista à televisão
pública sul-africana SABC, o Presidente
sul-africano disse que aceitaria a decisão do Parlamento. Mas rejeitou
a exigência do Congresso Nacional Africano (ANC) para se demitir antes da
votação de uma moção
de censura, antecipada para esta quinta-feira (15.02) à tarde.
Zuma, que prometeu dirigir-se à nação
antes do final do dia, considerou "injusta" a decisão
do ANC e sublinhou que o partido não apresentou "razões claras"
para a sua saída. "Preciso de ser informado sobre o que fiz. Infelizmente,
ninguém conseguiu ainda dizer-me. Porquê tanta pressa?", questionou.
O poder de Zuma tem vindo a
diminuir desde que Cyril
Ramaphosa lhe sucedeu, em dezembro, à frente do partido, e prometeu
guerra contra a corrupção. No entender do chefe de Estado, Ramaphosa deveria
preparar-se para as eleições de 2019, altura em que concluiria o seu último
mandato permitido. Só então, quando fosse eleito, aconteceria a transferência
de poderes e não antes.
"Alguns líderes têm dito que
não precisamos de dois centros de poder na África do Sul, mas isso não é um
motivo porque não existem dois centros de poder", sublinhou Zuma na sua
primeira aparição pública após o ultimato do partido.
Na entrevista ao canal público,
Jacob Zuma vestiu o papel de "vítima" para dizer que não fez
"nada de mal". O chefe de Estado é acusado desde 2016 de vários atos
de corrupção, que continua a negar. "Estamos a passar muito tempo a
discutir 'Zuma deve sair' e não entendo porquê."
Oitava moção de censura
O ainda Presidente da África do
Sul admitiu que ponderou demitir-se, mas depois decidiu ficar "mais uns
meses" no cargo que vigora até 2019. Constitucionalmente, o Presidente não
é obrigado a aceitar a decisão do seu partido.
Mas se não o fizer, o ANC marcou
já para a tarde de quinta-feira (15.02) a apresentação, no Parlamento, de uma
moção de censura - a nona que Zuma enfrenta. O anúncio foi feito pelo
tesoureiro-geral do partido, Paul Mashatile, após uma reunião do grupo
parlamentar do ANC. "Não podemos manter a África do Sul à espera",
disse.
"O Comité Executivo Nacional
do ANC decidiu recordar ao Presidente Zuma que termina hoje (14.02) o prazo
(para ele se demitir). Vamos agora avançar com a moção de censura no
Parlamento, para que o Presidente Zuma seja afastado do cargo e possamos eleger
Cyril Ramaphosa como Presidente da República", revelou em conferência de
imprensa.
"O melhor que o
Presidente tem a fazer é fazer o que é certo. E o que é certo é que o Comité
Executivo Nacional (NEC) do ANC pediu humildemente ao Presidente que se
demita", afirmou Magomela Mako, membro do partido, após a entrevista de
Zuma.
Buscas em casa dos Gupta
Na manhã desta quarta-feira
(14.02), nos arredores de Joanesburgo, uma unidade de elite da polícia
sul-africana fez buscas
na casa da família Gupta, aliada de Zuma, no âmbito de investigações sobre
tráfico de influências que envolvem o Presidente. Em 2016, a família de
empresários, de origem indiana, foi acusada de envolvimento na gestão dos
assuntos do Estado sul-africano, desde a nomeação de ministros à pressão para a
obtenção de contratos públicos.
Foram detidas três pessoas, cuja
identidade não foi revelada. O advogado da família disse à agência Reuters que
"nenhum dos irmãos Gupta foi detido".
Tessa Turvey, vizinha da família,
aplaude as detenções. "Finalmente está a ser feito algo. Estes homens
devem sair do nosso país e deixar-nos em paz. Já fizeram demasiados
estragos", disse aos jornalistas.
Tanto Zuma como a família Gupta,
que também está a ser investigada pelos serviços secretos norte-americanos,
negam quaisquer ilegalidades. Dizem-se vítimas de uma "caça às
bruxas".
Madalena Sampaio, Reuters, AFP,
Agência Lusa, EFE | em Deutsche Welle
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