domingo, 19 de maio de 2019

A NOVA ROTA DA SEDA CHINESA ESTÁ A ABRAÇAR A EUROPA


Octavio Serrano* | opinião

O chefe de Estado chinês, Xi Jinping, visitou recentemente a Itália; ali assinou um memorando com o governo italiano, que prevê investimento chinês, nos portos de Trieste e Génova, em infraestruturas e aquisições, de modo a que estes portos sejam concorrenciais com o de Roterdão na Holanda; já há alguns anos, os chineses tinham adquirido o porto do Pireu na Grécia, aproveitando-se da crise financeira do Estado Grego; na mesma linha foi subscrito em Portugal, um acordo de entendimento relativamente ao porto de Sines.

Como se vê, a preocupação chinesa é a de adquirir ou desenvolver infraestruturas logísticas, que forneçam suporte, à ofensiva comercial chinesa, que visa garantir ou expandir o seu controlo de mercados em todo o Mundo; a esta estratégia, designam eles, de a Nova Rota da Seda dos tempos modernos; um conjunto de canais de índole comercial, que visam garantir no futuro que os produtos manufacturados chineses, continuem a ter mercado garantido. A antiga rota da seda, de há dois mil anos, ligava a China à Europa, através da Ásia Central; foi por ela que chegavam as caríssimas sedas, que a aristocracia romana adorava; ao ponto, de o seu consumo excessivo ter contribuído para a bancarrota de Roma; e por fim para a sua queda!


Esta estratégia chinesa de expansão comercial insere-se numa luta pela sobrevivência; devido à concorrência, em termos de custo de mão-de-obra barata, por outros países do sudoeste asiático; como a India; o Bangladesh; a Indonésia; ou o Vietname; a deslocalização de indústrias para estes países, já começou há algum tempo; inevitavelmente, a mão-de-obra chinesa, tem-se vindo a encarecer, à medida que as condições de vida da população chinesa melhoram; devido à dinâmica economia interna, que provoca um acréscimo de consumo e de rendimentos; mas para que se mantenham os superavits comerciais, e a expansão do PIB da China continue a crescer a ritmos aceitáveis, os chineses têm de algum modo contrariar esta tendência de substituição.


A nova Rota da Seda visará não só garantir matérias-primas à indústria chinesa; mas também mercados, para os seus produtos; na prática trata-se de criar entrepostos comerciais, junto dos mercados que pretendem dominar, procurando a partir dai garantir, e fornecer, as redes comerciais controladas ou não por interesses chineses; ou de criar infraestruturas, que forneçam preponderância e controlo, dentro dos países que possuem matérias -primas que de algum modo sejam essenciais à máquina manufactureira chinesa; dentro deste hercúleo esforço, também se insere o reforço e modernização da rede ferroviária transiberiana, que atravessa a Rússia em direcção à Europa; para criar condições para um aumento radical do número de comboios semanais, vindos da China com destino à Europa; onde os chineses já contam com o controlo de infraestruturas logísticas, em países mais débeis economicamente da CEE, como a Estónia, a Hungria ou a Croácia, por exemplo! O controlo adicional de portos marítimos, visará reforçar essa capacidade de se impôrem no mercado europeu. 

Mas esta ofensiva comercial, tem também uma vertente politica; a China sabe bem, que dentro da CE, não existe unanimismo; existem tanto interesses económicos, como interesses políticos, divergentes; é estratégia chinesa, alienar interesses políticos em seu favor; eles sabem da existência de forças que se opõem ao centralismo económico e politico alemão; e de ressentimentos profundos, que veem o investimento chinês, como um contrapoder antialemão; países, do sul da Europa, ou do leste europeu, que procuram capitalizar a sua pertença à CEE, em favor de interesses que lhes proporcionem mais-valias soberanistas económicas; ou que lhes permitam possuir trunfos de valor, com que se oponham às prerrogativas impostas pelos poderes de Bruxelas; do género, tenham cuidado com o que nos impõem, que nós também temos os nossos interesses; e os chineses, muito pragmáticos, sem duvida que se aproveitam, para estabelecer relações politicas com essas facções mais soberanistas.

E os alemães, que até há bem pouco encolhiam os ombros, estão a ficar cada vez mais preocupados; ao ponto de estarem predispostos, a impôr à Europa uma estratégia, de oposição ao progressivo imperialismo económico chinês!

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