sexta-feira, 24 de janeiro de 2020

O CDS na berlinda, os isabelinos santos lusos e os escravos da modernidade


Curto à direita com CDS / PP e os dramas intestinos que por lá vão. Vem aí congresso e candidatos a chefes supremos do Centro Democrático Social / Partido Popular. Há os que têm a perspetiva de rumar ainda mais à direita para dar cabo do canastro ao Chega e ao Iniciativa Liberal, também responsáveis pelos péssimos resultados eleitorais nas últimas eleições legislativas.

CDS mais à direita. Dizem analistas que assim acontecerá, o rumo à direita radical poderá vir a ser a solução para o CDS se manter com alguns lugares de deputados (não muito mais que no presente). Teremos então um CDS mais populista, mais reacionário, caminhando na estrada fascista/salazarista/saudosista de logo após o 25 de Abril de 1974. Na atualidade com adaptações pseudo-democratas imprescindíveis e convenientes. O tempo o dirá, se assim não acontecerá, caso se atreva a enveredar por esse caminho. Pode ser a sua morte ou a sua sorte… E azar dos portugueses na generalidade, a maioria que preza o desenvolvimento e rigor da democracia, da justiça social e de muito mais que consta na Constituição que ainda guarda importantes itens de defesa dos direitos democráticos dos portugueses. Adiante.

Ainda no Expresso Curto que aqui trazemos (mais em baixo) David Dinis, o tarefeiro da lavra do dia, abarca o que não podia deixar de fazer: Luanda Leaks, tema que tem sido profícuo na badana de toda a semana e assim vai continuar na próxima e nas seguintes. Dali, do dito Leaks, salientamos os portugueses cúmplices e oportunistas da chamada Princesa da Angola Dos Santos, afinal ladra dos angolanos, que andam a procurar mostrar-se a assobiar para o lado como se fossem uns isabelinos santos lusos de excecional asseio, quando tantos os apontam como fedendo aos odores dos esgotos que têm por ligação e imundice Isabel dos Santos e as ditas centenas de empresas dos seus (seus?) milhões de euros e/ou dólares. 

Não só portugueses abutres da bagalhoça da pesada estão na berlinda, também de muitas outras nacionalidades. Afinal estamos a referir aqui a máfia internacional que parasita os povos nas suas variadas maneiras, sapiências e “investimentos” ou capacidades e conhecimentos “avançados” para possuir e gerir o que não pertence aos supostos donos mas sim aos legítimos donos, os povos.

Muito mais pode desfrutar nas abordagens curtas mas incisivas e úteis que constam no Curto de hoje. Vá lá e renda-se ao conhecimento da atualidade. Depois prepare-se para o fim-de-semana que está à porta. Isso se acaso não lhe tocar trabalhar que nem mouro sábado e domingo – o que já é grande hábito dos trabalhadores portugueses ~ não tendo tempo disponível para a família, para os filhos… Para nada, a não ser dar tempo à exploração desenfreada que os horários de trabalho de hoje impõem por salários de miséria.

“Má língua”, dirão uns quantos. Vê-se mesmo que nem pensam que estão a viver o apogeu da era esclavagista da modernidade, em que o chicote é a necessidade criada para ter algum dinheiro para pagar as contas dos “bens” que vos impingem.

Salvé slave!

Bom resto de dia e bom-fim-de semana. Faz-de-Conta, pois.

MM | PG



Bom dia, este é o seu Expresso Curto

O dantesco cenário do congresso do CDS

David Dinis | Expresso

Bom dia!

Andamos há três meses a falar dos novos partidos, mas agora é tempo de falar de um dos antigos. O CDS começa amanhã um Congresso que promete ser bem quente. Já sabe o contexto: o partido ficou reduzido a cinco deputados (com a pior votação da sua história), Assunção Cristas demitiu-se e ficou praticamente remetida ao silêncio desde então, deixando o palco entregue a uma ruidosa campanha. Sim, ruidosa, com comparações a Bolsonaro e acusações de cobardia, com baldes de lixívia, decibéis e arranjinhos, com doze estratégias que vão a votos e cinco candidatos formalizados.

Como explicava ontem a Mariana Lima Cunha, os cinco do CDS estão a dois dias de entrar num dos congressos mais disputados da história do partido. E como é à moda antiga, com eleição no próprio congresso, não há ingrediente que falte: há senadores que não sabemos quem apoiam (Lobo Xavier, Pires de Lima, Nobre Guedes, Ribeiro e Castro), há um ex-líder que quer voltar mas não sabe se pode (Manuel Monteiro), há um outro que se arrisca a ver riscado todo um legado (Portas), há muitas contagens de delegados e até a hipótese de o líder sair de uma geringonça à moda centrista.

Não falta, portanto, expectativa mediática, aquela que espera momentos tão épicos como a bica de Monteiro que azedou, ou o segredo da saudosa 'Zezinha' Nogueira Pinto. Mas há também medo entre os militantes e dirigentes do CDS. Medo de desaparecer, porque o resultado do partido foi muito baixo, mas também porque à direita apareceram dois novos partidos que ameaçam rapar o tacho dos votantes daquele espaço. Foi esse medo que marcou a campanha interna - e será ele a marcar o que vamos ouvir no próximo fim de semana.

Eis a pergunta: o CDS pode morrer?

Visto de fora, a resposta não é auspiciosa: “Não é assim tão fácil um partido desaparecer, mas também não é automático que cresça. Pode cair de 4% para 3% ainda, correndo o risco de se tornar irrelevante”, explicou André Azevedo Alves, politólogo e professor da Universidade Católica. Será difícil, mas isso “acontece”, concorda António Costa Pinto, do ICS, lembrando o caso francês, num texto publicado aqui no Expresso que tem uma ameaça no título: o medo do “partido da trotinete”.

Atenção agora, aos nomes. E fique atento a dois: João Almeida, deputado, o candidato com o trauma do Belenenses; e Francisco Rodrigues dos Santos, presidente da Juventude Popular, o conservador incorreto que quer saltar da liderança dos pequeninos para a liderança dos grandes. O primeiro, moderado e mais liberal, tem um ponto fraco: fez parte da direção de Assunção Cristas, que sai derrotada; o segundo, muito (mesmo muito) conservador, tem outra: um historial de declarações que foram disfarçadas no seu programa, mas deixaram anseios entre as suas tropas.

Pelo meio, conte ainda com Nuno Melo - o eurodeputado que disse que seguramente seria candidato, mas que não é por não ter sido eleito deputado. É como a história do apostador no Euromilhões que lamenta não ter ganho o jackpot, quando nem fez qualquer aposta.

Como vê, não está famoso, o cenário do congresso. Mas, acredito eu, nem todos os cenários para o pós-congresso são iguais. Como dizia Manuela Ferreira Leite, num célebre discurso perante o Conselho Nacional do PSD, nos decisivos dias em que Barroso entregou o poder a Santana Lopes: há duas maneiras de perder, uma com honra e outra sem ela. Mas aí, claro, já estamos no domínio da opinião. A minha pode lê-la aqui: Chicão vem para fazer a guerra (depois não digam que não avisei).

OUTRAS NOTÍCIAS

Luanda leaks: a saga continua. Nas últimas 24 horas, apenas nessas, a NOS respirou de alívio com a saída dos três representantes de Isabel dos Santos na administração, uma grande consultora internacional renunciou a novos trabalhos com a empresária, a CMVM pediu informações a várias empresas ligadas ao universo 'isabelino', o PGR angolano afinou em Lisboa os próximos passos da investigação, enquanto em Lisboa o MP afina a estratégia para abrir um inquérito (conta o Público). Pelo meio, soubemos que Isabel dos Santos contratou lobistas com ligações a Trump e, através do JN de hoje, que esteve ontem em Lisboa umas horas, para assinar procurações de plenos poderes aos seus advogados.

Se algum dia tiver dúvidas sobre a função do jornalismo livre e de investigação, talvez este dossiê ajude a limpá-las. Até porque, em Luanda, foram detidos ontem mesmo alguns jornalistas e ativistas (ontem mesmo).

Mais dois links sobre o Leaks: primeiro o mapa interativo incrível que a Sofia Rosa preparou, sobre o património de Isabel dos Santos mundo fora; depois, o podcast de economia do Expresso, com esta pergunta válida: faz sentido chamar “empresária” a Isabel dos Santos?

Do caso do polícia suspeito da Amadora, há duas notícias relevantes que merecem um olhar: o agente acusado de agressão era da unidade de elite da PSP (e recebeu louvores de dois ministros); e o sindicato da polícia apagou o post que insinuava que a mulher negra agredida tem “doenças graves”. A PSP, conta a Marta Gonçalves, ainda admite tomar medidas. Há coisas que não merecem mesmo mais comentários.

Doença grave é esta, senhores: já com 26 mortos e 830 infetados, o Coronavírus continua a desafiar investigadores e autoridades sanitárias. A OMS ainda não o declarou emergência global, mas este investigador deixa um alerta: as doenças longínquas chegam cá, como as nossas chegam a outros sítios.

No Bloco, há um alerta para Catarina. Agora são os críticos que avisam: o Bloco deve chumbar orçamento se PS mantiver “arrogância”. Enquanto isso, o PCP pressiona Costa: agora pede a reposição da reforma aos 65 anos e mínimo de 25 dias de férias. E o PSD afina finalmente as suas propostas, admitindo apoiar a proposta do Bloco para redução do IVA na luz (diz o Negócios de hoje).

Pelo meio, enquanto Marcelo avisa que “algum populismo não quer aprender nada com o Holocausto” (nas homenagens em Israel), Ventura vai ser recebido com honras VIP no Palácio da Bolsa no Porto.

É neste contexto que, lá de fora, nos dizem que os ponteiros do relógio do Apocalipse voltaram a avançar: nunca estivemos tão perto da meia-noite. Se não é verdade, às vezes parece mesmo.

FRASES

"Um dia vão prestar contas a Deus, não ao CDS". Adolfo Mesquita Nunes, dirigindo-se a 'Chicão' Rodrigues dos Santos, candidato à liderança do partido.

"Ainda não temos sovietes do Chega a dirigir a polícia. O post abjeto escrito pelo Sindicato Unificado de Polícia é digno de uma milícia, não de agentes da autoridade". Daniel Oliveira, sobre a "rebaldaria" na PSP (e o caso da Amadora).

“O Silas está seguro em Alvalade? Não. O presidente não está seguro em Alvalade. Ninguém está seguro em Alvalade”. Rui Santos, comentando na SIC-Notícias a época perdida do Sporting.

“Estou próximo dos 1300 ou 1400 jogos, é verdade, mas sinto formigas na barriga”. Jesualdo Ferreira, mesmo à beira da sua estreia no banco do Santos (via Tribuna).

O QUE ANDO A OUVIR

Sem muito tempo para retomar leituras, ponho-me a par das novidades do processo de "impeachment" a Donald Trump pelos belíssimos podcasts que se fazem na América. Pelo The Daily do New York Times, tenho percebido como a maioria republicana no Senado tentou mudar as regras do inquérito, tendo sido tratada por três senadores da ala moderada. Pelo "Article Two" da NBC, como os democratas construíram o processo, com base nas novas revelações de um advogado ligado à Casa Branca. E através do "Can He Do That" do Washington Post, como os amigos de Trump podem minar a sua defesa.

(Ontem foi o dia um da argumentação dos Democratas. A acusação? Que a conduta do Presidente “não põe ‘América em primeiro’, mas sim Trump em primeiro”)

Pelo meio, vou revendo partes do livro de Woodward e Berstein sobre a investigação jornalística que levou ao fim da era Nixon, no histórico processo do Watergate. Naquela já longínquo mas muito presente "The Final Days", percebemos bem como o que mais mudou na América foi a extrema polarização dos seus dois grandes partidos, aniquilando as hipóteses de diálogo e escrutínio e tirando à política a sua mais nobre missão: a de melhorar, passo a passo, as nossas vidas.

Se for verdade que estamos a 100 segundos do apocalipse, que os aproveitemos bem: o Posto Emissor da Blitz chegou agora, via podcast, com a Capicua a dar-nos música e boa conversa. Siga com ela, ainda temos o fim de semana.

Até já!

Sugira o Expresso Curto a um/a amigo/a

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