Depois de uma década a tentar melhorar a imagem da União Nacional, partido de extrema-direita anti-imigração cuja liderança herdou do pai, Marine Le Pen alcançou esta semana recordes nos índices de popularidade e nas sondagens para as presidenciais francesas, que acontecem já neste mês de abril.
As mais recentes sondagens não só deram a Marine Le Pen o segundo lugar
nas intenções de voto, como encurtaram a margem entre a candidata de
extrema-direita e o atual chefe de Estado, Emmanuel Macron.
Segundo o Instituto Francês de Opinião Pública, 47 por cento dos eleitores
em França pretendem votar
Em 2017, o atual presidente derrotou a adversária de extrema-direita ao alcançar
66 por cento dos votos.
Indiferentes ao aumento da popularidade da líder da União Nacional, os seus
rivais políticos continuam a retratá-la como racista, xenófoba,
antissemita e antimuçulmanos. No entanto, entre a população a imagem de Le Pen
sofreu um volte-face.
A estratégia de Le Pen tem passado por propostas de melhoria da qualidade de vida, o que lhe pode valer especial simpatia do público numa altura em que a guerra na Ucrânia está a fazer disparar os preços da energia.As eleições presidenciais de França estão marcadas para 10 de abril, com uma segunda volta agendada para 24 do mesmo mês.
O Governo de Macron já relembrou, porém, que a candidata de extrema-direita está ligada ao presidente russo, Vladimir Putin, que visitou em 2017. “Ela é perigosa”, alertou na semana passada o ministro do Interior, Gérald Darmanin. Também o atual presidente Macron avisou que as pessoas estão “a desviar o olhar” da realidade que é o programa radical de Le Pen, começando a vê-la como “mais simpática”.
Elisabeth, uma cidadã francesa de 68 anos auscultada pelo Guardian, explicou que sempre votou na esquerda política. Agora, porém, assume que votará
Presidenciais de 2022 são as mais extremistas da história moderna francesa
Marine Le Pen não é a única candidata de extrema-direita a concorrer ao Eliseu
nas eleições de abril. O antigo comentador político Eric Zemmour, que já
foi condenado por incitações ao ódio racial, está a usar na sua campanha
eleitoral uma linguagem ainda mais controversa do que a de Le Pen.
Tem também apoiado teorias da conspiração, entre as quais a apelidada de
“grande substituição”, segundo a qual as populações locais francesas poderão
ser substituídas por imigrantes, implantando uma maioria muçulmana e colocando
a França nà beira da guerra civil.
Segundo as sondagens, Eric Zemmour e Marine Le Pen arrecadam, em conjunto,
cerca de 30 por cento das intenções de voto na primeira volta das eleições.
Analistas políticos acreditam que o aparecimento de Zemmour tem ajudado Le Pen. “Aconteceu
algo espantoso durante esta campanha. O radicalismo de Eric Zemmour suavizou a
imagem de Marine Le Pen”, explicou ao Guardian o cientista político
Bruno Cautrès. “Para muitos eleitores, ela é menos radical, parece menos
agressiva e possui mais respeitabilidade do que Zemmour”.
Esta pode ser, efetivamente, apenas uma questão de aparências. Na prática, a
política rígida de Le Pen não se alterou e pode até ser conciliada com a de
Zemmour. A líder da União Nacional prometeu já um referendo sobre a imigração e
quer reescrever a Constituição francesa para garantir que “a França é para os
franceses”.
Com esta proposta, Le Pen pretende priorizar os nativos e deixar para
segundo lugar os que vieram de fora, em áreas como benefícios sociais,
habitação, emprego e saúde. Quer ainda banir o uso de hijabs (peças de roupa
usadas por mulheres muçulmanas para cobrir a cabeça) em locais públicos, por
considerar que são “um uniforme de ideologia totalitária”.
Muçulmanos atribuem estigmatização às políticas de Macron
Na comunidade islâmica, há quem aponte o dedo não só à extrema-direita, mas
também às políticas de Emmanuel Macron, nomeadamente uma lei adotada no verão
do ano passado para combater o radicalismo islâmico, travando o financiamento
estrangeiro de grupos religiosos.
“Uma das maiores consequências do mandato de Macron é o aumento da
estigmatização do Islão e da sua comunidade em França”, referiu à Al Jazeera Julien Talpin,
investigador de Ciências Políticas.
Já o investigador Olivier Esteves nota que pessoas com sinais físicos de
crenças religiosas, como o hijab, enfrentam tremendas dificuldades no mercado
de trabalho.
“Temos pessoas com elevado grau de educação e com cursos superiores que sentem
que a sua única opção caso queiram permanecer em França é trabalhar num
supermercado”, lamentou à Al Jazeera.
Joana Raposo Santos - RTP
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