quarta-feira, 11 de maio de 2022

OS BONS MORTOS E OS MAUS – Artur Queiroz

Artur Queiroz*, Luanda

Jenin é uma cidade da Palestina espraiada no Vale do Jordão. Tem poucos habitantes mas os especialistas dizem que ali existiu uma aldeia citada na Bíblia Sagrada. Ao lado fica o campo de refugiados criado pela ONU, em 1953. Hoje estão lá 20.000 palestinos dos quais metade tem menos de 15 anos. Já os seus pais nasceram naquele inferno. Se quiserem saber o que é pobreza, vão lá. Se quiserem saber o que é miséria revoltante, Jenin é uma excelente amostra. Se quiserem ver, ao vivo, o sinónimo de precariedade, desumanidade, desprezo pela vida humana, o confisco do futuro, vão ao campo, velho de 73 anos.

As tropas israelitas, sempre que há um novo governo, mostram o seu ódio aos palestinos, invadindo o campo de refugiados de Janin e prendendo ou matando quem lhes apetece. É lá que praticam tiro ao alvo. O que valem 20.000 palestinos refugiados, descendentes de compatriotas ali enclausurados pela ONU? Nada. Provam todos os dias, ao longo de 73 anos, o que é um campo de concentração.  Mas ninguém os liberta, ninguém fecha a prisão, ninguém lhes dá atenção. Não existem. O presidente da Autoridade Nacional Palestiniana não aparece todos os dias nos Media ocidentais. Não tem voz de kaporrotista, não é aliado idolatrado do estado terrorista mais perigoso do mundo (EUA) e seus vassalos da União Europeia.

Em 2002, quando as Forças Armadas Angolanas ofereceram ao Povo Angolano o seu Dia da Vitória, derrotando os bandidos armados de Jonas Savimbi, o governo de Ariel Sharon ordenou uma prova de ódio aos palestinos e mandou invadir o campo de refugiados de Jenin.  Foi a Operação Escudo Defensivo. Por força dos Acordos de Oslo, a cidade passou para a administração da Autoridade Palestiniana, em 1996. Mas isso foi só fachada. As tropas de Israel entram lá quando lhes apetece matar.

A “operação” das Forças de Defesa de Israel, na verdade, foi um massacre hediondo. Fez este Abril, 20 anos. Primeiro foram bombardeamentos aéreos e depois a invasão de forças terrestres. Imaginem um espaço com o tamanho de quatro campos de futebol, casas precárias, umas em cima das outras, bombas a caírem em cima. Depois os “rambos” disparando sobre tudo o que mexia. Uma mortandade desumana. Mas todo o ano de 2002 foi de massacres e prisões arbitrárias. Em novembro de 2002, Ian Hook, funcionário da Agência das Nações Unidas de Assistência aos Refugiados da Palestina no Médio Oriente, foi assassinado pelos invasores.

Os massacres no campo de concentração da ONU em Jenin intensificaram-se até 11 de Abril de 2002. Depois vieram buldózeres derrubar as casas que ainda estavam em pé. E por baixo dos escombros foram escondidos os mortos. As ocultações de provas dos massacres terminaram em 24 de Abril. Nesse dia, os “rambos” nazis retiraram para Telavive.

Durante o período de 4 a 15 de Abril, as Forças de Defesa de Israel proibiram o acesso ao campo de refugiados de Jenin a israelitas e palestinos médicos e enfermeiros, ambulâncias, serviços de ajuda humanitária, organizações internacionais de direitos humanos e humanitárias, diplomatas e jornalistas. As ambulâncias do Crescente Vermelho Palestino (PRCS) e as do Comité Internacional da Cruz Vermelha (CICV) só foram autorizadas a entrar em Jenin a 15 de Abril. Os observadores internacionais só foram admitidos em 16 de Abril. 

Uma missão chefiada por Mary Robinson, Alta Comissária das Nações Unidas para os Direitos Humanos, não foi autorizada a entrar em Israel para tratar com as autoridades de Telavive o fim dos massacres. Uma missão de alto nível acordada entre o ministro dos Negócios Estrangeiros Shimon Peres e o Secretário-Geral da ONU Kofi Annan e reforçada pelo voto unânime do Conselho de Segurança, não foi autorizada a entrar em Israel, durante os massacres de Jenin. Foi dissolvida após semanas de negociações sem sucesso.

Após a retirada dos “rambos” nazis, a ONU enviou o seu pessoal. Encontraram sob os escombros, 52 mortos. Mais tarde foram encontrados mais. Ariel Sharon (nazi encartado) disse aos Media internacionais que no campo de refugiados de Jenin só morreram terroristas.

Yvonne Ridley, jornalista norte-americana que entrou no campo com funcionários da ONU, denunciou esta “campanha de mistificação”. E escreveu: “Eu vi os corpos dos mortos serem arrancados dos escombros, incluindo crianças, mulheres e um homem numa cadeira de rodas”.  E mais esta denúncia: “ Na sua tentativa de encobrir o massacre, os israelitas enterraram muitos dos corpos por baixo de edifícios demolidos por um buldózer. Alguns ainda estavam vivos quando o buldózer avançou”.

Jacques Chirac, presidente francês, não foi à Palestina. Não telefonou a Ariel Sharon, pedindo-lhe o fim dos massacres. Tony Blair, primeiro-ministro britânico, não mandou armas para os palestinos se defenderem. Pelo contrário, remeteu-se a um silêncio cúmplice. Durão Barroso primeiro-ministro português e hoje presidente do Banco Goldman Sachs, não mandou milhares de milhões para os refugiados de Jenin, do Líbano, da Jordânia. Nem espingardas G3 para se defenderem dos nazis.  George W. Bush, presidente dos EUA, apoiou Ariel Sharon e o seu governo.

Naftali Bennett o nazi que faz de primeiro-ministro em Israel, já fez a sua prova de vida, mandando as tropas especiais massacrar palestinos na Faixa de Gaza e na Cisjordânia. Um dia destes, atacaram o campo de refugiados de Jenin e mataram um palestino, ferindo gravemente outros 15. Desculpa para o massacre: Eram terroristas! O primeiro-ministro de Israel deu “liberdade total” às forças invasoras. 

Nas duas últimas semanas, as tropas de Israel fizeram violentas incursões em Jenin, no campo de refugiados e nas localidades vizinhas de Al Yamoun, Kafa Dan e Faqqua. Para além de dezenas de feridos e detidos, mataram os jovens (rapazinhos entre os 15 e os 17 anos) Ahmad Saadi, Mohammad Zakarneh, Shas Kamamji, Mustafa Abu-Arub, Shawkat Kamal Abed, Lutfi Ibrahim Labadi e Hanan Khadour.

Os massacres tiveram hoje um episódio retumbante. Tropas especiais assassinaram em Jenin a jornalista do canal de televisão Al Jazeera, Shireen Abu Akleh. Tinha um capacete de protecçáo e colete à prova de balas, com a inscrição “PRESS”. Um atirador especial apontou à parte da cabeça desprotegida e matou-a. O canal do Catar afirma que ela “foi assassinada deliberadamente e a sangue frio pelas forças de Israel”.  O nazi Naftali Bennett veio logo dizer que "provavelmente a correspondente foi morta pelos palestinos. Pelas informações que reunimos, parece provável que palestinos armados, que abriram fogo sem discernimento, são responsáveis pela morte infeliz da jornalista”.

Outro jornalista da Al Jazeera, Ali Al Samudi, ficou ferido no mesmo ataque. Um repórtyr fotográfico que estava no local afirmou que “a jornalista “hireen Abu Akleh usava o colete de imprensa quando foi atingida. As forças israelitas disparavam. Não havia palestinos armados no local”. O jornalista  li Samoadi al-Quds, foi baleado nas costas, mas sobreviveu. 

Úrsula von der Leyen já foi a Jenin ver os efeitos dos massacres? Falou das vítimas? António Guterres já abriu a boca? Macron falou de crimes de guerra?  Biden já anunciou o envio de milhares de milhões para os refugiados palestinos? Marcelo Revelo de Sousa já disse que “somos todos palestinos”? Borrell já propôs o confisco dos fundos soberanos de Israel? Antony Blinken já propôs o confisco das fortunas dos milionários israelitas para reconstruir a Palestina? Nada de nada. A Internacional Nazi já mostrou exuberantemente o que quer. E quer mesmo submeter o mundo à vontade do fhurer de serviço na Casa Branca.

Nos EUA a inflação sobe desalmadamente na mesma medida que Biden anuncia milhares de milhões para a Ucrânia. Na Alemanha a inflação sobe em flecha na exacta trajectória dos mundos e fundos que mandam para a Ucrânia. Em Portugal soaram as campainhas de todos os alarmes. A inflação em Abril foi aquase de oito por cento. O povo sem cheta, kumbu está malé malé, malé e o governo manda milhares de milhões para a Ucrânia. Mais uns blindados do tempo da guerra colonial. Não sabiam o que fazer à sucata. Em Espanha, a inflação mete medo. Com o massacre de propaganda a partir da Ucrânia escondem a realidade. E a verdade é esta: Os antigos escravocratas e colonialistas, estão falidos. Torraram a massa toda, acumulada durante séculos de escravatura, colonialismo e latrocínio.

Graças a  Heróis da Humanidade da dimensão de Agostinho Neto, agora já não roubam  os recursos de África coma mesma desfaçatez de antes da Independência de Anglola e da vitória dos ango,anos sobre o regime nazi e racista de Pretória. Há quem ainda não tenha compreendido, mas a nova ordem mundial que se desenha, começou a ser criada por Agostinho Neto e seus companheiros de luta. 

*Jornalista

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