terça-feira, 18 de outubro de 2022

Portugal | COSTA DIZ QUE “QUER”… ESQUECE QUE AS MENTIRAS TÊM PERNA CURTA

Costa explica legado que quer deixar em 11 anos de governação: emprego, recuperação de rendimentos e redução da dívida

Começou com o “virar a página da austeridade”, depois foi a pandemia e agora a guerra. Na apresentação do Orçamento do Estado aos militantes socialistas, em Lisboa, António Costa explicou o percurso feito desde 2015 e a motivação até 2026: o que fica? “Emprego, emprego, emprego”, “crescimento real de rendimentos” e “finanças públicas sãs”. Reduzir a dívida, manter a estabilidade financeira e a sustentabilidade da Segurança Social é a “missão”

O ano de 2022 pode ter sido um ano difícil, de menor crescimento, inflação a disparar e perda de poder de compra. O ano de 2023 pode vir a ser um ano ainda mais difícil, de incerteza e alguma contenção. Mas António Costa quer os militantes e simpatizantes socialistas, que esta noite o ouviam no Capitólio, em Lisboa, a olhar para a big picture: “Temos de olhar para o ano de 2022 não esquecendo o percurso que fizemos até aqui, e o que temos de fazer até 2026”.

Serão, ao todo, 11 anos de governação com “recuperação do poder de compra” e redução da dívida pública. As contas do Governo foram exibidas num power point e mostram isso mesmo: “Cumprindo o que está previsto no acordo de rendimentos de médio prazo, a remuneração média vai subir 20% até ao final da legislatura, comparando com uma inflação acumulada que vai subir 10%”. Mais: "De 2015 a 2021, o salário mínimo subiu 32%, a remuneração média subiu 19% e a inflação acumulada foi de 5%”. Resultado: “Quem ganha a remuneração média teve um ganho real de 14% nos últimos sete anos, e quem ganha o salário mínimo teve um ganho real de 26%”.

Nas contas finais de Costa, e apesar da imprevisibilidade da economia nos próximos anos, a estimativa é que a remuneração média aumente 50% de 2015 a 2026 enquanto a inflação média acumulada aumentará, nas suas contas, 23%. Resumindo, “serão 11 anos de crescimento real dos rendimentos das famílias portuguesas”, disse o primeiro-ministro, ali na qualidade de secretário-geral do PS a apresentar o Orçamento do Estado a militantes e simpatizantes.

Isto, se não forem mais, com António Costa - e Duarte Cordeiro, antes - a arriscar pedir já aos portugueses que continuem a confiar no PS em 2026 quando, depois de mais uma superação, os portugueses voltarem a ser chamados às urnas. “Em quem é que os portugueses confiam mais?”, perguntaria Duarte Cordeiro, na primeira intervenção que fez na qualidade de líder da federação socialista da Área Urbana de Lisboa.

“Confiam mais no PS e em António Costa, que lidou com a pandemia numa perspetiva de equilíbrio social mas também de resolução de problemas”, ou “confiam naqueles que cortaram pensões e salários sem pestanejar e que agora aparecem com lágrimas de crocodilo”? Para Duarte Cordeiro, a dicotomia é simples: “O PS quer que a vida melhore para todos os portugueses e a direita está à espreita e deseja que a vida piore”.

António Costa retomaria a mesma linha de argumentação. “Ao fim de 7 anos, as oposições já nos podiam poupar em vez de continuarem a insistir no dilema com que nos querem confrontar desde 2015, e é todos os anos a mesma conversa: uns diziam que não era possível virar a página da austeridade sem sair do euro, outros diziam que não era possível continuar no euro e virar a página da austeridade. E nós dissemos: estão enganados, é possível fazer isso e manter as finanças públicas sãs”, afirmou o líder socialista, adiantando qual foi a chave para o ‘sucesso’: “Emprego, emprego emprego”.

“Com o aumento do emprego veio também o aumento do rendimento das famílias e com isso diminuímos muita despesa com prestações sociais”, disse, acrescentando que, além do objetivo de recuperação do rendimento das famílias (que se consegue de várias maneiras, e não apenas com aumentos de salário), a “missão” é também garantir “a sustentabilidade da Segurança Social não só para quem hoje é pensionista, mas para os nossos filhos e os filhos dos filhos”.

Essa é a “missão”, diz. O legado que quer deixar nos 11 anos que vai estar à frente do governo: “Passar à próxima geração um testemunho melhor do que recebeu”. “É para isso que governamos desde 2015 e que continuamos a governar até outubro de 2026, e nessa altura esperamos continuar a merecer a confiança dos portugueses para continuarmos a ter progresso, sustentabilidade e futuro”, disse.

A REDUÇÃO DA DÍVIDA COMO PASSE PARA A LIBERDADE

A pandemia, que já se encontra numa fase de virar de página, serve de modelo comparativo para António Costa pedir que confiem no que está a fazer, numa altura de tamanha incerteza financeira e com algumas das principais economias europeias em risco de entrar em recessão. “Os tempos são obviamente difíceis mas temos de fazer o mesmo que conseguimos fazer nos momentos dificílimos da pandemia: nessa altura também havia muita incerteza, ninguém tinha experiência, mas soubemos que tínhamos de nos juntar e proteger-nos uns aos outros (…) foi assim que conseguimos que a economia retomasse, porque as empresas foram preservadas (através do lay off), os rendimentos foram preservados e por isso é que Portugal é hoje o país da União Europeia com maior crescimento este ano”, disse, a puxar dos galões.

Mais: o emprego está “no máximo”, o investimento privado “no máximo histórico” e, no meio das dificuldades, o Governo “conseguiu assinar um acordo de rendimentos de médio prazo” com UGT e confederações patronais. Daí que António Costa proclame “estabilidade, confiança e compromisso” como mote para um orçamento que é, no fundo, o mais incerto e menos estável da história recente.

A terminar o retrato, uma última explicação sobre mais um dos aspetos do legado que quer deixar: o porquê de o Governo estar tão focado em manter as contas certas e a trajetória de redução da dívida. “É muito importante nestes tempos conseguirmos preservar a credibilidade internacional do nosso país e conseguirmos preservar a estabilidade financeira do nosso país”, defendeu.

“Sabemos que quando há inflação, os bancos centrais aumentam taxa de juro e os países mais endividados aumentam o serviço da dívida. Portugal tem uma dívida grande e tem de deixar claro que está determinado a continuar a reduzir a dívida, apesar do apoio que damos a todos, para que os recursos que temos não sejam desperdiçados no pagamento de juros, mas que sejam sim usados em medidas de apoio social que nao poderíamos implementar se estivessemos a pagar a taxa de juro que pagávamos quando chegámos ao governo”, disse.

Resumindo, da mesma forma que investir nas energias renováveis dá uma maior liberdade e independência face aos combustíveis fósseis da Rússia, “reduzir a dívida também nos dá liberdade de podermos gastar onde é necessário e não termos de gastar nos juros da dívida”. Parte do legado, está visto, é esse: recuperar rendimento acima da inflação acumulada mas sem tirar os olhos da “estabilidade financeira” e “credibilidade internacional”.

Rita Dinis | Expresso | Título PG

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