terça-feira, 14 de janeiro de 2014

OS INTERESSES DOS POVOS – Jornal de Angola

 

Jornal de Angola, editorial
 
As atenções do continente estão amanhã viradas para a capital angolana. Começa em Luanda a Cimeira Ordinária da Conferência Internacional da Região dos Grandes Lagos (CIRGL), um fórum que promove discussões sobre como assegurar a paz, a estabilidade, a democracia e o desenvolvimento desta região em que Angola está inserida.
 
A região dos Grandes Lagos é uma das zonas de África marcadas por conflitos e cruzamento de interesses. A CIRGL pretende desempenhar um papel crucial na busca de soluções para os conflitos, que têm sido geradores de instabilidade e de elevado número de refugiados e deslocados, e para promover a democracia e o respeito dos direitos humanos.

Angola alberga esta Cimeira dos Grandes Lagos numa altura em que há graves problemas a superar na República Centro-Africana e no Sudão do Sul. A Cimeira da CIRGL é uma oportunidade para os dirigentes da região se debruçarem sobre um assunto que requer soluções duradouras, no interesse da pacificação e da democratização.

A experiência de Angola na gestão e resolução de conflitos em África é útil para ajudar a imprimir dinamismo aos processos de diálogo nos países da região afectados pela instabilidade política e social. Com uma paz que dura já cerca de doze anos, Angola está em condições de ajudar a mostrar caminhos que conduzam a soluções justas para os problemas dos Estados membros da Conferência Internacional da Região dos Grandes Lagos.

Muitas esperanças são depositadas na Cimeira de Luanda, de onde podem sair fórmulas exequíveis que ajudem na ultrapassagem das crises e na promoção da democracia, do respeito dos direitos humanos e do desenvolvimento desta região. O secretário executivo da Conferência Internacional da Região dos Grandes Lagos, Ntumba Alphonse, considerou muito importante que os Chefes de Estado e de Governo ajudem a encontrar uma “solução rápida, eficaz e sustentável” para acabarem os conflitos armados na região.

Este é um grande desafio e a sabedoria dos dirigentes africanos é posta à prova nesta Cimeira que tem de procurar não só soluções para a instabilidade política na região mas também para a crise humanitária de grandes dimensões resultante dos conflitos armados na República Centro- Africana e no Sudão do Sul. Uma crise humanitária para cuja solução a comunidade internacional tem de mobilizar recursos destinados às operações de ajuda urgente a muitos milhares de pessoas deslocadas ou refugiadas.

O ministro da Defesa Nacional de Angola, Cândido Van-Dúnem, que acaba de assumir a presidência do Comité de Defesa e Segurança da CIRGL atribuiu a devida importância à Cimeira de Luanda, ao afirmar que “a instabilidade e os conflitos que persistem em África necessitam de abordagens aprofundadas, baseadas na sabedoria tradicional dos nossos chefes, que realçam sempre os nossos interesses inalienáveis”.

Cabe ao dirigentes de África na Cimeira que amanhã começa em Luanda a grande responsabilidade de lutar pela estabilidade de uma região do continente que tem muito a dar em prol do desenvolvimento de África. Nos conflitos armados, que agudizam apenas as condições de subdesenvolvimento e adiam a construção de regimes democráticos e instituições sólidas, são sempre as populações africanos que acabam por sofrer.

A África não está condenada a viver em ambiente de permanente instabilidade. Temos no continente líderes com capacidade para solucionarem as mais complexas situações de crise. E o diálogo constitui a via incontornável para as soluções pacíficas e definitivas. O recurso à violência não resolve os problemas do continente. Só os agrava. Os problemas devem ser resolvidos num quadro orientado para a pacificação efectiva e para uma vida democrática, colocando sempre os interesses dos povos de África acima de interesses particulares.

Os africanos são soberanos e importa que definitivamente se concentrem na solução dos seus problemas económicos e sociais. As guerras têm que acabar para o continente se concentrar na erradicação da pobreza e na exploração das potencialidades económicas. O capital humano africano e, sobretudo, os jovens dos países africanos devem fazer dos Grandes Lagos uma região de democratização e prosperidade. As independências que conquistámos com muito sacrifício devem permitir agora edificar sociedades em que cada um possa viver com dignidade, tirando partido dos benefícios que o trabalho e a riqueza podem proporcionar.

Perante o que está a acontecer na República Centro-Africana e no Sudão do Sul, convém que cada africano coloque a questão de saber quem ganha afinal com os conflitos armados que dilaceram o nosso continente.

Os povos de África esperam dos seus dirigentes perspicácia na superação das contradições que estão na origem dos conflitos. O sofrimento por que ainda passam milhares de africanos, em virtude das guerras, justifica um empenho total na busca de saídas para as crises que assolam um continente que tem tudo para ser um gigante no campo económico.

Sem comentários:

Mais lidas da semana