Santander
assusta clientes sobre perdas com a reeleição de Dilma. Banco pediu desculpas
em seguida, mas atitude não esconde repetição do mantra de cada quatro anos: o
fim do mundo vem aí
Pragmatismo Político
O relatório destinado a clientes ricos, produzido pelos
analistas do banco Santander, no qual projetam perdas financeiras diante de uma
escalada da presidente Dilma Rousseff nas pesquisas eleitorais é típico. O
pedido de desculpas feito logo a seguir à divulgação da peça não esconde o fato
de que sempre, entra e sai eleição para presidente, tanto o mercado financeiro
quanto os empresários de maior visibilidade procuram, acima de todas as coisas,
temer, rejeitar e demonizar os candidatos de esquerda à Presidência da
República.
Como
quem tem chances reais de vencer no campo da esquerda, desde 1989, são os
candidatos do PT – com Lula cinco vezes candidato, e Dilma Rousseff
desenvolvendo agora sua segunda campanha -, o nome do partido e a própria
legenda acabam sofrendo a pressão.
Hoje
é folclore, virou piada. Mas quando o então presidente da poderosa Federação
das Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp), Mario Amato, declarou que 800
mil empresários iriam embora do País se Lula vencesse as eleições de 1989, a frase foi levada
muito a sério. Foi estampada na primeira página de jornais como a Folha e o
Estado, repercutiu em programas de televisão e veio acompanhada de teses sobre
a incapacidade de governança do PT e intenções de intervir em empresas e no
mercado financeiro que, por fim, foram praticadas pelo vitorioso Fernando
Collor.
A
demonização a Lula, no entanto, prosseguiu em todas as campanhas nacionais
disputadas pelo ex-presidente, inclusive as que ele ganhou. Em 2002, a missão de superar o
tucano José Serra incluía, também, superar uma impressionante série de rumores,
boatos e fofocas que apontavam para um estouro nas contas públicas no caso da
vitória do ex-metalúrgico. Com a chancela do banco americano Goldman Sachs, o
economista Daniel Tenengauzer ganhou seus quinze minutos de fama ao criar o que
chamou de “lulômetro”. Consistia em medir o nível da disparada da cotação do
dólar sobre o real de acordo com o crescimento que Lula apresentava nas
pesquisas. Assim, quanto mais o futuro presidente avançava, mais o “lulômetro”
apurava que se chegava mais perto do fim do mundo cambial. O real seria
pulverizado.
O
que se viu, no entanto, desde o primeiro dia do mandato de Lula foi a
normalização de todos os grandes indicadores da economia e, em seguida, o “espetáculo
do crescimento” que deu ao presidente uma reeleição tranquila.
Agora,
ao completar 12 anos sem representantes de seu campo político-ideológico no
poder central, setores do sistema financeiro e da classe empresarial voltam a
dar as mãos para rezar o mantra do medo da esquerda acima de todas as coisas.
Nesta
sexta-feira 25, a divulgação do relatório do Santander a seus clientes
de alta renda trouxe à luz do dia o que está correndo solto nos bastidores das
mesas de investimentos e dos encontros entre grandes barões da indústria.
Apesar de os três governos sucessivos dos presidentes de esquerda terem
preservado todos os princípios da economia de mercado, acrescentando o dado do
aumento do mercado consumidor como um ponto que deveria ser atribuído a seu
favor, seus representantes continuam sendo atacados das mais diferentes maneiras.
Desta vez, foi um relatório sem base técnica seguido de pedido de desculpas.
Aguarda-se para ver o nível da próxima provocação.
Na foto: Banco Santander divulga relatório destinado a clientes ricos sobre perigos da reeleição de Dilma (Edição: Pragmatismo Político)
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